Bíblia

Novo  Testamento

Evangelho São  João

 

Capítulo 1

1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo

era Deus.

2 Ele estava no princípio junto de Deus.

3 Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.

4 Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.

5 A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

6 Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João.

7 Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que

todos cressem por meio dele.

8 Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

9 [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo

homem.

10 Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o

reconheceu.

11 Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.

12 Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome,

deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus,

13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da

vontade do homem, mas sim de Deus.

14 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a

glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade.

15 João dá testemunho dele, e exclama: Eis aquele de quem eu disse: O

que vem depois de mim é maior do que eu, porque existia antes de

mim.

16 Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça.

17 Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus

Cristo.

18 Ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi

quem o revelou.

19 Este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de

Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar-lhe: Quem és tu?

20 Ele fez esta declaração que confirmou sem hesitar: Eu não sou o

Cristo.

21 Pois, então, quem és?, perguntaram-lhe eles. És tu Elias? Disse ele:

Não o sou. És tu o profeta? Ele respondeu: Não.

22 Perguntaram-lhe de novo: Dize-nos, afinal, quem és, para que

possamos dar uma resposta aos que nos enviaram. Que dizes de ti

 

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mesmo?

23 Ele respondeu: Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o

caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías (40,3).

24 Alguns dos emissários eram fariseus.

25 Continuaram a perguntar-lhe: Como, pois, batizas, se tu não és o

Cristo, nem Elias, nem o profeta?

26 João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem

vós não conheceis.

27 Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar

a correia do calçado.

28 Este diálogo se passou em Betânia, além do Jordão, onde João

estava batizando.

29 No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: Eis o

Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

30 É este de quem eu disse: Depois de mim virá um homem, que me é

superior, porque existe antes de mim.

31 Eu não o conhecia, mas, se vim batizar em água, é para que ele se

torne conhecido em Israel.

32 (João havia declarado: Vi o Espírito descer do céu em forma de uma

pomba e repousar sobre ele.)

33 Eu não o conhecia, mas aquele que me mandou batizar em água

disse-me: Sobre quem vires descer e repousar o Espírito, este é quem

batiza no Espírito Santo.

34 Eu o vi e dou testemunho de que ele é o Filho de Deus.

35 No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus

discípulos.

36 E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus.

37 Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus.

38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que

procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?

39 Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram

com ele aquele dia. Era cerca da hora décima.

40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido

João e que o tinham seguido.

41 Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o

Messias (que quer dizer o Cristo).

42 Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão,

filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra).

43 No dia seguinte, tinha Jesus a intenção de dirigir-se à Galiléia.

Encontra Filipe e diz-lhe: Segue-me.

44 (Filipe era natural de Betsaida, cidade de André e Pedro.)

45 Filipe encontra Natanael e diz-lhe: Achamos aquele de quem Moisés

escreveu na lei e que os profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho

de José.

 

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46 Respondeu-lhe Natanael: Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré?

Filipe retrucou: Vem e vê.

47 Jesus vê Natanael, que lhe vem ao encontro, e diz: Eis um

verdadeiro israelita, no qual não há falsidade.

48 Natanael pergunta-lhe: Donde me conheces? Respondeu Jesus:

Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da

figueira.

49 Falou-lhe Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de

Israel.

50 Jesus replicou-lhe: Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira,

crês! Verás coisas maiores do que esta.

51 E ajuntou: Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e

os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.

Capítulo 2

1 Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achavase

ali a mãe de Jesus.

2 Também foram convidados Jesus e os seus discípulos.

3 Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm

vinho.

4 Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda

não chegou.

5 Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser.

6 Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos

judeus, que continham cada qual duas ou três medidas.

7 Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até

em cima.

8 Tirai agora , disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E

levaram.

9 Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não

sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois

tinham tirado a água), chamou o noivo

10 e disse-lhe: É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando

os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu

guardaste o vinho melhor até agora.

11 Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia.

Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.

12 Depois disso, desceu para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e

seus discípulos; e ali só demoraram poucos dias.

13 Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

14 Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e

mesas dos trocadores de moedas.

 

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15 Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como

também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos

trocadores e derrubou as mesas.

16 Disse aos que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da

casa de meu Pai uma casa de negociantes.

17 Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: O zelo

da tua casa me consome (Sl 68,10).

18 Perguntaram-lhe os judeus: Que sinal nos apresentas tu, para

procederes deste modo?

19 Respondeu-lhes Jesus: Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em

três dias.

20 Os judeus replicaram: Em quarenta e seis anos foi edificado este

templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?!

21 Mas ele falava do templo do seu corpo.

22 Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se

destas palavras e creram na Escritura e na palavra de Jesus.

23 Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos

creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia.

24 Mas Jesus mesmo não se fiava neles, porque os conhecia a todos.

25 Ele não necessitava que alguém desse testemunho de nenhum

homem, pois ele bem sabia o que havia no homem.

Capítulo 3

1 Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, príncipe dos

judeus.

2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és um

Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se

Deus não estiver com ele.

3 Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer

de novo não poderá ver o Reino de Deus.

4 Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo

velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer

pela segunda vez?

5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não

renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.

6 O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.

7 Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de

novo.

8 O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde

vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do

Espírito.

9 Replicou Nicodemos: Como se pode fazer isso?

 

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10 Disse Jesus: És doutor em Israel e ignoras estas coisas!...

11 Em verdade, em verdade te digo: dizemos o que sabemos e damos

testemunho do que vimos, mas não recebeis o nosso testemunho.

12 Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como

crereis se vos falar das celestiais?

13 Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do

Homem que está no céu.

14 Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser

levantado o Filho do Homem,

15 para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna.

16 Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho

único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida

eterna.

17 Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para

que o mundo seja salvo por ele.

18 Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está

condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus.

19 Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens

amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más.

20 Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a

luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.

21 Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim

claro que as suas obras são feitas em Deus.

22 Em seguida, foi Jesus com os seus discípulos para os campos da

Judéia, e ali se deteve com eles, e batizava.

23 Também João batizava em Enon, perto de Salim, porque havia ali

muita água, e muitos vinham e eram batizados.

24 Pois João ainda não tinha sido lançado no cárcere.

25 Ora, surgiu uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, a

respeito da purificação.

26 Foram e disseram-lhe: Mestre, aquele que estava contigo além do

Jordão, de quem tu deste testemunho, ei-lo que está batizando e todos

vão ter com ele...

27 João replicou: Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe

foi dado do céu.

28 Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo,

mas fui enviado diante dele.

29 Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém,

que está presente e o ouve, regozija-se sobremodo com a voz do

esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa.

30 Importa que ele cresça e que eu diminua.

31 Aquele que vem de cima é superior a todos. Aquele que vem da terra

é terreno e fala de coisas terrenas. Aquele que vem do céu é superior a

todos.

 

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32 Ele testemunha as coisas que viu e ouviu, mas ninguém recebe o seu

testemunho.

33 Aquele que recebe o seu testemunho confirma que Deus é

verdadeiro.

34 Com efeito, aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus,

porque ele concede o Espírito sem medidas.

35 O Pai ama o Filho e confiou-lhe todas as coisas.

36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; quem não crê no Filho

não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.

Capítulo 4

1 O Senhor soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele recrutava

e batizava mais discípulos que João

2 (se bem que não era Jesus quem batizava, mas os seus discípulos).

3 Deixou a Judéia e voltou para a Galiléia.

4 Ora, devia passar por Samaria.

5 Chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto das

terras que Jacó dera a seu filho José.

6 Ali havia o poço de Jacó. E Jesus, fatigado da viagem, sentou-se à

beira do poço. Era por volta do meio-dia.

7 Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: Dá-me de

beber.

8 (Pois os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.)

9 Aquela samaritana lhe disse: Sendo tu judeu, como pedes de beber a

mim, que sou samaritana!... (Pois os judeus não se comunicavam com

os samaritanos.)

10 Respondeu-lhe Jesus: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que

te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria

uma água viva.

11 A mulher lhe replicou: Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é

fundo... donde tens, pois, essa água viva?

12 És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este

poço, do qual ele mesmo bebeu e também os seus filhos e os seus

rebanhos?

13 Respondeu-lhe Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a

ter sede,

14 mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a

água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida

eterna.

15 A mulher suplicou: Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter

sede nem vir aqui tirá-la!

16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e volta cá.

 

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17 A mulher respondeu: Não tenho marido. Disse Jesus: Tens razão em

dizer que não tens marido.

18 Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu. Nisto disseste a

verdade.

19 Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que és profeta!...

20 Nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em

Jerusalém que se deve adorar.

21 Jesus respondeu: Mulher, acredita-me, vem a hora em que não

adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém.

22 Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos,

porque a salvação vem dos judeus.

23 Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão

de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai

deseja.

24 Deus é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e

verdade.

25 Respondeu a mulher: Sei que deve vir o Messias (que se chama

Cristo); quando, pois, vier, ele nos fará conhecer todas as coisas.

26 Disse-lhe Jesus: Sou eu, quem fala contigo.

27 Nisso seus discípulos chegaram e maravilharam-se de que estivesse

falando com uma mulher. Ninguém, todavia, perguntou: Que

perguntas? Ou: Que falas com ela?

28 A mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:

29 Vinde e vede um homem que me contou tudo o que tenho feito. Não

seria ele, porventura, o Cristo?

30 Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus.

31 Entretanto, os discípulos lhe pediam: Mestre, come.

32 Mas ele lhes disse: Tenho um alimento para comer que vós não

conheceis.

33 Os discípulos perguntavam uns aos outros: Alguém lhe teria trazido

de comer?

34 Disse-lhes Jesus: Meu alimento é fazer a vontade daquele que me

enviou e cumprir a sua obra.

35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses e vem a colheita? Eis que

vos digo: levantai os vossos olhos e vede os campos, porque já estão

brancos para a ceifa.

36 O que ceifa recebe o salário e ajunta fruto para a vida eterna; assim

o semeador e o ceifador juntamente se regozijarão.

37 Porque eis que se pode dizer com toda verdade: Um é o que semeia

outro é o que ceifa.

38 Enviei-vos a ceifar onde não tendes trabalhado; outros trabalharam,

e vós entrastes nos seus trabalhos.

39 Muitos foram os samaritanos daquela cidade que creram nele por

causa da palavra da mulher, que lhes declarara: Ele me disse tudo

 

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quanto tenho feito.

40 Assim, quando os samaritanos foram ter com ele, pediram que

ficasse com eles. Ele permaneceu ali dois dias.

41 Ainda muitos outros creram nele por causa das suas palavras.

42 E diziam à mulher: Já não é por causa da tua declaração que cremos,

mas nós mesmos ouvimos e sabemos ser este verdadeiramente o

Salvador do mundo.

43 Passados os dois dias, Jesus partiu para a Galiléia.

44 (Ele mesmo havia declarado que um profeta não é honrado na sua

pátria.)

45 Chegando à Galiléia, acolheram-no os galileus, porque tinham visto

tudo o que fizera durante a festa em Jerusalém; pois também eles

tinham ido à festa.

46 Ele voltou, pois, a Caná da Galiléia, onde transformara água em

vinho. Havia então em Cafarnaum um oficial do rei, cujo filho estava

doente.

47 Ao ouvir que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi a ele e rogoulhe

que descesse e curasse seu filho, que estava prestes a morrer.

48 Disse-lhe Jesus: Se não virdes milagres e prodígios, não credes...

49 Pediu-lhe o oficial: Senhor, desce antes que meu filho morra!

50 Vai, disse-lhe Jesus, o teu filho está passando bem! O homem

acreditou na palavra de Jesus e partiu.

51 Enquanto ia descendo, os criados vieram-lhe ao encontro e lhe

disseram: Teu filho está passando bem.

52 Indagou então deles a hora em que se sentira melhor. Responderamlhe:

Ontem à sétima hora a febre o deixou.

53 Reconheceu o pai ser a mesma hora em que Jesus dissera: Teu filho

está passando bem. E creu tanto ele como toda a sua casa.

54 Esse foi o segundo milagre que Jesus fez, depois de voltar da Judéia

para a Galiléia.

Capítulo 5

1 Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

2 Há em Jerusalém, junto à porta das Ovelhas, um tanque, chamado em

hebraico Betesda, que tem cinco pórticos.

3 Nestes pórticos jazia um grande número de enfermos, de cegos, de

coxos e de paralíticos, que esperavam o movimento da água.

4 [Pois de tempos em tempos um anjo do Senhor descia ao tanque e a

água se punha em movimento. E o primeiro que entrasse no tanque,

depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que

tivesse.]

5 Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos.

 

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6 Vendo-o deitado e sabendo que já havia muito tempo que estava

enfermo, perguntou-lhe Jesus: Queres ficar curado?

7 O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho ninguém que me ponha

no tanque, quando a água é agitada; enquanto vou, já outro desceu

antes de mim.

8 Ordenou-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.

9 No mesmo instante, aquele homem ficou curado, tomou o seu leito e

foi andando. Ora, aquele dia era sábado.

10 E os judeus diziam ao homem curado: E sábado, não te é permitido

carregar o teu leito.

11 Respondeu-lhes ele: Aquele que me curou disse: Toma o teu leito e

anda.

12 Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu

leito e anda?

13 O que havia sido curado, porém, não sabia quem era, porque Jesus

se havia retirado da multidão que estava naquele lugar.

14 Mais tarde, Jesus o achou no templo e lhe disse: Eis que ficaste são;

já não peques, para não te acontecer coisa pior.

15 Aquele homem foi então contar aos judeus que fora Jesus quem o

havia curado.

16 Por esse motivo, os judeus perseguiam Jesus, porque fazia esses

milagres no dia de sábado.

17 Mas ele lhes disse: Meu Pai continua agindo até agora, e eu ajo

também.

18 Por esta razão os judeus, com maior ardor, procuravam tirar-lhe a

vida, porque não somente violava o repouso do sábado, mas afirmava

ainda que Deus era seu Pai e se fazia igual a Deus.

19 Jesus tomou a palavra e disse-lhes: Em verdade, em verdade vos

digo: o Filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o que

vê fazer o Pai; e tudo o que o Pai faz, o faz também semelhantemente o

Filho.

20 Pois o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz; e maiores obras

do que esta lhe mostrará, para que fiqueis admirados.

21 Com efeito, como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, assim

também o Filho dá vida a quem ele quer.

22 Assim também o Pai não julga ninguém, mas entregou todo o

julgamento ao Filho.

23 Desse modo, todos honrarão o Filho, bem como honram o Pai.

Aquele que não honra o Filho, não honra o Pai, que o enviou.

24 Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê

naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação,

mas passou da morte para a vida.

25 Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora, e já está aí, em que

os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão.

 

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26 Pois como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também deu ao

Filho o ter a vida em si mesmo,

27 e lhe conferiu o poder de julgar, porque é o Filho do Homem.

28 Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que

se acham nos sepulcros sairão deles ao som de sua voz:

29 os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles

que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados.

30 De mim mesmo não posso fazer coisa alguma. Julgo como ouço; e o

meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a

vontade daquele que me enviou.

31 Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu

testemunho.

32 Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o

testemunho que dá de mim.

33 Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.

34 Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas

coisas, a fim de que sejais salvos.

35 João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma

hora quisestes alegrar-vos com a sua luz.

36 Mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que

meu Pai me deu para executar - essas mesmas obras que faço -

testemunham a meu respeito que o Pai me enviou.

37 E o Pai que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Vós

nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua face...

38 e não tendes a sua palavra permanente em vós, pois não credes

naquele que ele enviou.

39 Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna.

Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de mim.

40 E vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida...

41 Não espero a minha glória dos homens,

42 mas sei que não tendes em vós o amor de Deus.

43 Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em

seu próprio nome, haveis de recebê-lo...

44 Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não

buscais a glória que é só de Deus?

45 Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos

acusa: Moisés, no qual colocais a vossa esperança.

46 Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele

escreveu a meu respeito.

47 Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas

minhas palavras?

 

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Capítulo 6

1 Depois disso, atravessou Jesus o lago da Galiléia (que é o de

Tiberíades.)

2 Seguia-o uma grande multidão, porque via os milagres que fazia em

beneficio dos enfermos.

3 Jesus subiu a um monte e ali se sentou com seus discípulos.

4 Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus.

5 Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter

com ele e disse a Filipe: Onde compraremos pão para que todos estes

tenham o que comer?

6 Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de

fazer.

7 Filipe respondeu-lhe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para

que cada um receba um pedaço.

8 Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disselhe:

9 Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes...

mas que é isto para tanta gente?

10 Disse Jesus: Fazei-os assentar. Ora, havia naquele lugar muita relva.

Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil.

11 Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às

pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu

quanto queriam.

12 Estando eles saciados, disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que

sobraram, para que nada se perca.

13 Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que

sobraram, encheram doze cestos.

14 À vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: Este é

verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo.

15 Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a

retirar-se sozinho para o monte.

16 Chegada a tarde, os seus discípulos desceram à margem do lago.

17 Subindo a uma barca, atravessaram o lago rumo a Cafarnaum. Era já

escuro, e Jesus ainda não se tinha reunido a eles.

18 O mar, entretanto, se agitava, porque soprava um vento rijo.

19 Tendo eles remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus

que se aproximava da barca, andando sobre as águas, e ficaram

atemorizados.

20 Mas ele lhes disse: Sou eu, não temais.

21 Quiseram recebê-lo na barca, mas pouco depois a barca chegou ao

seu destino.

22 No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar

 

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percebeu que Jesus não tinha subido com seus discípulos na única barca

que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos.

23 Nesse meio tempo, outras barcas chegaram de Tiberíades, perto do

lugar onde tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças.

24 E, reparando a multidão que nem Jesus nem os seus discípulos

estavam ali, entrou nas barcas e foi até Cafarnaum à sua procura.

25 Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: Mestre,

quando chegaste aqui?

26 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscaisme,

não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e

ficastes fartos.

27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida

eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois nele Deus Pai imprimiu o

seu sinal.

28 Perguntaram-lhe: Que faremos para praticar as obras de Deus?

29 Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele

que ele enviou.

30 Perguntaram eles: Que milagre fazes tu, para que o vejamos e

creiamos em ti? Qual é a tua obra?

31 Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está

escrito: Deu-lhes de comer o pão vindo do céu (Sl 77,24).

32 Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: Moisés

não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro

pão do céu;

33 porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo.

34 Disseram-lhe: Senhor, dá-nos sempre deste pão!

35 Jesus replicou: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não

terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede.

36 Mas já vos disse: Vós me vedes e não credes...

37 Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o

lançarei fora.

38 Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade

daquele que me enviou.

39 Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe

perecer nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último

dia.

40 Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele

crê, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

41 Murmuravam então dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que

desceu do céu.

42 E perguntavam: Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai

e mãe conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?

43 Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.

44 Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu

 

14

hei de ressuscitá-lo no último dia.

45 Está escrito nos profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is

54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e foi por ele instruído vem a

mim.

46 Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus,

esse é que viu o Pai.

47 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida

eterna.

48 Eu sou o pão da vida.

49 Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram.

50 Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que

dele comer.

51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá

eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a

salvação do mundo.

52 A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como

pode este homem dar-nos de comer a sua carne?

53 Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não

comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue,

não tereis a vida em vós mesmos.

54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna;

e eu o ressuscitarei no último dia.

55 Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue,

verdadeiramente uma bebida.

56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim

e eu nele.

57 Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim

também aquele que comer a minha carne viverá por mim.

58 Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais

comeram e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente.

59 Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.

60 Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro!

Quem o pode admitir?

61 Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por isso, perguntoulhes:

Isso vos escandaliza?

62 Que será, quando virdes subir o Filho do Homem para onde ele

estava antes?...

63 O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos

tenho dito são espírito e vida.

64 Mas há alguns entre vós que não crêem... Pois desde o princípio

Jesus sabia quais eram os que não criam e quem o havia de trair.

65 Ele prosseguiu: Por isso vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por

meu Pai não lho for concedido.

66 Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não

 

15

andavam com ele.

67 Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos?

68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens

as palavras da vida eterna.

69 E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus!

70 Jesus acrescentou: Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um

de vós é um demônio!...

71 Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era quem o

havia de entregar não obstante ser um dos Doze.

Capítulo 7

1 Depois disso, Jesus percorria a Galiléia. Ele não queria deter-se na

Judéia, porque os judeus procuravam tirar-lhe a vida.

2 Aproximava-se a festa dos judeus chamada dos Tabernáculos.

3 Seus irmãos disseram-lhe: Parte daqui e vai para a Judéia, a fim de

que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.

4 Pois quem deseja ser conhecido em público não faz coisa alguma

ocultamente. Já que fazes essas obras, revela-te ao mundo.

5 Com efeito, nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele.

6 Disse-lhes Jesus: O meu tempo ainda não chegou, mas para vós a

hora é sempre favorável.

7 O mundo não vos pode odiar, mas odeia-me, porque eu testemunho

contra ele que as suas obras são más.

8 Subi vós para a festa. Quanto a mim, eu não irei, porque ainda não

chegou o meu tempo.

9 Dito isto, permaneceu na Galiléia.

10 Mas quando os seus irmãos tinham subido, então subiu também ele

à festa, não em público, mas despercebidamente.

11 Buscavam-no os judeus durante a festa e perguntavam: Onde está

ele?

12 E na multidão só se discutia a respeito dele. Uns diziam: É homem

de bem. Outros, porém, diziam: Não é; ele seduz o povo.

13 Ninguém, contudo, ousava falar dele livremente com medo dos

judeus.

14 Lá pelo meio da festa, Jesus subiu ao templo e pôs-se a ensinar.

15 Os judeus se admiravam e diziam: Este homem não fez estudos.

Donde lhe vem, pois, este conhecimento das Escrituras?

16 Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina não é minha, mas daquele

que me enviou.

17 Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se a minha

doutrina é de Deus ou se falo de mim mesmo.

18 Quem fala por própria autoridade busca a própria glória, mas quem

 

16

procura a glória de quem o enviou é digno de fé e nele não há

impostura alguma.

19 Acaso não foi Moisés quem vos deu a lei? No entanto, ninguém de

vós cumpre a lei!...

20 Por que procurais tirar-me a vida? Respondeu o povo: Tens um

demônio! Quem procura tirar-te a vida?

21 Replicou Jesus: Fiz uma só obra, e todos vós vos maravilhais!

22 Moisés vos deu a circuncisão (se bem que ela não é de Moisés, mas

dos patriarcas), e até no sábado circuncidais um homem!

23 Se um homem recebe a circuncisão em dia de sábado, e isso sem

violar a Lei de Moisés, por que vos indignais comigo, que tenho curado

um homem em todo o seu corpo em dia de sábado?

24 Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça.

25 Algumas das pessoas de Jerusalém diziam: Não é este aquele a

quem procuram tirar a vida?

26 Todavia, ei-lo que fala em público e não lhe dizem coisa alguma.

Porventura reconheceram de fato as autoridades que ele é o Cristo?

27 Mas este nós sabemos de onde vem. Do Cristo, porém, quando vier,

ninguém saberá de onde seja.

28 Enquanto ensinava no templo, Jesus exclamou: Ah! Vós me

conheceis e sabeis de onde eu sou!... Entretanto, não vim de mim

mesmo, mas é verdadeiro aquele que me enviou, e vós não o conheceis.

29 Eu o conheço, porque venho dele e ele me enviou.

30 Procuraram prendê-lo, mas ninguém lhe deitou as mãos, porque

ainda não era chegada a sua hora.

31 Muitos do povo, porém, creram nele e perguntavam: Quando vier o

Cristo, fará mais milagres do que este faz?

32 Os fariseus ouviram esse murmúrio que circulava entre o povo a

respeito de Jesus. Então, de acordo com eles, os príncipes dos

sacerdotes enviaram guardas para prendê-lo.

33 Disse Jesus: Ainda por um pouco de tempo estou convosco e então

vou para aquele que me enviou.

34 Buscar-me-eis sem me achar, nem podereis ir para onde estou.

35 Os judeus perguntavam entre si: Para onde irá ele, que o não

possamos achar? Porventura irá para o meio dos judeus dispersos entre

os gregos, para tornar-se o doutor dos estrangeiros?

36 Que significam essas palavras que nos disse: Buscar-me-eis sem me

achar, e onde estou para lá não podereis ir?

37 No último dia, que é o principal dia de festa, estava Jesus de pé e

clamava: Se alguém tiver sede, venha a mim e beba.

38 Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão

rios de água viva (Zc 14,8; Is 58,11).

39 Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que

cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda

 

17

não tinha sido glorificado.

40 Ouvindo essas palavras, alguns daquela multidão diziam: Este é

realmente o profeta.

41 Outros diziam: Este é o Cristo. Mas outros protestavam: É acaso da

Galiléia que há de vir o Cristo?

42 Não diz a Escritura: O Cristo há de vir da família de Davi, e da aldeia

de Belém, onde vivia Davi?

43 Houve por isso divisão entre o povo por causa dele.

44 Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe lançou as mãos.

45 Voltaram os guardas para junto dos príncipes dos sacerdotes e

fariseus, que lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?

46 Os guardas responderam: Jamais homem algum falou como este

homem!...

47 Replicaram os fariseus: Porventura também vós fostes seduzidos?

48 Há, acaso, alguém dentre as autoridades ou fariseus que acreditou

nele?

49 Este poviléu que não conhece a lei é amaldiçoado!...

50 Replicou-lhes Nicodemos, um deles, o mesmo que de noite o fora

procurar:

51 Condena acaso a nossa lei algum homem, antes de o ouvir e

conhecer o que ele faz?

52 Responderam-lhe: Porventura és também tu galileu? Informa-te bem

e verás que da Galiléia não saiu profeta.

53 E voltaram, cada um para sua casa.

Capítulo 8

1 Dirigiu-se Jesus para o monte das Oliveiras.

2 Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a ele.

Assentou-se e começou a ensinar.

3 Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora

apanhada em adultério.

4 Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: Mestre, agora

mesmo esta mulher foi apanhada em adultério.

5 Moisés mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres. Que

dizes tu a isso?

6 Perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo.

Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra.

7 Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: Quem de vós estiver

sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.

8 Inclinando-se novamente, escrevia na terra.

9 A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência,

eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais

 

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idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele.

10 Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe:

Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?

11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Disse-lhe então Jesus: Nem eu te

condeno. Vai e não tornes a pecar.

12 Falou-lhes outra vez Jesus: Eu sou a luz do mundo; aquele que me

segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.

13 A isso, os fariseus lhe disseram: Tu dás testemunho de ti mesmo;

teu testemunho não é digno de fé.

14 Respondeu-lhes Jesus: Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o

meu testemunho é digno de fé, porque sei de onde vim e para onde

vou; mas vós não sabeis de onde venho nem para onde vou.

15 Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém.

16 E, se julgo, o meu julgamento é conforme a verdade, porque não

estou sozinho, mas comigo está o Pai que me enviou.

17 Ora, na vossa lei está escrito: O testemunho de duas pessoas é

digno de fé (Dt 19,15).

18 Eu dou testemunho de mim mesmo; e meu Pai, que me enviou, o dá

também.

19 Perguntaram-lhe: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não

conheceis nem a mim nem a meu Pai; se me conhecêsseis, certamente

conheceríeis também a meu Pai.

20 Estas palavras proferiu Jesus ensinando no templo, junto aos cofres

de esmola. Mas ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a

sua hora.

21 Jesus disse-lhes: Eu me vou, e procurar-me-eis e morrereis no vosso

pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir.

22 Perguntavam os judeus: Será que ele se vai matar, pois diz: Para

onde eu vou, vós não podeis ir?

23 Ele lhes disse: Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois

deste mundo, eu não sou deste mundo.

24 Por isso vos disse: morrereis no vosso pecado; porque, se não

crerdes o que eu sou, morrereis no vosso pecado.

25 Quem és tu?, perguntaram-lhe eles então. Jesus respondeu:

Exatamente o que eu vos declaro.

26 Tenho muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, mas o que

me enviou é verdadeiro e o que dele ouvi eu o digo ao mundo.

27 Eles, porém, não compreenderam que ele lhes falava do Pai.

28 Jesus então lhes disse: Quando tiverdes levantado o Filho do

Homem, então conhecereis quem sou e que nada faço de mim mesmo,

mas falo do modo como o Pai me ensinou.

29 Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho,

porque faço sempre o que é do seu agrado.

30 Tendo proferido essas palavras, muitos creram nele.

 

19

31 E Jesus dizia aos judeus que nele creram: Se permanecerdes na

minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos;

32 conhecereis a verdade e a verdade vos livrará.

33 Replicaram-lhe: Somos descendentes de Abraão e jamais fomos

escravos de alguém. Como dizes tu: Sereis livres?

34 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo homem

que se entrega ao pecado é seu escravo.

35 Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica

para sempre.

36 Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.

37 Bem sei que sois a raça de Abraão; mas quereis matar-me, porque a

minha palavra não penetra em vós.

38 Eu falo o que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que aprendestes de

vosso pai.

39 Nosso pai, replicaram eles, é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se fôsseis

filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.

40 Mas, agora, procurais tirar-me a vida, a mim que vos falei a verdade

que ouvi de Deus! Isso Abraão não o fez.

41 Vós fazeis as obras de vosso pai. Retrucaram-lhe eles: Nós não

somos filhos da fornicação; temos um só pai: Deus.

42 Jesus replicou: Se Deus fosse vosso pai, vós me amaríeis, porque eu

saí de Deus. É dele que eu provenho, porque não vim de mim mesmo,

mas foi ele quem me enviou.

43 Por que não compreendeis a minha linguagem? É porque não podeis

ouvir a minha palavra.

44 Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso

pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade,

porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é

próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.

45 Mas eu, porque vos digo a verdade, não me credes.

46 Quem de vós me acusará de pecado? Se vos falo a verdade, por que

me não credes?

47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus, e se vós não as ouvis é

porque não sois de Deus.

48 Responderam então os judeus: Não dizemos com razão que és

samaritano, e que estás possesso de um demônio?

49 Respondeu-lhes Jesus: Eu não estou possesso de demônio, mas

honro a meu Pai. Vós, porém, me ultrajais!

50 Não busco a minha glória. Há quem a busque e ele fará justiça.

51 Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha

palavra, não verá jamais a morte.

52 Disseram-lhe os judeus: Agora vemos que és possuído de um

demônio. Abraão morreu, e também os profetas. E tu dizes que, se

alguém guardar a tua palavra, jamais provará a morte...

 

20

53 És acaso maior do que nosso pai Abraão? E, entretanto, ele morreu...

e os profetas também. Quem pretendes ser?

54 Respondeu Jesus: Se me glorifico a mim mesmo, a minha glória não

é nada; meu Pai é quem me glorifica, aquele que vós dizeis ser o vosso

Deus

55 e, contudo, não o conheceis. Eu, porém, o conheço e, se dissesse

que não o conheço, seria mentiroso como vós. Mas conheço-o e guardo

a sua palavra.

56 Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver o meu dia. Viuo

e ficou cheio de alegria.

57 Os judeus lhe disseram: Não tens ainda cinqüenta anos e viste

Abraão!...

58 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: antes que

Abraão fosse, eu sou.

59 A essas palavras, pegaram então em pedras para lhas atirar. Jesus,

porém, se ocultou e saiu do templo.

Capítulo 9

1 Caminhando, viu Jesus um cego de nascença.

2 Os seus discípulos indagaram dele: Mestre, quem pecou, este homem

ou seus pais, para que nascesse cego?

3 Jesus respondeu: Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário

que nele se manifestem as obras de Deus.

4 Enquanto for dia, cumpre-me terminar as obras daquele que me

enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar.

5 Por isso, enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.

6 Dito isso, cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o

lodo ungiu os olhos do cego.

7 Depois lhe disse: Vai, lava-te na piscina de Siloé (esta palavra

significa emissário). O cego foi, lavou-se e voltou vendo.

8 Então os vizinhos e aqueles que antes o tinham visto mendigar

perguntavam: Não é este aquele que, sentado, mendigava?

9 Respondiam alguns: É ele. Outros contestavam: De nenhum modo, é

um parecido com ele. Ele, porém, dizia: Sou eu mesmo.

10 Perguntaram-lhe, então: Como te foram abertos os olhos?

11 Respondeu ele: Aquele homem que se chama Jesus fez lodo, ungiume

os olhos e disse-me: Vai à piscina de Siloé e lava-te. Fui, lavei-me e

vejo.

12 Interrogaram-no: Onde está esse homem? Respondeu: Não o sei.

13 Levaram então o que fora cego aos fariseus.

14 Ora, era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.

15 Os fariseus indagaram dele novamente de que modo ficara vendo.

 

21

Respondeu-lhes: Pôs-me lodo nos olhos, lavei-me e vejo.

16 Diziam alguns dos fariseus: Este homem não é o enviado de Deus,

pois não guarda sábado. Outros replicavam: Como pode um pecador

fazer tais prodígios? E havia desacordo entre eles.

17 Perguntaram ainda ao cego: Que dizes tu daquele que te abriu os

olhos? É um profeta, respondeu ele.

18 Mas os judeus não quiseram admitir que aquele homem tivesse sido

cego e que tivesse recobrado a vista, até que chamaram seus pais.

19 E os interrogaram: É este o vosso filho? Afirmais que ele nasceu

cego? Pois como é que agora vê?

20 Seus pais responderam: Sabemos que este é o nosso filho e que

nasceu cego.

21 Mas não sabemos como agora ficou vendo, nem quem lhe abriu os

olhos. Perguntai-o a ele. Tem idade. Que ele mesmo explique.

22 Seus pais disseram isso porque temiam os judeus, pois os judeus

tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse

Jesus como o Cristo.

23 Por isso é que seus pais responderam: Ele tem idade, perguntai-lho.

24 Tornaram a chamar o homem que fora cego, dizendo-lhe: Dá glória a

Deus! Nós sabemos que este homem é pecador.

25 Disse-lhes ele: Se esse homem é pecador, não o sei... Sei apenas

isto: sendo eu antes cego, agora vejo.

26 Perguntaram-lhe ainda uma vez: Que foi que ele te fez? Como te

abriu os olhos?

27 Respondeu-lhes: Eu já vo-lo disse e não me destes ouvidos. Por que

quereis tornar a ouvir? Quereis vós, porventura, tornar-vos também

seus discípulos?...

28 Então eles o cobriram de injúrias e lhe disseram: Tu que és discípulo

dele! Nós somos discípulos de Moisés.

29 Sabemos que Deus falou a Moisés, mas deste não sabemos de onde

ele é.

30 Respondeu aquele homem: O que é de admirar em tudo isso é que

não saibais de onde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos.

31 Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a

quem lhe presta culto e faz a sua vontade.

32 Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego

de nascença.

33 Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada.

34 Responderam-lhe eles: Tu nasceste todo em pecado e nos

ensinas?... E expulsaram-no.

35 Jesus soube que o tinham expulsado e, havendo-o encontrado,

perguntou-lhe: Crês no Filho do Homem?

36 Respondeu ele: Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele?

37 Disse-lhe Jesus: Tu o vês, é o mesmo que fala contigo!

 

22

38 Creio, Senhor, disse ele. E, prostrando-se, o adorou.

39 Jesus então disse: Vim a este mundo para fazer uma discriminação:

os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.

40 Alguns dos fariseus, que estavam com ele, ouviram-no e

perguntaram-lhe: Também nós somos, acaso, cegos?...

41 Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas

agora pretendeis ver, e o vosso pecado subsiste.

Capítulo 10

1 Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no

aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.

2 Mas quem entra pela porta é o pastor das ovelhas.

3 A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as

ovelhas pelo nome e as conduz à pastagem.

4 Depois de conduzir todas as suas ovelhas para fora, vai adiante delas;

e as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz.

5 Mas não seguem o estranho; antes fogem dele, porque não conhecem

a voz dos estranhos.

6 Jesus disse-lhes essa parábola, mas não entendiam do que ele queria

falar.

7 Jesus tornou a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a

porta das ovelhas.

8 Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas

as ovelhas não os ouviram.

9 Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará

como sairá e encontrará pastagem.

10 O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para

que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância.

11 Eu sou o bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas.

12 O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não pertencem as

ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e foge;

o lobo rouba e dispersa as ovelhas.

13 O mercenário, porém, foge, porque é mercenário e não se importa

com as ovelhas.

14 Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas

ovelhas conhecem a mim,

15 como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida

pelas minhas ovelhas.

16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso

conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e

um só pastor.

17 O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.

 

23

18 Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o

poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que

recebi de meu Pai.

19 A propósito dessas palavras, originou-se nova divisão entre os

judeus.

20 Muitos deles diziam: Ele está possuído do demônio. Ele delira. Por

que o escutais vós?

21 Outros diziam: Estas palavras não são de quem está

endemoninhado. Acaso pode o demônio abrir os olhos a um cego?

22 Celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação. Era inverno.

23 Jesus passeava no templo, no pórtico de Salomão.

24 Os judeus rodearam-no e perguntaram-lhe: Até quando nos deixarás

na incerteza? Se tu és o Cristo, dize-nos claramente.

25 Jesus respondeu-lhes : Eu vo-lo digo, mas não credes. As obras que

faço em nome de meu Pai, estas dão testemunho de mim.

26 Entretanto, não credes, porque não sois das minhas ovelhas.

27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me

seguem.

28 Eu llhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as

roubará de minha mão.

29 Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém as pode

arrebatar da mão de meu Pai.

30 Eu e o Pai somos um.

31 Os judeus pegaram pela segunda vez em pedras para o apedejar.

32 Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de

meu Pai. Por qual dessas obras me apedrejais?

33 Os judeus responderam-lhe: Não é por causa de alguma boa obra

que te queremos apedrejar, mas por uma blasfêmia, porque, sendo

homem, te fazes Deus.

34 Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Vós sois

deuses (Sl 81,6)?

35 Se a lei chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida

(ora, a Escritura não pode ser desprezada),

36 como acusais de blasfemo aquele a quem o Pai santificou e enviou ao

mundo, porque eu disse: Sou o Filho de Deus?

37 Se eu não faço as obras de meu Pai, não me creiais.

38 Mas se as faço, e se não quiserdes crer em mim, crede nas minhas

obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no

Pai.

39 Procuraram então prendê-lo, mas ele se esquivou das suas mãos.

40 Ele se retirou novamente para além do Jordão, para o lugar onde

João começara a batizar, e lá permaneceu.

41 Muitos foram a ele e diziam: João não fez milagre algum,

42 mas tudo o que João falou deste homem era verdade. E muitos

 

24

acreditaram nele.

Capítulo 11

1 Lázaro caiu doente em Betânia, onde estavam Maria e sua irmã Marta.

2 Maria era quem ungira o Senhor com o óleo perfumado e lhe enxugara

os pés com os seus cabelos. E Lázaro, que estava enfermo, era seu

irmão.

3 Suas irmãs mandaram, pois, dizer a Jesus: Senhor, aquele que tu

amas está enfermo.

4 A estas palavras, disse-lhes Jesus: Esta enfermidade não causará a

morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado

o Filho de Deus.

5 Ora, Jesus amava Marta, Maria, sua irmã, e Lázaro.

6 Mas, embora tivesse ouvido que ele estava enfermo, demorou-se

ainda dois dias no mesmo lugar.

7 Depois, disse a seus discípulos: Voltemos para a Judéia.

8 Mestre, responderam eles, há pouco os judeus te queriam apedrejar,

e voltas para lá?

9 Jesus respondeu: Não são doze as horas do dia? Quem caminha de dia

não tropeça, porque vê a luz deste mundo.

10 Mas quem anda de noite tropeça, porque lhe falta a luz.

11 Depois destas palavras, ele acrescentou: Lázaro, nosso amigo,

dorme, mas vou despertá-lo.

12 Disseram-lhe os seus discípulos: Senhor, se ele dorme, há de sarar.

13 Jesus, entretanto, falara da sua morte, mas eles pensavam que

falasse do sono como tal.

14 Então Jesus lhes declarou abertamente: Lázaro morreu.

15 Alegro-me por vossa causa, por não ter estado lá, para que creiais.

Mas vamos a ele.

16 A isso Tomé, chamado Dídimo, disse aos seus condiscípulos: Vamos

também nós, para morrermos com ele.

17 À chegada de Jesus, já havia quatro dias que Lázaro estava no

sepulcro.

18 Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.

19 Muitos judeus tinham vindo a Marta e a Maria, para lhes apresentar

condolências pela morte de seu irmão.

20 Mal soube Marta da vinda de Jesus, saiu-lhe ao encontro. Maria,

porém, estava sentada em casa.

21 Marta disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não

teria morrido!

22 Mas sei também, agora, que tudo o que pedires a Deus, Deus to

concederá.

 

25

23 Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá.

24 Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição no

último dia.

25 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em

mim, ainda que esteja morto, viverá.

26 E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto?

27 Respondeu ela: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de

Deus, aquele que devia vir ao mundo.

28 A essas palavras, ela foi chamar sua irmã Maria, dizendo-lhe

baixinho: O Mestre está aí e te chama.

29 Apenas ela o ouviu, levantou-se imediatamente e foi ao encontro

dele.

30 (Pois Jesus não tinha chegado à aldeia, mas estava ainda naquele

lugar onde Marta o tinha encontrado.)

31 Os judeus que estavam com ela em casa, em visita de pêsames, ao

verem Maria levantar-se depressa e sair, seguiram-na, crendo que ela ia

ao sepulcro para ali chorar.

32 Quando, porém, Maria chegou onde Jesus estava e o viu, lançou-se

aos seus pés e disse-lhe: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão

não teria morrido!

33 Ao vê-la chorar assim, como também todos os judeus que a

acompanhavam, Jesus ficou intensamente comovido em espírito. E, sob

o impulso de profunda emoção,

34 perguntou: Onde o pusestes? Responderam-lhe: Senhor, vinde ver.

35 Jesus pôs-se a chorar.

36 Observaram por isso os judeus: Vede como ele o amava!

37 Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos do

cego de nascença, fazer com que este não morresse?

38 Tomado, novamente, de profunda emoção, Jesus foi ao sepulcro. Era

uma gruta, coberta por uma pedra.

39 Jesus ordenou: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto:

Senhor, já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí...

40 Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu: Se creres, verás a glória de

Deus? Tiraram, pois, a pedra.

41 Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: Pai, rendo-te graças,

porque me ouviste.

42 Eu bem sei que sempre me ouves, mas falo assim por causa do povo

que está em roda, para que creiam que tu me enviaste.

43 Depois destas palavras, exclamou em alta voz: Lázaro, vem para

fora!

44 E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto

coberto por um sudário. Ordenou então Jesus: Desligai-o e deixai-o ir.

45 Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e Maria e viram o que

Jesus fizera, creram nele.

 

26

46 Alguns deles, porém, foram aos fariseus e lhes contaram o que Jesus

realizara.

47 Os pontífices e os fariseus convocaram o conselho e disseram: Que

faremos? Esse homem multiplica os milagres.

48 Se o deixarmos proceder assim, todos crerão nele, e os romanos

virão e arruinarão a nossa cidade e toda a nação.

49 Um deles, chamado Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano,

disse-lhes: Vós não entendeis nada!

50 Nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo

povo, e que não pereça toda a nação.

51 E ele não disse isso por si mesmo, mas, como era o sumo sacerdote

daquele ano, profetizava que Jesus havia de morrer pela nação,

52 e não somente pela nação, mas também para que fossem

reconduzidos à unidade os filhos de Deus dispersos.

53 E desde aquele momento resolveram tirar-lhe a vida.

54 Em conseqüência disso, Jesus já não andava em público entre os

judeus. Retirou-se para uma região vizinha do deserto, a uma cidade

chamada Efraim, e ali se detinha com seus discípulos.

55 Estava próxima a Páscoa dos judeus, e muita gente de todo o país

subia a Jerusalém antes da Páscoa para se purificar.

56 Procuravam Jesus e falavam uns com os outros no templo: Que vos

parece? Achais que ele não virá à festa?

57 Mas os sumos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que

todo aquele que soubesse onde ele estava o denunciasse, para o

prenderem.

Capítulo 12

1 Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus a Betânia, onde vivia Lázaro, que

ele ressuscitara.

2 Deram ali uma ceia em sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos

convivas.

3 Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço,

ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheuse

do perfume do bálsamo.

4 Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de

trair, disse:

5 Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se

deu aos pobres?

6 Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque

era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam.

7 Jesus disse: Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha

sepultura.

 

27

8 Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me

tereis.

9 Uma grande multidão de judeus veio a saber que Jesus lá estava; e

chegou, não somente por causa de Jesus, mas ainda para ver Lázaro,

que ele ressuscitara.

10 Mas os príncipes dos sacerdotes resolveram tirar a vida também a

Lázaro,

11 porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam

em Jesus.

12 No dia seguinte, uma grande multidão que tinha vindo à festa em

Jerusalém ouviu dizer que Jesus se ia aproximando.

13 Saíram-lhe ao encontro com ramos de palmas, exclamando: Hosana!

Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel!

14 Tendo Jesus encontrado um jumentinho, montou nele, segundo o

que está escrito:

15 Não temas, filha de Sião, eis que vem o teu rei montado num filho de

jumenta (Zc 9,9).

16 Os seus discípulos a princípio não compreendiam essas coisas, mas,

quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava

escrito a seu respeito e de que assim lho fizeram.

17 A multidão, pois, que se achava com ele, quando chamara Lázaro do

sepulcro e o ressuscitara, aclamava-o.

18 Por isso o povo lhe saía ao encontro, porque tinha ouvido que Jesus

fizera aquele milagre.

19 Mas os fariseus disseram entre si: Vede! Nada adiantamos! Reparai

que todo mundo corre após ele!

20 Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a

festa.

21 Estes se aproximaram de Filipe (aquele de Betsaida da Galiléia) e

rogaram-lhe: Senhor, quiséramos ver Jesus.

22 Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe o disseram ao

Senhor.

23 Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora para o Filho do Homem ser

glorificado.

24 Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra,

não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto.

25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste

mundo, conservá-la-á para a vida eterna.

26 Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali

também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará.

27 Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?... Pai,

salva-me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a esta hora.

28 Pai, glorifica o teu nome! Nisto veio do céu uma voz: Já o glorifiquei

e tornarei a glorificá-lo.

 

28

29 Ora, a multidão que ali estava, ao ouvir isso, dizia ter havido um

trovão. Outros replicavam: Um anjo falou-lhe.

30 Jesus disse: Essa voz não veio por mim, mas sim por vossa causa.

31 Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe

deste mundo.

32 E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim.

33 Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer.

34 A multidão respondeu-lhe: Nós temos ouvido da lei que o Cristo

permanece para sempre. Como dizes tu: Importa que o Filho do Homem

seja levantado? Quem é esse Filho do Homem?

35 Respondeu-lhes Jesus: Ainda por pouco tempo a luz estará em vosso

meio. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos

surpreendam; e quem caminha nas trevas não sabe para onde vai.

36 Enquanto tendes a luz, crede na luz, e assim vos tornareis filhos da

luz. Jesus disse essas coisas, retirou-se e ocultou-se longe deles.

37 Embora tivesse feito tantos milagres na presença deles, não

acreditavam nele.

38 Assim se cumpria o oráculo do profeta Isaías: Senhor, quem creu em

nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor (Is 53,1)?

39 Aliás, não podiam crer, porque outra vez disse Isaías:

40 Ele cegou-lhes os olhos, endureceu-lhes o coração, para que não

vejam com os olhos nem entendam com o coração e se convertam e eu

os sare (Is 6,10).

41 Assim se exprimiu Isaías, quando teve a visão de sua glória e dele

falou.

42 Não obstante, também muitos dos chefes creram nele, mas por

causa dos fariseus não o manifestavam, para não serem expulsos da

sinagoga.

43 Assim preferiram a glória dos homens àquela que vem de Deus.

44 Entretanto, Jesus exclamou em voz alta: Aquele que crê em mim, crê

não em mim, mas naquele que me enviou;

45 e aquele que me vê, vê aquele que me enviou.

46 Eu vim como luz ao mundo; assim, todo aquele que crer em mim não

ficará nas trevas.

47 Se alguém ouve as minhas palavras e não as guarda, eu não o

condenarei, porque não vim para condenar o mundo, mas para salvá-lo.

48 Quem me despreza e não recebe as minhas palavras, tem quem o

julgue; a palavra que anunciei julgá-lo-á no último dia.

49 Em verdade, não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou,

ele mesmo me prescreveu o que devo dizer e o que devo ensinar.

50 E sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que digo,

digo-o segundo me falou o Pai.

 

29

Capítulo 13

1 Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de

passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no

mundo, até o extremo os amou.

2 Durante a ceia, - quando o demônio já tinha lançado no coração de

Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo -,

3 sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus

e para Deus voltava,

4 levantou-se da mesa, depôs as suas vestes e, pegando duma toalha,

cingiu-se com ela.

5 Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos

discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.

6 Chegou a Simão Pedro. Mas Pedro lhe disse: Senhor, queres lavar-me

os pés!...

7 Respondeu-lhe Jesus: O que faço não compreendes agora, mas

compreendê-lo-ás em breve.

8 Disse-lhe Pedro: Jamais me lavarás os pés!... Respondeu-lhe Jesus:

Se eu não tos lavar, não terás parte comigo.

9 Exclamou então Simão Pedro: Senhor, não somente os pés, mas

também as mãos e a cabeça.

10 Disse-lhe Jesus: Aquele que tomou banho não tem necessidade de

lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem

todos!...

11 Pois sabia quem o havia de trair; por isso, disse: Nem todos estais

puros.

12 Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes, sentou-se

novamente à mesa e perguntou-lhes: Sabeis o que vos fiz?

13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.

14 Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós

deveis lavar-vos os pés uns aos outros.

15 Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também

vós.

16 Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu

Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou.

17 Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as

praticardes.

18 Não digo isso de vós todos; conheço os que escolhi, mas é preciso

que se cumpra esta palavra da Escritura: Aquele que come o pão

comigo levantou contra mim o seu calcanhar (Sl 40,10).

19 Desde já vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando

acontecer, creiais e reconheçais quem sou eu.

20 Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu

enviei recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.

 

30

21 Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou

abertamente: Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de

trair!...

22 Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem

falava.

23 Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao

peito de Jesus.

24 Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele

fala.

25 Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus,

interrogou-o: Senhor, quem é?

26 Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em

seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.

27 Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então:

O que queres fazer, faze-o depressa.

28 Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lho

dissera.

29 Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe

falava: Compra aquilo de que temos necessidade para a festa. Ou: Dá

alguma coisa aos pobres.

30 Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era

noite...

31 Logo que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do

Homem, e Deus é glorificado nele.

32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si

mesmo, e o glorificará em breve.

33 Filhinhos meus, por um pouco apenas ainda estou convosco. Vós me

haveis de procurar, mas como disse aos judeus, também vos digo agora

a vós: para onde eu vou, vós não podeis ir.

34 Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu

vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.

35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes

uns aos outros.

36 Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Jesus

respondeu-lhe: Para onde vou, não podes seguir-me agora, mas seguirme-

ás mais tarde.

37 Pedro tornou a perguntar: Senhor, por que te não posso seguir

agora? Darei a minha vida por ti!

38 Respondeu-lhe Jesus: Darás a tua vida por mim!... Em verdade, em

verdade te digo: não cantará o galo até que me negues três vezes.

 

31

Capítulo 14

1 Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em

mim.

2 Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria

dito; pois vou preparar-vos um lugar.

3 Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo,

para que, onde eu estou, também vós estejais.

4 E vós conheceis o caminho para ir aonde vou.

5 Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos

conhecer o caminho?

6 Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém

vem ao Pai senão por mim.

7 Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde

agora já o conheceis, pois o tendes visto.

8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta.

9 Respondeu Jesus: Há tanto tempo que estou convosco e não me

conheceste, Filipe! Aquele que me viu, viu também o Pai. Como, pois,

dizes: Mostra-nos o Pai...

10 Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras

que vos digo não as digo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em

mim, é que realiza as suas próprias obras.

11 Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim. Crede-o ao menos por

causa destas obras.

12 Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará

também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas,

porque vou para junto do Pai.

13 E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o

Pai seja glorificado no Filho.

14 Qualquer coisa que me pedirdes em meu nome, vo-lo farei.

15 Se me amais, guardareis os meus mandamentos.

16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique

eternamente convosco.

17 É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não

o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá

convosco e estará em vós.

18 Não vos deixarei órfãos. Voltarei a vós.

19 Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém,

me tornareis a ver, porque eu vivo e vós vivereis.

20 Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim e eu

em vós.

21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me

ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e

manifestar-me-ei a ele.

 

32

22 Pergunta-lhe Judas, não o Iscariotes: Senhor, por que razão hás de

manifestar-te a nós e não ao mundo?

23 Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra

e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.

24 Aquele que não me ama não guarda as minhas palavras. A palavra

que tendes ouvido não é minha, mas sim do Pai que me enviou.

25 Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco.

26 Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome,

ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito.

27 Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo

a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!

28 Ouvistes que eu vos disse: Vou e volto a vós. Se me amardes,

certamente haveis de alegrar-vos, que vou para junto do Pai, porque o

Pai é maior do que eu.

29 E disse-vos agora estas coisas, antes que aconteçam, para que

creiais quando acontecerem.

30 Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo;

mas ele não tem nada em mim.

31 O mundo, porém, deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai

me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.

Capítulo 15

1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que

não der fruto em mim, ele o cortará;

2 e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto.

3 Vós já estais puros pela palavra que vos tenho anunciado.

4 Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar

fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós:

não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim.

5 Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele,

esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.

6 Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo.

Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á.

7 Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em

vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito.

8 Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto e vos torneis

meus discípulos.

9 Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu

amor.

10 Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu

amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto

no seu amor.

 

33

11 Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a

vossa alegria seja completa.

12 Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos

amo.

13 Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus

amigos.

14 Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando.

15 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu

senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto

ouvi de meu Pai.

16 Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos

constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça.

Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em

meu nome, ele vos conceda.

17 O que vos mando é que vos ameis uns aos outros.

18 Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós.

19 Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como,

porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o

mundo vos odeia.

20 Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o

seu senhor. Se me perseguiram, também vos hão de perseguir. Se

guardaram a minha palavra, hão de guardar também a vossa.

21 Mas vos farão tudo isso por causa do meu nome, porque não

conhecem aquele que me enviou.

22 Se eu não viesse e não lhes tivesse falado, não teriam pecado; mas

agora não há desculpa para o seu pecado.

23 Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai.

24 Se eu não tivesse feito entre eles obras, como nenhum outro fez,

não teriam pecado; mas agora as viram e odiaram a mim e a meu Pai.

25 Mas foi para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei:

Odiaram-me sem motivo (Sl 34,19; 68,5).

26 Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito

da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim.

27 Também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o

princípio

Capítulo 16

1 Disse-vos essas coisas para vos preservar de alguma queda.

2 Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que

vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus.

3 Procederão deste modo porque não conheceram o Pai, nem a mim.

4 Disse-vos, porém, essas palavras para que, quando chegar a hora,

 

34

vos lembreis de que vo-lo anunciei. E não vo-las disse desde o princípio,

porque estava convosco.

5 Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me

pergunta: Para onde vais?

6 Mas porque vos falei assim, a tristeza encheu o vosso coração.

7 Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se

eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei.

8 E, quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da

justiça e do juízo.

9 Convencerá o mundo a respeito do pecado, que consiste em não crer

em mim.

10 Ele o convencerá a respeito da justiça, porque eu me vou para junto

do meu Pai e vós já não me vereis;

11 ele o convencerá a respeito do juízo, que consiste em que o príncipe

deste mundo já está julgado e condenado.

12 Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar

agora.

13 Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a

verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e

anunciar-vos-á as coisas que virão.

14 Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará.

15 Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse: Há de receber do que

é meu, e vo-lo anunciará.

16 Ainda um pouco de tempo, e já me não vereis; e depois mais um

pouco de tempo, e me tornareis a ver, porque vou para junto do Pai.

17 Nisso alguns dos seus discípulos perguntavam uns aos outros: Que é

isso que ele nos diz: Ainda um pouco de tempo, e não me vereis; e

depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver? E que significa

também: Eu vou para o Pai?

18 Diziam então: Que significa este pouco de tempo de que fala? Não

sabemos o que ele quer dizer.

19 Jesus notou que lho queriam perguntar e disse-lhes: Perguntais uns

aos outros acerca do que eu disse: Ainda um pouco de tempo, e não me

vereis; e depois mais um pouco de tempo, e me tornareis a ver.

20 Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar, mas

o mundo se há de alegrar. E haveis de estar tristes, mas a vossa

tristeza se há de transformar em alegria.

21 Quando a mulher está para dar à luz, sofre porque veio a sua hora.

Mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da aflição, por

causa da alegria que sente de haver nascido um homem no mundo.

22 Assim também vós: sem dúvida, agora estais tristes, mas hei de vervos

outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a

vossa alegria.

23 Naquele dia não me perguntareis mais coisa alguma.

 

35

Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu

nome, ele vo-lo dará.

24 Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para

que a vossa alegria seja perfeita.

25 Disse-vos essas coisas em termos figurados e obscuros. Vem a hora

em que já não vos falarei por meio de comparações e parábolas, mas

vos falarei abertamente a respeito do Pai.

26 Naquele dia pedireis em meu nome, e já não digo que rogarei ao Pai

por vós.

27 Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí

de Deus.

28 Saí do Pai e vim ao mundo. Agora deixo o mundo e volto para junto

do Pai.

29 Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas claramente e a

tua linguagem já não é figurada e obscura.

30 Agora sabemos que conheces todas as coisas e que não necessitas

que alguém te pergunte. Por isso, cremos que saíste de Deus.

31 Jesus replicou-lhes: Credes agora!...

32 Eis que vem a hora, e ela já veio, em que sereis espalhados, cada

um para o seu lado, e me deixareis sozinho. Mas não estou só, porque o

Pai está comigo.

33 Referi-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo

haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo.

Capítulo 17

1 Jesus afirmou essas coisas e depois, levantando os olhos ao céu,

disse: Pai, é chegada a hora. Glorifica teu Filho, para que teu Filho

glorifique a ti;

2 e para que, pelo poder que lhe conferiste sobre toda criatura, ele dê a

vida eterna a todos aqueles que lhe entregaste.

3 Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a ti, um só Deus

verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste.

4 Eu te glorifiquei na terra. Terminei a obra que me deste para fazer.

5 Agora, pois, Pai, glorifica-me junto de ti, concedendo-me a glória que

tive junto de ti, antes que o mundo fosse criado.

6 Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram

teus e deste-mos e guardaram a tua palavra.

7 Agora eles reconheceram que todas as coisas que me deste procedem

de ti.

8 Porque eu lhes transmiti as palavras que tu me confiaste e eles as

receberam e reconheceram verdadeiramente que saí de ti, e creram que

tu me enviaste.

 

36

9 Por eles é que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que

me deste, porque são teus.

10 Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles sou

glorificado.

11 Já não estou no mundo, mas eles estão ainda no mundo; eu, porém,

vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me

encarregaste de fazer conhecer, a fim de que sejam um como nós.

12 Enquanto eu estava com eles, eu os guardava em teu nome, que me

incumbiste de fazer conhecido. Conservei os que me deste, e nenhum

deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a

Escritura.

13 Mas, agora, vou para junto de ti. Dirijo-te esta oração enquanto

estou no mundo para que eles tenham a plenitude da minha alegria.

14 Dei-lhes a tua palavra, mas o mundo os odeia, porque eles não são

do mundo, como também eu não sou do mundo.

15 Não peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do mal.

16 Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo.

17 Santifica-os pela verdade. A tua palavra é a verdade.

18 Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.

19 Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela

verdade.

20 Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua

palavra hão de crer em mim.

21 Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu

em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu

me enviaste.

22 Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos

um:

23 eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o

mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim.

24 Pai, quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me

deste, para que vejam a minha glória que me concedeste, porque me

amaste antes da criação do mundo.

25 Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci, e estes

sabem que tu me enviaste.

26 Manifestei-lhes o teu nome, e ainda hei de lho manifestar, para que o

amor com que me amaste esteja neles, e eu neles.

Capítulo 18

1 Depois dessas palavras, Jesus saiu com os seus discípulos para além

da torrente de Cedron, onde havia um jardim, no qual entrou com os

seus discípulos.

 

37

2 Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia

freqüentemente para lá com os seus discípulos.

3 Tomou então Judas a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e

dos fariseus, e chegaram ali com lanternas, tochas e armas.

4 Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer, adiantou-se

e perguntou-lhes: A quem buscais?

5 Responderam: A Jesus de Nazaré. Sou eu, disse-lhes. (Também

Judas, o traidor, estava com eles.)

6 Quando lhes disse Sou eu, recuaram e caíram por terra.

7 Perguntou-lhes ele, pela segunda vez: A quem buscais? Disseram: A

Jesus de Nazaré.

8 Replicou Jesus: Já vos disse que sou eu. Se é, pois, a mim que

buscais, deixai ir estes.

9 Assim se cumpriu a palavra que disse: Dos que me deste não perdi

nenhum (Jo 17,12).

10 Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou dela e feriu o servo do

sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. (O servo chamava-se

Malco.)

11 Mas Jesus disse a Pedro: Enfia a tua espada na bainha! Não hei de

beber eu o cálice que o Pai me deu?

12 Então a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e

o ataram.

13 Conduziram-no primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o

sumo sacerdote daquele ano.

14 Caifás fora quem dera aos judeus o conselho: Convém que um só

homem morra em lugar do povo.

15 Simão Pedro seguia Jesus, e mais outro discípulo. Este discípulo era

conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio da casa do

sumo sacerdote,

16 porém Pedro ficou de fora, à porta. Mas o outro discípulo (que era

conhecido do sumo sacerdote) saiu e falou à porteira, e esta deixou

Pedro entrar.

17 A porteira perguntou a Pedro: Não és acaso também tu dos

discípulos desse homem? Não o sou, respondeu ele.

18 Os servos e os guardas acenderam um fogo, porque fazia frio, e se

aqueciam. Com eles estava também Pedro, de pé, aquecendo-se.

19 O sumo sacerdote indagou de Jesus acerca dos seus discípulos e da

sua doutrina.

20 Jesus respondeu-lhe: Falei publicamente ao mundo. Ensinei na

sinagoga e no templo, onde se reúnem os judeus, e nada falei às

ocultas.

21 Por que me perguntas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes

disse. Estes sabem o que ensinei.

22 A estas palavras, um dos guardas presentes deu uma bofetada em

 

38

Jesus, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote?

23 Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que

me bates?

24 (Anás enviou-o preso ao sumo sacerdote Caifás.)

25 Simão Pedro estava lá se aquecendo. Perguntaram-lhe: Não és

porventura, também tu, dos seus discípulos? Negou-o, dizendo: Não!

26 Disse-lhe um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a

quem Pedro cortara a orelha: Não te vi eu com ele no horto?

27 Mas Pedro negou-o outra vez, e imediatamente o galo cantou.

28 Da casa de Caifás conduziram Jesus ao pretório. Era de manhã cedo.

Mas os judeus não entraram no pretório, para não se contaminarem e

poderem comer a Páscoa.

29 Saiu, por isso, Pilatos para ter com eles, e perguntou: Que acusação

trazeis contra este homem?

30 Responderam-lhe: Se este não fosse malfeitor, não o teríamos

entregue a ti.

31 Disse, então, Pilatos: Tomai-o e julgai-o vós mesmos segundo a

vossa lei. Responderam-lhe os judeus: Não nos é permitido matar

ninguém.

32 Assim se cumpria a palavra com a qual Jesus indicou de que gênero

de morte havia de morrer (Mt 20,19).

33 Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei

dos judeus?

34 Jesus respondeu: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to

disseram de mim?

35 Disse Pilatos: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos

sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?

36 Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino

fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para

que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste

mundo.

37 Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus:

Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao

mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz.

38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?... Falando isso, saiu de novo, foi

ter com os judeus e disse-lhes: Não acho nele crime algum.

39 Mas é costume entre vós que pela Páscoa vos solte um preso.

Quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?

40 Então todos gritaram novamente e disseram: Não! A este não! Mas a

Barrabás! (Barrabás era um salteador.)

Capítulo 19

 

39

1 Pilatos mandou então flagelar Jesus.

2 Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a

cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura.

3 Aproximavam-se dele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe

bofetadas.

4 Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para que

saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação.

5 Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de

púrpura. Pilatos disse: Eis o homem!

6 Quando os pontífices e os guardas o viram, gritaram: Crucifica-o!

Crucifica-o! Falou-lhes Pilatos: Tomai-o vós e crucificai-o, pois eu não

acho nele culpa alguma.

7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e segundo essa lei

ele deve morrer, porque se declarou Filho de Deus.

8 Estas palavras impressionaram Pilatos.

9 Entrou novamente no pretório e perguntou a Jesus: De onde és tu?

Mas Jesus não lhe respondeu.

10 Pilatos então lhe disse: Tu não me respondes? Não sabes que tenho

poder para te soltar e para te crucificar?

11 Respondeu Jesus: Não terias poder algum sobre mim, se de cima

não te fora dado. Por isso, quem me entregou a ti tem pecado maior.

12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam: Se o

soltares, não és amigo do imperador, porque todo o que se faz rei se

declara contra o imperador.

13 Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no

tribunal, no lugar chamado Lajeado, em hebraico Gábata.

14 (Era a Preparação para a Páscoa, cerca da hora sexta.) Pilatos disse

aos judeus: Eis o vosso rei!

15 Mas eles clamavam: Fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o! Pilatos

perguntou-lhes: Hei de crucificar o vosso rei? Os sumos sacerdotes

responderam: Não temos outro rei senão César!

16 Entregou-o então a eles para que fosse crucificado.

17 Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a sua cruz para

fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico

Gólgota.

18 Ali o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no

meio.

19 Pilatos redigiu também uma inscrição e a fixou por cima da cruz.

Nela estava escrito: Jesus de Nazaré, rei dos judeus.

20 Muitos dos judeus leram essa inscrição, porque Jesus foi crucificado

perto da cidade e a inscrição era redigida em hebraico, em latim e em

grego.

21 Os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: Não escrevas:

Rei dos judeus, mas sim: Este homem disse ser o rei dos judeus.

 

40

22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.

23 Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e

fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém,

toda tecida de alto a baixo, não tinha costura.

24 Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas deitemos

sorte sobre ela, para ver de quem será. Assim se cumpria a Escritura:

Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha

túnica (Sl 21,19). Isso fizeram os soldados.

25 Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe,

Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.

26 Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse

à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho.

27 Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o

discípulo a levou para a sua casa.

28 Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se

cumprir plenamente a Escritura, disse: Tenho sede.

29 Havia ali um vaso cheio de vinagre. Os soldados encheram de

vinagre uma esponja e, fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-lhe

à boca.

30 Havendo Jesus tomado do vinagre, disse: Tudo está consumado.

Inclinou a cabeça e rendeu o espírito.

31 Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o

sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente

solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem

retirados.

32 Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro,

que com ele foram crucificados.

33 Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe

quebraram as pernas,

34 mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e,

imediatamente, saiu sangue e água.

35 O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho é

digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais.

36 Assim se cumpriu a Escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado

(Ex 12,46).

37 E diz em outra parte a Escritura: Olharão para aquele que

transpassaram (Zc 12,10).

38 Depois disso, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas

ocultamente, por medo dos judeus, rogou a Pilatos a autorização para

tirar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu. Foi, pois, e tirou o corpo de

Jesus.

39 Acompanhou-o Nicodemos (aquele que anteriormente fora de noite

ter com Jesus), levando umas cem libras de uma mistura de mirra e

aloés.

 

41

40 Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em panos com os

aromas, como os judeus costumam sepultar.

41 No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um

sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado.

42 Foi ali que depositaram Jesus por causa da Preparação dos judeus e

da proximidade do túmulo.

Capítulo 20

1 No primeiro dia que se seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao

sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro. Viu a pedra

removida do sepulcro.

2 Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus

amava: Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram!

3 Saiu então Pedro com aquele outro discípulo, e foram ao sepulcro.

4 Corriam juntos, mas aquele outro discípulo correu mais depressa do

que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.

5 Inclinou-se e viu ali os panos no chão, mas não entrou.

6 Chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos

postos no chão.

7 Viu também o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus. Não

estava, porém, com os panos, mas enrolado num lugar à parte.

8 Então entrou também o discípulo que havia chegado primeiro ao

sepulcro. Viu e creu.

9 Em verdade, ainda não haviam entendido a Escritura, segundo a qual

Jesus devia ressuscitar dentre os mortos.

10 Os discípulos, então, voltaram para as suas casas.

11 Entretanto, Maria se conservava do lado de fora perto do sepulcro e

chorava. Chorando, inclinou-se para olhar dentro do sepulcro.

12 Viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de

Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.

13 Eles lhe perguntaram: Mulher, por que choras? Ela respondeu:

Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

14 Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não

o reconheceu.

15 Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem procuras?

Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste,

dize-me onde o puseste e eu o irei buscar.

16 Disse-lhe Jesus: Maria! Voltando-se ela, exclamou em hebraico:

Rabôni! (que quer dizer Mestre).

17 Disse-lhe Jesus: Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai,

mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu

Deus e vosso Deus.

 

42

18 Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha

visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado.

19 Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos

tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos

judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: A paz esteja

convosco!

20 Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se

ao ver o Senhor.

21 Disse-lhes outra vez: A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou,

assim também eu vos envio a vós.

22 Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o

Espírito Santo.

23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados;

àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.

24 Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando

veio Jesus.

25 Os outros discípulos disseram-lhe: Vimos o Senhor. Mas ele replicoulhes:

Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu

dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado,

não acreditarei!

26 Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo

lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se

no meio deles e disse: A paz esteja convosco!

27 Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas

mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de

fé.

28 Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus!

29 Disse-lhe Jesus: Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem

sem ter visto!

30 Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros

milagres que não estão escritos neste livro.

31 Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o

Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.

Capítulo 21

1 Depois disso, tornou Jesus a manifestar-se aos seus discípulos junto

ao lago de Tiberíades. Manifestou-se deste modo:

2 Estavam juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que

era de Caná da Galiléia), os filhos de Zebedeu e outros dois dos seus

discípulos.

3 Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Responderam-lhe eles: Também

nós vamos contigo. Partiram e entraram na barca. Naquela noite,

 

43

porém, nada apanharam.

4 Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos não o

reconheceram.

5 Perguntou-lhes Jesus: Amigos, não tendes acaso alguma coisa para

comer? Não, responderam-lhe.

6 Disse-lhes ele: Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis.

Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la por causa da grande

quantidade de peixes.

7 Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor!

Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a

túnica (porque estava nu) e lançou-se às águas.

8 Os outros discípulos vieram na barca, arrastando a rede dos peixes

(pois não estavam longe da terra, senão cerca de duzentos côvados).

9 Ao saltarem em terra, viram umas brasas preparadas e um peixe em

cima delas, e pão.

10 Disse-lhes Jesus: Trazei aqui alguns dos peixes que agora

apanhastes.

11 Subiu Simão Pedro e puxou a rede para a terra, cheia de cento e

cinqüenta e três peixes grandes. Apesar de serem tantos, a rede não se

rompeu.

12 Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousou

perguntar-lhe: Quem és tu?, pois bem sabiam que era o Senhor.

13 Jesus aproximou-se, tomou o pão e lhos deu, e do mesmo modo o

peixe.

14 Era esta já a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus

discípulos, depois de ter ressuscitado.

15 Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de

João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu

sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros.

16 Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me?

Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus:

Apascenta os meus cordeiros.

17 Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me?

Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?,

e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe

Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.

18 Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te

e andavas aonde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas

mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres.

19 Por estas palavras, ele indicava o gênero de morte com que havia de

glorificar a Deus. E depois de assim ter falado, acrescentou: Segue-me!

20 Voltando-se Pedro, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus

amava (aquele que estivera reclinado sobre o seu peito, durante a ceia,

e lhe perguntara: Senhor, quem é que te há de trair?).

 

44

21 Vendo-o, Pedro perguntou a Jesus: Senhor, e este? Que será dele?

22 Respondeu-lhe Jesus: Que te importa se eu quero que ele fique até

que eu venha? Segue-me tu.

23 Correu por isso o boato entre os irmãos de que aquele discípulo não

morreria. Mas Jesus não lhe disse: Não morrerá, mas: Que te importa

se quero que ele fique assim até que eu venha?

24 Este é o discípulo que dá testemunho de todas essas coisas, e as

escreveu. E sabemos que é digno de fé o seu testemunho.

25 Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por

uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se

deveriam escrever.