Apócrifos, Evangelho Pseudo-Tomé

Textos apócrifos, Evangelhos apócrifosApócrifos, Evangelho Pseudo-Tomé

(Narrações sobre a Infância do Senhor, por Tomé, Filosofo Israelita)

O Evangelho de Tomé foi escrito no século I e relata a vida do Senhor Jesus dos cinco aos doze anos. Segundo os estudiosos, é parte de um livro mais antigo ainda, tendo tido diversas versões escritas em grego, siríaco, latim, georgiano e eslavo.

O Evangelho de Tomé relata a vida de Jesus a partir do ponto onde termina o Evangelho de Tiago, encerrando-se com o episódio de Jesus no Templo de Jerusalém, entre os doutores, o que também ocorre no Evangelho de Pedro, sobre a infância do Salvador.

Como os Evangelhos Apócrifos já citados, tem uma importância histórica fundamental, pois preenche uma séria lacuna, provocada pela omissão desse período nos Evangelhos Canônicos. Aqui são relatados os primeiros milagres do Salvador, numa narrativa singela e cheia de beleza, que resgata essa importante fase na vida do Senhor Jesus.

Os Evangelhos Apócrifos da Infância de Cristo fornecem importantes e interessantes informações, esclarecendo pontos importantes dos Evangelhos Canônicos, omissos ou um tanto vagos a respeito de determinados aspectos da vida de Jesus Menino.

Capítulo 1

Eu, TOMÉ ISRAELITA, julguei necessário levar ao conhecimento de todos os irmãos descendentes dos gentios, a Infância de Nosso Senhor Jesus Cristo e tantas quantas maravilhas ele realizou depois de nascer em nossa terra. O princípio é como segue:

Capítulo 2

1 Este Menino Jesus, que na época tinha cinco anos, encontrava-se um dia brincando no leito de um riacho, depois de haver chovido. E, represando a correnteza em pequenas poças, tornava-as instantaneamente cristalinas, dominando-as somente com a sua palavra.

2 Fez depois uma massa mole com o barro e com ela formou uma dúzia de passarinhos. Era então um Sábado e havia outros meninos brincando com ele.

3 Porém, um certo homem judeu, vendo o que Jesus acabara de fazer num dia de festa, foi correndo até o seu pai José e contou-lhe tudo: “Olha, teu filho está no riacho e juntando um pouco de barro fez uma dúzia de passarinhos, profanando com isso o dia do Sábado.

4 José veio ter ao local e, ao vê-1o, ralhou com ele dizendo: “Por que fazes no Sábado o que não é permitido fazer?” Mas Jesus, batendo palmas, dirigiu-se às figurinhas ordenando-lhes: “Voai!” E os passarinhos foram todos embora gorgeando.

5 Os judeus, ao verem isso, encheram-se de admiração e foram contar aos seus superiores o que haviam visto Jesus fazer.

Capítulo 3

1 Encontrava-se ali presente o filho de Anás, o escriba, e teve a idéia de fazer escoar as águas represadas por Jesus usando uma planta de vime.

2 Ante essa atitude, Jesus indignou-se e disse: “Malvado, ímpio e insensato. Será que as poças e as águas te estorvavam? Ficarás agora seco como uma árvore, sem que possas dar folhas, nem raiz nem frutos.”

3 Imediatamente o rapaz tornou-se completamente seco. E os pais pegaram o infeliz, chorando a sua tenra idade, e o levaram ante José, maldizendo-o por ter um filho que fazia tais coisas.

Capítulo 4

1 De outra feita, ele andava em meio ao povo e um rapaz que vinha correndo esbarrou em suas costas. Irritado, Jesus lhe disse: “Não prosseguirás teu caminho”. E imediatamente o rapaz caiu morto. Algumas pessoas que viram o que se passara, disseram: “De onde terá vindo esse rapaz, pois todas as suas palavras tornam-se fatos consumados’?”

2 E os pais do defunto, chegando a José, o interpelaram dizendo: “Com um filho como esse, de duas uma: ou não podes viver com o povo ou tens de acostumá-lo a abençoar e não a amaldiçoar; pois causa a morte aos nossos filhos”.

Capítulo 5

1 José chamou Jesus à parte e o admoestou da seguinte maneira: “Por que fazes tais coisas, se elas se tornam a causa de eles nos odiarem e perseguirem?” Jesus replicou: “Bem sei que estas palavras não vêm de ti. Mas calarei por respeito à tua pessoa. Esses outros, ao contrário, receberão seu castigo”. E no mesmo instante aqueles que haviam falado mal dele, ficaram cegos.

2 As testemunhas desta cena encheram-se de pavor e ficaram perplexas, confessando que qualquer palavra de sua boca, fosse boa ou má, tornava-se um fato e se convertia numa maravilha. Quando José percebeu o que Jesus havia feito, agarrou sua orelha e a puxou fortemente.

3 O rapaz então indignou-se e lhe disse: “A ti é suficiente que me vejas sem me tocares. Tu nem sabes quem sou, pois se soubesses não me magoarias. E ainda que neste instante eu esteja contigo, fui criado antes de ti.”

Capítulo 6

1 Naquela época encontrava-se em um local próximo um certo rabino de nome Zaqueu, o qual, ouvindo Jesus falar dessa maneira com seu pai, encheu-se de admiração ao ver que, sendo um menino, dizia tais coisas.

2 Então, passados alguns dias, aproximou-se de José e lhe disse: “Vejo que tens um filho sensato e inteligente. Então, mo confie para que aprenda as letras. Eu, de minha parte, juntamente com elas, ensinar-lhe-ei toda espécie de sabedoria e a arte de saudar os mais velhos, de respeitá-los como superiores e pais e de amar seus semelhantes”.

3 E lhe disse todas as letras com grande esmero e clareza desde o Alfa até o Omega. Jesus porém fixou seus olhos no rabino Zaqueu e lhe disse: “Como te atreves a explicar Beta aos outros, se tu mesmo ignoras a natureza do Alfa? Hipócrita! Explica primeiro a letra A, se é que sabes, e depois acreditaremos em tudo o que disseres com relação a B”. Depois começou a interrogar o professor sobre a primeira letra, porém este não pôde responder-lhe.

4 Disse então a Zaqueu na presença de todos: “Aprende, professor, a constituição da primeira letra e repara como tem linhas e traços médios, aqueles que vês unidos transversalmente, conjuntos, elevados, divergentes…Os traços contidos na letra A são de três sinais: homogêneos, equilibrados e proporcionados”.

Capítulo 7

1 O professor Zaqueu, quando ouviu a exposição feita pelo menino sobre tantas e tais alegorias acerca da primeira das letras, ficou desconcertado diante da resposta e da erudição que ele manifestava. E disse aos presentes: “Pobre de mim! Não sei o que fazer, pois eu mesmo procurei a confusão ao trazer este jovem para junto de mim.

2 “Leva-o, então, irmão José, rogo-te. Não posso suportar a severidade do seu olhar. Não consigo fazer com que seu discurso seja inteligível para mim. Este jovem não nasceu na terra. E capaz de dominar até mesmo o fogo. Talvez tenha nascido antes da criação do mundo. Não sei qual o ventre que pode tê-lo carregado e qual seio pôde havê-lo nutrido. Ai de mim! Meu amigo, estou aturdido. Não posso seguir o vôo de sua inteligência. Enganei-me, pobre de mim: queria muito ter um aluno e deparei-me com um mestre.

3 “Percebo perfeitamente, amigos, a minha confusão; pois, velho e tudo o mais, deixei-me vencer por uma criança. E: de se ficar arrasado e morrer por causa desse jovem, pois neste momento sou incapaz de olhá-lo fixamente. Que vou respondeu quando todos me disserem que me deixei vencer por um rapazote? Que vou explicar a respeito do que ele me disse sobre as linhas da primeira letra? Não sei, amigos, porque ignoro a origem e o destino dessa criatura.

4 “Por isso te rogo, irmão José, que o leves para casa. E: algo extraordinário: ou um Deus ou um anjo, ou já não sei o que dizer.”

Capítulo 8

1 E enquanto os judeus se entretinham em dar conselhos a Zaqueu, o menino pôs-se a rir com muita vontade e disse: “Frutificai agora vossas coisas e abri os olhos à luz os cegos de coração. Vim de cima para amaldiçoar-vos e depois chamar-vos para o alto, pois esta é a ordem daquele que me enviou por vossa causa”.

2 Quando o menino ter-minou de falar sentiram-se imediatamente curados todos

aqueles que haviam caído sob a maldição. E desde então ninguém ousava irritá-lo para que ele não os amaldiçoasse ou viessem a ficar cegos.

Capítulo 9

1 Dias depois encontrava-se Jesus brincando num terraço. E um dos meninos que estavam com ele caiu do alto e morreu. Os outros, ao verem isso, foram-se embora e somente Jesus ficou.

2 Depois chegaram os pais do morto e puseram a culpa nele. Mas Jesus lhes disse: “Não, não. Eu não o empurrei”. Mas eles o maltrataram.

3 Jesus então deu um salto de cima do terraço, vindo a cair junto ao cadáver. E pôs-se a gritar bem alto: “Zenon — assim se chamava o menino —, levanta-te e responde-me: fui eu quem te empurrou?” O morto levantou-se num instante e disse: “Não, Senhor. Tu não me jogaste, porém me ressuscitas-te”. Ao ver isto, ficaram consternados (todos os presentes) e os pais do menino glorificaram a Deus por aquele maravilhoso feito e adoraram a Jesus.

Capítulo 10

1 Poucos dias depois estava um jovem cortando lenha nas redondezas, e aconteceu que o machado escapou e cortou a planta do seu pé. O infeliz estava morrendo rapidamente por causa da hemorragia.

2 Sobreveio por isso um grande alvoroço e juntou muita gente. Também Jesus veio ter ali. Depois de abrir espaço à força por entre a multidão, chegou junto do ferido e com suas mãos apertou o pé injuriado do jovem, que num instante ficou curado. Disse então ao rapaz: “Levanta-te já; continua cortando lenha e lembra-te de mim”. A multidão, quando se deu conta do que havia acontecido, adorou o Menino dizendo: “Verdadeiramente o Espírito de Deus habita esse rapaz”.

Capítulo 11

1 Quando tinha seis anos, sua mãe lhe deu certa vez um cântaro para que fosse enchê-lo de água e o trouxesse para casa. Mas, no caminho, Jesus tropeçou nas pessoas, e a vasilha se quebrou.

2 Então ele estendeu o manto com o qual se cobria, encheu-o de água e levou-o a sua mãe. Esta, ao ver tal maravilha, pôs-se a beijar Jesus. E foi guardando em seu íntimo todos os mistérios que o via realizar.

Capítulo 12

Certa vez, sendo tempo de semeadura, saiu Jesus com seu pai para semear trigo em sua propriedade. E enquanto José esparramava as sementes, o Menino Jesus teve também vontade de semear um grãozinho de trigo. E após ceifar e debulhar, sua colheita somou cem coros. Convocou então em sua propriedade todos os pobres da região e repartiu com eles o grão. José, depois, levou para si o restante. E Jesus tinha oito anos quando operou esse milagre.

Capítulo 13

1 Seu pai, que era carpinteiro, fazia arados e cangas. Certa vez recebeu o encargo de fazer uma cama para certa pessoa de boa posição. Aconteceu que uma das tábuas era mais curta que a outra; e por isso José não sabia como proceder. Então o Menino Jesus disse a seu pai: “Põe no chão ambas as tábuas e iguala-as pela metade”.

2 Assim fez José. Jesus foi até à outra extremidade, pegou a tábua mais curta e a esticou, deixando-a tão comprida quanto a outra. José, seu pai, encheu-se de admiração ao ver o prodígio e cobriu o menino de abraços e beijos dizendo: “Feliz de mim, porque Deus me deu este menino.

Capítulo 14

1 José, percebendo que a inteligência do menino ia amadurecendo ao mesmo tempo que a idade, quis novamente impedir que ele permanecesse analfabeto; por isso levou-o até um outro professor e o colocou à sua disposição. Este lhe disse: “Ensinar-te-ei em primeiro lugar as letras gregas; depois as hebraicas”. Era evidente que o professor conhecia bem a capa-cidade do rapaz e sentia medo dele. Depois de escrever o alfabeto, entretinha-se com ele por um longo tempo sem obter nenhuma resposta de seus lábios.

2 Finalmente Jesus lhe disse: “Se és mestre de verdade e conheces perfeitamente as letras, dize-me primeiro qual é o valor de Alfa e então eu te direi qual é o de Beta”. Irritado, o professor então bateu-lhe na cabeça. Quando o Menino sentiu a dor, amaldiçoou-o; e imediatamente o professor desmaiou e caiu de bruços no chão.

3 O jovem voltou para a casa de José. Este encheu-se de pesar e disse a Maria que não o deixasse sair de casa, porque todos aqueles que o aborreciam vinham a morrer.

Capítulo 15

1 Passado algum tempo, outro professor, que era amigo íntimo de José, lhe disse: “Leva teu filho à escola: talvez com delicadeza eu possa ensinar-lhe as letras”. José replicou: “Se te atreves, irmão, leva-o contigo”. Ele o aceitou com muito receio e preocupação, porém o menino progredia com muita boa vontade.

2 Ele entrou impetuosa-mente na sala de aula e encontrou um livro colocado sobre a carteira. Pegou-o, e, sem parar para ler as letras que nele estavam escritas, abriu sua boca e começou a falar levado pelo Espírito Santo, ensinando a Lei aos circunstantes que o escutavam. E uma grande multidão que se havia juntado ouvia-o, cheia de admiração pela maravilha da sua doutrina e pela clareza de suas colocações, considerando que era uma criança que assim lhes falava.

3 José, quando soube disso, encheu-se de medo e correu imediatamente até a escola, receando que também aquele professor pudesse ter sido mal-tratado. Este, porém, lhe disse: “Saiba, irmão, que recebi esse menino como se fosse um aluno comum e acontece que está sobejando graça e sabedoria. Leva-o, por favor, para tua casa.”

4 Ao ouvir essas palavras o menino sorriu e disse: “Agradeço a ti, por haveres falado com retidão e dado um testemunho justo; será curado aquele que anteriormente foi castigado.” E imediatamente o outro professor sentiu-se bem. José pegou o menino e foram para casa.

Capítulo 16

1 Certa vez José mandou seu filho Tiago juntar lenha e trazê-la para casa. O Menino Jesus o acompanhou. Mas aconteceu que, enquanto Tiago recolhia os gravetos, uma cobra picou-lhe a mão.

2 Tendo caído ao chão, ficou completamente largado, e estando já para morrer, Jesus se aproximou e assoprou a mordida. Imediatamente desapareceu a dor, a cobra explodiu e Tiago recobrou imediata-mente a saúde.

Capítulo 17

1 Aconteceu depois, nas vizinhanças de José, que um menino que vivia doente veio a falecer. Sua mãe chorava inconsolavelmente. Jesus, ao tomar conhecimento da dor daquela mãe e do tumulto que se formava, acudiu rapidamente. E encontrando o menino já morto, tocou-lhe o peito e lhe disse: “Pequenino, falo contigo. Não morras, mas vive feliz e fica com tua mãe”. No mesmo instante o menino abriu os olhos e sorriu. Então disse Jesus à mulher: “Anda, pega-o, dá-lhe leite e lembra-te de mim”.

2 Ao presenciar o acontecido os circunstantes encheram-se de admiração e exclamaram: “Na verdade este menino ou é um Deus ou um anjo de Deus, pois tudo o que sai de sua boca torna-se um fato consumado”. Jesus saiu dali e pôs-se a brincar com os outros jovens.

Capítulo 18

1 Dias depois aconteceu que, estando construindo uma casa, sobreveio um grande tumulto. Jesus levantou-se e dirigiu-se até o local. E, vendo ali um cadáver estendido no chão, tomou-lhe a mão e dirigiu-se a ele nos seguintes termos: “Homem, falo contigo: levanta-te e termina teu trabalho”. Ele se levantou em seguida e o adorou.

2 A multidão que viu esta cena encheu-se de admiração e disse: “Esse rapaz deve ter vindo do céu, pois tem livrado muitas almas da morte e ainda seguirá livrando mais durante sua vida”.

Capítulo 19

1 Quando contava doze anos seus pais, como de costume, foram, em caravana, até Jerusalém para assistir às festas da Páscoa. Quando as festas terminaram, voltavam para casa. Mas, no instante de partir, o Menino Jesus retomou a Jerusalém, enquanto seus pais pensavam que o encontrariam na comitiva.

2 Depois do primeiro dia de marcha, puseram-se a buscá-lo entre os seus parentes. Mas, não o encontrando, preocuparam-se muito e voltaram a Jerusalém para procurá-lo. Final-mente, depois do terceiro dia, o encontraram no templo sentado em meio aos doutores, escutando-os e fazendo-lhes perguntas. Todos estavam atentos a ele e admiravam-se de ver que, menino como era, deixava os anciãos e mestres do povo sem palavras, averiguando os principais pontos da lei e as parábolas dos profetas.

3 Aproximando-se Maria, sua mãe, lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Veja com que preocupação temos estado a te procurar.” Jesus, porém, respondeu: “E por que me procuravas? Não sabias acaso que devo ocupar-me das coisas que se referem ao meu Pai?”

4 E os escribas e fariseus lhe diziam: “Es tu acaso a mãe deste menino?” Ela respondeu: “Assim é”. E eles retrucaram: “Pois feliz de ti entre as mulheres, já que o Senhor teve por bem bendizer o fruto do teu ventre, porque semelhantes glória, virtude e sabedoria não ouvimos nem vimos jamais.”

5 Jesus levantou-se e seguiu sua mãe. E era obediente a seus pais. Sua mãe guardava todos esses fatos no seu coração. Enquanto isso Jesus ia crescendo em idade, sabedoria e graça. Graças sejam dadas a ele por todos os séculos dos séculos. Amém. Fim

Portal a&e Voltar ao tema: Evangelhos Apócrifos | Biblia on line |

Anjos & Angeologia | Anjo do dia | Simpatias, magias & feitiços rápidos |

Simpatias angelicaisSimpatias Amor | Amarrações | Encantamentos | Simpatias ciganas | Wicca | Simpatias & magias egípcias | Banhos mágicos | Amuletos & Talismãs |

Partilhe, recomende e vote neste artigo

Apócrifos, Evangelho Pseudo-Mateus da infância

Textos apócrifos, Evangelhos apócrifosApócrifos, Evangelho Pseudo-Mateus da infância

O Livro Sobre a Origem da Abençoada Maria e a lnfância do Salvador

(Apócrifo Cristão)

JOSÉ ESTAVA em Cafarnaum trabalhando; ele era carpinteiro. Ele permaneceu ali por nove meses. Quando voltou para casa, encontrou Maria grávida. Totalmente tomado de angústia, ele clamou tremulo: “Senhor Deus, aceita meu espírito, porque é melhor que eu morra do que viva”. As virgens que estavam com Maria lhe disseram: “Que dizes, senhor José? Sabemos que nenhum homem a tocou; sabemos que nela a inocência e a virgindade foram preservadas sem mácula. Pois ela tem sido guardada por Deus; ela sempre persiste conosco na oração. Diariamente um anjo do Senhor fala com ela; diariamente ela aceita ali-mento da mão de um anjo. Como é possível haver pecado nela? Pois se tu queres que te expressemos nossas suspeitas, esta gravidez foi causada por ninguém mais que o anjo de Deus”. José, porém, disse: “Estais tentando fazer com que eu acredite que um anjo do Senhor a engravidou? E de fato possível que alguém vestido de anjo do Senhor a tenha enganado”. Depois de dizer isso, ele chorou e disse: “Com que face deverei ir ao Templo de Deus? Com que pretexto devo visitar os sacerdotes de Deus? Que farei?” Depois de dizer isso, ele fez planos para ocultá-la e repudiá-la.

Então ele planejou levantar-se à noite e fugir, para viver escondido; eis que naquela mesma noite, um anjo do Senhor lhe apareceu num sonho e disse: “José, filho de Dai não tenhas medo de aceitar Maria como tua esposa, porque aquele que está em seu ventre é do Espírito Santo. Ela terá um filho que será chamado Jesus; ele salvará seu povo de seus pecados”. José acordou de seu sono, deu graças a seu Deus, e contou sua visão a Maria e às virgens que estavam com ela. E depois de ser confortado por Maria, ele disse: “Eu pequei porque suspeitei de ti”.

Aconteceu que depois disto espalhou-se o murmúrio de que Maria estava grávida. José foi agarrado pelos emissários do Templo e levado ao sumo sacerdote que, junto com os sacerdotes, se pós a repreendê-lo, dizendo: “Como é que tu foste enganado de tal matrimônio e uma virgem a quem os anjos de Deus alimentaram como uma pomba no Templo, que desejou nunca ver homem algum, que tinha excelente instrução na lei de Deus? Se tu mesmo não a tivesses violado, hoje ela permaneceria virgem”. José, porém, fez um juramento, que ele jamais a tocara. Abiathar, o sumo sacerdote, lhe disse: “Como Deus vivo, portanto te farei beber a água da prova do Senhor, e imediatamente ele demonstrará teu pecado”.

Toda a multidão de Israel se reuniu, tantos que era impossível contá-los, e Maria foi conduzida ao Templo do Senhor. Sacerdotes e vizinhos e seus pais clamaram e disseram a Maria: “Confessa teu pecado aos sacerdotes, tu que foste como uma pomba no Templo de Deus e que aceitaste alimento da mão de um anjo”. José também foi chamado ao altar e lhe deram a água da prova do Senhor — que, se um homem faltoso beber e der sete voltas ao redor do altar, Deus fará seu pecado aparecer no rosto do homem. Quando então um alegre José bebeu e deu voltas ao redor do altar, nenhum sinal de pecado foi revelado nele. Então todos os sacerdotes e ministros e o povo o santificaram, dizendo: “Abençoado és tu porque nenhuma culpa foi descoberta em ti”. Depois eles chamaram Maria e lhe disseram: “Agora que desculpa podes ter? ou que sinal ele manifestará em ti além do que tua gravidez revela em teu ventre? Só exigiremos de ti que — porque José é inocente com respeito a ti — tu devas confessar quem é que te enganou. E melhor que tua confissão te traia do que a ira de Deus dê um sinal em teu rosto e te exponha em meio ao povo”.

Então Maria, firme e intrépida, disse: “Se existir em mim qualquer mácula ou pecado, ou se houve em mim qualquer concupiscência ou lascívia, que o Senhor me exponha à vista de todo o povo, para que eu possa ser um exemplo para a correção de todos”. E ela foi confiante até o altar de Deus, bebeu a água da prova, deu sete voltas ao redor do altar, e nenhuma falta foi encontrada nela.

E enquanto todo o povo se maravilhava e gaguejava, vendo que ela estava grávida e mesmo assim nenhum sinal de culpa aparecera em seu rosto, eles começaram a ficar agitados e a murmurar entre si como as multidões fazem. Alguns diziam uma bênção, outros por má consciência a acusavam. Então, vendo as suspeitas do povo, que eles não foram purgados pela integridade dela, com todos atentos, Maria falou em clara voz: “Como Deus vive, Adonai das hostes, em cuja presença estou, eu nunca conheci um homem; eu nem mesmo considerei conhecer um homem, porque desde a minha infância, por toda a minha vida, tive esta convicção. E esta oferenda que fiz a Deus desde a minha infância para que continuasse em integridade com aquele que me criou, viver nele somente com quem confabulo, e, enquanto eu viver, permanecer com ele somente, sem mácula”.

Então todos a beijaram, pedindo que os perdoasse por suas maléficas suspeitas. E todo o povo e os sacerdotes e todas as virgens, com exultação e louvor, a conduziram até sua casa, bradando e dizendo: “Abençoado o nome do Senhor, que revelou tua santidade para todas as multidões de Israel.”…

[O nascimento de Jesus. A história parece ser baseada no Evangelho de Tiago, e traz o exame ginecológico que Salomé fez em Maria. Este capitulo também retoma a narrativa da natividade segundo Lucas.]

No terceiro dia depois do nascimento do Senhor, Maria saiu da caverna; ela foi até o estábulo e colocou a criança numa manjedoura, e um boi e um burrico o adoraram. Então aquilo que foi dito através do profeta Isaías se cumpriu: “O boi conhece seu proprietário e o burrico a manjedoura de seu senhor”. Estes animais, tendo-o no meio deles, o adoravam de cessar. Assim, aquilo que foi falado através do profeta Habacuque se cumpriu: “Tu serás conhecido entre os dois animais”. José e Maria permaneceram ali com a criança durante três dias….505

[Ele vão a Belém. Jesus é circuncidado. A apresentação no Templo (ver Lucas 2). A vinda dos Magos. O massacre das crianças judias.]

Quando eles chegaram a uma determinada caverna e quiseram descansar nela, Maria desceu da mula de carga e, sentando-se, segurou Jesus no colo. Havia três rapazes viajando com José e uma menina com Maria. E eis que, de repente, muitos dragões saíram da caverna. Quando os rapazes viram-nos na frente deles, eles gritaram com grande medo. Então Jesus desceu do colo de sua mãe, e ficou de pé diante dos dragões. Eles, porém, o adoraram, e, enquanto adoravam, recuaram. Então aquilo que foi dito através do profeta Davi se cumpriu: `Vos dragões da terra, louvai o Senhor, vós dragões e todas as criaturas do abismo”. Então o menino Jesus caminhou diante deles e lhes ordenou que não machucassem homem algum. Mas Maria e José estavam com muito medo que o menino pudesse ser machucado pelos dragões. Jesus lhes disse: “Não tenhais medo, nem me considerai uma criança; eu sempre fui um homem perfeito e assim sou agora; é necessário que todos os animais selvagens da floresta sejam mansos diante de mim”.

Semelhantemente, leões e leopardos o adoraram e os acompanharam no deserto. Para onde quer que José e Maria fossem, eles os precediam; mostrando o caminho e inclinando suas cabeças, eles adoravam Jesus. No entanto, a primeira vez que Maria viu os leões e outros tipos de animais selvagens ao seu redor, ela ficou muito amedrontada. O menino Jesus, com o semblante alegre, olhou para trás e disse: “Não tenhas medo, Mãe, eles não vi-eram correndo para cá para machucar-te e sim eles correm para te obedecer”. Quando ele disse isto, tirou o medo o coração dela. os leões viajavam com eles e com os bois e os burricos e os animais de carga que carregavam suas necessidades, e eles não machucaram nenhum deles enquanto Permaneceram. Eram mansos entre as ovelhas e cordeiros que eles trouxeram consigo de Judéia e tinham com eles. Eles viajavam entre os lobos e não estavam amedrontados; não houve dano de um para o outro. Então aquilo que foi dito pelo profeta se cumpriu: “Lobos serão apascentados com os cordeiros, o leão e o boi comerão juntos”. Havia dois bois e a carroça, na qual eles carregavam suas necessidades, que os leões guiavam em sua jornada.

E aconteceu que, no terceiro dia depois de sua partida, Maria estava cansada pelo calor excessivo do sol no deserto e, vendo uma palmeira, disse a José: “Desejo descansar um pouco debaixo de sua sombra”. José rapidamente a conduziu até a palmeira e a ajudou a descer do animal. Enquanto Maria estava sentada, ela olhou ao topo da palmeira e a viu cheia de frutos. Ela disse a José: “Desejo, se possível, comer alguns frutos desta palmeira”. José lhe disse: “Estou assombrado com que tu dizes, quando vês como é alta esta palmeira, que penses em comer o fruto dela. Penso mais na água, que já nos falta nos sacos de água; agora não temos nada com que nos refrescar nem os animais”.

Então o menino Jesus, que estava descansando com um sorriso no rosto no colo de sua mãe, disse à palmeira: “Curva-te, árvore, e alimenta minha mãe com teus frutos”. E imediatamente, à sua voz, a palmeira curvou sua copa aos pés de Maria, e eles colheram os frutos dela com os quais todos se alimentaram. Depois que eles colheram todos os seus frutos, ela continuou curvada, esperando para se erguer ao comando daquele que lhe havia ordenado se curvar. Então Jesus lhe disse: “Ergue-te, palmeira, e sê forte e companheira de minhas árvores que estão no Paraíso de meu Pai. Abre um curso de água que está escondido na terra sob tuas raízes, e dele deixa correr águas para satisfazer-nos”. E a palmeira se ergueu imediatamente, e fontes de água, muito clara e fria e doce, começaram a jorrar através das raízes. Quando eles viram as fontes de água, se regozijaram com grande júbilo, e eles e os animais de carga ficaram todos satisfeitos, e deram graças a Deus.

No dia seguinte eles saíram dali. Ao iniciar a viagem, Jesus se voltou para a palmeira e disse: “Eu te dou o privilégio palmeira que um de teus galhos seja carregado por meus anjos e plantado no Paraíso de meu Pai. Eu te confiro esta bênção, que todos que ganharem numa luta, lhes será dito: ‘tu conquistaste a palma da vitória’. Quando ele disso isto, eis que um anjo do Senhor apareceu e ficou acima da palmeira. Ele pegou um de seus galhos e voou para o Céu com o galho na mão. Quando eles viram isto, caíram com suas faces por terra e ficaram como mortos. Jesus falou com eles, dizendo: “Por que o medo se apossou de vossos corações? Não sabeis que esta palmeira, que eu mandei levar para o Paraíso, estará pronta para todos os santos no lugar das delicias, assim como ela estava pronta para vós neste lugar deserto”. Eles ficaram cheios de alegria e se levantaram. Enquanto eles continuavam a viajar, José disse-lhe: “Senhor, o calor excessivo está nos cozinhando; se for de teu agrado, deixa que caminhemos pelo mar, para que possamos viajar, descansando nas cidades ribeirinhas”. Jesus lhe disse: “Não tenhas medo, José, eu encurtarei tua viagem, para que aquilo que tu atravessarias no espaço de trinta dias, terminarás em um dia”. Enquanto isto estava sendo dito, eis que eles começaram a ver as montanhas e as cidades do Egito.

Rejubilando-se e exultando, eles chegaram à região de Hermópolis, e entraram numa das cidades egípcias chamada Sotinen. Como não conheciam ninguém de quem pudessem pedir hospitalidade, foram para o templo que era chamado o “Capitólio do Egito”. Haviam sido colocados neste templo trezentos e Sessenta e cinco ídolos, aos quais, em dias determinados, era dada honra divina em cerimônias sacrílegas.

E ,aconteceu que, quando a abençoadíssima Maria, com seu filho, entrou no templo, todos os ídolos foram jogados ao chão, ficando todos esmagados, convulsos e com suas faces despedaçadas. Assim eles revelaram abertamente que eram nada. Então aquilo que foi dito pelo profeta Isaias se cumpriu: “Eis que o Senhor Virá numa nuvem ligeira e entrará no Egito, e todos os ídolos feitos pelos egípcios serão removidos de sua presença”.

Quando isto havia sido anunciado a Afrodosius, o governador da Cidade, ele veio ao templo com seu exército inteiro. Quando os sacerdotes do templo viram que Afrodosius se precipitava para o templo com seu exército inteiro, eles supuseram que viram sua vingança sobre aqueles por causa de quem os ídolos foram derrubados. Ele entrou no templo, e quando viu que todos os ídolos estavam prostrados sobre suas faces, foi até Maria e adorou a criança que ela carregava em seu seio, e enquanto ele o adorava, disse a seu exército inteiro e a seus amigos: “Se ele não fosse o Deus de nossos deuses, nossos deuses certamente não teriam caído diante dele sobre suas faces, nem jazeriam prostrados em sua presença. Eles assim confessam silenciosamente que ele é seu Senhor. Se nós todos não fizermos por prudência aquilo que vemos os nossos deuses fazerem, possivelmente incorreremos em sua indignação e todos seremos destruídos, assim como aconteceu com o Faraó, rei dos egípcios, que não acreditou em tais maravilhas e foi afogado no mar com seu exército inteiro”. Então todas as pessoas daquela cidade acreditaram no Senhor Deus através de Jesus Cristo.

Depois de pouco tempo o anjo disse a José: “Volta para a terra de Judá; aqueles que buscavam a vida do menino estão mortos”. Fim

Portal a&e Voltar ao tema: Evangelhos Apócrifos Biblia on line |

Anjos & Angeologia | Anjo do dia | Simpatias, magias & feitiços rápidos |

Simpatias angelicaisSimpatias Amor | Amarrações | Encantamentos | Simpatias ciganas | Wicca | Simpatias & magias egípcias | Banhos mágicos | Amuletos & Talismãs |

Partilhe, recomende e vote neste artigo

Apócrifos, José e Asenath

Textos apócrifos, Evangelhos apócrifosApócrifos, José e Asenath

Capítulo 1

Asenath

1 No quinto dia do segundo mês, no primeiro ano dos sete anos gordos, o Faraó ordenou a José que fizesse um giro por toda a terra do Egito. Assim, no décimo oitavo dia do quarto mês do primeiro ano José chegou à região de Heliópolis, a fim de recolher o trigo todo da terra, a qual se assemelhava às areias do mar.

2 Havia um homem naquela cidade por nome Pentephres. Era sacerdote em Heliópolis e sátrapa do Faraó, o principal dentre todos os seus príncipes e sátrapas. Esse homem era incomensuravelmente rico, prudente e manso de coração. Conselheiro do Faraó, era o mais sábio de todos os seus príncipes.

3 Pentephres tinha uma filha, chamada Asenath, virgem de dezoito anos, esbelta e viçosa, que sobrepujava em beleza todas as jovens do país. Efetivamente, Asenath não se parecia em nada com as moças egípcias; parecia-se muito mais comas filhas dos hebreus. Era tão esbelta quanto Sara, tinha o frescor de Rebeca e a beleza de Rachel.

4 A fama de sua beleza percorreu toda a terra, até os confins do mundo. Todos os filhos dos grandes e dos sátrapas, e até os filhos dos reis soberanos, queriam pedi-la em casamento. Todos jovens e vigorosos, entre eles nasceu logo grande porfia por” causa dela e até já se hostilizavam entre si.

5 Também o filho primogênito do Faraó ouviu falai” de Asenath e pediu ao pai que ela lhe fosse dada em casamento, falando-lhe assim: “Meu pai! Dá-me por esposa Asenath, a filha de Pentephres, o homem mais importante de Heliópolis!” Respondeu-lhe então o Faraó: “Por que procuras tu uma mulher que está abaixo da tua condição, se vais ser o rei de todo este pais? Por acaso a filha de Joachim, rei de Moab, não é tua noiva? Ela será efetivamente uma rainha, e é bela acima de toda medida. A ela, pois, escolhe por tua esposa!”

Capítulo 2

Adornos e morada de Asenath

1 Asenath, porém, era avessa a todos os homens e os repudiava. inacessível no seu orgulho, homem algum chegava sequer a vê-la. Na mansão de Pentephres havia uma torre, muito grande e muito alta, em cuja parte superior havia um solar constituído de dez cômodos.

2 O primeiro aposento era sobremodo grande e bonito, marchetado de pedras purpúreas, com paredes em pedras nobres, de variada cor; e o forro era de ouro, inúmeras divindades egípcias, de ouro e prata, estavam reunidos nesse quarto. E Asenath a todas adorava, com grande reverência, oferecendo-lhes sacrifícios todos os dias.

3 No segundo aposento recolhiam-se todos os adornos de Asenath, bem como todos os seus pertences. Nele se depositavam muito ouro e muita prata, numerosos vestidos bordados com ouro, pedras preciosas raras e vestes de linho, a par de todos os demais enfeites de uma jovem. O quarto de provisões de Asenath constituía o terceiro compartimento e continha todos os melhores gêneros da terra.

4 Nos restantes sete quartos moravam sete jovens virgens, cada qual em seu quarto,para servirem a Asenath. Eram todas da mesma idade e nascidas como Asenath numa mesma noite. Ela as amava muito; eram maravilhosamente belas, comparáveis às estrelas do céu. Nem homem nem jovem jamais lhes dirigiu a palavra.

5 Havia três janelas no aposento maior, onde a donzela Asenath Cultivava e embalava a sua virgindade. A primeira janela era muito ampla e dava para o pátio, na face leste; a segunda dava para o sul e a terceira, para a rua.

6 Uma cama de ouro ocupava o quarto, do lado do nascente. O leito tinha cobertas de púrpura com arremates de ouro, tecidas em escarlate e de finíssimo pano de linho. Nessa cama Asenath dormia sozinha. Jamais se deitara nela um homem, nem outra mulher, mas tão-somente Asenath.

7 A casa era circundada de um amplo pátio cercado de altos muros, construídos com grandes blocos de pedra. O pátio tinha quatro portões forte-mente guarnecidos de ferro. Neles montavam guarda dezoito soldados armados, jovens e vigorosos. Junto ao muro, na parte interna do pátio, cresciam árvores frutíferas de espécies variadas e preciosas, carregadas de frutos maduros da estação.

8 No lado direito do pátio havia uma rica fonte de água, e abaixo dela um tanque de considerável proporção que recolhia as águas da fonte. A partir dele, semelhantemente a um córrego, as águas fluíam no pátio todo e irrigavam suas plantas.

Capítulo 3

Chegada de José

1 No dia vinte e oito do quarto mês, no primeiro dos sete anos gordos, José chegou à região de Heliópolis para recolher o trigo daquela terra. Ao aproximar-se da cidade, destacou doze homens para que fossem à sua frente levai-a Pentephres, sacerdote de Heliópolis, a seguinte mensagem: “Chegarei hoje à tua casa, pois se faz meio-dia e é hora de refeição; também grande é o calor do sol; por isso aprazer-me-á refrigerar-se sob o teto da tua casa”.

2 Quando Pentephres ouviu essas palavras, alegrou-se grandemente e falou: “Louvado seja o Senhor, o Deus de José! Meu Senhor! José me julga digno!” Então Pentephres mandou vir o administrador da casa e falou-lhe: “Por depressa minha casa em ordem e prepara um almoço festivo, porque hoje José, o herói de Deus, chegará à nossa morada.

3 Asenath, ao perceber que o pai e a mãe acabavam de voltar para casa, vindos da sua propriedade rural, disse com toda alegria: “Eu vou e quero ver o pai e a mãe, que voltam do campo”. Era o tempo da colheita.

4 Ela correu ao quarto onde guardava as suas roupas, vestiu um finíssimo vestido de linho, debruado em escarlate e ouro, cingiu-se com um cinto dourado, colocou braceletes nos braços e correntes de ouro nus tornozelos. No pescoço pôs um colar valiosíssimo de pedras preciosas polidas de todos os lados e levando inscritos os nomes dos deuses egípcios, que também estavam gravados nos braceletes e nas demais jóias. Colocou o turbante na cabeça, aplicou um diadema às têmporas e cobriu a cabeça com um véu.

Capítulo 4

Asenath e seus tais

1 Asenath saiu do solar, desceu rapidamente as escadas, aproximou-se do pai e da mãe e os saudou. Pentephres e sua mulher alegraram-se profundamente com a presença da filha e por vê-la assim tão enfeitada e radiosa, como uma noiva divina.

2 Tomaram dos gêneros que haviam trazido da sua propriedade e os ofereceram à filha. E Asenath ficou encantada com esses bens: frutas, como uvas, tâmaras, romãs e figos, todas maduras e apetitosas. Nesse momento, Pentephres chamou Asenath: “O filha”. Ela respondeu: “Sim, meu Senhor”. Disse-lhe ele: “Senta-te aqui, entre teu pai e tua mãe! Desejo dizer-te o que vai no meu pensamento”.

3 Ela sentou-se entre eles. Pentephres estendeu sua mão direita, tomou a mão direita dela, beijou-a e disse: “Filhinha querida!” Ela retrucou: “Sim, meu senhor e pai”.

4 Pentephres continuou: “José, o herói de Deus, chegará hoje à nossa casa. Ele é o príncipe soberano de toda a terra do Egito. O rei Faraó constituiu-o administrador de todo o nosso pais, a toda esta terra ele distribui alimentos para salvá-la da fome que [lá de vir. José é um homem temente a Deus, virgem, como és tu hoje, homem forte em sabedoria e conhecimentos; o espírito de Deus está com ele e a graça do Senhor” nele habita. Vem, pois, filha querida! Vou oferecer-te a ele como esposa, e tu serás sua esposa, e ele será o teu esposo para todo sempre”.

5 Ao ouvir tais palavras do seu pai, o rosto de Asenath cobriu-se de suor. Tomada de grande indignação, olhou de soslaio para o pai e falou: “Por que me falas tais coisas, meu senhor e pai? Queres entregar-me como prisioneira a um homem estranho, que foi um fugitivo, a um homem que, além de tudo, foi vendido? Por acaso não é ele o filho de um pastor de Canaã? Não foi, enfim, por ele repudiado? Não é aquele que, tendo deitado com sua ama, foi lançado por seu patrão numa prisão escura, de onde o Faraó o fez libertar por haver ele interpretado os seus sonhos, como fazem as velhas feiticeiras do Egito? Não! Prefiro casar-me com o filho primogênito do Faraó, pois este será o rei de todo o país”.

6 Tudo o entusiasmo de Pentephres para continuar a falar com sua filha Asenath sobre José esmoreceu, pois ela acabava de responder-lhe com muita ira e grande orgulho.

Capítulo 5

A visita de José

1 Nesse momento entrou a correr um jovem serviçal e falou assim a Pentephres: “José já está às portas do pátio”. Ao ouvir estas palavras, Asenath fugiu da presença do seu pai e da mãe, subiu as escadas do solai”, entrou no seu quarto e postou-se à grande janela que dava para o nascente, para poder ver José quando entrasse na casa paterna.

2 Então Pentephres e sua mulher saíram a saudar José, acompanhados de todos os parentes e dos serviçais. Ao ser aberto o portão do pátio que dava para o oriente, José fez sua entrada. Viajava no segundo carro do Faraó, rica carruagem acabada em ouro puro e puxada por quatro cavalos brancos como a neve, com bridas douradas.

3 José vestia uma maravilhosa túnica branca e se cobria com um manto de púrpura, de um fino linho bordado a ouro. Sobre a cabeça, uma coroa de ouro com doze pedras preciosas que coruscavam em reverberações douradas. Na mão direita portava um cetro real e um ramo de oliva carregado de frutos.

4 Quando José entrou no pátio, os portões foram fechados e todas as pessoas estranhas, homens e mulheres, tiveram de permanecer do lado de fora. Apresentam-se então Pentephres e sua mulher, e todos os parentes, menos a filha Asenath. Prostraram-se no chão diante de José. Então José desceu do carro e, com um aperto de rirão, a todos saudou.

Capítulo 6

Asenath impressiona-se com José

1 Tendo Asenath visto José, ficou fortemente perturbada no seu íntimo. Seu coração palpitava e seus joelhos vacilaram. Todo o seu corpo tremia e uma grande angústia apossou-se dela. Com fortes suspiros, assim falou em seu coração: “Para onde eu, desgraçada, deverei fugir agora? Onde esconder-me da sua face? Como poderá José, esse filho de Deus, volver os seus olhos para mim, eu que tanto mal falei dele?

2 “Ai de mim, desafortunada! Aonde irei esconder-me? Pois ele vê tudo o que está escondido, sabe todas as coisas e nada do que está oculto lhe escapa, por causa da grande luz que traz dentro de si. Seja neste momento o Deus de José clemente comigo, pois sem saber pronunciei coisas tão graves contra ele! Que devo fazer, ó mísera de mim?

3 “Por acaso eu não disse que ele é filho de um pastor de Canaã? Agora vem ele a nós, semelhante a um sol divino, em seu carro, dando entrada em nossa casa e iluminando-a como a luz que ilumina toda a terra. Eu, porém, fui tão tola e atrevida, a ponto de proferir contra ele coisas graves, sem saber que José é um filho de Deus.

4 “Pois que homem sobre a terra pôde gerar tamanha beleza, e que ventre materno pôde dar à luz tamanho esplendor? Como fui infeliz e tola, respondendo ao meu pai com palavras tão perversas! ó pai, entrega-me a José como sua serva, melhor ainda, como sua escrava! Sim, desejo ser sua escrava para sempre.”

Capítulo 7

Entrada de José na casa dos pais

1 E José entrou na casa de Pentephres e assentou-se sobre um trono. Lavaram-lhe os pés e prepararam-lhe uma mesa em separado, porque José não comia com os egípcios: isso significava para ele abominação. Nisso, José, levantando os olhos, viu Asenath; notou como ela o espiava furtivamente, e então falou a Pentephres: “Quem é essa mulher postada à janela do solar? Quero que saia desta moradia!” José pensava, e temia, que ela quisesse importuná-lo.

2 Acontecia que todas as mulheres e filhas dos príncipes e sátrapas do Egito lhe eram incômodas, por causa da insistência em se manterem junto dele. E não havia mulher egípcia, casada ou solteira, que não se apaixonasse por José por causa da sua beleza. Aos mensageiros que as mulheres enviavam a ele com presentes valiosos, de ouro e prata, José expulsava com indignação e ameaças, fiel ao seu princípio: “Jamais haverei de pecar contra Deus, o Senhor, nem contra a face do meu pai, Israel”.

3 José realmente tinha Deus sempre diante dos olhos, e constantemente lembrava as advertências de seu pai. Muitas vezes Jacó disse a José e inculcou em seu coração e no de todos os seus outros filhos: “Filhos, guardai-vos das mulheres estrangeiras! Nunca deixeis que elas vos envolvam! A relação com elas é desgraça e perdição”. Foi por isso que José falou: “Que esta mulher se retire desta casa!”

4 Ao que Pentephres retrucou: “Meu Senhor! Aquela que vês postada no solar não é uma estranha; ela é nossa filha, que tem desprezado todos os homens. Ela nunca viu outro homem até hoje, a não ser tu. Se for do teu agrado, Senhor, ela se apresentará e te dirigirá a palavra, pois nossa filha é como se fosse tua irmã”.

5 Essas palavras alegravam o coração de José. Sabendo pelo próprio Pentephres que ela era virgem, e mais, que desconhecia e desprezava os homens, José disse a Pentephres e sua mulher: “Se essa é vossa filha e é virgem, que venha pois até aqui. Nesse caso, ela é minha irmã, e a partir deste momento, eu a amarei como tal”.

Capítulo 8

Encontro de José com Asenath

1 Ao ouvir essas palavras, a esposa de Pentephres subiu ao solar e conduziu Asenath até José. Pentephres disse a ela: “Saúda o teu irmão! Ele é virgem, como tu também o és hoje, e ele se aborrece com toda mulher estranha assim como tu também te aborreces com todos os homens estranhos”.

2 Então Asenath falou a José: “Sejas bem-vindo, Senhor, o abençoado do Deus altíssimo!” E José assim respondeu: “Jovem! Que te abençoe Deus, que a todas as coisas dá a vida!” Pentephres disse então à sua filha Asenath: “Vamos. Beija o teu irmão!”

3 Quando Asenath se dispunha a beijar José, este a reteve com um gesto da mão direita, que colocou sobre o peito. E disse: “Não convém a um homem temente a Deus, que com sua boca louva o Deus vivo e come o sagrado pão da vida, e bebe a bebida sagrada da imortalidade, beijar uma mulher estranha, a qual com a boca louva deuses mortos e mudos, que da sua mesa come alimentos sufocados, que das suas bebidas rituais bebe o cálice da impostura, e que se unge com a unção da desgraça.

4 “O homem temente a Deus, muito mais há de beijar sua mãe e sua irmã, filha de sua mãe, e sua irmã da mesma linhagem e sua esposa, que compartilha seu leito e que com sua boca louva o Deus vivo. Da mesma forma, não convém a uma mulher temente a Deus beijar um homem estranho, pois isso, diante de Deus, o Senhor, é uma abominação.”

5 Quando Asenath ouviu de José tais palavras, ficou muito perturbada e sua respiração se acelerou. E como José a encarasse com olhar aberto e firme, os seus olhos encheram-se de lágrimas. Ao ver José que ela assim chorava, compadeceu-se dela profundamente, pois percebeu a sua doçura e bondade e o seu temor a Deus.

6 Colocou então a mão direita sobre a cabeça da jovem e disse: “Senhor Deus dos pais de Israel! O tu, altíssimo e forte Deus, que a tudo conferes a vida, que a tudo tiras das trevas e trazes à luz, que tudo conduzes do erro para a verdade, da morte para a vida. Ah, abençoa também esta jovem! Dá-lhe a vida, renova-a pela força do teu espírito santo, permite-lhe provar do teu pão da vida e beber do cálice da tua bênção, e conta-a entre o teu povo, que tu escolheste, antes que tudo fosse criado! Conduze-a à morada da tua paz, que preparas-te para os teus eleitos! Permite-lhe viver para sempre no seio da tua vida eterna!”

Capítulo 9

Partida de José

1 Asenath alegrou-se profundamente com a bênção de José. A toda pressa subiu ao solar e, exausta, atirou-se sobre a cama. No seu intimo reinavam ao mesmo tempo a alegria, a tristeza e a angústia. Ainda ecoavam em seus ouvidos aquelas palavras de José falando lhe em nome do Deus altíssimo. Prorrompeu então num choro alto e amargo e, cheia de arrependimento, aborreceu os seus deuses, que adorava, e as imagens dos seus ídolos, que já começava a maldizer, e assim permaneceu até o cair da noite.

2 José comeu e bebeu e a seguir ordenou aos seus servos que atrelassem os cavalos ao seu carro, a fim de continuar a percorrer a região. Falou então Pentephres a José: “Permanece hoje aqui, meu Senhor! Segue amanhã o teu caminho”. Mas José lhe respondeu: “Não, eu irei hoje; pois este é o dia em que o Senhor iniciou a criação de todas as coisas. No oitavo dia eu voltarei, e então permanecerei convosco”.

Capítulo 10

Arrependimento de Asenath

1 Quando José partiu, Pentephres dirigiu-se para o campo, acompanhado de todos os seus. Só Asenath e as suas sete virgens permaneceram em casa. Mas Asenath ficou alheia a tudo e debulhada em lágrimas, até o pôr-do-sol. Não comeu pão nem bebeu água; e quando todos já estavam mergulhados no sono, só ela permanecia acordada, derramando lágrimas e batendo repetidamente no peito.

2 Em dado momento levantou-se e desceu as escadas do solar. Junto à porta de entrada encontrou a guardiã adormecida nas suas dependências, juntamente com as suas crianças. Então habilmente desprendeu o cortinado da porta, encheu-o de cinzas, carregou-o até o solar e, chorando e suspirando, espalhou as cinzas pelo chão.

3 Aquela jovem, que era a que mais amava Asenath, percebeu os seus suspiros. Levantou-se mais que depressa e foi postar-se à porta, após ter acordado também as outras virgens; mas Asenath havia trancado a porta e corrido o ferrolho. Ouvindo que não cessavam os suspiros e as lamentações de Asenath, chamou-a do lado de fora, dizendo: “O que está acontecendo, minha senhora? O que tanto te entristece? O que assim te atormenta? Abre a porta, para que possamos ver-te”.

4 De dentro, Asenath respondeu: “Um sofrimento muito grande e muito pesado abateu-se sobre mim; estou estirada sobre meu leito e não consigo levantar-me para abrir-vos a porta, pois doem-me todos os membros. Que todas voltem para seus quartos, descansem e me deixem em paz!”

5 Quando as jovens tornaram a recolher-se, Asenath levantou-se, abriu silenciosa-mente a porta do seu aposento Jose, dirigiu-se até o segundo compartimento, onde se guardavam os seus adornos, e abriu os baús. Apanhou um vestido preto e sombrio que vestira por ocasião da morte do seu irmãozinho mais velho, levou-o ao seu quarto e cerrou e novo cuidadosamente a porta, correndo a tranca de ferro.

6 Então tirou suas vestimentas reais e vestiu o vestido de luto. Desprendeu o cinto de ouro e cingiu-se com uma corda tirou o turbante, o diadema, os braceletes e as fitas de ouro e amontoou tudo isso no chão. Então agarrou o seu vestido de luxo, bem como o cinto de ouro, o turbante e o diadema, e atirou tudo aos pobres pela janela que dava para o norte.

7 Depois, reuniu o grande número das estátuas de seus deuses leitos de ouro e prata, que se encontravam no quarto, quebrou-os em mil pedaços e atirou-os pela janela, aos mendigos e necessitados. Em seguida, Asenath tomou suas provisões reais, carnes gordas, peixe e assados de vitela, bem como todas as oferendas dos seus deuses, também os utensílios e as reservas de vinho, e atirou tudo aos cachorros pela janela que dava para o norte.

8 Feito isso, tomou o cortinado com as cinzas e esvaziou-o completamente pelo chão. Tomou uma roupa de penitência, envolveu com ela os rins, soltou as tranças dos cabelos e espalhou cinzas sobre a cabeça. Como havia esparzido as cinzas pelo chão, sentou-se no meio delas, batendo-se no peito repetidamente com os punhos cerrados; chorou e suspirou amargamente pelo resto da noite, até o amanhecer.

9 Quando, pela manhã, Asenath se deu conta, viu que as cinzas do chão haviam-se convertido em lodo, tantas as lágrimas derramadas. Então, mais uma vez, atirou-se com a face por terra, e assim permaneceu até o pôr-do-sol. Assim procedeu durante sete dias, não se alimentando de uma migalha sequei”.

Capítulo 11

Conversão de Asenath

1 No oitavo dia, ao alvorecer, quando os passarinhos começavam a cantar e os cachorros a latir para os transeuntes, Asenath soergueu-se um pouco do monte de cinzas em que se assentava. Esgotada pelo prolongado jejum, sentiu os membros entorpecidos e fracos e aniquiladas sua energia e suas forças. Recostou-se então contra a parede, sob a janela onde estava sentada, do lado do nascente, deixou pender a cabeça, em penitência, e colocou os dedos da mão direita sobre o joelho direito. Sua boca permanecia fechada; nenhuma vez a abrira nos sete dias e sete noites do seu jejum. E no seu íntimo ela falou, sem entreabrir a boca: “Que deverei fazer, ó pobre de mim? Aonde irei? Junto a quem refutar-me-ei? Com quem poderei falar agora, desamparada, solitária, por todos abandonada e virgem desprezada?

2 “Ninguém mais terá consideração por mim, nem meu pai, nem minha mãe, porque repudiei os seus deuses, fi-los em pedaços e os dei aos pobres como objeto de destruição. Assim dirão meu pai e minha mãe: `Esta não é a nossa filha Asenath’. Também me odiarão todos os parentes e as demais pessoas, porque destruí os deuses deles.

3 “Por acaso também eu não desprezei todos os homens e todos os meus pretendentes? Assim agora eu também, neste meu estado de fraqueza, serei simplesmente desprezada; todos se alegrarão com o meu infortúnio. O Senhor e Deus do herói José, porém, aborrece todos os adoradores de deuses falsos, pois Ele é, segundo ouvi dizer, um Deus colérico e terrível para com todos aqueles que veneram divindades estranhas.

4 “Também a mim Ele odiou, porque adorei e louvei estátuas de deuses mortos e mudos. Agora eu repudiei os seus sacrifícios e a minha boca absteve-se da sua mesa. Contudo, não tenho a coragem de invocar o Senhor, o Deus do céu, o Altíssimo, o poderoso Deus do herói José, porque minha boca esteve contaminada pelas oferendas dos falsos deuses.

5 “Mas muito ouvi falar que o Deus dos hebreus é um Deus verdadeiro, um Deus vivo, um Deus misericordioso, compassivo, indulgente, remitente, suave, que não leva em conta os pecados de quem agiu principalmente por ignorância, e que não exige satisfação pela culpa de uma pessoa em grande aflição e necessidade. Agora também eu, ó pobre de mim, me aventuro a voltar-me para Ele, e nele refugiar-me, e diante dEle reconhecer todos os meus pecados e derramar todas as minhas súplicas; Ele terá compaixão da minha profunda indigência.

6 “Vendo-me agora tão humilhada, tão solitária em minha alma, quem sabe Ele terá piedade de mim? Quem sabe agora, vendo a virgem abandonada que sou, de tudo carente, Ele me protegerá, pois, como ouço dizer, Ele é o pai dos órfãos, o consolador dos aflitos, o refúgio dos perseguidos. Sim, ousarei, eu pobre, clamar por Ele.”

7 Então Asenath ergueu-se de junto à parede em que esteve recostada, pôs-se sobre os joelhos na direção do nascente, olhou para o céu, abriu a boca e falou a Deus.

Capítulo 12

Oração de Asenath

1 Prece e confissão de Asenath: “ó Senhor, Deus dos justos, Tu que criaste os mundos e que a tudo desta vida, que concedeste o espírito da vida a todo o criado, que trouxeste à luz o invisível; Tu, que a tudo deste origem, que desvelaste o que era oculto, que és o autor dos altos céus, que firmaste a terra sobre as águas, que deste fundamentação às grandes rochas nas profundezas do mar, a fim de que não desapareçam nos abismos, mas, ao contrário, cumpram a tua vontade até o fim dos séculos, porque Tu ordenaste, e tudo foi criado — a tua palavra, ó Senhor, é vida para todas as tuas criaturas.

2 “Junto de ti agora me refugio, senhor meu Deus: doravante eu clamo a Ti, Senhor, na tua presença reconheço os meus pecados, derramo as minhas súplicas, ó Senhor,e manifesto as minhas culpas e pecados. Poupa-me, Senhor! Peço perdão! Porque muito contra Ti pequei e transgredi tuas leis, comportei-me impiamente e falei coisas abomináveis diante da tua face.

3 “Minha boca está imunda, Senhor, das oferendas aos falsos deuses egípcios, das suas refeições sacrificiais. Eu pequei, Senhor, na tua presença; agi de modo profano, tanto consciente quanto inconscientemente, pois invoquei imagens de ídolos mortos e mudos. Não sou digna, Senhor, de abrir a boca na tua presença, pobre de mim, Asenath, a filha do sacerdote Pentephres, virgem e rainha, eu que já fui cheia de orgulho e suficiência, que pela minha riqueza paterna era mais feliz do que ninguém, mas que agora estou sozinha e deserdada, completa-mente abandonada de todos.

4 “Em Ti me refugio, Senhor; a Ti apresento a minha súplica e clamo: salva-me dos perseguidores, o Senhor, antes que eles me agarrem! Tal como uma criança que de alguém tem medo e recorre ao pai e à mãe, e o pai lhe estende as mãos e a aperta contra o seu peito, assim também Tu, Senhor, abre os teus braços puros e poderosos para mim, como um pai que ama os seus filhos, e arranca-me da mão do inimigo do meu espírito!

5 “Pois vê: o velho leão rude e selvagem me persegue, porque ele é o pai dos deuses egípcios, e os descendentes dele são os deuses dos possuídos por divindades falsas. Eu porém os destruí e odiei, porque são filhos do leão. Dessa forma, eu repudiei todos os deuses dos egípcios, e os reduzi a pedaços. O leão, porém, cujo pai é o demônio, ronda cheio de ira por mim e procura devorar-me. Mas Tu, Senhor, livra-me das suas garras, arranca-me das suas fauces, para não ser por” ele estraçalhada, para que eu não seja lançada ao fogo ardente, para que o fogo não me arrebate ao furacão, e o furacão não me arremesse às trevas, e eu não seja precipitada nas profundezas do mar; que eu não seja, enfim, tragada pelo grande e velho monstro e fique perdida para todo o sempre!

6 “Salva-me, Senhor, antes que tudo isso me aconteça. Salva uma pobre, solitária e desprotegida, pois meu pai e minha mãe já me renegaram. Eles disseram: ‘Esta não é a nossa filha Asenath’, pois eu quebrei e aniquilei os seus deuses e os repudiei completamente. Neste momento, sou totalmente órfã e abandonada. Outra esperança não me resta a não ser Tu, meu Senhor, e nenhum outro refúgio senão a tua piedade, ó Tu, o verdadeiro amigo dos homens. Apenas Tu és o pai dos órfãos, o protetor dos perseguidos, o auxilio dos torturados.

7 “tem pois piedade de mim, Senhor! Protege a virgem pura que se encontra na orfandade e no abandono! Só Tu, Senhor, és um pai doce, bom e suave. Quem, além de Ti Senhor, seda um pai tão doce e bom? Todos os presentes do meu pai Pentephres, que me foram dados como propriedade, são temporários e transitórios; porém, os dons da tua herança, ó Senhor, são duráveis e eternos.

Capítulo 13

Ainda a oração de Asenath

1 “Olha, Senhor, a minha indigência! Tem piedade desta órfã! Tem compaixão de mim, profundamente humilhada! Vê, Senhor, eu de todos fugi e refugiei-me em Ti, único amigo dos homens. Abandonei todos os bens terrenos e junto a Ti procuro abrigo, em saco e cinza, nua e só.

2 “Rejeitei as minhas roupas reais feitas de linho finíssimo e escarlate, bordadas de ouro, e cobri-me com uma escura veste de luto. Desprendi o meu cinto de ouro e atirei-o longe, e cingi-me com uma corda em sinal de penitência. Arranquei da minha cabeça o diadema e o turbante, e cobre-me de cinzas.

3 “O piso do meu quarto, revestido de pedras purpúreas e matizadas, o qual era tratado a óleo e polido com linho fino, está umidificado de minhas lágrimas, coberto de cinzas, imundo. As cinzas e as minhas lágrimas, ó Senhor, converteram meu aposento em lugar sórdido, como se fosse uma rua pública.

4 “Meu Senhor! Dei meus alimentos reais e minhas iguarias aos cachorros. Senhor! Estou em jejum há sete dias e sete noites, não comi pão, nem bebi água; minha boca está seca como um tambor, minha língua é como um chifre e meus lábios são como cacos de vidro; tenho o rosto completamente desfigurado e os teus olhos estão exauridos de tanto chorar.

5 “Senhor, meu Deus, livra-me das minhas inumeráveis culpas! Perdoa à virgem inexperiente, que tantos erros cometeu! Reconheci agora que todos aqueles deuses, que antes inocentemente eu adorava, não passam de ídolos mudos e mortos. Então a todos despedacei, embora de ouro e prata, para que fossem pisados pelos homens e roubados pelos ladrões. Junto de Ti, Senhor Deus, eu tire abriguei, pois Tu és o único e compassivo amigo dos homens.

6 “Perdoa-me, Senhor, por tanto haver pecado contra Ti, inconscientemente, e por haver falado coisas nefandas contra José. Coitada de mim, eu não sabia que ele é teu filho. Pessoas malignas e cheias de inveja disseram-me que José é um filho de pastores, procedente de Canaã. E eu, coitada, neles acreditei; deixei-me enganar e pouco caso fiz dele; falei muito mal a seu respeito, não sabendo de forma alguma que ele era teu filho.

7 “Quem dentre os homens pôde trazer ao mundo tamanha beleza? Quem poderia tê-la produzido? Que outro homem é tão sábio e poderoso como esse José maravilhosamente belo? Eu confesso, meu Senhor, eu o amo mais do que à minha própria alma. Conserva-o na sabedoria da tua graça, e entrega-me a ele como sua serva e escrava, para que eu possa lavar-lhe os pés, preparar-lhe a cama, e em tudo servi-lo com submissa atenção, como sua escrava, nada mais que escrava, por todos os dias da minha vida.”

Capítulo 14

Visita do Arcanjo Miguel

1 Quando Asenath chegou ao término da sua confissão diante do Senhor, levantava-se do céu, no lado do nascente, a estrela da manhã. Asenath olhou para ela e sentiu grande alegria. E assim falou: “Terá Deus, o Senhor, ouvido a minha súplica, uma vez que essa estrela é arauto e mensageiro da luz do grande dia?”

2 Nesse momento, o céu fendeu-se junto à estrela da manhã e apareceu uma luz imensa e indizível. Ao vê-la, Asenath caiu com sua face sobre as cinzas. No mesmo instante, aproximou-se um homem do céu que emitia raios de luz e postou-se junto dela.

3 Como ela ainda estava prostrada sobre a face, o mensageiro do céu dirigiu-lhe a palavra: “Levanta-te, Asenath”. Mas ela respondeu: “Quem é esse que me dirige a palavra, pois que está firmemente fechada a porta do meu quarto e a torre é muito alta? Como pode pois alguém peneirar no meu quarto?” Então o mensageiro chamou-a mais uma vez: “Asenath, Asenath!”

 4 Ela falou: “Sim, Senhor! Mas permite-me saber quem és tu”. Então ele respondeu: “Eu sou o príncipe do Senhor Deus, o chefe das legiões do Altíssimo. Levanta-te e põe-te sobre os teus pés! Quero dirigir-te a palavra”.

5 Ela então ergueu o rosto e olhou. Aí estava um homem, em tudo parecido com José, tanto pela sua vestimenta como pela sua coroa e pelo cetro real; só que o seu rosto era como o relâmpago, os seus olhos tinham o brilho do sol, seus cabelos eram como um facho aceso e as suas mãos e os seus pés eram como o ferro em brasa e emitiam faíscas.

6 Quando Asenath viu isso, caiu mais uma vez sobre a face, presa de grande temor, sem poder ter-se em pé. Todos os seus membros tremiam de imenso pavor. Então o homem falou-lhe deste modo: “tem coragem, Asenath, e nada receies. Levanta-te e fica de pé, para que eu possa transmitir-te a minha mensagem!”

7 Encorajada, Asenath ergueu-se e colocou-se em posição ereta. Então o Anjo falou-lhe assim: “Vai agora mesmo ao teu segundo quarto, desveste a roupa de luto com que te cobriste e tira dos teus quadris a veste de penitência! Remove as cinzas de tua cabeça! Lava as mãos e o rosto com água pura e veste uma roupa branca e intacta! Cinge os teus rins com o cinto puro e duplo da virgindade! Depois volta para junto de mim, para que eu possa transmitir-te a mensagem pela qual o Senhor me enviou a ti!”

8 Asenath dirigiu-se a toda pressa ao seu segundo quarto, repositório dos seus adornos, abriu a arca, retirou dela um vestido branco, fino e imaculado, e vestiu-o, depois de se desfazer da vestimenta preta e arrancar a corda e os andrajos de penitência que lhe envolviam os flancos. Depois colocou seu cinto duplo da virgindade, um nos quadris, outro no peito.

9 Isso feito, sacudiu as cinzas da cabeça, lavou as mãos e o rosto com água limpa, tomou também um véu fino e belíssimo e cobriu com ele a cabeça.

Capítulo 15

Palavras de Miguel

1 Asenath voltou então à presença do príncipe dos céus. E o Anjo do Senhor lhe disse: “Retira o véu da cabeça, porque tu és hoje unta virgem pura e tua cabeça é uma cabeça de criança”. Asenath obedeceu e de novo falou-lhe o mensageiro de Deus: “tem coragem, Asenath, virgem pura! O Senhor Deus escutou a tua confissão e a tua súplica.

2 “Ele viu também a tua humilhação e a tua indigência nos sete dias do teu jejum, quando as tuas lágrimas sobre as cinzas provocaram grande imundície ao teu redor. Alegra-te e anima-te, ó tu, virgem pura Asenath! Teu nome foi inscrito no livro da vida e dele não será nunca mais cancelado.

3 “A partir de hoje renascerás e de novo serás plasmada, dotada de vida nova; comerás o pão abençoado da vida e beberás do cálice transbordante da imortalidade e com óleo santo da incorruptibilidade serás ungida. Anima-te, Asenath, virgem pura! No dia de hoje o Senhor te deu a José como sua noiva; ele será o teu esposo para sempre.

4 “Também, de hoje em diante, não te chamarás mais Asenath; teu nome será agora cidade do refúgio, pois muitos povos recorrerão a ti e encontrarão descanso sob tua égide, e muitos encontrarão em ti proteção. Dentro dos teus muros sentir-se-ão seguros todos aqueles que, arrependidos, se volvem para o Deus Altíssimo, e isso abrandará sempre o coração de Deus, tanto em relação a ti quanto em relação a todos aqueles que se dispõem a fazer penitência. E dEle que procede a graça da conversão. A penitência é a coroa e o amparo de todas as virgens. Ela é intima de vós todas e é vossa intercessora junto ao Altíssimo, intercessora também de todos os contritos de coração. Ela assegura uma morada de paz no céu e renova a vida dos homens arrependidos.

5 “A penitência é uma coisa muito bela; ela é virgem, pura, suave e delicada. Por isso, amara o Deus Altíssimo e todos os anjos prezam-na profundamente. Também eu a amo profundamente, porque é minha irmã, e por ela amar a vós todas, virgens, assim a todas vós eu amo. Vou logo ter com José e tudo isso lhe direi a teu respeito. Ele virá ainda hoje para junto de ti e alegrar-se-á com a tua aparência, e será possuído de amor por ti. Ele será teu esposo e tu serás sua esposa para todo o sempre.

6 “Agora escuta bem, Asenath! Veste o teu vestido nupcial, o Primeiro e o mais antigo, que há muito tempo está guardado no teu quarto! Enfeita-te com os teus mais seletos adornos! Prepara-te como uma verdadeira noiva e estejas pronta para recebê-lo! Ele virá ainda hoje em pessoa ao teu encontro e ficará maravilhado com a tua imagem.”

7 Quando o anjo do Senhor, em forma humana, concluiu as suas palavras dirigidas a Asenath, ela encheu-se de alegria com tudo o que ouvira, e prostrou-se uma vez mais com a face no chão, beijou os pés do Anjo, e assim falou: “Louvado seja o Senhor, teu Deus, que te enviou para salvar-me das trevas e conduzir-me do mais profundo abismo para a luz! Louvado seja igualmente o teu nome para sempre. Se eu encontrei graça, meu Senhor, diante dos teus olhos, e se posso acreditar que todas as tuas palavras que diante de mim pronunciaste irão cumprir-se verdadeiramente, então a tua serva gostaria de dirigir-te uma palavra”.

8 Disse-lhe então o Anjo: “Pois fala!” E ela falou: “Eu te peço, Senhor, senta-te um pouco sobre esta cama! Esta cama é pura e imaculada, pois nunca um homem ou outra mulher nela repousou. Vou preparar-te uma mesa com pão, para dar-te de comer. Trarei para ti também um vinho velho e bom, cujo perfume se exala ao céu. Bebe dele, pois! E em seguida segue o teu caminho!” E ele respondeu: “Anda logo, e traze isso sem demora”.

Capítulo 16

A refeição admirável

1 Então Asenath arranjou a toda pressa uma mesa vazia e colocou-a diante dele. Mas quando se dispunha a buscar o pão, disse-lhe o anjo do Senhor: “traze-me também um favo de mel!” Ela ficou paralisada, embaraçada e triste, porque não havia favo de mel na câmara das suas provisões. Falou-lhe então o anjo de Deus: “Por que ficaste aí parada?”

2 Ela respondeu: “Meu Senhor! Mandarei agora mesmo uma das jovens à periferia da cidade, onde se encontra a propriedade rural dos meus pais. Ela estará bem depressa de volta com o favo, e então eu to apresentarei”. Mas o anjo do Senhor lhe disse: “Vai simples-mente ao teu compartimento de provisões e sobre a mesa encontrarás um favo de mel. Toma-o e traze-o aqui!”

3 Ela disse: “Senhor, no meu quarto de provisões não há favo de mel!” Ele respondeu: Vai tranqüila! Tu o encontrarás”.

4 Asenath então dirigiu-se à sua cela de provisões e efetiva-mente encontrou sobre a mesa um favo de mel. O favo era grande e branco como a neve, cheio de mel, e esse mel era como o orvalho do céu, e o seu perfume era como o perfume da vida. Diante disso, Asenath falou consigo, cheia de estupefação: “Será que este favo procederia da boca daquele homem?”

5 Tomou o favo e foi colocá-lo sobre a mesa. Então o Anjo lhe disse: “Dizias há pouco `no meu quarto não há favo de mel’ e agora trazes-me aqui um favo desse tamanho”? Ela então disse: “Senhor! Nunca eu trouxe para o meu quarto um favo de mel; contudo, só ao falares sobre ele, ele apareceu. Por acaso não saiu ele da tua boca, pois que o seu perfume se assemelha ao perfume do bálsamo?”

6 Então o homem sorriu, por causa da perspicácia da mulher. Chamou-a para junto de si e quando ela se aproximou ele estendeu a mão direita, tomou a sua cabeça e moveu-a suave-mente. Mas Asenath sentiu medo da mão do Anjo, pois dela procediam radiações como as do ferro em brasa. Assim, ela fitava a mão do anjo o tempo todo ansiosa e trêmula.

“‘7 Ele, porém, sorria, e falou assim: “Oh, feliz de ti, Asenath, pois segredos inefáveis de Deus te foram desvelados. Bem-aventurados são todos aqueles que, pela penitência, se aproximam do Senhor Deus, pois eles haverão de comer desse favo! Esse favo é na realidade o espírito da vida, e foi preparado pelas abelhas do paraíso das delícias, extraído do orvalho e das rosas da vida do paraíso de Deus, bem como de todas as suas outras florações. Dele se alimentam também os anjos e todos os escolhidos de Deus, e todos os que são seus filhos. Aquele que dele comer não morrerá para todo o sempre”.

8 Então o anjo de Deus estendeu a sua mão, tomou uma pequena porção do favo e comeu. Com a própria mão tomou outra parte e chegou-a à boca de Asenath, dizendo: “Come tu também!” E ela comeu.

9 Então o Anjo pronunciou as seguintes palavras: “Agora comeste o alimento da vida e bebeste a bebida da imortalidade, e foste também ungida com o óleo da incorruptibilidade. Tua carne, doravante, graças ao renascimento por meio do Altíssimo, fará brotar flores de vida, e teus ossos produzirão cedros comparáveis aos do paraíso de delicias de Deus, e bem assim serás robustecida por forças novas. Além disso, tua juventude não conhecerá velhice e tua beleza nunca murchará. Serás para todos uma cidade, grandemente fortificada”.

10 Então o Anjo aproximou sua mão do favo, e muitas abelhas apareceram nos seus alvéolos; os alvéolos eram inumeráveis, dez mil, cem mil. As abelhas eram brancas como a neve, e suas asas tinham a cor da púrpura e do escarlate, como o carmesim; elas possuíam ferrões afiados, mas a ninguém ofendiam.

11 Todas as abelhas pousaram sobre Asenath, desde a cabeça até os pés, e outras abelhas maiores, parecidas com suas rainhas, saíram do favo, pousaram na sua face e nos seus lábios, e prepararam na sua boca e nos seus lábios um favo parecido com o que se encontrava diante do Anjo. E todas aquelas abelhas alimentavam-se do favo preparado na boca de Asenath. Então o Anjo falou às abelhas: “Voltai agora ao vosso lugar!”

12 Então todas elas levantaram vôo e voltaram para o céu. Aquelas, porém, que quiseram ofender Asenath caíram todas mortas no chão. O Anjo estendeu o seu cetro sobre essas abelhas mortas e falou-lhes: “Levantai-vos e ide também vós ao vosso lugar!” Então todas aquelas abelhas mortas se avivaram e voaram para o pátio da casa de Asenath e pousaram sobre as árvores frutíferas.

13 Então o Anjo estendeu a mão e, com o dedo indicador, tocou o canto do favo do lado do nascente; e a linha deixada pelo seu dedo tomou a cor do sangue. Então pela segunda vez ele estendeu a mão, tocou o favo no seu lado voltado para o norte; e mais uma vez a linha do dedo tomou a cor do sangue. E Asenath postada à esquerda do Anjo, e viu tudo quanto ele realizou.

Capítulo 17

A benção de Miguel

1 Então o Anjo assim falou a Asenath: “Presenciaste tudo isso?” E ela disse: “Sim, meu Senhor, eu vi tudo perfeitamente”. Falou-lhe a seguir o anjo de Deus: “Assim acontecerá com todas as minhas palavras que hoje te dirigi”. Pela terceira vez o anjo do Senhor estendeu a mão direita e tocou um dos cantos do favo. Então da mesa rompeu uma chama rápida que consumiu todo o favo, sem danificar a mesa.

2 Do fogo do favo desprendeu-se um odor doce e bom, que encheu todo o quarto. Então Asenath falou ao anjo de Deus: “Tenho sete virgens, Senhor, criadas comigo desde a minha infância, nascidas como eu numa mesma noite; elas me servem, e a todas amo como minhas irmãs. Eu gostaria de chamá-las agora, para que as abençoasses como a mim abençoaste”. Então disse o Anjo: “Sim, podes chamá-las!”

3 Asenath chamou as sete virgens e apresentou-as ao Anjo. O Anjo dirigiu-se a elas com as seguintes palavras: “Abençoe-as, ó Senhor, Deus altíssimo; havereis de ser sete colunas de amparo em sete cidades, e todos aqueles eleitos que nelas habitarem encontrarão em vós a paz por toda a eternidade!” O anjo de Deus em seguida falou a Asenath: “Podes agora levar embora esta mesa!”

4 E quando Asenath voltou-se para retirar a mesa ele desapareceu rapidamente dos seus olhos. Asenath apenas observou que algo parecido com um carro puxado por quatro cavalos subia para o céu. O carro, porém, era como chama de fogo, e os cavalos pareciam-se  raios, e o Anjo andava sobre aquele carro.

5 Então Asenath como que despertou, dizendo: “Como fui tola e parva, eu, pobrezinha, ao pronunciar-me como se aquele fosse apenas um homem superior que tivesse entrado no meu quarto. Na realidade, eu não percebi que aqui dera entrada um ser divino. Agora ele torna ao seu lugar, o céu. Falou então consigo mesma: “Tem piedade da tua escrava, Senhor! Poupa tua serva que, sem saber, pronunciou palavras temerárias na tua presença.

Capítulo 18

Noivado de José e Asenath

1 Enquanto Asenath se entretinha com tais pensamentos, havia chegado um jovem da comitiva de José, anunciando: “Hoje chegará até vós José, o herói de Deus”. Asenath então mandou chamar depressa o administrador da casa e falou-lhe do seguinte modo: “Enfeita rapidamente a minha casa e prepara um lauto banquete! Pois hoje José, o herói de Deus, virá à nossa casa”.

2 O administrador então olhou para a sua face — a face dela estava muito abatida pela carência, pelas lágrimas e pelo jejum de sete dias. Ele suspirou preocupado, tomou sua mão direita, beijou-a e disse: “Mas o que te aconteceu, minha senhora? O teu rosto está tão abatido!” Ela disse: “Muitas preocupações assaltaram o meu pensamento e o sono fugiu dos meus olhos”.

3 O administrador afastou-se então e foi preparar a casa e a mesa. Asenath, entretanto, lembrando-se das palavras e das recomendações do Anjo, dirigiu-se depressa à sua segunda câmara, que continha o repositório dos seus adornos, e abriu a grande arca. Dela retirou o seu vestido primeiro, que era de um brilho fulgurante, e vestiu-o.

4 Cingiu-se com um cinto imaculado, de realeza, confeccionado em ouro e pedras preciosas. Colocou braceletes de ouro nos braços e fitas douradas nos tornozelos, no pescoço, enfeites preciosos, na cabeça, um diadema, igualmente de ouro. No diadema que circundava sua fronte estava incrustada uma grande safira e ao redor da safira havia seis pedras de raro valor; e cobriu a cabeça com um véu magnífico.

5 Nesse momento, Asenath lembrou-se das palavras do administrador: dissera ele que a sua fisionomia estava muito abatida. Ela então suspirou, cheia de preocupação, e disse: “Ai de mim, infeliz, com esta face tão horrível! Se José me vir assim, serei por ele desprezada”. Falou então à sua governanta: “Traze-me água limpa da cisterna!”

6 E ela trouxe. Asenath derramou-a numa bacia e curvou-se sobre ela para lavar o rosto. Nesse momento, ela viu a sua própria imagem, luminosa como o sol, seus olhos eram como a estrela da manhã ao nascer e suas faces como as estrelas do céu. Seus lábios assemelhavam-se a rosas vermelhas; os cabelos eram como a parreira que no paraíso de Deus crescia farta de frutos; o pescoço parecia lavor talhado em cipreste.

7 Quando Asenath viu tudo isso, ficou muito surpresa com o esplendor da sua aparência e sentiu o coração encher-se de grande felicidade. Desistiu de lavar o rosto, considerando que a ablução da água poderia apagar uma beleza tão extraordinária e maravilhosa.

8 Nessa hora, apresentou-se de novo o administrador da casa, para comunicar-lhe: “As suas ordens já foram cumpridas”. Mas quando ele a encarou, foi tomado de grande perturbação, começou a tremer fortemente e caiu aos seus pés, pronunciando as seguintes palavras: “Mas o que é isso, minha Senhora? Que milagre de beleza te envolve, tão fantástico e maravilhoso! Por acaso o Senhor, o Deus dos céus, escolheu-te para ser a noiva de José, o filho de Deus?”

Capítulo 19

Segunda visita de José

1 Enquanto eles ainda nisso se entretinham, veio a correr um serviçal, para anunciar a Asenath: “Vê, José já está às portas do pátio!” Ouvindo isso, Asenath chamou suas sete virgens, e todas desceram rapidamente as escadas do solar para receberem José; e ela mesma postou-se no átrio da sua casa.

2 Tendo José entrado no pátio, foram cerrados os portões, e todas as pessoas estranhas tiveram de permanecer do lado de fora. Asenath desceu ao encontro de José. Este, ao vê-la, ficou pasmado por causa da sua beleza e assim lhe falou: “Quem és tu, ó jovem? Dize-me depressa!”

3 Ela respondeu: “Senhor, eu sou Asenath, tua escrava; afastei de mim todas as imagens dos ídolos, eles não existem mais para mim. Do céu apareceu-me hoje um homem que deu-me a comer o pão da vida; dele comi e também bebi do cálice sagrado. Ele falou-me: `Entreguei-te hoje José como teu noivo, e ele será teu esposo para sempre. E o teu nome não será mais Asenath, mas sim ‘cidade do refúgio’, e Deus, o Senhor, reinará sobre muitos povos, por teu intermédio. E por meio de ti eles encontrarão proteção junto ao Altíssimo’.

4 “E o homem falou-me também: ‘Eu irei ter com José, para sussurrar aos seus ouvidos as palavras que eu disse a teu respeito’. Por acaso senhor, aquele homem te procurou para falar-te a meu respeito?” José então dirigiu a Asenath as seguintes palavras:

“Tu és abençoada do Deus altíssimo, ó mulher. Louvado seja o teu nome para sempre, pois o Senhor Deus fortificou os teus muros, e os filhos do Deus vivo habitam a tua cidade de refúgio, e Deus, o Senhor, reinará sobre eles por todo o tempo futuro.

5 “Sim, eu confirmo que aquele homem veio hoje a mim, procedente do céu; e ele falou-me aquelas palavras a teu respeito. Vem pois para junto de mim, ó tu, virgem pura! Por que permaneces à distante?” José então abriu os braços e ela atirou-se neles, e ambos se abraçaram e beijaram-se longa-mente. Renasceram ambos no seu espírito. E José deu um beijo em Asenath, conferindo-lhe o espírito da Vida. Um segundo beijo, para dar-lhe o espírito da Sabedoria. E beijou-a pela terceira vez suavemente, transmitindo-lhe o espírito da Verdade.

Capítulo 20

O banquete

1 E assim, após longo abraço, de mãos dadas e firmemente seguras, Asenath falou José: “Vamos, senhor, entra em nossa casa! Mandei preparai para ti um grande banquete” Ela tomou-o pela mão direita conduziu-o para dentro de casa e indicou-lhe o trono do seu pai Pentephres para que nele tomasse assento. E para lavar-lhe os pés, mandou que trouxessem água.

2 José disse: “Que venha uma das jovens e me lave o pés!” Mas Asenath retrucou lhe: “Não, meu senhor! Pois ago ra tu és o meu amo e eu a tu serva. Por que propões que um outra jovem te lave os pés? Pois os teus pés já são os meus pé, as tuas mãos, minhas mãos, a tua alma, minha alma. Nenhuma outra, pois, lavar-te-á o pés!” Assim, Asenath lavou o pés de José, contra a vontade dele. Ele então pegou a mão direita dela e beijou-a docemente. Asenath, por sua vez, beijou sua fronte; em seguida, José fila sentar-se à sua direita.

3 Nessa hora, seu pai e sua mãe, e todos os parentes que voltavam do campo viram-na sentada ao lado de José, trajada com vestes núpcias. Todos ficaram maravilhados pela sua formosura, alegraram-se sobre-maneira e louvaram a Deus, que aos mortos torna a dar a vida. E assim, todos comeram e beberam com grande alegria. Falou em seguida Pentephres a José: “Procurarei amanhã todos os potentados e sátrapas da terra do Egito, com vistas aos preparativos do teu casamento. E então tomarás a minha filha Asenath por esposa”.

4 A isso retrucou José: “Eu estarei amanhã com o Faraó, meu pai, que me estabeleceu como príncipe de toda esta terra. Eu lhe falarei de Asenath e pedirei que me conceda Asenath por esposa”. Ao que Pentephres ponderou: “Pois então seja conforme a tua vontade!”

Capítulo 21

Casamento de José e Asenath

1 Naquele dia, José permaneceu na casa de Pentephres, mas não procurou Asenath, pensando consigo: “Não convém a um homem temente a Deus ficar com sua mulher antes do casamento”. No dia seguinte, José levantou-se cedo, dirigiu-se imediatamente ao Faraó e falou-lhe: “Dá-me Asenath, a filha de Pentephres, sacerdote de Heliópolis, como esposa”. Com essas palavras alegrou-se o Faraó, e disse a José: “Por acaso não te estava ela prometida desde toda a eternidade como tua esposa? Pois seja ela agora tua mulher, desde hoje para sempre”.

2 Então o Faraó deu ordens e mandou que fosse chamado Pentephres à sua presença. Este compareceu, levando consigo Asenath, para apresentá-la ao Faraó. Ao vê-la, o Faraó ficou grandemente maravilhado com a beleza da jovem. E assim falou: “Sê abençoada do Senhor e Deus de José, que é meu filho; e que esta tua formosura permaneça para sempre. O Senhor e Deus de José escolheu-te para ser a sua noiva. E eu sei que José se parece com um filho do Altíssimo, e tu serás desde agora e para sempre a sua esposa”.

3 A seguir, o Faraó chamou para junto de si José e Asenath e colocou sobre suas cabeças coroas-diademas de ouro, que se conservavam no palácio desde tempos antiqüíssimos. E colocou Asenath à direita de José. Então o Faraó impôs suas mãos sobre suas cabeças e falou-lhes: “Abençoe-vos o Senhor, Deus altíssimo! Que Ele vos fortaleça, exalte e glorifique por toda a eternidade!”

4 Depois disso, o Faraó fê-los voltarem-se face a face para que aproximassem os seus lábios, e eles se beijaram. Isso consumado, o Faraó mandou preparar as bodas com um grande banquete que duraria sete dias. Convidou todos os príncipes do Egito e todos os reis dos povos vizinhos; e mandou publicar um édito por toda a terra egípcia: “Aquele que trabalhar nos sete dias das bodas de José e Asenath será conde-nado à morte”.

5 Após as comemorações do casamento, e terminados todos os festejos, José procurou Asenath. E Asenath engravidou de José e deu à luz Manassés e seu irmão Ephraim, na casa de José.

Capítulo 22

Asenath junto a Jacó

1 Terminados os sete anos gordos, começaram sete anos de fome. Então Jacó teve notícias do seu filho José. E pouco tempo depois transferiu-se com todo o seu clã para o Egito, no segundo dos anos magros, aos vinte e um dias do segundo mês, e foi estabelecer-se na terra de Gessem.

2 E Asenath falou a José: “Eu gostaria de conhecer o teu pai, pois o teu pai Israel é como se fosse o meu pai e Deus”. José então disse-lhe: “Vem comigo e verás o meu pai”. E José dirigiu-se com Asenath até junto de Jacó, na região de Gessem. E os irmãos de José vieram ao seu encontro e diante deles prostraram-se com a face por terra. Foram então ambos ter com Jacó, e encontraram-no sentado no seu leito; era um ancião de idade avançada.

3 Quando Asenath o viu, surpreendeu-se com a sua beleza, pois a aparência de Jacó era realmente muito bela. Sua velhice era muito mais como a juventude de um homem maduro. Era completamente branca como a neve a sua cabeça, mas os cabelos eram densos e fortes; sua barba era branca e chegava até o peito; seus olhos eram alegres e radiosos; seus músculos, seus ombros e seus braços pareciam os de um Anjo; suas coxas, suas pernas e seus pés eram como os de um gigante.

4 Diante dele Asenath ficou admirada e prostrou-se no chão sobre a sua face. Jacó então disse a José: “É esta minha filha, tua mulher? Seja ela abençoada pelo Deus altíssimo!” Então Jacó chamou-a para junto de si, deu-lhe a bênção e beijou-a. Asenath em seguida abriu os braços, enlaçou o pescoço de Jacó e beijou-o suavemente. Depois disso, comeram e beberam. Terminado o repasto, José e Asenath voltaram para casa.

5 Simão e Levi, filhos de Lia, foram os únicos que os acompanharam; os filhos de Baila e de Zelpha, as escravas de Lia e de Rachel, não fizeram o mesmo, pois tinham-lhes inveja e ódio. Levi colocou-se à direita de Asenath e Simão à sua esquerda.

6 Asenath tomou a mão direita de Levi, porque o estimava mais que a todos os irmãos de José; tinha-o como um vidente e homem temente a Deus; ele era em verdade um homem prudente e profeta do Altíssimo. Também sabia discernir os sinais do céu, lia-os e ensinava-os em segredo a Asenath. Do mesmo modo, Levi também nutria por Asenath uma estima profunda, e via nas alturas do céu a sua morada de paz.

Capítulo 23

Ameaça contra Asenath

1 Quando José e Asenath voltaram da sua viagem de visita a Jacó, foram vistos pelo filho primogênito do Faraó, por sobre os muros do palácio. Quando ele viu Asenath, ficou completamente transtornado pela sua formosura.

2 Mandou então emissários com a ordem de convocar Simão e Levi à sua presença. Quando eles chegaram e se postaram diante dele, assim falou-lhes o primogênito do Faraó: “Tenho pleno conhecimento de que vós sois ainda homens valentes, mais fortes do que todos os homens deste pais. Por vosso braço direito foi outrora arrasada a cidade dos siquemitas; por meio das vossas duas espadas foram exterminados 30 mil guerreiros.

3 “Pois hoje desejo contar-vos entre os meus aliados; dar-vos-ei ouro e muita prata, empregados, servas e casas, bem como extensas propriedades rurais. Basta que aceiteis ficar do meu lado e sejais amistosos comigo. Eu fui tratado com desprezo pelo vosso irmão José, por ter tomado para si como esposa Asenath, aquela que de há muito me estava prometida.

Ficai, portanto, do meu lado! Eu desejo entrar em luta com José, aniquilá-lo com esta minha espada e tomar Asenath por minha esposa. Vós então devereis ser como meus irmãos e fiéis amigos. Caso não concordardes comigo, eu vos matarei com esta minha espada”.

4 Pronunciando essas palavras, arrancou sua espada e brandiu-a diante deles. Simão, homem intrépido e audaz, teve ímpetos de agarrar sua espada e golpear o filho do Faraó, diante de sua proposta inadmissível. Mas Levi percebeu as intenções de Simão, pois era um profeta, e com um toque de pé advertiu-o, dando-lhe a entender que devia abrandar sua ira.

5 E falando com calma a Simão, disse-lhe: “Por que te irritas contra esse homem? Afinal, somos homens tementes a Deus, e não convém retribuir o mal com o mal”. Dito isso, Levi falou ao filho do Faraó, com altivez, mas ao mesmo tempo com mansidão: “Por que, senhor, nos dizes tais coisas? Nós somos homens tementes a Deus, nosso pai é amigo do Deus altíssimo, e nosso irmão se parece com um filho de Deus.

6 “Como poderíamos come-ter tamanha perversidade, pecar contra nosso Deus, contra nosso pai Israel e contra o nosso irmão José? Ouve, pois, minhas palavras: não convém a um homem temente a Deus causar prejuízo a quem quer que seja. Se alguém deseja fazer o mal a um homem temente a Deus, nenhum homem que teme a Deus se colocará do seu lado, e nas suas mãos não haverá espada. Guarda-te pois de falar tais coisas sobre o nosso irmão José. Se insistires no teu plano perverso, nossas espadas serão desembainhadas contra ti.

7 Simão e Levi sacaram então suas espadas, pronunciando as seguintes palavras: “Vês estas espadas? Com estas duas armas o Senhor vingou severamente a prepotência dos siquemitas. Pois Siquém, filho de Emmor, desonrou nossa irmã Dina, ofendendo assim os filhos de Israel”.

8 Assim que o filho do Faraó viu as espadas desembainhadas, assustou-se muito e pôs-se a tremer, pois elas reluziam como chamas de fogo. Seus olhos escureceram e ele tombou com o rosto no chão, aos pés de Simão e Levi.

9 Diante disso, Levi estendeu sua mão e tocou-o, dizendo: “Levanta-te e não tenhas nenhum receio! Guarda-te apenas de dizer outras palavras más a respeito do nosso irmão José!” Com isso, Simão e Levi afastaram-se dele.

Capítulo 24

Conspiração contra o jovem casal

1 O filho do Faraó encheu-se de temor e tristeza, pois tinha medo dos irmãos de José; no entanto, voltaram-lhe de novo os pensamentos torpes por causa da beleza de Asenath, e, assim, consumia-se cada vez mais. Foi quando os seus servos sussurraram-lhe nos ouvidos: “Os filhos de Balla e os filhos de Zelpha, escravas de Lia e de Rachel, mulheres de Jacó, odeiam e abominam José e Asenath; eles estarão prontos a apoiar teus planos”.

2 Ouvindo isso, o filho do Faraó enviou a toda pressa emissários até eles, chamando-os à sua presença. Na primeira hora da noite, eles apareceram e a ele se apresentaram. Ele então disse-lhes: “Ouvi dizer de muitas bocas que vós sois homens corajosos”. A isso responderam-lhe Dan e Gad, os irmãos mais velhos: “Fale o nosso senhor aos seus servos o que deseja, para que os seus servos escutem, e faremos segundo a tua vontade!”

3 Com essa resposta alegrou-se o filho do Faraó, e disse aos seus imediatos: “Retirai-vos por alguns momentos. Desejo ter com estes homens um breve acerto, em particular”. Todos se afastaram. Então o filho do Faraó, usando de mentiras, falou-lhes: “Considerai bem, está em vosso poder a bênção ou a maldição! Escolhei a bênção, ao invés da morte! Sois homens corajosos e não querereis morrer como mulheres. Sede, pois, audaciosos! Vingai-vos dos vossos inimigos!

4 “Escutei pessoalmente, certa vez, quando José, o vosso irmão, disse ao meu pai Faraó: Dan, Gad, Nephtali e Aser não são meus irmãos; eles são muito mais filhos das escravas do meu pai. Espero apenas que aconteça o falecimento do meu pai, para então exterminá-los da face da terra, tanto eles como a sua geração. Eles não terão nunca parte na nossa herança, porque são filhos de escravas! Também, outrora, eles me venderam aos israelitas, e por isso vou responder à prepotência com que me trataram. Para tanto, aguardo só que o meu pai chegue ao seu fim. “Meu pai, então, deu-lhe toda a razão e o louvou, dizendo-lhe: ‘Falaste muito bem, meu filho! Poderás contar com meus homens fortes para castigá-los pelo que contra ti perpetraram. E nisso eu te darei todo o apoio’.”

5 Quando Dan e Gad ouviram isso da boca do filho do Faraó, encheram-se de preocupação e de medo, e disseram-lhe: “Rogamos-te, senhor: dá-nos a tua ajuda! Doravante seremos teus servos e contigo desejamos morrer”. Então disse o filho do Faraó: “Eu serei o vosso protetor, se escutardes as minhas palavras”.

6 Eles então responderam-lhe: “Ordena-nos o que tu desejas! Faremos segundo a tua vontade”. Então falou-lhes o filho do Faraó: “Ainda nesta noite eu matarei o meu pai Faraó, porque ele é como um pai para José, e porque prometeu-lhe ajudá-lo contra vós. A vós caberá matar José; então eu tomarei Asenath para mim como esposa. Vós sereis meus irmãos e juntamente comigo sereis herdeiros de tudo o que possuo. Basta que cumprais a proposta!”

7 Diante disso, responderam-lhe Dan e Gad: “A partir de hoje somos teus servos e faremos tudo o que ordenares. E, a propósito, ouvimos José falar a Asenath: `Vai amanhã à nossa propriedade, pois é tempo de colheita!’ Mandou também que a acompanhassem seiscentos guerreiros e cinqüenta soldados ligeiros. Agora pedimos a tua atenção! Gostaríamos de uma palavra em particular com o nosso amo!” Então, em segredo, combinaram o plano com ele. A seguir, o filho do Faraó destacou quinhentos homens para cada um dos quatro irmãos e constituiu a estes como seus chefes e comandantes.

8 Dan e Gad então disseram a ele: “Somos hoje teus criados e faremos tudo de acordo com as tuas ordens; partiremos ainda estas noite e nos coloca-remos de emboscada junto ao desfiladeiro, escondendo-nos no espesso mato de juncos. Por tua parte, leva contigo flecheiros montados, mais ou menos em números de cinqüenta. E segue a uma boa distância em nossa frente. Quando Asenath se aproximar, ela cairá em nossas mãos. Daremos fim a todos os homens que a acompanham. Ela, porém, poderá fugir para a frente, no seu carro, e assim cairá nas tuas mãos. Então poderás fazer com ela o que o teu coração deseja. Após isso, mataremos também José, que estará a lamentar-se por Asenath. Da mesma forma, mataremos os seus filhos, diante dos seus próprios olhos.” Quando o filho do Faraó ouviu isso tudo,encheu-se de grande satisfação e despachou-os com dois mil guerreiros.

9 Eles chegaram junto ao desfiladeiro e atocaiaram-se no juncai. Dividiram-se em quatro partes, em frente ao desfiladeiro, postando quinhentos homens de cada lado da estrada. Os demais também ficaram nas proximidades e esconderam-se no juncal; também eles, quinhentos de um lado e quinhentos do outro lado da estrada; entre eles passava o caminho, largo e cômodo.

Capítulo 25

Atentado contra o Faraó

1 No correr daquela noite, o filho do Faraó levantou-se e dirigiu-se aos aposentos do seu pai. Tinha a intenção de matá-lo com sua espada. Contudo, os guardas cio seu pai impediram-lhe o acesso e perguntaram: “Que ordenas, senhor?” Falou-lhes o filho do Faraó: “Desejo apenas ver meu pai, pois estou de partida para acompanhar o final da colheita da minha recente plantação de vinhas”.

2 Os guardas, porém, responderam-lhe: “Teu pai não passa bem; esteve insone a noite inteira e só agora conseguiu repousar. Recomendou-nos que a ninguém deixássemos entrar, nem mesmo seu primogênito”.

3 Ao ouvir isso, ele se afastou profundamente irado, convocou às pressas flecheiros montados, em número de cinqüenta, e partiu com eles, da forma como Dan e Gad haviam disposto.

4 Os irmãos mais jovens, Nephtali e Aser, falaram aos mais velhos Dan e Gad: “Mas por que afinal mais uma vez procedem com tanta maldade contra seu pai Israel e contra seu irmão José? A este Deus protege como à pupila dos seus olhos. Já não o venderam uma vez? E não é ele hoje o príncipe de toda a terra do Egito, um salvador e distribuidor de alimentos? Se mais uma vez pretendeis tratá-lo com ignomínia, ele chamará pelo Altíssimo e este mandará o fogo do céu para exterminar-vos, e os seus anjos virão para lutar contra vós”.

5 Os irmãos mais velhos encheram-se de raiva contra eles e disseram: “Pensais então que aceitaremos morrer como mulheres? Jamais!”

Capítulo 26

A Salvação de Asenath

1 Asenath levantou-se bem cedo naquela manhã e falou a José: “Desejo ir até nossa propriedade, como tu disseste; no entanto, sinto muito medo pelo fato de tu não estares comigo”. Mas José tranqüilizou-a: “Tem coragem e nada receies! Vai com alegria e de ninguém tenhas medo! O Senhor está contigo e Ele te protegerá de todo o mal, como a pupila dos seus olhos. Eu irei agora para a minha tarefa de distribuição de trigo, e o darei dos depósitos do Estado a todas as pessoas, para que no Egito ninguém morra de fome.” Asenath então pôs-se a caminho, e José dirigiu-se para o seu trabalho de administração.

2 Entretanto, Asenath e os seiscentos homens de sua escolta já se aproximavam do desfiladeiro quando, de repente, os soldados do filho do Faraó saltaram do seu esconderijo e caíram em cima dos homens de Asenath, golpearam-nos com suas espadas, abatendo um a um, matando a todos os seus soldados ligeiros; e Asenath empreendeu a fuga, no seu carro.

3 Nesse momento, porém, Levi, o filho de Lia, teve uma premunição, pois era um profeta, e falou a seus irmãos sobre o perigo a que Asenath estava exposta. Rapidamente cada um apanhou sua espada, seu escudo e sua lança e partiram em marcha velocíssima atrás de Asenath.

4 Quando Asenath fugia estrada afora, veio-lhe ao encontro o filho do Faraó com os seus cinqüenta cavaleiros. Ao vê-lo, Asenath foi tomada de grande pavor e, estremecendo, invocou o nome do seu Deus e Senhor.

Capítulo 27

A batalha

1 Benjamim ia sentado no carro, à direita de Asenath. Era um jovem vigoroso de dezenove anos, de uma beleza extraordinária e de uma força como a de um leão novo; e era muito temente a Deus. Ele saltou rapidamente do carro, apanhou do riacho um seixo redondo e com a mão arremessou-o contra o filho do Faraó, acertando-o na têmpora esquerda e infligindo-lhe um grave ferimento.

2 Semimorto, o filho do Faraó caiu do cavalo e foi ao chão. Imediatamente, Benjamim subiu a uma rocha e gritou para o cocheiro de Asenath: “Traze-me pedras do riacho!” O cocheiro entregou-lhe cinqüenta seixos. Benjamim, com tiros certeiros, matou os cinqüenta homens da comitiva do filho do Faraó. Todos tiveram as têmporas atravessadas pelas pedras.

3 Nesse meio tempo, os filhos de Lia, Ruben, Simão, Levi, Judá, Isacar e Zabulão, lutavam contra os homens que haviam emboscado Asenath, caindo em cima deles com vigor e abatendo a todos. Assim, apenas seis homens mataram dois mil setecentos e seis. Mas os filhos de Baila e de Zelpha diante deles fugiram, dizendo as seguintes palavras: “Haveremos de perecer pela mão dos nossos irmãos? O filho do Faraó morreu pela mão do jovem Benjamim e todos os que com ele estavam foram também mortos por Benjamim. Vamos, pois! Vamos dar cabo de Asenath e Benjamim, e em seguida desapareceremos no juncai!”

4 Aproximaram-se então de Asenath com suas espadas desembainhadas e manchadas de sangue. E quando Asenath os viu foi tomada de grande medo e invocou o Senhor: “Senhor Deus! Tu me deste a vida e me livraste dos falsos deuses, da ruína mortal e me prometeste que minha alma viveria para sempre. Livra-me agora desses homens maus!”

5 E o Senhor Deus ouviu a voz de Asenath e no mesmo instante as espadas dos seus inimigos caíram de suas mãos ao chão e converteram-se em pó.

Capítulo 28

Magnanimidade de Asenath

1 Quando os filhos de Baila e Zelpha viram esse estranho prodígio, exclamaram, possuídos de pavor: “Agora o Senhor luta do lado de Asenath contra nós”. Então caíram com suas faces por terra e prostraram-se aos pés de Asenath, pronunciando as seguintes palavras: “Tem piedade de nós, teus escravos, pois tu és nossa senhora e nossa rainha! Agimos perversamente contra ti e contra o nosso irmão José. E o Senhor já nos dá a paga pelas nossas obras. Por isso, nós, teus escravos, te suplicamos: tem compaixão de nós, pobres e miseráveis! Protege-nos da mão dos nossos irmãos! Não caiam eles sobre nós como vingadores pela nossa intenção de aniquilar-te! Não queiram voltar as suas espadas contra nós! Nós bem sabemos que os nossos irmãos são homens tementes a Deus, e que a nenhum homem retribuem o mal com o mal. Protege deles os teus escravos, por piedade, ó tu que és senhora nossa!”

2 Asenath então disse-lhes: “Tende coragem e nenhum receio dos vossos irmãos! Eles são realmente homens piedosos e cheios de temor de Deus. Mas desaparecei agora no fundo do juncal até que eu os converta a vosso favor e acalme a sua ira pelo que ousastes fazer contra eles. Entretanto, seja como a Deus aprouver; será Ele o juiz entre mim e vós”.

4 Nisso, Dan e Gad fugiram para o meio do juncai. Mas os seus irmãos, filhos de Lia, já vinham correndo velozes como Cervos, para precipitarem-se contra eles. Asenath, nesse momento, desceu do seu carro coberto e, chorando muito, estendeu para eles a sua mão direita; eles então jogaram-se respeitosamente ao chão, aos pés dela, e prorromperam num choro alto. Perguntaram pelos ir-mãos, filhos das escravas com a intenção de aniquilá-los.

5 Então Asenath falou-lhes: “Eu vos peço: poupai vossos irmãos! Não queirais pagar-lhes o mal com o mal! O próprio Senhor salvou-me deles, Pois Ele destruiu as suas espadas nas suas próprias mãos; elas dissolveram-se e viraram cinzas, como cera diante do fogo; e é suficiente que o próprio Senhor esteja contra eles, a nosso favor. Portanto, poupai vossos irmãos! Eles são afinal vossos irmãos, sangue do vosso pai Israel”

6 Inconformado, retrucou Simão: “Por que nossa ama pronuncia palavras bondosas em favor dos seus inimigos? Não! Preferimos esquartejá-los agora, membro a membro, com as nossas espadas. Eles planejaram algo de gravíssimo contra o nosso irmão José, contra o nosso pai Israel e, hoje, contra ti, nossa rainha.”

7 Então Asenath estendeu a mão direita, tocou a barba de Simão, beijou sua face e disse: “De forma alguma, irmão, deverás retribuir ao teu próximo o mal corri o mal. O Senhor haverá de castigar tamanha presunção. Eles são teus irmãos, geração do teu pai Israel. Além disso, já fugiram para bem longe. Perdoa-os, portanto!”

8 Levi adiantou-se e beijou a mão direita de Asenath. Percebeu que ela desejava salvar os homens da ira deles, seus irmãos, evitar que os matassem; e sabia que os traidores estavam ali por perto, escondidos no espesso caniçal. Mas Levi não revelou o que sabia aos seus irmãos, com receio de que estes, em sua grande ira, os matassem.

Capítulo 29

Fim

1 O filho do Faraó recobrara os sentidos e estava sentado no chão a cuspir o sangue que das têmporas lhe escorria aos lábios. Então Benjamim correu na sua direção e tomou sua espada, decidido a atravessar-lhe o peito com ela, já que não portava nenhuma arma consigo.

2 Levi correu-lhe ao encalço, pegou-o pela mão e disse: “De forma alguma, irmão, tu farás isso; pois somos homens tementes a Deus e não convém a um homem temente a Deus pagar o mal com o mal, nem pisotear um homem derrotado, nem massacrar um inimigo até a morte. Devolve-lhe então a espada! Vem e ajuda! me! Vamos curar o seu ferimento e se ele sobreviver será nosso amigo, e o Faraó, seu pai, será nosso pai.”

3 Então Levi ergueu do chão o filho do Faraó, limpou-lhe o sangue do rosto, cuidou de suas feridas, colocou-o sobre o seu cavalo, conduziu-o de volta ao seu pai Faraó e relatou a este todo o ocorrido. Surpreso, o Faraó ergueu-se do trono e prostrou-se diante de Levi, prestando-lhe homenagem.

4 Passados três dias, o filho do Faraó morreu, em conseqüência da pedrada de Benjamim. E o Faraó lamentou tão profundamente a morte do seu primogênito que, de tristeza, contraiu uma enfermidade e dela veio a falecer, aos 109 anos de idade.

5 Sua coroa passou ao maravilhoso José, que assim se tornou o senhor plenipotenciário do Egito pelo espaço de quarenta e oito anos. Apos esse período, José passou a coroa ao filho mais novo do Faraó, que à época da morte do pai ainda era um lactente. E José, daí em diante, foi como um pai para o jovem filho do Faraó do Egito. E louvou a Deus e glorificou-o até o fim dos seus dias. Fim

Portal a&e Voltar ao tema: Evangelhos Apócrifos | Biblia on line |

Anjos & Angeologia | Anjo do dia | Simpatias, magias & feitiços rápidos |

Simpatias angelicaisSimpatias Amor | Amarrações | Encantamentos | Simpatias ciganas | Wicca | Simpatias & magias egípcias | Banhos mágicos | Amuletos & Talismãs |

Partilhe, recomende e vote neste artigo

Apócrifos, Excertos do Evangelho Armênio da Infância

Textos apócrifos, Evangelhos apócrifosApócrifos, Excertos do Evangelho Armênio da Infância

Capítulo 10

FIM DO Evangelho inteiro da Infância, com o auxílio do Deus supremo, segundo o que encontramos no original.

O capítulo X descreve minuciosamente a viagem dos Magos, seu cortejo faustoso e sua chegada a Jerusalém. Herodes chama-os ao seu palácio para que lhe digam quais os propósitos da viagem. Queriam adorar o recém-nascido, dizem eles. Herodes então quer saber mais:

“Quem vos contou o que dizeis e como chegastes a sabê-lo?” Responderam os magos: “Nossos antepassados legaram-nos um testemunho escrito sobre isso, que foi guardado e selado sob o maior segredo. E durante longos anos pais e filhos, de geração em geração, mantiveram viva essa expectativa, até que finalmente essa palavra veio a cumprir-se em nossos dias, como nos foi revelado por Deus numa visão que tivemos de um anjo. Esta é a causa de nos encontrarmos neste lugar, que nos foi indicado pelo Senhor.” Tornou Herodes: “Qual a procedência desse testemunho que somente vós conheceis?”

Capítulo 11

Os magos responderam: “Nosso testemunho não procede de homem algum. Ou um desígnio divino referente a uma promessa feita por Deus em favor dos filhos dos homens, e que foi conservado entre nós até o dia de hoje.” Disse Herodes: “Onde está esse livro que somente vosso povo possui?” E os magos responderam: “Nenhuma nação, além da nossa, tem notícia direta ou indireta dele. Somente nós possuímos o testemunho escrito. Porque, como sabes, depois que Adão foi expulso do paraíso e depois que Caim matou Abel, o Senhor deu a nosso primeiro pai um filho de consolação chamado Seth, e a ele entregou aquela carta, escrita, assinada e selada por suas próprias mãos. Seth recebeu-a de seu pai e a transmitiu a seus filhos. Estes, por sua vez, transmitiram-na aos seus, e assim se passou de geração em geração. Todos, até Noé, receberam a ordem de conservá-la com todo cuidado. Este patriarca entregou-a a seu filho Sem e os filhos deste a transmitiram aos seus descendentes, que, por sua vez, a entregaram a Abraão. Este a deu a Melquizedeque, rei de Salém e sacerdote do Altíssimo, por meio do qual chegou ao poder do nosso povo nos tempos de Ciro, rei da Pérsia. Nossos pais a depositaram com todas as honras em um, salão especial, e assim chegou até nós, que, graças a este misterioso escrito, de antemão tomamos conhecimento do novo monarca, filho de Israel.”

Capítulo 12

E o rei Melkon pegou o livro do Testamento que conservava em sua casa como um precioso legado dos seus antepassados, segundo o que já dissemos, e presenteou-o ao menino, dizendo-lhe: “Aqui tens a carta selada e firmada por tua própria mão que achaste por bem entregar aos nossos superiores para que a guardassem. Toma, pois, este documento que tu mesmo escreveste. Abre-o e lê-o, pois esta em teu nome.

Capítulo 13

E o documento, dirigido a Adão, estava assim encabeçado: “No ano de 6000, no sexto dia da semana, no mesmo dia em que te criei, e à hora sexta, enviarei meu Filho Unigênito, o Verbo divino, que se revestirá da carne da tua descendência e virá a ser filho do Homem. Ele te devolverá a dignidade original através dos terríveis tormentos da sua paixão na cruz. E então tu, ó Adão, unido a mim com alma pura e corpo imortal, serás deificado e poderás, como eu, discernir o bem e o mal.”

Capítulo 23

2 Jesus costumava levar jovens até a borda do poço que fornecia água para toda a cidade. E, tirando os cântaros de suas mãos, batia-os uns contra os outros ou contra as pedras e jogava-os depois no fundo do poço. E com isso os aqueles jovens não ousavam entrar em casa com medo dos seus pais. Jesus então compadecia-se vendo-os chorar e lhes dizia: “Não choreis mais, que eu devolverei vossos cântaros”. Depois dava ordens aos caudais das águas, e estes arremessavam de volta os cântaros intactos para a superfície. Cada um pegava o seu e voltava ao seu lar contando a todo mundo os milagres de Jesus.

3 Um outro dia, levou-os de novo consigo e fê-los acampar a sombra de uma gigantesca árvore. Então deu ordens para que ela inclinasse seus ramos e subiu e ficou em cima da árvore. Mandou depois que ela se endireitasse, e ele elevou-se, dominando assim toda aquela paisagem. Jesus manteve-se ali uma hora, até que os outros jovens começaram a gritar,dizendo-lhe: “Manda que a árvore se incline para que possamos subir contigo”. Jesus assim fez e lhes disse: “Vinde depressa junto a mim”. E subiram ao seu lado cheios de gozo. Pouco depois Jesus mandou que a árvore inclinasse de novo seus ramos. E, depois que todos haviam descido, a árvore recuperou sua posição original.

Capítulo 25

7 …Maria lhe disse: “Meu Filho, como ainda não és mais do que um menino e não uma pessoa mais velha, temo que te aconteça alguma desgraça”. Jesus respondeu: “Teus temores, minha mãe, não são de todo razoáveis, pois eu sei muito bem tudo o que deve me acontecer”. Maria disse: “Não sintas pena pelo que acabo de dizer-te mas estou rodeada de fantasmas e não sei o que fazer”.

Jesus perguntou: “E que pensas fazer comigo?” Maria disse: “E isto o que me preocupa: nos temos empenhado ao máximo para que aprendas durante a tua infância todos os ofícios, e até agora não fizeste nada nesse sentido nem te interessaste por nada. E agora que já estás mais crescidinho, que preferes fazer e como queres passar a tua vida?”

8 Ao ouvir estas palavras, Jesus indignou-se em seu íntimo e disse à mãe: “Falaste muito inconsideradamente. Será que não entendes os sinais e prodígios que faço diante de ti, para que possas ver com teus próprios olhos? Ainda não me acreditas depois de tanto tempo que estou vivendo contigo? Observa meus milagres, considera tudo o que tenho feito e tem paciência durante algum tempo, até que vejas realizadas todas as minhas obras, pois a minha hora ainda não chegou. Enquanto isto, mantém-te fiel a mim”. E dizendo isto, Jesus saiu apressadamente de casa.

Capítulo 28

1 Jesus, desejoso de mostrar-se ao mundo, encontra dois soldados rindo. Estes vêem-no sentado tranqüilamente junto a um poço, e um deles lhe diz:

2 …”Menino, de onde vens? Para onde vais? Como te chamas?” Jesus respondeu: “Se eu te disser, não serás capaz de compreender-me”. O soldado perguntou-lhe novamente: “Teu pai e tua mãe ainda vivem?” Jesus respondeu: “Efetivamente: meu Pai vive e é Imortal”. O soldado respondeu: “Como? Imortal?” E Jesus disse: “Sim, é Imortal desde o princípio, e a morte não tem poder sobre Ele”. Então o soldado disse: “Quem é este que viverá sempre e além dele, já que a morte não tem poder algum, e que teu Pai tem a imortalidade garantida? Jesus respondeu: “Não serias capaz de conhecê-lo nem de ter uma idéia aproximada dele”, O soldado disse: “Quem pode vê-lo?” Jesus respondeu: “Ninguém”. O soldado perguntou: “Onde está teu Pai?” Jesus respondeu: “No céu, acima da terra”. O soldado disse: “E tu, como poderás ir junto dele?” Jesus respondeu: “Já estive ali e ainda agora estou em sua companhia”. O soldado respondeu: “Não sou capaz de compreender o que dizes”. Jesus disse: “E por isto que é indizível e inexplicável”. O soldado perguntou: “Então quem pode entendê-lo?” Jesus respondeu: “Se mo pedires, explicar-te-ei”. Então o soldado disse: “Diga-me, Senhor, eu te peço”.

A seguir, Jesus lhes conta sua ascendência divina e temporal, no seio de Maria. Os soldados aceitam suas explicações e o Senhor se despede deles, e termina o texto. Fim

Portal a&e Voltar ao tema: Evangelhos Apócrifos Biblia on line |

Anjos & Angeologia | Anjo do dia | Simpatias, magias & feitiços rápidos |

Simpatias angelicaisSimpatias Amor | Amarrações | Encantamentos | Simpatias ciganas | Wicca | Simpatias & magias egípcias | Banhos mágicos | Amuletos & Talismãs |

Partilhe, recomende e vote neste artigo

Apócrifos, Evangelho Árabe da Infância de Jesus

Textos apócrifos, Evangelhos apócrifosApócrifos, Evangelho Árabe da Infância de Jesus

Capítulo 1

EM NOME do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, Deus único.

Começamos, com o auxílio e a ajuda do Deus todo-poderoso, a escrever o livro dos milagres de nosso Salvador, Mestre e Senhor Jesus Cristo, que se intitula o Evangelho da Infância, na paz do Salvador. Que assim seja.

Encontramos no livro do grande sacerdote Josefo que viveu no tempo de Jesus Cristo (e que alguns chamam de Caifás), que Jesus falou quando estava no berço e que disse a sua mãe Maria: “Eu, que nasci de ti, sou Jesus, o Filho de Deus, o Verbo, como te anunciou o anjo Gabriel, e meu Pai me enviou para a salvação do mundo”.

Capítulo 2

No ano 309 da era de Alexandre, Augusto ordenara que todos fossem recenseados em sua cidade natal. José partiu então e conduzindo Maria, sua esposa, veio a Jerusalém, de onde ele se dirigiu a Belém para inscrever-se, junto com sua família, no local onde ele havia nascido; quando estavam próximos a uma caverna, Maria disse a José que sua hora havia chegado e que não poderia ir até a cidade, “mas, disse ela, entremos nesta caverna”. O sol estava começando a se pôr. José apressou-se em procurar uma mulher que assistisse Maria no parto, e ele encontrou uma anciã que vinha de Jerusalém, e, saudando-a, disse-lhe: “Entra na caverna onde encontrarás uma mulher em trabalho de parto.”

Capítulo 3

E após o pôr-do-sol, José chegou com a anciã à caverna e eles entraram. E eis que a caverna estava resplandecente com uma claridade que superava a de uma infinidade de labaredas, e que brilhava mais do que o sol do meio-dia. A criança, enrolada em fraldas e deitada numa manjedoura, mamava no seio de sua mãe Maria. Ambos ficaram surpresos com o aspecto daquela claridade, e a anciã disse a Maria: “Es tu a mãe desta criança?” Ao responder afirmativamente Maria, disse-lhe: “Não és semelhante às filhas de Eva”, e Maria respondeu: “Assim como entre as crianças dos homens não há nenhuma que seja semelhante ao meu filho, assim também sua mãe não tem par entre todas as mulheres”. A anciã disse então: “Senhora e ama, vim para receber uma recompensa que perdurará para todo o sempre”. E Maria lhe respondeu: “Põe tuas mãos sobre a criança”. Quando a anciã o fez, ela foi purificada, e quando saiu, ela disse: “A partir deste momento, eu serei a serva desta criança, e eu quero consagrar-me a seu serviço, por todos os dias da minha vida”.

Capítulo 4

Em seguida, quando os pastores chegaram e acenderam o fogo, entregando-se à alegria, as cortes celestes apareceram, louvando e celebrando o Senhor: a caverna parecia-se com um templo augusto, onde reis celestiais e terrestres celebravam a glória e os louvores de Deus por causa da natividade do Senhor Jesus Cristo. E esta anciã hebréia, vendo estes milagres resplandecentes, rendia graças a Deus, dizendo: “Eu te rendo graças, ó Deus, Deus de Israel, porque os meus olhos viram a natividade do Salvador do mundo”.

Capítulo 5

Quando chegou o tempo da circuncisão, isto é, o oitavo dia, época na qual o recém-nascido deve ser circuncidado segundo a lei, eles o circuncidaram na caverna, e a velha anciã recolheu o prepúcio e colocou-o em um vaso de alabastro cheio de óleo de nardo velho. Como tivesse um filho que comercializava perfumes, Maria deu-lhe o vaso, dizendo: “Muito cuidado para não vender este vaso cheio de perfume de nardo, mesmo que te ofereçam trezentos dinares”. E este é o vaso que Maria, a pecadora, comprou e que ela derramou sobre a cabeça e sobre os pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, enxugando-os com seus cabelos. Quando dez dias se haviam passado, eles levaram a criança para Jerusalém, e, ao término da quarentena, eles o apresentaram no templo, ao Senhor, oferecendo por ele as oferendas prescritas pela lei de, Moisés, que diz: “Toda criança do sexo masculino que sair de sua mãe será chamada O santo de Deus”.

Capítulo 6

O velho Simeão viu o menino Jesus resplandecente de claridade como um facho de luz, quando a Virgem Maria, cheia de alegrias, entrou com ele em seus braços. E uma multidão de anjos rodeava-o, louvando-o e acompanhando-o, assim como os satélites de honra seguem seu rei. Simeão, pois, aproximando-se rapidamente de Maria e estendendo suas mãos para ela, disse ao Senhor Jesus: II Agora, Senhor, teu servo pode retirar-se em paz, segundo tua promessa, pois meus olhos viram tua misericórdia e o que preparaste para a salvação que todas as nações; luz de todos os povos e a glória de teu povo de Israel”. A profetisa Ana também estava presente, e ela rendia graças a Deus, e celebrava a felicidade de Maria.

Capítulo 7

E eis o que aconteceu enquanto o Senhor vinha ao mundo em Belém, cidade da Judéia, no tempo do rei Herodes: magos vieram de países do Oriente a Jerusalém, tal como havia predito Zoroastro, e traziam com eles presentes, ouro, incenso e mirra, e adoraram a criança, e renderam-lhe homenagem com seus presentes. Então Maria pegou uma das faixas nas quais a criança estava envolvida e deu-a aos magos que receberam-na como uma dádiva de valor inestimável. E nesta mesma hora, apareceu-lhes um anjo sob a forma de uma estrela que já lhes havia servido de guia, e eles partiram, seguindo sua luz, até que estivessem de volta a sua pátria.

Capítulo 8

Os reis e os príncipes apressaram-se em se reunir em torno dos magos, perguntando-lhes o que haviam visto e o que haviam feito, como haviam ido e como haviam voltado, e que companheiros eles haviam tido então durante a viagem. Os magos mostraram-lhes a faixa que Maria lhes havia dado; em seguida, eles celebraram uma festa, acenderam o fogo segundo seus costumes, e adoraram a faixa, e a jogaram nas chamas, e as chamas envolveram-na. Ao apagar-se o fogo, eles retiraram o pano e viram que as chamas não haviam deixado sobre ele nenhum vestígio. Eles se puseram então a beijá-lo e a colocá-lo sobre suas cabeças e sobre seus olhos, dizendo: “Eis certa-mente a verdade! Qual é pois o preço deste objeto que o fogo não pode nem consumir nem danificar?” E pegando-o, depositaram-no com grande veneração entre seus tesouros.

Capítulo 9

Herodes, vendo que os magos não retomavam a visitá-lo, reuniu os sacerdotes e os doutores e disse-lhes: “Mostrai-me onde deve nascer o Cristo.”E quando responderam que era em Belém, cidade da Judéia, Herodes pôs-se a tramar, em seu espírito, o assassinato do Senhor Jesus. Então um anjo apareceu a José durante o sono e disse-lhe: “Levanta-te, pega a criança e sua mãe, e foge para o Egito”. E quando o galo cantou, José levantou-se e partiu.

Capítulo 10

E enquanto ele refletia sobre o caminho que ele devia seguir, a aurora o surpreendeu: a correia da sela se havia rompido ao se aproximarem de uma grande cidade, onde havia um ídolo ao qual os outros ídolos e divindades do Egito rendiam homenagem e ofereciam presentes; sempre — que Satanás falava pela boca do ídolo, os sacerdotes relatavam o que ele dizia aos habitantes do Egito e de suas margens. Ora, este sacerdote tinha um filho de três anos que estava possuído por um grande número de demônios; ele profetizava e anunciava muitas coisas, e quando os demônios se apossavam dele, rasgavam suas roupas e ele corria nu pela cidade, jogando pedras nos homens. A hospedaria desta cidade ficava perto deste ídolo; quando José e Maria lá chegaram e se hospedaram, os habitantes ficaram profunda-mente perturbados, e todos os príncipes e sacerdotes dos ídolos se reuniram ao redor deste ídolo, perguntando-lhe: “Donde vem essa agitação universal, e qual é a causa deste pavor que se apoderou de nosso país?” E o ídolo respondeu: “Esse assombro foi trazido por um Deus desconhecido que é o Deus verdadeiro, e ninguém a não ser ele é digno das honras divinas, pois ele é o verdadeiro Filho de Deus. A sua aproximação, esta região tremeu; ela se emocionou e se assombrou, e nós sentimos um grande temor por causa do seu poder”. E neste momento este ídolo caiu e quebrou-se, tal como os outros ídolos que estavam no país, e sua queda fez acorrerem todos os habitantes do Egito.

Capítulo 11

Mas o filho do sacerdote, acometido do mal que o afligia, entrou no albergue insultando José e Maria, dos quais os outros haviam fugido, e como Maria havia lavado as fraldas do Senhor Jesus e as estendera sobre umas madeiras, o menino possuído pegou uma das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça. Imediatamente os demônios fugiram, saindo pela sua boca, e foram vistos sob a forma de corvos e serpentes. O menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo, e ele se pôs a louvar o Senhor que o havia libertado e rendeu-lhe mil ações de graça. E quando seu pai viu que ele havia recobrado a saúde, exclamou, admirado: “Meu filho, mas o que te aconteceu, e como foste tu curado?” E o filho respondeu: “No momento em que me atormentavam, eu entrei na hospedaria e lá encontrei uma mulher de grande beleza que estava com uma criança, e ela estendia sobre umas madeiras as fraldas que acabara de lavar; eu peguei uma delas e coloquei-a sobre minha cabeça e os demônios fugiram imediatamente e me abandonaram”. O pai, cheio de alegria, exclamou: “Meu filho, é possível que essa criança seja o Filho do Deus vivo que criou o céu e a terra, e, assim que passou perto de nós, o ídolo partiu-se e os simulacros de todos os nossos deuses caíram, e uma força superior à deles destruiu-os”.

Capítulo 12

Assim se cumpriu a profecia que diz: “Chamei o meu filho do Egito” (I). Quando José e Maria souberam que este ídolo se havia quebrado, foram tomados de medo e de espanto, e diziam: “Quando estávamos na terra de Israel, Herodes queria que Jesus morresse e, com esta intenção, ele ordenou o massacre de todas as crianças de Belém e das vizinhanças, e é de se temer que os egípcios nos queimem vivos, se eles souberem que este ídolo caiu”.

Capítulo 13

Eles então partiram e passaram nas proximidades do covil de ladrões que despojavam de suas roupas e pertences os viajantes que por ali passavam e, após tê-los amarrado, os arrastavam pelo deserto. Estes ladrões ouviram um forte ruído, semelhante ao do rei que sai de sua capital ao som dos instrumentos musicais, escoltado por grande exército e por uma numerosa cavalaria; apavorados, então, deixaram ali “todo o seu saque e apressaram-se em fugir. Os cativos, levantando-se, cortaram as cordas que os prendiam e, tendo retomado sua bagagem, iam retirar-se quando viram José e Maria que se aproximavam e perguntaram-lhes: “Onde está este rei cujo cortejo, com seu barulho, assustou os ladrões a ponto de eles terem fugido e nos libertado?” E José respondeu: “Ele nos segue”.

Capítulo 14

Chegaram em seguida em outra cidade onde havia uma mulher endemoninhada, e quando ela ia buscar água no poço durante a noite o espírito rebelde e impuro apossava-se dela. Ela não podia suportar nenhuma roupa, nem morar em uma casa, e todas as vezes que a amarravam com cordas ou correntes, ela as partia e fugia nua para locais desertos; e ficava nas estradas e perto de sepulturas, e perseguia, apedrejando, aqueles que encontrava no caminho, de forma que ela era, para seus pais, motivo de luto. Maria viu-a e foi tomada de compaixão, e imediata-mente Satanás a deixou e fugiu sob a forma de um jovem rapaz, dizendo: “Infeliz de mim, por tua causa, Maria, e por causa de teu filho!” Quando esta mulher foi libertada da causa de seu tormento, olhou ao seu redor e corando por sua nudez procurou seus pais, evitando encontrar as pessoas; após haver vestido suas roupas, ela contou ao seu pai e aos seus o que lhe havia acontecido. Como eles fizessem parte dos habitantes mais distintos da cidade, hospedaram em sua casa José e Maria, demonstrando por eles um grande respeito.

Capítulo 15

No dia seguinte, José e Maria prosseguiram sua viagem, e à noite chegaram a uma cidade onde estava sendo celebrado um casamento; mas, em decorrência das ciladas do espírito maligno e dos encanta-mentos de alguns feiticeiros, a esposa ficara muda, de forma que ela não podia mais falar. Quando Maria entrou na cidade trazendo nos braços o filho, o Senhor Jesus, aquela que havia perdido o uso da palavra avistou-o e imediatamente pegou-o em seus braços, abraçou-o e apertou-o junto ao seu seio e cobriu-o de carinho. Imediatamente o laço que travava sua língua partiu-se e seus ouvidos se abriram, e ela começou a glorificar e a agradecer a Deus que a havia curado. E houve naquela noite uma grande alegria entre os habitantes desta cidade, pois acreditavam todos que Deus e seus anjos haviam descido no meio deles.

Capítulo 16

José e Maria passaram três dias nesse lugar, onde foram recebidos com grande veneração e esplendidamente tratados. Munidos de provisões para a viagem, partiram dali e chegaram em uma outra cidade. Como ela era próspera e seus habitantes tinham boa reputação, eles pernoitaram lá. Ora, havia nesta cidade uma boa mulher, e um dia em que ela havia descido até o rio para lavar-se, eis que o espírito mal-dito, assumindo a forma de uma serpente, se havia jogado sobre ela e cingido o seu ventre; e todas as noites estendia-se sobre ela. Ora, quando esta mulher viu Maria e o Senhor Jesus que ela trazia contra o seu seio, rogou à Santa Virgem que lhe permitisse segurar e beijar a criança. Maria consentiu, e assim que a mulher tocou a criança, Satanás abandonou-a e fugiu, e desde então ela não mais o viu. Todos os vizinhos louvaram o Senhor e a mulher recompensou-os com grande generosidade.

Capítulo 17

No dia seguinte, esta mesma mulher preparou água perfumada para lavar o menino Jesus e após o haver lavado, guardou esta água. E havia lá uma jovem cujo corpo estava coberto pela lepra branca; lavou-se ela com esta água e foi imediatamente curada. O povo dizia então: “Não resta dúvida de que José e Maria e esta criança sejam Deuses, pois eles não podem ser simples mortais”. Quando eles se preparavam para partir, esta jovem que havia sido curada da lepra aproximou-se deles e rogou-lhes que lhe permitissem acompanhá-los.

Capítulo 18

Eles consentiram e ela se foi com eles; chegaram a uma cidade onde havia o castelo de um poderoso príncipe; foram até lá e se hospedaram nele. A jovem, aproximando-se da esposa do príncipe, encontrou-a triste, a chorar; então, perguntou-lhe qual a causa daquele pesar. E ela respondeu-lhe: “Não te espantes de me ver entregue à aflição; estou em meio a uma grande calamidade, que eu não ouso contar a ninguém”. A jovem tornou: “Se me confessares qual é teu mal, talvez encontres remédio junto a mim”. A esposa do príncipe disse-lhe: “Não revelarás este segredo a ninguém. Casei-me com um príncipe cujo império, semelhante a um império de um rei,estende-se por vastos estados, e, após haver vivido por muito tempo com ele, ele não teve de mim nenhum descendente. Finalmente, eu concebi, mas trouxe ao mundo uma criança leprosa; após havê-lo visto, ele não quis reconhecê-lo como seu filho, e me disse: `Mata esta criança ou entrega-a a uma ama que a crie num local tão afastado que jamais voltemos a ouvir dela. E pega o que é teu, pois não te verei nunca mais’. Eis porque me entrego à dor, deplorando a calamidade que sobre mim se abateu, e choro por meu marido e por meu filho”. A jovem respondeu-lhe: “Pois não te disse que eu tenho para ti o remédio que te havia prometido? Eu também fui atingida pela lepra, mas fui curada por uma graça de Deus, que é Jesus, o filho de Maria”. A mulher perguntou-lhe então onde estava este Deus do qual ela falava. A jovem respondeu-lhe: “Ele está bem aqui, nesta casa.” Perguntou a princesa: “Como pode ser isso, onde está ele?”. A jovem respondeu: “Aqui estão José e Maria, e a criança que está com eles é Jesus, e foi ele quem me curou dos meus sofrimentos”. “E por que meio, disse a mulher, pode ele te curar? Não vais me contar?” A jovem respondeu: “Recebi de sua mãe a água na qual ele havia sido lavado, e espalhei-a então sobre meu corpo, e minha lepra desapareceu”. A esposa do príncipe ergueu-se então e recebeu José e Maria, e preparou para José um magnífico festim, para o qual muitas pessoas foram convidadas. No dia seguinte, ela pegou água perfumada a fim de lavar o Senhor Jesus, e ela lavou com esta mesma água o seu filho, que ela havia trazido consigo, e logo ele se curou da lepra. Então, ela pôs-se a cantar louvores a Deus e a render-lhe graças, dizendo-lhe: “Feliz da mãe que te gerou, ó Jesus! A água com a qual o teu corpo foi lavado cura os homens que têm tua natureza.” Ela ofereceu presentes a Maria e dela despediu-se, tratando-a com grande deferência.

Capítulo 19

Em seguida, chegaram a outra cidade onde deviam pernoitar. Foram à casa de um homem recém-casado mas que, atingido por um malefício, não podia desfrutar sua esposa; mas após haverem eles passado a noite perto do homem, o encantamento quebrou-se. Quando o dia amanheceu, preparavam-se para prosseguir a viagem, porém, o esposo impediu-os de partir e preparou-lhes um grande banquete.

Capítulo 20

No dia seguinte partiram, e ao se aproximarem de uma outra cidade, viram três mulheres que se afastavam de um túmulo, a verter muitas lágrimas. Maria, tendo-as visto, disse à jovem que os acompanhava “Pergunta-lhes quem são elas e qual a desgraça que se lhes abateu”.

Elas não responderam mas puseram-se a interrogá-la dizendo: “Quem sois vós, e para onde ides? Pois o dia está terminando e a noite se aproxima”. E a moça respondeu: “Somos viajantes e procuramos uma hospedaria para passar a noite”. As mulheres responderam: “Acompanhai-nos e passai a noite em nossa casa.” Eles seguiram portanto essas mulheres, e foram levados a uma casa nova, ornada e decorada por diversos móveis. Ora, era inverno, e a jovem moça, tendo entrado no quarto destas mulheres, encontrou-as ainda chorando e se lamentando. Ao lado delas, coberta por uma manta de seda, encontrava-se um mulo com forragem à sua frente. E elas davam-lhe de comer e o beijavam. A jovem disse então: “O minha senhora, como é belo este mulo!” ao que elas responderam chorando: “Este mulo que estás vendo é nosso irmão que nasceu de nossa mãe. Nosso pai deixou-nos com sua morte grandes riquezas, e nós só tínhamos este irmão, para quem tentávamos encontrar um casamento conveniente. Porém, mulheres dominadas pelo espírito da inveja, lançaram sobre ele, sem que soubéssemos, encantamentos. E uma certa noite, um pouco antes do amanhecer, estando fechadas as portas da nossa casa, encontramos nosso irmão transformado em mulo, tal qual o vês hoje. Entregamo-nos à tristeza, visto que não tínhamos mais nosso pai para consolar-nos; consultamos todos os sábios do mundo, todos os magos, os feiticeiros, tentamos de tudo, mas nenhum deles nada pôde fazer por nós. Eis porque sempre que nosso coração está a ponto de explodir de tristeza, nós nos levantamos e vamos junto com a nossa mãe que aqui está, ao túmulo de meu pai e, após haver chorado, retornamos para cá.

Capítulo 21

Ao ouvir tais coisas, a jovem disse: “Tende coragem e parai de chorar, pois a cura de vossos males está próxima, está convosco muito próxima, em vossa morada; eu era leprosa, mas após haver visto esta mulher e a criança que está com ela e que se chama Jesus, e após haver derramado sobre meu corpo a água com a qual a sua mãe o havia lavado, eu me curei. Eu sei que ele pode pôr um fim à vossa desgraça; levantai-vos, aproximai-vos de Maria, conduzi-o aos vossos aposentos, e então revelai-lhe o segredo que acabais de me contar, e suplicai-lhe piedade”. Ao ouvirem tais palavras proferidas pela jovem, elas se apressaram em ter com Maria, e o levaram até o quarto e lhe disseram, chorando: “Maria, Nossa Senhora, tem compaixão de tuas servas, pois nossa família está desprovida de seu chefe e não temos um pai ou um irmão que nos proteja. Este mulo que aqui vês é nosso irmão, e algumas mulheres, com seus encanta-mentos, reduziram-no a este estado. Rogamos-te, pois, que tenhas piedade de nós”. Então Maria, comovida e chorando como as mulheres, ergueu o menino Jesus e colocou-o sobre o dorso do mulo, dizendo: “Meu filho, cura este mulo através do teu grande poder e faze com que este homem recobre a razão, da qual foi privado”. Nem bem estas palavras haviam saído dos lábios de Maria e o mulo já havia retomado a forma humana. E mostrou-se sob os traços de um belo rapaz, e não lhe restava nenhuma deformidade. E ele e sua mãe e suas irmãs adoraram Maria e, erguendo o menino acima de suas cabeças, o beijavam, dizendo: “Feliz de tua mãe, ó Jesus, Salvador do mundo! Felizes os olhos que gozam da felicidade da tua presença”.

Capítulo 22

As duas irmãs disseram à mãe: “Nosso irmão retomou sua forma primitiva, graças à intervenção do Senhor Jesus e aos bons conselhos desta jovem, que nos sugeriu recorrer a Maria e ao seu filho. E agora, já que nosso irmão não está casado, pensamos que seria conveniente que ele desposasse esta moça.” Após haverem feito este pedido a Maria e haver ela consentido, fizeram para as bodas preparativos esplêndidos, e a dor transformou-se em alegria e o choro cedeu espaço ao riso. Elas só fizeram cantar e regozijar-se, enfeitadas com magníficas vestimentas e jóias preciosas. Ao mesmo tempo, entoavam cânticos de louvor a Deus, dizendo: “O Jesus, Filho de Deus, que transformaste nossa aflição em contentamento e nossas lamúrias em gritos de alegria!” José e Maria lá permaneceram por dez dias; ac partirem, receberam demonstrações de veneração de parte de toda a família que despediu-se deles chorando muito, principalmente a moça, que se desfazia em lágrimas.

Capítulo 23

Chegaram, em seguida, um deserto, e como lhes haviam dito que era infestado de ladrões, prepararam-se pare atravessá-lo durante a noite. E eis que de repente avistaram dois ladrões que dormiam, E perto deles muitos outros ladrões seus companheiros, que também estavam entregues ao sono. Estes dois ladrões chamavam-se Tito e Dímaco. Ora o primeiro disse ao outro: “Eu te peço que deixes estes viajantes irem em paz, para que nossos companheiros não os vejam”. Tendo Dímaco recusado Tito disse-lhe: “Dou-te 40 dracmas e fica com o meu cinto como penhor”. E deu-lhe cinto e, ao mesmo tempo, pediu que não desse o alarme. Maria, vendo este ladrão tão disposto a servi-los, disse-lhe “Que Deus te proteja com sua mão direita e que ele te conceda a remissão de teus pecados’. E o Senhor Jesus disse a Maria: “Daqui a 30 anos, ó minha mãe, os judeus me crucificarão em Jerusalém, e estes dois ladrões serão postos na cruz a meu lado, Tito à minha direita e Dímaco à minha esquerda, e neste dia Tito me precederá no Paraíso”. E quando ele assim falou, sua mãe respondeu-lhe: “Que Deus afaste de ti semelhante desgraça, ó meu filho!” E foram dar em seguida em uma cidade cheia de ídolos, e quando eles se aproximavam, ela foi trans formada em um monte de areia.

Capítulo 24

Vieram ter, em seguida, a um sicômoro, que chamam hoje de Mataréia, e o Senhor Jesus fez surgir neste lugar uma fonte onde Maria lavou sua túnica. E o bálsamo que produz este país vem do suor que escorreu pelos membros de Jesus.

Capítulo 25

Foram então a Mênfis, e tendo visitado o faraó, permaneceram três anos no Egito, e o Senhor Jesus fez muitos milagres que não estão consignados nem no Evangelho da Infância, nem no Evangelho Completo.

Capítulo 26

Depois de três anos, eles deixaram o Egito e voltaram para a Judéia; mas quando já estavam próximos, José teve medo de entrar lá porque acabara de saber que Herodes estava morto e que seu filho Arquelau havia-lhe sucedido; mas o anjo de Deus apareceu-lhe e disse-lhe: “O José, vai para a cidade de Nazaré e estabelece ali tua residência”.

Capítulo 27

Quando chegaram a Belém, havia uma proliferação de doenças graves e difíceis de serem curadas, que atacavam os olhos das crianças e lhes causava a morte. E uma mulher que tinha um filho atacado por esse mal, levou-o a Maria, e encontrou-a banhando o Senhor Jesus. E a mulher disse: “O Maria, vê meu filho que sofre cruelmente”. Maria, ouvindo-a, disse-lhe: “Pega um pouco desta água com a qual eu lavei meu filho e espalha-a sobre o teu”. A mulher fez como lhe havia recomendado Maria, e seu filho, depois de uma forte agitação, adormeceu e quando acordou, estava completamente curado. A mulher, cheia de alegria, foi até Maria, que lhe disse: “Rende graças a Deus por ele haver curado o teu filho”.

Capítulo 28

Esta mulher tinha uma vizinha cujo filho fora atingido pela mesma doença e cujos olhos estavam quase fechados; ele gritava e chorava, noite e dia. E aquela cujo filho havia sido curado disse-lhe: “Por que não levas teu filho a Maria como eu fiz quando o meu estava prestes a morrer e ele foi curado pela água do banho de Jesus?” E a mulher foi pegar também daquela água, e assim que ela derramou sobre seu filho, ele foi curado. Levou então seu filho em perfeita saúde para Maria, que lhe recomendou que rendesse graças a Deus e que não contasse a ninguém o que havia acontecido.

Capítulo 29

Havia na mesma cidade duas mulheres casadas com um mesmo homem, e cada uma delas tinha um filho doente. Uma se chamava Maria e seu filho, Cleofás. Esta mulher levou seu filho a Maria, mãe de Jesus, e ofereceu-lhe uma bela toalha, dizendo-lhe: “á Maria, recebe de mim esta toalha e, em troca, dá-me uma das tuas fraldas”. Maria consentiu e a mãe de Cleofás confeccionou, com esta fralda, uma túnica, com a qual vestiu seu filho. E ele ficou curado e o filho de sua rival morreu no mesmo dia, o que causou profundos ressentimentos entre estas duas mulheres. Elas se encarregavam, em semanas alternadas, dos trabalhos caseiros, e um dia em que era a vez de Maria, a mãe de Cleofás, ela estava ocupada aquecendo o forno para assar o pão, e precisando de farinha, deixou seu filho perto do forno. Sua rival, vendo que a criança estava sozinha, pegou-a e jogou-a no forno em brasa e fugiu. Maria retornou logo em seguida, mas qual não foi o seu espanto quando ela viu seu filho no meio do forno, rindo, pois ele havia subitamente esfriado, como se jamais houvesse sido aquecido, e ela suspeitou que sua rival o havia jogado ali. Tirou-o de lá e levou-o até a Virgem Maria, e contou-lhe o que havia acontecido. E Maria disse-lhe: “Cala-te, pois eu receio por ti se divulgares tais coisas”.

Em seguida, a rival foi buscar água no poço, e vendo Cleofás brincando, e vendo que não havia ninguém por perto, pegou a criança e jogou-a no poço. Alguns homens que haviam vindo para tirar água viram a criança sentada na água, sem nenhum ferimento, e por meio de cordas, tiraram-na de lá. E ficaram tão admirados com esta criança que renderam-lhe as mesmas homenagens devidas a um Deus. E sua mãe, chorando, carregou-o até Maria e disse-lhe: “O minha senhora, vê o que minha rival fez ao meu filho, e como ela o fez cair no poço. Ah! ela acabará, por certo, causando-lhe a morte.” Maria respondeu-lhe: “Deus punirá o mal que te foi feito”. Alguns dias depois, a rival foi buscar água no poço e seus pés enroscaram-se na corda, de modo que ela caiu nele, e quando acorreram, acharam-na com a cabeça partida. Ela morreu, portanto, de uma forma funesta; a palavra do sábio se cumpre em si: “Cavaram um poço e jogaram a terra em cima, mas caíram no poço que eles mesmos haviam preparado”.

Capítulo 30

Uma outra mulher da mesma cidade tinha dois filhos, os dois doentes; um morreu e o outro estava agonizando; sua mãe tomou-o nos braços e levou-o até Maria, e aos prantos, disse-lhe: “ó minha senhora, vem em meu auxílio e tem piedade de mim; eu tinha dois filhos e acabo de perder um, e vejo o outro a ponto de morrer. Imploro a misericórdia do Senhor”. E pos-se a gritar: “Senhor, tu és pleno em clemência e compaixão; tu me deste dois filhos, me levaste um deles, pelo menos deixa-me o outro.” Maria, testemunha de sua extrema dor, sentiu pena e disse-lhe: “Coloca teu filho na cama de meu filho e cobre-o com suas roupas”. E quando a criança foi colocada na cama ao lado de Jesus, seus olhos já cerrados pela morte abriram-se, e chamando sua mãe em voz alta, pediu-lhe pão, e quando lhe deram, comeu-o. Então sua mãe disse: “ó Maria, eu sei que a virtude de Deus habita em ti, a ponto de teu filho curar as crianças que o tocam.” E a criança que assim foi curada é o mesmo Bartolomeu de quem se fala no Evangelho.

Capítulo 31

Havia ainda no mesmo lugar uma leprosa que foi ter com Maria, mãe de Jesus, dizendo-lhe: “ó minha senhora, tem piedade de mim”. E Maria respondeu-lhe: “Que ajuda pedes tu? Queres ouro, prata ou queres te curar da lepra?” A mulher respondeu: “Que podes fazer por mim?” E Maria disse: “Espera um pouco até que eu tenha banhado e posto meu filho na cama”. A mulher esperou e Maria, após o haver deitado, estendeu à mulher um vaso cheio da água do banho de seu filho e disse-lhe: “Pega um pouco desta água e espalha-a sobre o teu corpo”. E assim que a doente obedeceu, curou-se e ela rendeu graças a Deus.

Capítulo 32

Ela partiu em seguida, após haver permanecido três dias junto de Maria, e foi para uma cidade onde morava um príncipe que havia desposado a filha de um outro príncipe; mas, quando ele viu sua esposa, percebeu entre seus olhos as marcas da lepra sob a forma de uma estrela, e o seu casamento foi declarado nulo e não válido.

E esta mulher vendo o desespero da princesa, perguntou-lhe a causa destas lágrimas, e a princesa respondeu-lhe: “Não me interrogues, pois a minha desgraça é tanta que eu não posso revelá-la a ninguém.” A mulher ouvindo a voz desta infeliz, subiu até o telhado de seu castelo e viu-a com as mãos unidas acima da cabeça, a verter copiosas lágrimas, e todos aqueles que a rodeavam estavam desolados. E ela perguntou se a mãe desta possuída vivia ainda. E quando lhe responderam que o seu pai e sua mãe estavam ambos vivos, ela disse: “Tragam sua mãe até mim.” E quando chegou, ela perguntou-lhe: “E a tua filha que está assim possuída?” E a mãe tendo respondido que sim, chorando, a princesa disse: “Não revela o que vou te contar; eu já fui uma leprosa, mas Maria, a mãe de Jesus Cristo, me curou. Se queres que tua filha tenha a mesma felicidade, leva-a a Belém e implora com fé a ajuda de Maria, e eu creio que voltarás cheia de alegria, trazendo tua filha curada.” Imediatamente a mãe levantou-se e partiu; foi procurar Maria e expôs-lhe o estado de sua filha. Maria, após tê-la ouvido, deu-lhe um pouco da água na qual ela havia lavado seu filho Jesus, e disse-lhe para derramá-la sobre o corpo da possuída. Em seguida deu-lhe uma fralda do menino Jesus e disse-lhe: “Pega isto e mostra-o a teu inimigo, todas as vezes que o vir”, e despediu-as com suas bênçãos.

Capítulo 33

Quando, após haver deixado Maria, elas retornaram à sua cidade, e quando veio o tempo no qual Satanás costumava atormentá-la, ele apareceu-lhe sob a forma de um grande dragão; ao ver a sua aparência, a jovem foi tomada pelo pavor, mas sua mãe disse-lhe: “Não temas, minha filha, deixa que ele se aproxime mais de ti e mostra-lhe esta fralda que nos deu Maria, e veremos o que ele poderá fazer.” E quando o espírito maligno, que havia tomado a forma de um dragão, estava bem perto, a doente, tremendo de medo, colocou sobre sua cabeça a fralda e desdobrou-a, e de repente, dela saíram chamas que se dirigiam à cabeça e aos olhos do dragão, e ouviu-se uma voz que gritava: “Que há entre ti e mim, ó Jesus, filho de Maria? Onde encontrarei um abrigo que me livre de ti. E Satanás fugiu apavorado, abandonando esta jovem, é nunca mais apareceu. E ela viu-se assim curada e, grata, rendeu graças a Deus, assim como todos os que haviam presenciado este milagre.

Capítulo 34

Havia nesta mesma cidade uma outra mulher cujo filho era atormentado por Satanás. Ele se chamava Judas, e sempre que o espírito maligno apoderava-se dele, ele tentava morder todos os que estavam à sua volta e, se estivesse sozinho, mordia suas próprias mãos e membros. A mãe deste infeliz, ouvindo falar de Maria e de seu filho Jesus, foi com seu filho nos braços até Maria. Nesse meio tempo, Tiago e José haviam trazido o menino Jesus para fora da casa, para que ele pudesse brincar com as outras crianças, e eles estavam sentados fora da casa e Jesus com eles. Judas aproximou-se também e sentou-se à direita de Jesus, e quando Satanás começou a agitá-lo como sempre o fazia, ele tentou morder Jesus, e como ele não podia alcançá-lo, dava-lhe socos no lado direito, de forma que Jesus começou a chorar. Mas, neste momento, Satanás saiu desta criança sob a forma de um cão enraivecido. E esta criança era Judas Iscariotes que traiu Jesus, e o lado em que ele havia batido foi aquele que os judeus trespassaram com a lança.

Capítulo 35

Quando o Senhor Jesus havia completado o seu sétimo ano, ele brincava um dia com outras crianças de sua idade; para divertir-se, eles faziam com terra molhada diversas imagens de animais, de lobos, de asnos, de pássaros, e cada um elogiando seu próprio trabalho, esforçando-se para que fosse melhor que o de seus companheiros. Então o Senhor Jesus disse para as crianças: “Ordenarei às figuras que eu fiz que andem e elas andarão.” E as crianças lhe perguntaram se ele era o filho do Criador, e o Senhor Jesus ordenou às imagens que andassem e elas imediatamente andaram. Quando ele mandava voltar, elas voltavam. Ele havia feito figuras de pássaros que voavam quando ele ordenava que voassem e que paravam quando ele dizia para parar, e quando ele lhes dava bebida e comida, eles comiam e bebiam. Quando as crianças foram embora e contaram aos seus pais o que haviam visto, eles disseram: “Fuji, daqui em diante, de sua companhia, pois ele é um feiticeiro, deixai de brincar com ele.”

Capítulo 36

Um certo dia em que brincava e corria com outras crianças, o Senhor Jesus passou em frente à loja de um tintureiro que se chamava Salém. Havia nesta loja tecidos que pertenciam a um grande número de habitantes da cidade, e que Salém se preparava para tingir de várias cores. Tendo Jesus entrado na loja, pegou todas as fazendas e jogou-as na caldeira.

Salém virou-se e vendo todas as fazendas perdidas, pôs-se a gritar e a repreender Jesus, dizendo: “Que fizeste tu, ó filho de Maria? Prejudicaste a mim e a meus concidadãos; cada um pediu uma cor diferente, e tu apareceste e puseste tudo a perder.” O Senhor Jesus respondeu: “Qualquer fazenda que queiras mudar a cor, eu mudo.” E ele se pôs a retirar as fazendas da caldeira, e cada uma estava tingida da cor que desejava o tintureiro. E os judeus, testemunhas deste milagre, celebraram o poder de Deus.

Capítulo 37

José ia por toda a cidade levando com ele o Senhor Jesus, e chamavam-no para que fizesse portas, arcas e catres, e o Senhor Jesus estava sempre com ele. E sempre que a obra de José precisava ser mais comprida ou mais curta, mais larga ou mais estreita, o Senhor Jesus estendia a mão, e ela ficava exatamente do jeito que queria José, de forma que ele não precisava retocar nada com sua própria mão, pois ele não era muito hábil no ofício de marceneiro.

Capítulo 38

Um dia, o rei de Jerusalém mandou chamá-lo e disse: “Eu quero, José, que me faças um trono segundo as dimensões do lugar onde costumo sentar-me.” José obedeceu, e pondo mãos à obra, passou dois anos no palácio para elaborar este trono. E quando ele foi colocado no lugar onde deveria ficar, perceberam que de cada lado faltavam dois palmos à medida fixada. Então o rei ficou bravo com José, que temendo a raiva do monarca, não conseguiu comer e deitou-se em jejum. Então, o Senhor Jesus perguntou-lhe qual era a causa do seu receio, e ele respondeu: “E: que a obra na qual trabalhei durante dois anos está perdida.” E o Senhor Jesus respondeu-lhe: “Não tenhas medo e não percas a coragem; pega este lado do trono e eu o outro, para que possamos dar-lhe a medida exata.” E José tendo feito o que lhe havia pedido o Senhor Jesus, e cada um puxando para um lado, o trono obedeceu e ficou exatamente com a dimensão desejada. Os assistentes, vendo este milagre, ficaram estupefatos e deram graças a Deus. Este trono fora feito com uma madeira do tempo de Salomão, filho de Davi, e que era notável por seus nós que representavam várias formas e figuras.

Capítulo 39

Um outro dia, o Senhor Jesus foi até a praça, e vendo as crianças que se haviam reunido para brincar, juntou-se a elas; mas estas, tendo-o visto, esconderam-se, e o Senhor Jesus foi até uma casa e perguntou às mulheres que estavam à porta onde as crianças haviam ido. E como elas responderam que não havia nenhuma delas na casa, o Senhor Jesus disse-lhes: “Que vocês estão vendo sob este arco?” Elas responderam que eram carneiros com três anos de idade, e o Senhor Jesus gritou: “Saí, carneiros, e vinde em direção ao vosso pastor.” E imediatamente as crianças saíram, transformadas em carneiros, e eles saltavam ao seu redor, e estas mulheres tendo visto isto, foram tomadas de pavor. E elas adoraram o Senhor Jesus, dizendo: “ó Jesus, filho de Maria, nosso Senhor, tu és verdadeiramente o bom Pastor de Israel; tem piedade de tuas servas que estão em tua presença e que não duvidam, Senhor, que tu vieste para curar, e não para perder.” Em seguida, o Senhor tendo respondido que as crianças de Israel estavam entre os povos como os Etíopes, as mulheres disseram: “Senhor, conheces as coisas, e nada escapa à tua infinita sabedoria; pedimos e esperamos a tua misericórdia, que devolvas a estas crianças sua antiga forma.” E o Senhor Jesus disse então: “Vinde, crianças, para que possamos brincar.” E imediatamente, na presença das mulheres, os carneiros retomaram a aparência de crianças.

Capítulo 40

No mês de Adar, Jesus reuniu as crianças e colocou-se como o seu rei: elas haviam estendido suas roupas no chão para fazê-lo sentar-se sobre elas, e elas haviam colocado sobre sua cabeça uma coroa de flores, e, como os satélites que acompanham um rei, elas se haviam enfileirado à sua direita e à sua esquerda. Se alguém passava por lá, as crianças faziam parar à força e diziam-lhe: “Vem e adora o rei, para que obtenhas uma feliz viagem.”

Capítulo 41

Nisto, chegaram alguns homens que carregavam uma criança em uma liteira. Este menino havia ido até a montanha com seus colegas para apanhar lenha, e, tendo encontrado um ninho de perdiz, pôs a mão para retirar os ovos, mas uma serpente escondida no ninho mordeu-o, e ele chamou seus companheiros para socorrê-lo. Mas quando chegaram, eles o encontraram estendido no chão e quase morto; então alguns familiares vieram e levaram-no à cidade. Quando chegaram ao local onde o Senhor Jesus estava sentado em seu trono como um rei, com outras crianças à sua volta, como sua corte, estas foram ao encontro dos que carregavam o moribundo e disseram-lhes: “Vinde e saudai o rei.” Como eles não queriam aproximar-se por causa da tristeza que sentiam, as crianças traziam-nas à força. E quando estavam na frente do Senhor Jesus, ele perguntou-lhes por que estavam carregando aquela criança; responderam que uma serpente a havia mordido, e o Senhor Jesus disse às crianças: “Vamos juntos e matemos a serpente.” Os pais da criança que estava prestes a morrer suplicaram para que os deixassem ficar, mas elas responderam: “Não ouvistes o que o rei disse: ‘Vamos e matemos a serpente’, e não deveríeis seguir suas ordens?” E apesar da sua oposição eles retornaram à montanha, carregando a liteira. Quando chegaram perto do ninho, o Senhor Jesus disse às crianças: “Não é aqui que se esconde a serpente?” E eles responderam que sim, e a serpente, chamada pelo Senhor Jesus, saiu e submeteu-se a ele. E o Senhor lhe disse: “Vai e suga todo o veneno que espalhaste nas veias desta criança.” A serpente, arrastando-se, sugou todo o veneno que ela havia inoculado, e o Senhor em seguida amaldiçoou-a e, fulminada, morreu logo em seguida. E o Senhor Jesus tocou a criança com sua mão, e ela foi curada. E como ela se pusesse a chorar, o Senhor Jesus lhe disse: “Não chores, serás meu discípulo.” E esta criança foi Simão de Cananéia, de quem se faz menção no Evangelho.

Capítulo 42

Um outro dia José havia mandado seu filho Tiago para apanhar lenha, e o Senhor Jesus se havia juntado a ele para ajudá-lo; e quando chegaram ao lugar onde ficava a lenha, Tiago começou a apanhá-la e eis que uma víbora o mordeu, e ele se pôs a gritar e a chorar. O Senhor Jesus, vendo-o naquele estado, aproximou-se e soprou o local da mordida, e Tiago foi imediatamente curado.

Capítulo 43

Um dia, o Senhor Jesus estava brincando com outras crianças em cima de um telhado, e uma delas caiu e morreu na hora. As outras fugiram e o Senhor Jesus ficou sozinho em cima do telhado. Então os pais do morto chegaram e disseram ao Senhor Jesus: “Foste tu que empurraste nosso filho do alto do telhado.” E como ele negasse, eles repetiram mais alto: “Nosso filho morreu e eis aqui quem o matou.” E o Senhor Jesus respondeu: “Não me acuseis de um crime do qual não tendes nenhuma prova; mas perguntemos à própria criança o que aconteceu.” E o Senhor Jesus desceu e colocou-se perto da cabeça do morto e lhe disse em voz alta: “Zeinon, Zeinon, quem foi que te empurrou do alto do telhado?” E o morto respondeu: “Senhor, não foste tu a causa da minha queda, mas foi o terror que me fez cair.” E o Senhor tendo recomendado aos presentes que prestassem atenção a estas palavras, todos os que estavam presentes louvaram a Deus por este milagre.

Capítulo 44

Maria havia mandado um dia o Senhor Jesus tirar água do poço. E quando ele havia cumprido a tarefa e colocava sobre a cabeça o cântaro cheio, ele partiu-se. E o Senhor Jesus tendo estendido o seu manto, levou para sua mãe a água recolhida, e ela admirou-se e guardou em seu coração tudo o que havia visto.

Capítulo 45

Um outro dia, o Senhor Jesus brincava na beira do rio com outras crianças, e eles haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer a água, formando assim pequenas poças. O Senhor Jesus havia feito doze passarinhos de barro, e os havia colocado ao redor da água, três de cada lado. Era um dia de Sábado, e O filho de Hanon, o Judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disse-lhes: “Como podeis em um dia de Sábado fazer figuras com a lama?” E ele se pôs a destruir tudo. E quando o Senhor Jesus estendeu as mãos sobre os pássaros que havia moldado, eles saíram voando e cantando. Em seguida, o filho de Hanon, o Judeu, aproximou-se da poça cavada por Jesus para destruí-la mas a água desapareceu, e o Senhor Jesus disse-lhe: “Vê como esta água secou; assim será com a tua vida.” E a criança secou.

Capítulo 46

Um outro dia, o Senhor Jesus voltava à noite para casa com José, quando uma criança passou correndo na sua frente e deu-lhe um golpe tão violento que o Senhor Jesus quase caiu, e ele disse a esta criança: “Assim como tu me empurraste, cai e não te levantes mais.” E no mesmo instante, a criança caiu no chão e morreu.

Capítulo 47

Havia em Jerusalém um homem, chamado Zaqueu, que instruía os jovens. E ele dizia a José: “José, por que não me envias Jesus para que ele aprenda as letras?” José concordou e também Maria. Levaram pois a criança para o professor, e assim que ele o viu, escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. E quando ele o fez, pediu-lhe para dizer Beth. O Senhor Jesus disse-lhe: “Dize-me primeiro o que significa o Aleph, e aí então eu pronunciarei Beth.” E o professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a explicar o significado das letras Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas, e as que tinham desenho duplo, as que tinham pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que o professor jamais ouvira e que não havia lido em livro algum. E o Senhor Jesus disse ao professor: “Presta atenção ao que vou dizer.” E ele pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do alfabeto. O mestre ficou admirado e disse: “Creio que esta criança nasceu antes de Noé”; e virando-se para José, acrescentou: “Tu o conduziste para que eu o instruísse, uma criança que sabe mais que todos os doutores.” E ele disse a Maria: “Teu filho não precisa de nossos ensinamentos.”

Capítulo 48

Conduz iram-no em seguida a um professor mais sábio, e assim que o viu: “Dize Aleph”, pediu-lhe ele. E quando ele disse Aleph, o professor pediu-lhe que pronunciasse Beth. E o Senhor Jesus respondeu-lhe: “Dize-me o que significa a letra Aleph, e então eu pronunciarei Beth.” O mestre irritado levantou a mão para bater nele, mas sua mão secou instantaneamente, e ele morreu. Então José disse a Maria: “Daqui por diante, não devemos mais deixar o menino sair de casa, pois qualquer um que se oponha a ele é fulminado pela morte.”

Capítulo 49

Quando contava doze anos de idade, levaram Jesus a Jerusalém por ocasião da festa, e quando ela terminou, eles voltaram; mas o Senhor Jesus permaneceu no templo, em meio aos doutores e aos velhos e aos sábios dos filhos de Israel, que ele interrogava sobre diferentes pontos da ciência, mas também respondia-lhes as perguntas. Jesus perguntou-lhes: “De quem é filho o Messias?” E eles responderam: “Este é filho de Davi.” Jesus respondeu: “Por que então Davi, movido pelo Espírito Santo, chama-o Senhor, quando diz: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: `Senta-te à minha direita para que eu coloque teus inimigos aos teus pés’?” Então um importante rabino interrogou-o, dizendo: “Leste os livros sagrados?” O Senhor Jesus respondeu: “Eu li os livros e o que eles contêm”, e ele explicava-lhes as Escrituras, a lei, os preceitos, os estatutos, os mistérios que estão contidos nos livros das profecias, e que a inteligência de nenhuma criatura pode compreender. E o principal entre os doutores disse: “Eu jamais vi ou ouvi tamanha instrução; quem credes que seja esta criança?”

Capítulo 50

Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a ciência dos astros. E Jesus respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes, sua natureza e sua oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu movimento de leste para oeste, o cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de nenhum homem escrutou.

Capítulo 51

Havia também entre eles um filósofo muito sábio em medicina e ciências naturais, e quando ele perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a medicina, este expôs-lhe a física, a metafísica, a hiperfisica e a hipofisica, as virtudes do corpo e os humores e os seus efeitos, o número de membros e de ossos, de secreções, de artérias e de nervos, as temperaturas, calor e seco, frio e úmido, e quais as suas influências; quais as atuações da alma no corpo, suas sensações e suas virtudes, a faculdade da palavra, da raiva, do desejo, sua composição e dissolução e outras coisas que a inteligência de nenhuma criatura jamais alcançou. Então o filósofo ergueu-se e adorou o Senhor Jesus, dizendo: “Senhor, daqui em diante serei teu discípulo e teu servo.”

Capítulo 52

E enquanto assim falavam, Maria apareceu junto com José, e fazia três dias que procuravam por Jesus; vendo-o sentado entre os doutores, interrogando-os e respondendo-lhe alternada-mente, ela lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Teu pai e eu te procuramos, e tua ausência causou-nos muita aflição.” Ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que convinha que eu permanecesse na casa de meu Pai?” Mas eles não entendiam as palavras que ele lhes dirigia. Então os doutores perguntaram a Maria se ele era seu filho, e ela tendo respondido que sim, eles exclamaram: “O feliz Maria, que deste à luz tal criança.” Ele voltou com os pais para Nazaré, e ele lhes era submisso em tudo. E sua mãe conservava todas as suas palavras em seu coração. E o Senhor Jesus crescia em tamanho, em sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens.

Capítulo 53

Ele começou desde esse dia a esconder os seus segredos e seus mistérios, até que completou trinta anos, quando seu Pai, revelando publicamente sua missão às margens do Jordão, fez soar, do alto do céu, estas palavras: “E meu filho Amado no qual coloquei toda minha complacência”, e foi quando o Espírito Santo apareceu sob a forma de uma pomba branca.

Capítulo 54

E a ele que humildemente adoramos, pois ele nos deu a existência e a vida, e ele nos fez sair das entranhas de nossas mães; ele tomou, por nós, o corpo de homem, e ele nos redimiu, cobrindo-nos com sua misericórdia eterna e concedendo-nos a graça do seu amor e de sua bondade. A ele portanto, glória, poder, louvores e domínio por todos os séculos. Que assim seja. Fim

Portal a&e Voltar ao tema: Evangelhos Apócrifos Biblia on line |

Anjos & Angeologia | Anjo do dia | Simpatias, magias & feitiços rápidos |

Simpatias angelicaisSimpatias Amor | Amarrações | Encantamentos | Simpatias ciganas | Wicca | Simpatias & magias egípcias | Banhos mágicos | Amuletos & Talismãs |

Partilhe, recomende e vote neste artigo
1 2 3 4 10