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LIVROS & LETRAS

 

Fábulas de todos os tempos

 

Fábulas de Fedro (Século I d.c.)

 

 

 Prefação das fábulas


 
Eu poli a matéria em versos jambos,
Qual  primeiro inventou autor Esopo;
Dois dotes tem o livro: move a riso,
E com sábio conselho ensina os homens.
Se alguém quiser tachar-nos, porque falam
Não só feras, mas árvores, repare,
Que com fingidas fábulas brincamos.

A Rã e o Boi

 

Estavam  duas Rãs à beira de um charco quando a mais nova comentou:

- Comadre, hoje vi um monstro terrível: era maior do que uma montanha, tinha chifres e uma longa cauda.

- O que viste foi apenas o Boi do lavrador - esclareceu a Rã mais velha. - E, além disso, não é assim tão grande... Eu posso ficar do tamanho dele. Ora observa.

Dito isto, começou a inchar e a esticar-se muito, muito...

- O Boi era tão grande como eu? - perguntou ela quando já estava tão grande como um Burro.

- Ó, muito maior! - respondeu a jovem Rã.

Então a Rã mais velha respirou fundo e inchou, inchou... até que rebentou.

 

Moral da história:  

Mantém-te sempre no lugar que te corresponde.

 

A raposa e o cacho de uva (IV, 3)

 

Forçada pela fome, uma raposa tentava
apanhar um cacho de uva numa alta videira,
saltando com todas as forças;
Como não conseguisse alcançá-lo, disse, afastando-se:
"Ainda não estão maduras; não quero apanhá-las verdes".
Aqueles que desdenham com palavras o que não conseguem realizar
deverão aplicar para si este exemplo.

 

O CÃO E O SEU REFLEXO NO RIO

 

Era uma vez um cão que encontrou um osso. Abocanhou-o e correu para casa para o saborear com calma. Pelo caminho, teve que passar por cima de uma tábua que unia as duas margens de um riacho.

Nisto, olhou para baixo e viu o seu reflexo na água. Pensando que era outro cão com um osso, resolveu roubar-lho. Para o assustar, abriu a boca e arreganhou-lhe os dentes. Ao fazê-lo, o osso caiu na água e foi arrastado pela corrente.

 

Moral da história:

 

Contenta-te com o que tens e não cobices o que pertence aos outros.

O CAVALO E O JAVALI

 

Todos os dias o cavalo selvagem saciava sua sede em um rio raso. Ali também acudia um javali que, ao remover o barro do fundo com as patas e o focinho, deixava a água turva.

O cavalo lhe pediu que tivesse mais cuidado, mas o javali se ofendeu e o chamou de louco. Acabaram se encarando com ódio como os piores inimigos.

Então o cavalo selvagem, cheio de ódio foi pedir ajuda ao homem.

- Eu enfrentarei esta besta disse o homem mas deves permitir que eu monte em ti.

O cavalo aceitou e saíram em busca do inimigo.

Encontraram-no próximo do bosque e antes que pudesse se esconder, o homem acertou a sua lança e o matou.

Livre do javali o cavalo entrou no rio para beber em suas águas claras, certo de que não voltaria a ser molestado.

Mas o homem não pensava desmontar.

- Fico feliz de haver te ajudado lhe disse, não só matei esta besta que me alimentará e seu couro me vestirá, senão também capturei um esplêndido cavalo. 

E, mesmo resistindo, o obrigou a fazer a sua vontade e lhe pôs rédeas e cabresto.

Ele que sempre havia sido livre como o vento, pela primeira vez em sua vida teve que obedecer à um dono. Ainda que a sua sorte estava lançada, desde então se lamentou noite e dia: 

- Burro de mim! Os incômodos que me causava o javali não eram nada comparados com isto! Por dar valor demais a um assunto sem importância, terminei sendo escravo!


"Às vezes com o afã DE castigar o mal que nos fazem,

nos aliamos com quem tem intenções de nos dominar."

 

 

O GALO E A PÉROLA

 

Um  Galo comilão andava pela quinta à procura de comer. De repente, viu uma coisa a brilhar no chão.

- Olá! Isto é para mim – pensou ele enquanto desenterrava o que encontrara.

Mas o que era aquilo? Nada mais, nada menos, do que uma pérola que alguém perdera. Desdenhoso, o Galo murmurou:

- Podes ser um tesouro para as pessoas que te apreciam. Mas, no que me diz respeito, trocava de bom grado uma espiga de milho por um punhado de pérolas iguais a ti.

 

Moral da história:

Nem todos apreciam do mesmo modo as coisas valiosas.

 

 O HOMEM QUE FOI MORDIDO POR UM CÃO

 

Certo dia, um homem foi mordido por um cão. Muito aflito, correu à procura de alguém que o tratasse.

Encontrou um amigo que lhe deu o seguinte conselho:

- Molha um pouco de pão no sangue da tua ferida e dá-o ao cão que te mordeu. É remédio santo. Verás que te curas num instante.

O homem que tinha sido mordido riu-se deste tratamento e respondeu:

- Se fizesse o que me dizes, estaria a convidar todos os cães da aldeia a morderem-me!

 

Moral da história:

Não recompenses quem procedeu mal, pois, assim, incitas a que faça ainda pior.

 

 O Lobo e o Cordeiro

 

Ao mesmo rio vieram, compelidos pela sede, o lobo e o cordeiro.

O lobo estava mais acima e o cordeiro bem mais abaixo. Então o predador , incitado por sua goela maldosa, encontrou motivo de rixa: “Estou a beber e tu poluis a água!”.

O lanoso, tímido, responde:

“Como posso fazer isso de que te queixas, ó lobo? De ti para meus goles é que o liquido corre”.

Repelido pela força da verdade, ele replicou:

“Cerca de seis meses atrás, falaste mal de mim”.

O cordeiro retruca: “Eu? Então eu sequer era nascido…”.

- Por Hércules!, teu pai é que me destratou!

Em seguida, dilacera a presa, dando-lhe morte injusta.

Escrevi esta fábula por causa daqueles indivíduos que oprimem os inocentes por razões fictícias.

OS CÃES ESFOMEADOS

 

Andavam uns cães esfaimados pelo campo quando, ao passarem por um rio, viram umas peles de animais à tona da água.

Como as não podiam alcançar, combinaram beber toda a água do rio. Pensavam que, assim, poderiam chegar-lhes. Beberam, beberam... e acabaram por rebentar!

 

Moral da história:

Não tentes fazer o que é impossível.