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SABEDORIAS

 

“PROVERBIOS DO INFERNO”

 

de WILIAM BLAKE (1757-1827)

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De “O matrimónio do Céu e do Inferno”:

 

 

No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.


Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos.


O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.


Aquele que deseja e não age engendra a peste.

O verme perdoa o arado que o corta.


Imerge no rio aquele que a água ama.


O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê.


Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela.

 

A Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo.

À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas.

As horas de insensatez, mede-as o relógio; as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça.


Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço.


Toma número, peso e medida em ano de míngua.

Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas.


Um cadáver não revida agravos.


O ato mais alto é até outro elevar-te.


Se persistisse em sua tolice, o tolo sábio se tornaria.

A tolice é o manto da malandrice.


O manto do orgulho, a vergonha.


Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião.


A vanglória do pavão é a glória de Deus.


O cabritismo do bode é a bondade de Deus.


A fúria do leão é a sabedoria de Deus.


A nudez da mulher é a obra de Deus.


Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora.


O rugir de leões, o uivar de lobos, o furor do mar em procela e a espada destruidora são fragmentos de eternidade, demasiado grandes para o olho humano.


A raposa culpa o ardil, não a si mesma.


Júbilo fecunda. Tristeza engendra.


Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha.


O pássaro um ninho, a aranha uma teia, o homem amizade.


O tolo, egoísta e risonho, & o tolo, sisudo e tristonho, serão ambos julgados sábios, para que sejam exemplo.


O que agora se prova outrora foi imaginário.


O rato, o camundongo, a raposa e o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo e o elefante espreitam os frutos.


A cisterna contém: a fonte transborda.


Uma só idéia impregna a imensidão.


Dize sempre o que pensas e o vil te evitará.


Tudo em que se pode crer é imagem da verdade.


Jamais uma águia perdeu tanto tempo como quando se dispôs a aprender com a gralha.


A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão.


De manhã, pensa, Ao meio-dia, age. Ao entardecer, come. De noite, dorme.


Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece.


Assim como o arado segue as palavras, Deus recompensa as preces.


Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.


Da água estagnada espera veneno.


Jamais saberás o que é suficiente, se não souberes o que é mais que suficiente.


Ouve a crítica do tolo! É um direito régio!


Os olhos de fogo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra.


O  fraco em coragem é forte em astúcia.


A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão ao cavalo como apanhar sua presa.


Quem reconhecido recebe, abundante colheita obtém.


Se outros não fossem tolos, seríamos nós.


A alma de doce deleite jamais será maculada.


Quando vês uma Águia, vês uma parcela do Génio; ergue a cabeça!


Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos, o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.


Criar uma pequena flor é labor de séculos.


Maldição tensiona. Benção relaxa.


O melhor vinho é o mais velho, a melhor água, a mais nova.


Orações não aram! Louvores não colhem!


Júbilos não riem! Tristezas não choram!


A cabeça, Sublime; o coração, Paixão; os genitais, Beleza; mãos e pés, Proporção.


Como o ar para o pássaro, ou o mar para o peixe, assim o desprezo para o desprezível.


O corvo queria tudo negro; tudo branco, a coruja.

Exuberância é Beleza.


Se seguisse os conselhos da raposa, o leão seria astuto.


O Progresso constrói caminhos retos; mas caminhos tortuosos sem Progresso são caminhos de Génio.


Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis.


Onde ausente o homem, estéril a natureza.


A verdade jamais será dita de modo compreensível, sem que nela se creia.

Suficiente! ou Demasiado.



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Os Poetas antigos animaram todos os objetos sensíveis com Deuses e Gênios, nomeando-os e adornando-os com os atributos de bosques, rios, montanhas, lagos, cidades, nações e tudo quanto seus amplos e numerosos sentidos permitiam perceber.


E estudaram, em particular, o carácter de cada cidade e país, identificando-os segundo sua deidade mental.


Até que se estabeleceu um sistema, do qual alguns se favoreceram, & escravizaram o vulgo com o intento de concretizar ou abstrair as deidades mentais a partir de seus objectos: assim começou o Sacerdócio, pela escolha de formas de culto das narrativas poéticas.


E proclamaram, por fim, que os Deuses haviam ordenado tais coisas.


Desse modo, os homens esqueceram que todas as deidades residem no coração humano.


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 (Fonte:
Origem do texto: Da tradução de José António Arantes. São Paulo, Iluminuras, 1987.

Há uma edição bilíngue recente disponível: William Blake. Poesia e prosa selecionadas. S.P., Nova Alexandria, 1993.)

 

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Fonte: Obra retirada de site de livros de domínio público, e disponível gratuitamente na internet.

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