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IAVÉ  - A ORIGEM DA DIVINDADE

 

A ORIGEM DA DIVINDADE IAVÉ E A PEQUENA HISTÓRIA DA RELIGIÃO DE ISRAEL

De Edmilson Bento da Silva

In http://str.com.br/Scientia/origem.htm

 

Prefácio

O ensaio que abaixo reproduzo trata-se de uma palestra por mim proferida na Universidade Federal Fluminense, no Centro de Estudos Interdisciplinar de Antigüidade (CEIA), às 08:00 horas do dia 26 de outubro de 1999. Naquela época, meu intento era rebater a visão histórica evolucionista e idealista a respeito da história da religião do antigo Israel. Por visão evolucionista os historiadores denominam a abordagem seqüencial e linear: fetichismo? politeísmo? monoteísmo, e, por visão idealista, compreende o modo de explicação dos eventos históricos que privilegia o papel da consciência (as "grandes idéias"), expressas nas idéias políticas, éticas, filosóficas, científicas, etc. que mudam por si só no curso da história, sem considerar a vida social e o contexto sócio-histórico em que tais idéias emergem. Minha surpresa foi constatar que os alunos universitários ali presentes, ao no lugar de abrir um diálogo sobre as novas abordagem e novas fontes para a pesquisa, se sentiram indignados com o processo de historização do fenômeno da crença.

Por incrível que pareça, os dados descritos abaixo a respeito do desenvolvimento da religião iaveística é de conhecimento comum a teólogos (católicos e protestantes) e biblistas.

I - O nome

O nome da divindade israelita é chamada Iavé. A palavra "Yahweh" é o termo acadêmico e consagrado do nome próprio em hebraico da divindade israelita YHWH, oriundo das quatro letras hebraicas: הוהי (iod-he-vav-he) lida de trás para frente cuja leitura é aproximadamente "ieuê" ou "iaué". O nome Jeová constitui um erro de tradução; ocorreu devido ao tabu de não pronunciar o nome da divindade, assim, quando o sacerdote lia o texto do Pentateuco e aparecia as quatro letras YHWH, substituía a pronúncia pela palavra Adonai (meu senhor). Muito mais tarde, no século XVI de nossa era, os exegetas interpolaram as vogais de Adonai: a-o-ai, daí Jahovah ou Jeovah. Apesar de popular, a notação não corresponde a fatos e sim a um acidente histórico, e deve ser recusada.

A pronúncia primitiva e correta da divindade israelita não pode ser fixada com precisão. Mesmo a forma do nome Iavé não é correta, esta forma pode ter origem na teologia do estamento sacerdotal que forçou a aproximação de YHWH com a passagem do Êxodo III, 13-15:  ehyeh ,asher ,ehyeh, ao qual é traduzido por "eu sou aquele que sou" ou então, "eu sou aquele que é", sugerindo que o nome de YHWH provém da forma imperfeita da raiz qal cujo verbo é hyy (haia), o verbo ser hebraico. O prefixo "Y" põe os verbos hebraicos no futuro e anteposto à raiz "HWH" (infinitivo presente do verbo "ser"), faria o significado de YHWH em: "o ser para todo o sempre", o ser absoluto, assim entendido, como quer a versão dos Setenta, que traduziu para o grego: εãù åéìé ´ï ïí (ego eimi ho ôn). Todavia, o redator da passagem do Êxodo III, 13-15, movido pelo extremo zelo do tabu da pronúncia do nome, utilizou este recurso enigmático, para criar um rodeio poético, equivalente recusa da divindade em responder, impedindo a Moisés vir a conhecer a sua natureza. Os especialistas que fazem derivar o nome de Iavé da raiz hyy não estão em acordo sobre a forma de como reconhecê-la em Yahweh. Eles entendem que o nome de Iavé deve ser traduzido por "ele é" ou "ele faz ser". No entanto, é mais fácil reconhecer em Yahweh uma outra raiz, hwh/hwy, a raiz do verbo hebraico que significa "cair", "abater", "descer", desapareceu quase que por completo no hebraico, mas se conservou no árabe. Julius Wellhausen, D. H. Holzinger e H Bauer Leander defendem que o nome Yahweh deriva da raiz semítica hwh "cair".

Os primeiros cristãos anotavam a pronúncia de YHWH nas letras gregas Iabe (iabe), Iaone (iaoune), Iaonai (iaounai). Nos papiros míticos judeus-cristãos a forma é Iawonhe (iaôouêe). Já a transcrição grega mais freqüente e também a mais antiga é a notação Iao (íao), que é atestada desde o Qumran.

Roland de Vaux e André Caquot tentaram reconstituir a antiga pronúncia e forma do nome de Iavé. Eles acreditam que podem encontrar o antigo nome da divindade israelita nos nomes teóforos hebraicos correspondentes a Yeho e Yahu. A forma Yeho é atestada nos nomes Yehokhakin (Joaquim), Yehoshuah (Josué ou Jesus). A forma Yahu é encontrada nos nomes Azaryahu (Azarias), Yahuddah (Judas) e Mattitiyahu (Matias). Também há uma forma curta Iah que aparece em outros nomes: Azaryah (Azarias), Tobiyah (Tobias) e na expressão hallelu-yah ("deus seja louvado"). Atualmente, a partir destas formas teóforas, formou-se um consenso em torno da palavra Yaho para designar o nome primitivo da divindade israelita, tal como querem Roland de Vaux e André Caquot.

II - A origem do deus

Segundo Jean Leclant, egiptólogo, o nome do deus de Israel é um topônimo. Baseando-se em escavações arqueológicas realizadas em Soleb, na margem esquerda do Nilo, foi encontrada uma inscrição na sala hipostila do templo erguido por Amenhotep III; a inscrição contida no escudete (séc. XIV a. C.) refere-se a um povo nômade inimigo do Egito ao leste. O trecho é o seguinte: to sho-su iahuo; "to" refere-se à designação geopolítica, terra estrangeira; o vocábulo "sho-su" remete-se aos habitantes do deserto, aos povos nômades; e o termo "iahuo" é identificado com o nome de alguma montanha, situada a leste do Egito e ao sul da Palestina. A decifração da inscrição é o seguinte: "terra dos shosu de Iahuo". Ou melhor "país dos beduínos de Iahuo". Se Leclant estiver certo, a inscrição é a mais antiga notação histórica conhecida do nome do deus de Israel fora da Bíblia. Argumenta Jean Leclant que do nome desta montanha, os israelitas teriam tirado o nome da divindade protetora de sua confederação. Em apoio a afirmativa de Leclant, destacamos: 1- o nome Iahuo está em acordo com a antiga pronúncia defendida por alguns biblistas juntamente com Roland de Vaux e André Caquot (Iahuo = Yaho); 2- o nome se aproxima muito da mais antiga transcrição grega (Iao = Yaho); e 3- a referência ao deus de Israel na inscrição moabita, conhecida como a estela de Mesha (século IX a. C.), permite fazer a transcrição do nome da divindade com o final em "o" (Yahu = Yaho).

Assim, Yahweh é a pronúncia transfigurada de Iaho, um deus cultuado em uma desconhecida montanha Iahuo, em território madianita.

O deus dos israelitas é o resultado do sincretismo religioso do deus dos relâmpagos, Iahu, dos madianita e quenitas, conhecido também pelos arameus do norte da Síria, com a divindade das terríveis tempestades de deserto, o deus Ya'uq, temido pelos árabes, ao qual os hebreus entraram em contato nos séculos XII e XI a. C.

III - O período "pré-mosaico" (séc. XIV a. C.)

Dados da historiografia e da arqueologia não atestam o culto de Iavé antes do século XIII a. C. e, portanto, antes de Iavé tornar-se o protetor da confederação tribal israelita, os hebreus admitiam vários sistemas religiosos simultâneos, e nenhum deles entravam em conflito na cabeça daquele nômades.

Os hebreus pertenciam a grande etnia semítica. Os antigos semitas veneravam uma força impessoal, invisível e intangível, expressa no princípio divino 'l, que agia na natureza mas não tinha consciência de si. Este princípio divino aparece em todas as civilizações semíticas posteriores como Allá dos árabes, El dos cananeus, Baal dos fenícios, Ilu dos assírios e Bel dos caldeus.

A) O culto ao "deus dos pais". Os líderes dos acampamentos, os patriarcas, rendiam culto especial ao chamado "deus dos pais", o antepassado mítico do clã. Cada clã possuía seu "deus dos pais", uma espécie de herói lendário que fundou o clã e transmitiu os costumes e instituições da família. O "deus dos pais" não tinha um local fixo de culto, residia em uma tenda especial e acompanhava as viagens do clã pelo deserto e pela estepe, assegurando o bom relacionamento com os vizinhos e protegendo os membros do clã contra os infortúnios das viagens. O "deus dos pais" não possuía uma representação figurativa, porque é extremamente difícil no deserto e na estepe a confecção de imagens.

Paralelamente ao culto do "deus dos pais", os hebreus veneravam árvores, fontes de água, grutas, montes, etc., que se relacionavam de alguma maneira com os eventos lendários do mito do "deus dos pais" (locais por onde o antepassado passou, etc.). Por outro lado, estes objetos da natureza também eram compreendido como entidades sagradas, pois, eram o receptáculo de uma força invisível, similar aos gênios das tribos árabes.

B) O culto às pedras. Os hebreus dos século XIV também veneravam pedras mágicas, os terafins, relacionados também ao culto ancestral. Apareceram após a supressão ao culto de imagens de "deusas-mães", que as mulheres recorriam a sua proteção no momento do parto. Os terafins não eram propriamente deuses mas, amuletos mágicos, símbolos da prosperidade. Estas pedras eram mantidas dentro das tendas.

C) O culto às forças naturais e à serpente. Era crença corrente que uma entidade furiosa habitava o deserto e os hebreus imputavam a esta força a responsabilidade pelas tempestades de areia que derrubava as tendas e desaparecia com as rezes, além de trazer as doenças como urticária que atacavam o gado. Para aplacar a ira desta entidade, os hebreus recorriam ao sacrifício do cordeiro e do bode. Era um sacrifício pascal, praticado antes do início da primavera, quando então, imolava-se um cordeiro. Um sacrifício análogo ocorria no outono, antes da transumância para a pastagem na estepe, quando então, era solto um bode no deserto. A circuncisão, prática encontrada entre os sacerdotes egípcios da Antigüidade e numerosas tribos árabes, era uma medida para afastar a infertilidade que poderia abater tanto sobre a família quanto sobre o gado: para agradá-la, recorria-se a circuncisão, a entidade fugia afugentada pelo horror ao sangue ou era aplacada com o rito. O prepúcio era oferecido e, ocorria na ocasião da passagem do membro masculino para a vida adulta ou da iniciação ao casamento. O culto à serpente era uma prática muito comum na Palestina; imagens de serpentes recebiam culto especial pois, com este culto apotropeico, os hebreus julgavam afastar ou minimizar as picadas das víboras reais, já que eram muito freqüente na Palestina.

D) Práticas mágicas. Os hebreus eram um povo rude, sem escrita e muito supersticioso. Havia numerosas interdições religiosas de carácter alimentar, sexual e social. Vivendo em um ambiente hostil do deserto e da estepe, em confronto com povos vizinhos e sofrendo constantes perigos de animais selvagens, os hebreus recorriam freqüentemente às magias. Entre elas, destacam-se a crença no "mau olhado", o poder mágico da palavra (proferido como bênção ou maldição pelo moribundo), a crença na magia da dança da chuva e da dança da guerra, o uso mágico do vestuário, a magia da impostura da mão, o uso da necromancia, etc. Havia, curandeiros, videntes, adivinhos.

E) Os mitos. Há forte indícios que os antigos hebreus conheciam uma pluralidade de mitos, entretanto, a grande maioria foi combatida e propositadamente esquecida pelo clero iaveísta. Os hebreus acreditavam na existência de gigantes, do monstro marinho Tannin e no dragão Leviatã; possuíam uma concepção que acima da abóbada celeste era coberta por água. A presença mitológica de animais fabulosos, os serafins, criaturas sinuosas, serafim está na raiz srph, (seraph), que significa "abrasador", uma alusão a crença em dragões.

IV - O antigo iaveísmo (sécs. XIII e XII)

Com o assentamento em Palestina, os hebreus, agora denominados israelitas, tornaram-se agricultores e fundaram uma confederação tribal denominada Beni-Israel, filhos de Israel. Nesta época, o contato com a civilização cananéia provocou modificações na religiosidade israelita. O culto ao "deus dos pais" foi substituído pelo culto à divindade cananéia El, o deus do céu, da palavra el, originou no hebreu o termo eloá, deus; a palavra eloim é o plural intensivo de eloá, para designar a majestade divina.

A) A emergência do culto de Iavé. A origem de Iavé está ligada ao grupo que saiu do Egito em 1.200 a. C., conheceu a divindade madianita Yahu e fez o sincretismo com o Ya'uq dos árabes, constituindo, então, em Yaho. Deus guerreiro, senhor do relâmpago, tal como sugere o nome original Yaho do verbo hwh/hwy primitivo, que significa "cair", "abater", ou "descer", uma clara alusão ao relâmpago, assegurava a vitória sobre os inimigos de Israel.

O grupo que saiu do Egito dirigiu-se ao oásis de Cades, onde ali receberam elementos que futuramente iriam se constituir na tribo dos levitas. Esses futuros levitas cultuavam o deus-serpente Nehustan da palavra nahash, o deus símbolo da sabedoria e da cura medicinal. Os levitas, cuja palavra árabe lawah significa "desenroscar-se", possui uma etimologia muito parecida com Levi-athan, o dragão, adentraram ao círculo de Moisés após a saída do Egito e identificaram em Iavé atributos do seu próprio deus e foram um dos principais divulgadores do iaveísmo. Este clero trouxe para o culto israelita um nova modalidade de adivinhação: os objetos de pedra urim e tumim (que significam respectivamente "maldito" e "inocente"). Relacionados a prática oracular, estes objetos eram mantidos dentro de sacolas, e quando se fazia uma pergunta e se tirasse um tumim, significava um "sim", e se tirasse um urim significava um "não".

Iavé era sempre evocado no contexto das batalhas com os povos vizinhos como convém a um deus guerreiro, pois, era o protetor da confederação tribal israelita.

B) Os outros cultos. Com a adoção da agricultura, os israelitas cultuavam os diversos "baals" de cada localidade, tidos como generosos propiciadores de abundante colheita. Era a Baal e não a Iavé que os agricultores israelitas julgavam a responsabilidade da fertilidade do solo. Os "baals" eram concebidos na forma de um tronco de árvore decepado, de uma estaca de madeira fincada no terreno ou na forma de um amontoado de pedras.

Os terafins assumiram uma forma humana e passaram a ser amuletos de cunho pessoal, em vez de ser da família, como era na época da pastorícia. Quando os terafins eram recobertos com algum tipo de metal chamavam-se de éfode. O éfode, do hebraico 'pd, significa: 1o a parte do vestuário sacerdotal, a tanga de linho, usada pelos ministros do culto, 2o o éfode do sumo-sacertode, espécie de colete preso por um cinto e suspensório, 3o os objetos oraculares urim e tumim.

V - O Iaveísmo no Período dos Juízes (secs. XII - X a. C.)

A) Os ritos agrários. No período pré-estatal, os israelitas adotaram muitos deuses cananeus, além de El e de Baal, as divindades cananéias adotadas possuíam um atributo específico, de acordo com a divisão do trabalho, reflexo que se operava na complexificação da sociedade. Havia Dagon, o deus do trigo; Astarte, a deusa do amor; Tammuz, o deus da vegetação; a deusa do Sol, Shapach, e a deusa-mãe Asherah associada ao culto de Baal. A preocupação com a fecundidade da terra afetou profundamente o iaveísmo. Os camponeses adoravam Iavé na forma de um touro em um altar cercado por uma paliçada (que mais tarde a teologia sacerdotal transformou na narrativa do "Bezerro de Ouro"). A assembléia de anciãos recorria a Iavé na forma de máscaras humanas (encontradas em Hazor) para obter oráculos sobre a estratégia de guerra. E, na liturgia, os sacerdotes utilizavam um objeto, o éfode.

B) Os deuses tribais. Cada tribo, além disso, possuía um patrono: o asno, o cordeiro, o bezerro. As tribos do norte (José e Efraim) cultuavam o deus-touro, símbolo da fecundidade.

C) O deus El. A divindade cananéia El era o deus do céu, os cananeus julgavam-no o criador do mundo e da humanidade; o seu culto foi sobrepujado pelo deus Baal, tornando, assim, um deus ocioso. Entretanto, os israelitas associaram os atributos do deus El ao deus Iavé, criando agora um novo sincretismo. Acontece que o El israelita era uma divindade da confederação tribal, era uma entidade impessoal, por exemplo, Iavé-El era adorado sob a forma de vários epitetos, cada um deles evocado de acordo com um contexto específico. El Elion, o deus altíssimo (a parte mais alta de uma porta); El Shaddai, "o todo poderoso" (na verdade, a etimologia da palavra sugere ser o deus da estepe: shaddu, estepe), era cultuado em Manre; El Sebaot, o "deus das hostes celestiais", evocado no contexto da batalha, era adorado em Silo; El Ro'i, o deus da visão, "o onisciente", cultuado em Neguebe; El Olam, o deus eterno, cultuado em Berseba; El Bethel, o deus de Bethel, cultuado nesta cidade; sem mencionar, é claro nos vários qone eretz, o possessor do solo, representado pelos "baals", e o massebah (plural massebot), estela de pedra, na forma de um falo, símbolo das divindades masculinas cananéias. Havia um versão feminina dessa estela: a asherah (plural asherot).

D) A representação de Iavé. O carácter anícola de Iavé não foi uma peculiaridade na História das Religiões. Na Antigüidade houve povos que concebiam que o seu deus supremo como uma divindade cósmica, com poderes extraordinários mas, restritos ao seu país. Estes povos concebiam o seu deus sob a forma humana mas, admitiam que nenhum humano podia vê-los. Inclusive, entre os assírios, Assur, aparentemente não chegou a ter representação figurativa. Além disso, as tribos árabes do norte da Síria possuíam uma concepção metafísica de uma força invisível, o princípio 'l, que certamente contribuiu para a formação do mito de Iavé. Por outro lado, os israelitas não desconheciam ídolos religiosos, como já foi mencionado. Ademais, além do símbolo do touro, no dia a dia da vida do camponês havia o éfode, a massebah, e a arca da aliança, o símbolo da presença do deus. Os trechos do Êxodo XX, XXIII e XXIV, 17 proíbem a representação do deus de Israel moldado em metal, ouro ou prata, o que deixa livre o uso de outros materiais como osso, madeira e pedra, certamente menos custosos. Era senso comum que os israelitas concebiam do seu deus nacional Iavé na forma humana e pertencente ao sexo masculino; é um deus temível, exigente, vingativo e muito ciumento - constitui um reflexo de uma sociedade altamente militarizada, machista e patriarcal -, protegia seu povo e era implacável com quem o contestasse. Os textos do Pentateuco comentam a sua personalidade: Iavé descansa, arrepende-se, ira-se, alegra-se, ouve, vê e fala aos homens.

E) O monoteísmo. Na mente da população camponesa, iletrada e restrita ao seu território, a idéia de uma divindade humana, de carácter universal, única e sem representação figurada era deveras abstrata e difícil de conceber. Outrossim, os israelitas aceitavam normalmente que os deuses de outros povos eram tão verdadeiro quanto o seu, Iavé era o deus nacional de Israel assim como Marduc era o deus nacional da Babilônia, Assur o deus dos assírios, Quemoch o deus dos moabitas e Milcom, a divindade protetora do povo amorita, o que significava que o israelita comum professava uma monolatria (processo pelo qual um devoto diante de uma multiplicidade de divindades, declara culto exclusivo a uma só, por uma espécie de bajulação excessiva e uma relação afetiva para com o seu deus, excluindo os demais deuses mas, reconhecendo-os como reais).

VI - O iaveísmo no período da monarquia (secs. X - VII)

O iaveísmo conviveu com a religião cananéia e foi pouco a pouco absorvendo suas concepções. Tal sincretismo continuou por muitos séculos, tal como podemos encontrar na religião dos colonos judeus, no século V a. C., em Elefantina, Egito, que, inclusivamente, conceberam uma divindade fêmea consorte de Iavé: Anat Iahu.

Iavé estava a frente de uma multiplicidade de divindades, era o deus supremo de Israel, o protetor da confederação tribal, contudo, no dia a dia, os israelitas recorriam as divindades mais ligadas ao culto agrário: os deuses tribais tinham mais substância e presença do que o deus supremo - Iavé era o deus nacional da confederação tribal e não um deus de cunho pessoal. Por outro lado, devemos considerar que as concepções do iaveísmo variavam muito de aldeia para aldeia e na prática, cada pessoa interpretava livremente os mitos e os ritos.

A) A participação do Estado na religião. Quando a realeza unificou as tribos, deu realidade a idéia de Israel, mas tarde formulada na mitologia do "pacto". Neste ponto, o iaveísmo foi bastante promovido pelo Estado: foi a corte e o clero ligado ao palácio que tiveram recursos para criar a literatura religiosa e o culto elaborado. Na ideologia de Estado, Iavé foi comparado à realeza: era um deus que governava Israel com sua corte celestial; dizia-se que Iavé possuía servos, mensageiros, um trono e indumentária; reinava em Israel assim como os outros deuses reinavam em outras nações.

O clero elaborou um primitivo decálogo, mais tarde atribuído a Moisés, onde podemos encontrar as antigas concepções do iaveísmo:

1- Não curvarás a tua fronte diante de nenhum deus estrangeiro.

2- Não construirás nenhum deus de metal fundido.

3- Observarás sempre a festa dos ázimos, no mês de nisan (março/abril), para recordar a tua passagem no deserto. [O termo hebraico é pesah, em grego é dito pascha, que se tronou depois páscoa. Relacionava primitivamente à festa do início da primavera. Veja a parte III-C.]

4- Todo primogênito é meu: resgatarás com um sacrifício o primeiro parto entre a criação, grande ou pequena, o primogênito entre os filhos. [O sacrifício de crianças não era desconhecido pelo iaveísmo; sacrificava-se crianças na ocasião da erecção da pedra angular ou no término de uma construção; entretanto, considerando a alta taxa de mortalidade infantil, é possível que as crianças fossem oferecidas já mortas. Outrossim, o sacrifício a Iavé era as rezes]

5- Jamais comparecerás diante de mim de mãos vazias.

6- Três vezes por ano todos os teus filhos homens comparecerão perante o Senhor. [As três festas pastorais da primavera, do verão e do outono]

7- Jamais deixarás correr o sangue da minha vítima diante do pão fermentado. [Lembranças das velhas proibições rituais, ligado ao carácter sagrado do sangue e do lêvedo]

8- Não deixarás para amanhã o consumo de minha vítima pascal. [ Para que não se esgote a carga mágica que traz em si todo animal sacrificado aos poderes divinos]

9- Levarás a flor das flores das primícias do solo à casa de Iavé.

10- Não cozinharás o cabrito no leite da sua mãe. [Esta é uma antiga proibição tabu, encontrada, sob uma forma mágica, em uma das lâminas órficas descoberta nos túmulos da Magna Grécia, em Turi, hoje Terra Nova de Sibari, Calábria, século IV a. C.: "Cabrito cai no leite", isto é, estou para me tornar imortal]

B) Os novos mitos. Israel agora concebia a sua divindade principal com a mesma noção de deuses indo-europeus e sumero-acadiano, isto é, como um senhor poderosíssimo acima da humanidade, ao qual o devoto deveria submeter-se e servir; de fato, isto se explica pelo motivo de o iaveísmo está no contexto de uma sociedade de classes, reflexo da existência de senhores poderosos reais. O clero estatal elaborou uma mitologia para a religião, graças aos acréscimos vindo da Mesopotâmia: da Assíria, incorporaram a idéia de querube (plural, querubim), do caribu assírio, gênios com cabeça de homem, corpo de leão ou touro, asas de águia e patas de ouro, que vigiavam as portas de templo e palácios; da Babilônia, Iavé foi comparado a Marduc, o deus que derrotava o dragão Tiamat e criava o mundo, em Israel, o monstro era o dragão marinho Leviatã. Iavé estava acima do bem e do mal; a abundância, as graças, infortúnios e as pragas era devido a Iavé - os textos bíblicos mencionam que Iavé amaldiçoa gerações inteiras, destrói cidades, aflige a humanidade com dilúvios, etc. Contudo, a jurisdição de Iavé sob o mundo não era total; era idéia corrente que após a morte o defunto não estava mais sob a proteção do deus.

Um outro mito que foi combatido e propositadamente esquecido pelo clero iaveísta foi a lenda da primeira mulher de Adão: Lilith, que se revoltou contra o seu marido. Esta lenda se tornou um escândalo para a sociedade patriarcal e machista, e foi rejeitada na redação final do Gênesis.

C) Reformas religiosas. Os reis Saul, Asa, e Josafá proibiram a necromancia, a prostituição sagrada, em seguida, combateram a erecção de estacas divinas (massebah). Saul e depois Josias passaram a perseguir e a punir os feiticeiros com a morte (1Sm XXVIII, 3 e 9; 2Rs XXIII e XXIV).

Ocorre gradativamente o desaparecimento do ro'eh, vidente e adivinho para questões privadas, cujo Samuel foi um dos últimos, é substituído pelo nabi (do cananeu, nabu, "aquele que foi chamado") profeta de origem cananéia que se vestia de manto de pele preso por um cinto de couro, levava uma vida cenobítica, perambulando em grupo pelas regiões e profetizando sob a autoridade de um chefe, chamado "o pai".

VII - O Iaveísmo no século VII

Uma nova versão do decálogo foi elaborada, que remonta ao período que vai do século VII ao século VI a. C. Havia duas versões, a mais antiga está incluída no Deuteronômio V, 6-18, pode ser atribuída ao programa de reforma religiosa, e a outra, a mais recente, está transcrita no Êxodo XX, 2-17, e é de carácter litúrgico-ritual, pertence ao período de cem a duzentos anos após a tomada de Jerusalém pelos babilônios;

1- Não terás outro deus diante de Iavé. [Trata-se de uma afirmação de monoteísmo ritual, e não teológico; outros povos possuem deuses tão verdadeiros quanto Iavé, mas os israelitas não podem cultuá-los]

2- Não esculpirás nenhuma imagem e nenhuma representação de coisas que estejam no céu, sobre a terra e nas águas debaixo da terra.

3- Não pronunciarás em voz alta o nome do Senhor. [Quem possui o segredo do nome também possui o poder mágico que ele confere; é por isso que é necessários impedir que os estrangeiros possam apoderar-se do nome do deus]

4- Guardai escrupulosamente o dia de sábado. [O sábado era a festa da lua cheia dos sumérios, os babilônios tomaram dos sumérios com o nome de shabattu; abstiam de trabalhar nos dias "que traziam desgraças" (dias 7, 14, 21, e 28 dos dois meses de Elul II e Marchesvan). Os cananeus tomaram o sábado dos babilônios que, por sua vez, transmitiram aos israelitas com o nome de shabbath. Era o dia do repouso e "ação de graças" recordando os anos que os hebreus passaram como escravos no Egito, e foi mais tarde estendidos aos escravos hebreus. Sob o impulso dos profetas do século VII, teve um significado teológico: o dia de descanso de Iavé]

5- Honrarás teu pai e tua mãe. [Trata-se de um preceito que se seguido assegura longos anos de vida na terra]

6- Não matarás. [Em hebraico, a expressão é "não assassinar", isto é, não matar um membro do clã; outrossim, a morte do inimigo, mulheres e crianças, é admitida]

7- Não praticarás adultério. [Isto é, apenas não seduzir uma mulher casada ou apenas prometida a outro; seduzir uma mulher núbil ou escrava não é adultério, e o mesmo não se aplica às mulheres]

8- Não roubar.

9- Não levantar o falso testemunho contra o teu vizinho.

10- Não desejar a mulher do seu vizinho, nem o seu campo, a sua escrava, o seu escravo, o seu boi, o seu asno, etc. [O termo hebraico para desejar é "por os olhos em cima", é provável que se refira ao mau olhado, isto é, lançar um mau agouro sobre a propriedade alheia]

VIII - Epílogo

Com o cisma político, Iavé tornou-se um deus nacional de dois povos inimigos. Este foi o primeiro exemplo histórico que permitiu a concepção de um deus de uma outra nação, e daí para o universo.

Foram os nabim (singular: nab), profetas errantes que combateram o culto de Baal e outros deuses, transformando a religião iaveística centrada no templo de Jerusalém, e depois, pelos sacerdotes do exílio, em uma religião ritualista.

IX - Bibliografia

FOHRER, Georg: História da Religião de Israel, Edições Paulinas, 1982.

HUBERT, Henri et Lévy, Isidore: Manuel d’Histoire des Religions, Librairie Armand Cilin, Paris, 1904.

DONINI, Ambrogio: Breve História das Religiões, Editora Civilização Brasileira S/A, RJ, 1965.

BRANDON, S. G. F. (editor): Dictionary of Comparative Religion, The University of Manchester Press, Londres, Inglaterra, 1970.

DONNER, Herbert. História de Israel e dos Povos Vizinhos. 1a edição. Petrópolis, R. J. : Editora Vozes S. A., 1997. 535 páginas, em dois volumes.

GARELLI, Paul et NIKIPROWETZKY, V. O Oriente Próximo Asiático (impérios mesopotâmicos e Israel), 1a edição. São Paulo, S. P. : Editora Universidade de São Paulo, 1982. 338 páginas.

MOSCATI, Sabatino. Las Antigas Civilizaciones Semíticas. 1a edição espanhola. Barcelona, Espanha : Editiones Garriga S. A., 1960. 318 páginas.

CARREIRA, José Nunes. Estudos de Cultura Pré-Clássica. 1a edição. Lisboa, Portugal : Editora Presença, 1985.

 

 

 

 

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