LIVROS & LETRAS
Fábulas
de todos os tempos
Fábulas
de Esopo (Século VI a.c.)
O Leão e o Rato
Um leão foi acordado por um rato que passou correndo sobre seu rosto.
Com um salto ágil ele o capturou e estava pronto para matá-lo, quando o rato
suplicou:
- Se o senhor poupasse minha vida, tenho certeza que poderia um dia
retribuir sua bondade.
O leão deu uma gargalhada de desprezo e o soltou.
Aconteceu que pouco depois disso o leão foi capturado por caçadores, que
o amarraram com fortes cordas no chão.
O rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou, roeu as cordas, e
libertou-o dizendo:
- O senhor achou ridículo a ideia de que eu jamais seria capaz de
ajudá-lo, nunca esperava receber de mim qualquer compensação pelo seu favor; mas
agora sabe que é possível mesmo a um rato conceber um favor a um poderoso leão.
Moral:
Pequenos amigos podem se revelar grandes aliados.
O Feixe de
Varas
Era uma vez um pai cujos filhos viviam brigando entre si. Tentou
ensiná-los a evitar aquelas discussões, mas em vão.
Um dia chamou-os todos e mostrou-lhes um feixe de varas. Disse-lhes:
- Dou um prêmio a quem conseguir quebrar este feixe de varas. Cada um
dos filhos experimentou, curvando o feixe nos joelhos, no pescoço, sem
conseguir quebrá-lo.
Por fim, o pai desamarrou o feixe e partiu as varas, uma a uma. E lhes
falou:
- Se vocês se mantiverem unidos, ninguém ousará lutar contra vocês. Se
se separarem, estão perdidos.
Moral:
A união faz a força.
O Filhote de Cervo e sua
Mãe
Certa vez um jovem cervo conversava com sua mãe:
- Mãe você é maior que um lobo, e também mais veloz, e possui chifres
poderosos para se defender, por que então você os teme tanto?
A mãe amargamente sorriu e disse:
- Tudo que você falou é verdade meu filho, mesmo assim quando eu escuto
um simples latido de lobo, me sinto fraca e só penso em correr o mais que
puder.
Moral:
Argumento algum é capaz de tornar bravo um covarde.
O Galgo Velho e seu Amo
A um Galgo velho, que havia sido muito bom, se lhe foi uma lebre dentre
os dentes, porque quase já os não tinha.
O amo por isso o açoitou cruelmente, e lançou de si, como cousa que nada valia.
Disse o Galgo:
- Deves, senhor, lembrar-te como te servi bem enquanto era moço, quantas
lebres tomei, e quanto me estimavas: agora que sou velho, e estou posto no
osso, por uma que me fugiu, me açoutas, e lanças fora, devendo perdoar-me e
pagar-me bem o muito que te tenho servido.
O Galo de Briga e a águia
Dois galos estavam, disputando em feroz luta pelo direito de comandar a
chácara. Por fim um pôs o outro para correr.
O galo derrotado afastou-se e foi se recolher num lugar sossegado.
O vencedor, voando até o alto de um muro, bateu as asas e exultante
cantou com toda sua força.
Uma águia que pairava ali perto lançou-se sobre ele, e com um bote
certeiro levou-o preso em suas poderosas garras.
O galo derrotado saiu do seu canto, e daí em diante reinou absoluto
livre de disputa.
Moral:
O orgulho leva antes à destruição.
O Galo e a Pedra Preciosa
Um galo que procurava no
terreiro alimento para ele e suas galinhas encontrou uma pedra preciosa de
grande beleza e valor, ao que exclamou:
- Se seu dono tivesse te
encontrado ao invés de mim, ele com certeza iria dançar e pular de alegria e
também decerto iria te louvar; no entanto eu te achei e de nada me serves.
Teria preferido achar um simples grão de milho que todas as jóias do mundo!
O Galo e a Raposa –I
Fugindo as Galinhas com seu Galo de uma Raposa, subiram-se em um
pinheiro, e como a Raposa ali não pudesse fazer-lhes mal, quis usar de cautela,
e disse ao Galo:
- Bem podeis descer-vos seguramente, que agora acabou-se de assentar paz
universal entre todas as aves e animais; portanto vinde, festejaremos este dia.
Entendeu o Galo a mentira; mas com dissimulação respondeu:
- Estas novas por certo são boas e alegres, mas vejo acolá assomar três
Cães; deixemo-los chegar, todos juntos festejaremos.
Porém a Raposa, sem mais esperar, acolheu-se dizendo:
- Temo que o não saibam ainda, e me matem. Assim se foi e ficaram as
Galinhas seguras.
O Galo e a Raposa –II
Era uma vez uma raposa muito esperta.
Um dia, passeando, viu uma capoeira cheia de galinhas. Entrou lá dentro e comeu
uma.
Póh, poh poh poh, phóo...
No dia seguinte a raposa construiu junto à capoeira uma casa. E dentro da casa
escavou um túnel que ia dar à capoeira. E todas as noites comia uma galinha.
Póh, poh poh poh, phóoo...
Um belo dia o dono das galinhas trouxe um galo, grande e bonito, e meteu-o
também na capoeira. Mas como o galo não gostava dos poleiros, voou para cima de
uma árvore, e assim escapou à raposa, que por mais que tentasse não conseguia
apanhá-lo.
Có, có-có-ri-có, có...
Desesperada, a raposa começou a pensar como é que podia apanhar o galo, que era
bastante maior que as galinhas e mais tenrinho e saboroso. Inventou então uma
história, que lhe teria sido contada pelo dono da quinta, e que era assim:
"A partir de agora todos os animais tinham que ser amigos entre si, e
nenhum podia comer o outro."
Póh, poh poh poh, phóoo...
E a raposa começou a cantar:
- Hoje é um dia muito feliz! Hoje é um dia muito feliz! Hoje é um dia muito
feliz!
O galo pensou que a raposa estava maluca, e perguntou-lhe:
- Porque estás tão alegre?
E a raposa:
- Porque a partir de hoje todos os animais têm que ser amigos uns dos outros.
Desce, meu amigo galo, que eu quero dar-te um abraço e um beijinho.
O galo, desconfiando do que ela lhe dizia e para a pôr à prova, gritou-lhe:
- Ainda bem que assim é, pois vem aí a matilha dos ferozes cães da quinta!
A raposa, cheia de medo e já correndo, disse-lhe:
- Adeus, já me estava mesmo a ir embora.
E metendo o rabo entre as pernas fugiu a bom fugir, nunca mais sendo vista por
aquelas paragens.
E o galo pensou:
"Tão esperta, tão esperta, mas não me enganou!"
E a paz voltou a reinar naquela capoeira.
Póh, poh poh poh, phóoo...
Có, có-có-ri-có, có....
O Gato e o
Galo
Um gato capturou um galo, e ficou imaginando como achar uma desculpa
qualquer para que o fato de que este ia comê-lo, fosse justificado.
Acusou ele então de causar aborrecimentos aos homens já que cantava à
noite e não os deixava dormir.
O galo se defendeu dizendo, que fazia isso em benefício dos homens, e
assim eles podiam acordar cedo e irem para o trabalho.
O gato respondeu:
- Apesar de você ter uma boa desculpa, eu não posso ficar sem jantar.
E assim comeu o galo.
O Gato e o
Papagaio
Um homem comprou um lindo papagaio de penas coloridas.
E, em vez de o fechar numa gaiola ou prendê-lo a um poleiro com uma
corrente no pé, deixou-o voar em liberdade pela casa. O papagaio ficou todo
contente com isso, e voava de sala para sala, palrando de alegria. Depois
empoleirava-se no cordão de um luxuoso reposteiro.
- Mas quem és tu? - perguntou uma voz furiosa lá de baixo - acaba com
esse barulho horrível imediatamente.
O papagaio viu um gato a olhar para ele, lá em baixo, no tapete.
- Eu sou um papagaio. Cheguei há pouco e faço todo o barulho que posso -
disse ele.
- Pois eu tenho vivido aqui toda a minha vida - respondeu o gato - já
nasci nesta casa, e a minha mãe ensinou-me que para aqui ficar o melhor é estar
calado.
- Então cala-te - disse o papagaio alegremente - não sei o que fazes
nesta casa, mas sei o que devo fazer. O meu dono comprou-me por causa da minha
voz e eu quero ter a certeza de que ele me ouve.
Moral:
Pessoas diferentes devem ser avaliadas por coisas
diferentes
O Gato e os Camundongos
Um gato que, enfraquecido pela idade e, por isto, já sem condições de
caçar camundongos, pensou num modo de atraí-los ao alcance de suas patas. Para
tanto, pendurou-se pelas pernas traseiras em uma pequena estaca, achando que os
camundongos o tomariam por uma sacola ou, no mínimo, por um gato morto, dele
arriscando aproximar-se. O primeiro camundongo que apareceu para dar uma olhada
foi suficientemente prudente para se manter à distância.
- Vi muitas sacolas na minha vida - sussurrou ele a um amigo - mas
nenhuma com cabeça de gato!
O outro camundongo, por sua parte, disse ao gato:
- Fique pendurado aí o tempo que quiser, mas eu é que não vou chegar
perto. Você não é esperto o bastante para nós.
Moral:
Os homens prudentes não se deixam enganar por
velhos truques.
O Homem e a Cobra
Na força do chuvoso, e frio
Inverno andava uma Cobra fraca, e encolhida, e um homem de piedade a recolheu,
agasalhou e alimentou enquanto houve frio. Chegado o Verão, começou a Cobra a
estender-se, e desenroscar-se, pelo que ele a quis lançar fora; mas eia
levantou o pescoço para O morder. O que vendo o homem, tomou um pau,
assanhou-se a Cobra, e começaram ambos a pelejar. De que resultou ficar ela
morta, e ele bem mordido.
O Homem e
a Doninha
Um homem que caçava Ratos,
prendeu na armadilha uma Doninha. Ela vendo-se em seu poder, lhe disse que a
soltasse, e alegou razões, dizendo: que ela nenhum mal fazia, antes lhe limpava
a casa de ratos e bichos, e sempre, por lhe fazer bem, os andava matando.
Respondeu o homem:
- Se tu por fazer bem o
fizeras, devia-te eu agradecimento, mas como o fazes pelo comer, não te devo
nada, antes te quero matar, que se eles te faltarem, comer-me-ás o meu, pior do
que o fazem os mesmos ratos.
O Homem e o Leão
Andando o Leão à caça, meteu
um estrepe no pé, com que não podia bulir-se. Encontrou um homem e mostrou-lhe
para que lho tirasse. Fê-lo assim o homem, e o Leão em paga partiu da caça com
ele. Dali a muito tempo foi tomado este Leão para certas festas e nelas se lançavam
homens para que os matassem. Entre eles lhe lançaram este que o curou, que
estava preso por algumas culpas. Porém o Leão não só o não matou, antes se pôs
em sua guarda, e o acompanhou toda a vida, caçando para ele.
O Homem Pobre e a Cobra
Um homem pobre costumava
afagar e dar de comer a uma Cobra, que em sua casa trazia; e enquanto assim o
fez, tudo lhe ia por diante. Depois, por certa agastadura, fez-lhe uma grande
ferida. E vendo que tomava a empobrecer, com muitas palavras e humildade lhe pediu
perdão.
Respondeu a Cobra:
- Eu de boa mente te perdoo,
mas não te há de isto prestar para deixares de ser pobre; que esta ferida
sempre me há de doer, e sempre há de estar pedindo vingança de ti.
O Ladrão e o Cão de guarda
Um ladrão veio à noite para
assaltar uma casa. Ele trouxe consigo vários pedaços de carne, para que pudesse
acalmar o cão de guarda, de modo que este não chamasse a atenção do seu dono
com latidos.
Assim que o ladrão jogou-lhe
os pedaços de carne, o cachorro disse:
- Se você estava pensando em
parar minha boca, cometeu um grande erro. Esta repentina gentileza vinda de
suas mãos, apenas me deixaram mais atento. Por trás desses inesperados favores
a mim, você deve ter algum interesse oculto em seu próprio benefício, e para
prejudicar meu dono.
O Leão, a
Vaca, a Cabra e a Ovelha
Um leão, uma vaca, uma cabra
e uma ovelha combinaram caçar juntos e repartir o que conseguissem. Correndo
pelo campo, encontraram um veado, que cercaram, derrubaram e conseguiram matar.
Logo repartiram a carne em quatro partes. Então o leão se apossou da primeira
parte, dizendo:
- Esta é minha, como
combinamos.
Apossou-se então da segunda:
- Esta é minha porque eu sou
o mais valente.
Tomou então a terceira
parte:
- Esta é minha também porque
sou o rei dos animais.
E tomando a quarta concluiu:
- E esta é minha, porque se
alguém mexer vai se ver comigo.
Os parceiros viram logo que
não era bom negócio fazer sociedade com alguém muito mais forte.
O Leão
apaixonado
Um leão pediu a filha de um lenhador em casamento. O pai, contrariado,
mas receoso, aproveitou a ocasião para livrar-se desse problema.
Ele disse que consentia em tê-lo como noivo, mas com uma condição; este
deveria deixar-lhe arrancar suas unhas e dentes, pois sua filha temia a ambos.
Contente o leão concordou. Depois disso, ao repetir seu pedido, o
lenhador que não mais o temia, pegou um cajado, e enxotou-o da casa para a
floresta.
O Leão doente
Um velho leão estava doente no seu covil. Foram todos os animais
visitá-lo, mas nenhum podia fazer nada por ele, e o leão sentia-se cada vez
mais fraco.
- Já reparou, senhor Leão - disse o lobo um dia - que a raposa ainda não
o veio visitar? Vê-se logo que não quer saber de si para nada, mas quando o
senhor está de boa saúde não se cansa de lhe fazer tagatés.
Aconteceu que a raposa ia a passar nessa altura e, ouvindo o que disse o
lobo, espreitou com o focinho comprido para dentro do covil.
- Senhor, parece-me que o lobo não percebe nada do que se passa. Eu
preocupo-me mais consigo do que todos os outros animais. Enquanto ele estava
aqui de conversa, eu com tudo à procura de um remédio para si. Estou exausta.
- E encontraste alguma coisa? - perguntou o leão com mau modo.
- Claro que encontrei. Falei com um velho médico que sabe muito bem o
que diz. E diz que o senhor se deve abafar com a pele de um lobo acabado de
matar. É a única coisa que o vai pôr bom.
E antes que o lobo tivesse tempo de raciocinar, o leão levantou-se e
matou-o para lhe tirar a pele.
- Ah! Ah! - riu a raposa - não é tão cedo que vai arranjar mais
sarilhos, senhor Lobo.
Moral:
Os intriguistas são vítimas da própria intriga.
O Leão e o
Homem
O Homem com o Leão
altercavam sobre qual era mais valente. O Homem, para provar sua tenção, o
levou a um sepulcro, onde estava de pedra um homem afogando um Leão, que tinha
debaixo de si. O Leão se riu de ver isto, dizendo:
- Se não fora homem o que
isto aqui pôs, pudera ter algum crédito, mas sendo homem é suspeito. Portanto,
deixemos pinturas e provemos isto pelo braço. E logo isto dito estendeu o Homem
no chão, e o matou com muita facilidade.
O Parto da
Terra
Em certo tempo, começou a
Terra a dar urros, e inchar, dizendo que queria parir. Andava a gente mui
pasmada, e cheia de temor, e receosa que nascesse algum monstro proporcionado
com a mãe, que pudesse destruir o mundo todo. Chegado o tempo do parto, estando
todos juntos suspensos, pariu a Terra um Murganho, e ficou sendo riso o que
antes era medo.
O Homem e a Cobra
Na força do chuvoso, e frio
Inverno andava uma Cobra fraca, e encolhida, e um homem de piedade a recolheu,
agasalhou e alimentou enquanto houve frio. Chegado o Verão, começou a Cobra a
estender-se, e desenroscar-se, pelo que ele a quis lançar fora; mas eia
levantou o pescoço para O morder. O que vendo o homem, tomou um pau,
assanhou-se a Cobra, e começaram ambos a pelejar. De que resultou ficar ela
morta, e ele bem mordido.
O Homem e a Doninha
Um homem que caçava Ratos,
prendeu na armadilha uma Doninha. Ela vendo-se em seu poder, lhe disse que a
soltasse, e alegou razões, dizendo: que ela nenhum mal fazia, antes lhe limpava
a casa de ratos e bichos, e sempre, por lhe fazer bem, os andava matando.
Respondeu o homem:
- Se tu por fazer bem o
fizeras, devia-te eu agradecimento, mas como o fazes pelo comer, não te devo
nada, antes te quero matar, que se eles te faltarem, comer-me-ás o meu, pior do
que o fazem os mesmos ratos.
O Homem e o Leão
Andando o Leão à caça, meteu
um estrepe no pé, com que não podia bulir-se. Encontrou um homem e mostrou-lhe
para que lho tirasse. Fê-lo assim o homem, e o Leão em paga partiu da caça com
ele. Dali a muito tempo foi tomado este Leão para certas festas e nelas se
lançavam homens para que os matassem. Entre eles lhe lançaram este que o curou,
que estava preso por algumas culpas. Porém o Leão não só o não matou, antes se
pôs em sua guarda, e o acompanhou toda a vida, caçando para ele.
O Homem Pobre e a Cobra
Um homem pobre costumava
afagar e dar de comer a uma Cobra, que em sua casa trazia; e enquanto assim o
fez, tudo lhe ia por diante. Depois, por certa agastadura, fez-lhe uma grande
ferida. E vendo que tomava a empobrecer, com muitas palavras e humildade lhe
pediu perdão.
Respondeu a Cobra:
- Eu de boa mente te perdoo,
mas não te há de isto prestar para deixares de ser pobre; que esta ferida
sempre me há de doer, e sempre há de estar pedindo vingança de ti.
O Ladrão e o Cão de guarda
Um ladrão veio à noite para
assaltar uma casa. Ele trouxe consigo vários pedaços de carne, para que pudesse
acalmar o cão de guarda, de modo que este não chamasse a atenção do seu dono
com latidos.
Assim que o ladrão jogou-lhe
os pedaços de carne, o cachorro disse:
- Se você estava pensando em
parar minha boca, cometeu um grande erro. Esta repentina gentileza vinda de
suas mãos, apenas me deixaram mais atento. Por trás desses inesperados favores
a mim, você deve ter algum interesse oculto em seu próprio benefício, e para
prejudicar meu dono.
O Leão apaixonado
Um leão pediu a filha de um lenhador em casamento. O pai, contrariado,
mas receoso, aproveitou a ocasião para livrar-se desse problema.
Ele disse que consentia em tê-lo como noivo, mas com uma condição; este
deveria deixar-lhe arrancar suas unhas e dentes, pois sua filha temia a ambos.
Contente o leão concordou. Depois disso, ao repetir seu pedido, o
lenhador que não mais o temia, pegou um cajado, e enxotou-o da casa para a
floresta.
O Leão
doente
Um velho leão estava doente no seu covil. Foram todos os animais
visitá-lo, mas nenhum podia fazer nada por ele, e o leão sentia-se cada vez
mais fraco.
- Já reparou, senhor Leão - disse o lobo um dia - que a raposa ainda não
o veio visitar? Vê-se logo que não quer saber de si para nada, mas quando o
senhor está de boa saúde não se cansa de lhe fazer tagatés.
Aconteceu que a raposa ia a passar nessa altura e, ouvindo o que disse o
lobo, espreitou com o focinho comprido para dentro do covil.
- Senhor, parece-me que o lobo não percebe nada do que se passa. Eu
preocupo-me mais consigo do que todos os outros animais. Enquanto ele estava
aqui de conversa, eu com tudo à procura de um remédio para si. Estou exausta.
- E encontraste alguma coisa? - perguntou o leão com mau modo.
- Claro que encontrei. Falei com um velho médico que sabe muito bem o
que diz. E diz que o senhor se deve abafar com a pele de um lobo acabado de
matar. É a única coisa que o vai pôr bom.
E antes que o lobo tivesse tempo de raciocinar, o leão levantou-se e matou-o
para lhe tirar a pele.
- Ah! Ah! - riu a raposa - não é tão cedo que vai arranjar mais
sarilhos, senhor Lobo.
Moral:
Os intriguistas são vítimas da própria intriga.
O Leão e o Homem
O Homem com o Leão
altercavam sobre qual era mais valente. O Homem, para provar sua tenção, o
levou a um sepulcro, onde estava de pedra um homem afogando um Leão, que tinha
debaixo de si. O Leão se riu de ver isto, dizendo:
- Se não fora homem o que
isto aqui pôs, pudera ter algum crédito, mas sendo homem é suspeito. Portanto,
deixemos pinturas e provemos isto pelo braço. E logo isto dito estendeu o Homem
no chão, e o matou com muita facilidade.
O Leão e o Rato
Um leão foi acordado por um rato que passou correndo sobre seu rosto.
Com um salto ágil ele o capturou e estava pronto para matá-lo, quando o rato
suplicou:
- Se o senhor poupasse minha vida, tenho certeza que poderia um dia
retribuir sua bondade.
O leão deu uma gargalhada de desprezo e o soltou.
Aconteceu que pouco depois disso o leão foi capturado por caçadores, que
o amarraram com fortes cordas no chão.
O rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou, roeu as cordas, e
libertou-o dizendo:
- O senhor achou ridículo a ideia de que eu jamais seria capaz de
ajudá-lo, nunca esperava receber de mim qualquer compensação pelo seu favor;
mas agora sabe que é possível mesmo a um rato conceber um favor a um poderoso
leão.
Moral:
Pequenos amigos podem se revelar grandes aliados.
O Leão e
os Outros Animais –I
Estava um Leão doente e
fraco de velho, e vindo um Porco-Montês, que lhe lembrou ser maltratado dele
noutro tempo, deu-lhe uma forte trombada, e passou. Veio um Touro e escornou-o,
e outros muitos animais por se vingarem o maltrataram. Por derradeira veio um
asno e deu-lhe dous couces, com que lhe derrubou as queixadas. Chorava o Leão,
dizendo:
- Tempo sei eu que todos
estes só de meu bramido tremiam e nenhum havia tão forte, que não fugisse de se
encontrar comigo, agora que me vêem fraco, todos querem vingar-se, e não há
quem não se me atreva.
O leão e os Outros Animais –II
Eleito o Leão rei de todos
os animais, prometeu de a nenhum fazer mal. E logo chamando-os a cortes, os pôs
por ordem, e corria-os, dando-lhes a cheirar o seu bafo. Os que diziam que lhes
cheirava mal, os matava. Os que diziam que bem, feria-os. Andando assim, chegou
à Mona, e perguntou-lhe, como a todos, se lhe fedia o bafo. A Mona o cheirou, e
dizendo que não fedia, se foi. Porém o Leão, para a matar, se fingiu doente, e
disse que sararia se a comesse. E por esta manha tomou ocasião de a matar.
O Leão e os Três Touros
Três touros pastavam juntos e tranquilos desde longa data.
Um leão, escondido no mato, os espreitava na esperança de fazer deles
seu jantar, mas estava receoso de atacá-los enquanto estivessem juntos.
Finalmente, quando por meio de ardilosos e traiçoeiros discursos ele
conseguiu separá-los, e tão logo eles pastavam sozinhos, atacou-os sem medo, e,
devorou-os um após o outro à sua própria vontade.
Moral:
União é força.
O Leão, o
Urso e a Raposa
Um leão e um urso capturaram um cervo, e disputavam sua posse em feroz
luta.
Após terem lutado, e já muito feridos, e fracos devido aos ferimentos, eles
caíram no chão completamente exaustos.
Uma raposa, que estava nas redondezas e a tudo observava a uma distância
segura, vendo ambos estirados no chão, e o cervo abandonado entre eles, correu
entre os dois, e agarrando o cervo desapareceu no meio do mato.
O leão e o urso vendo aquilo, mas incapazes de impedir, disseram:
- Ai de nós, que nos ferimos um ao outro apenas para garantir o jantar
da raposa!
Moral:
Algumas vezes acontece de alguém ter todo trabalho pesado, e outro todo o
lucro.
O Lobo, a Raposa e o Macaco
O lobo e a raposa eram velhos inimigos. Estavam sempre a fazer partidas
um ao outro. Certo dia o lobo acusou a raposa de lhe ter roubado uma peça de
carne.
- É mentira - gritou a raposa - não lhe roubei carne nenhuma.
- Eu vi - afirmou o lobo - ela fugiu com o meu almoço.
A raposa apelou para os outros animais.
- Quem acredita num patife tão falso como este? - perguntou ela, furiosa
- todos sabem que ele é mais desonesto do que uma víbora de duas cabeças.
- Ah! - rosnou o lobo - se vamos falar em honestidade, lembra-se das
galinhas que convidou para cear? E daquela do coelhinho a quem ensinou o
caminho de casa? Devem vir aqui testemunhar em seu favor?
- Certamente - respondeu a raposa com dignidade - eu vou chamá-los se o
senhor também chamar umas quantas ovelhas atrás de quem eu o vejo muita vez.
E a discussão continuava, até que por fim pediram a um macaco que fosse
o juiz. O macaco era um animal muito sábio e ouviu em silêncio os longos
discursos que eles faziam em sua própria defesa. Por fim, o macaco disse:
- Na minha opinião, senhor Lobo, o senhor nunca ficou sem a peça de
carne. E quanto a si, dona Raposa, tenho a certeza de que fugiu com ela. E como
está mais que visto que ambos só dizem mentiras, fora daqui, antes que mande os
dois para a prisão.
Moral:
Ninguém acredita em mentirosos.
O Lobo e a Garça
Um lobo, tendo se engasgado com um pedaço de osso, contratou uma garça,
por uma grande soma em dinheiro, para ela colocar a cabeça dentro da sua
garganta e de lá retirar o osso.
Quando a garça retirou o osso, e pediu o pagamento que tinham combinado,
o lobo, rangendo os dentes, exclamou:
- Ora, ora! Você já foi recompensada, ao ser permitido que sua cabeça
saísse a salvo de dentro da boca e mandíbulas de um lobo.
Moral:
Ao servir a alguém de má índole, não espere recompensas, e agradeça se depois
disso ele não o prejudicar.
O Lobo e a
Ovelha
Um lobo, muito ferido por mordidas de cachorros, repousava doente e
muito machucado em sua toca.
Como estava com fome, ele chamou uma ovelha, que ia passando por perto,
e pediu-lhe para trazer um pouco da água de um regato que corria ao lado dela.
- Assim - falou o lobo - se você me trouxer água, eu ficarei em
condições de conseguir meu próprio alimento.
- Claro - respondeu a ovelha - se eu levar água para você, você sem
dúvida fará de mim uma provisão de comida também.
Moral:
Palavras hipócritas são fáceis de reconhecer.
O Lobo e a Raposa
O Lobo se aparelhou e proveu sua cova muito bem de mantimento. A Raposa
chegou e disse, que obrigada de amor andava atrás dele, por vê-lo e servi-lo.
- Não quero o teu serviço - disse o Lobo - que tua intenção não é senão
roubar-me e comeres-me o que eu tenho.
Vendo-se a Raposa alcançada, buscou quem matasse o Lobo, e meteu-se de
posse da sua cova, e de quanto estava nela, mas sobrevindo uns caçadores, foi
achada dos cães e feita em pedaços.
O Lobo e
as Ovelhas
Havia guerra travada entre
Lobos e Ovelhas; e elas, ainda que fracas, ajudadas dos rafeiros, sempre
levavam o melhor. Pediram os Lobos paz, com condição que dariam de penhor seus
filhos, e as Ovelhas que também lhe entregassem os rafeiros. Assentadas as
pazes com estas condições, os filhos dos Lobos uivavam rijamente. Acodem os
pais, e tomam isto por achaque de ser a paz quebrada; e tornam a renovar a
guerra. Bem quiseram defender-se as Ovelhas, mas como sua principal força
consistia nos rafeiros, que entregaram aos Lobos, facilmente foram deles
vencidas, e todas degoladas.
O Lobo e o
Asno Doente
Estava o Asno mal-disposto, e foi o Lobo visitá-lo, fazendo-se muito
amigo. Tomou-lhe o pulso, correu-lhe a mão pelo rosto e disse que queria
curá-lo. Estava o Asno quedo, bem desejoso de se ver a cem léguas do Lobo, o
qual lhe apalpava os membros todos. Perguntou onde lhe doía, e apertava-o e arrepelava-o
tanto, que disse o Asno:
- Onde quer que me pões a mão, logo aí me dói; mas rogo-te que te vás e
não me cures, que ido tu, sararei logo.
O Lobo e o Cabrito
Uma Cabra, indo pastar ao
campo, deixou o filho em casa e mandou-lhe que não abrisse ao Urso, nem lobo,
que ali viesse, porque morreria. Ida ela veio um Lobo, e fingindo a voz de
Cabra, começou a afagar o cabrito, dizendo - que lhe abrisse, que era sua mãe.
Ouvindo isto o Cabrito, chegou a porta e por uma fenda olhou, e viu o Lobo, e
sem outra resposta virou as costas e recolheu-se em casa. O Lobo foi-se, e ele
ficou salvo.
O Lobo e o
Cão
Encontrando-se um Lobo e um Cão em um caminho, disse o Lobo: Inveja
tenho companheiro, de te ver tão gordo, com o pescoço grosso e cabelo luzidio;
eu sempre ando magro e arrepiado. Respondeu o Cão:
- Se tu fizeres o que eu faço, também engordarás. Estou em uma casa,
onde me querem muito, dão-me de comer, tratam-me bem; e eu tenho cuidado só de
ladrar quando sinto ladrões de noite. Por isso, se queres, vem comigo, terás
outro tanto? Aceitou o Lobo, e começaram a ir.
Mas no caminho disse o Lobo:
- De que é isso companheiro, que te vejo o pescoço esfolado?
Respondeu o Cão:
- Porque não morda de dia aos que entram em casa, estou preso com uma
corda, de noite me soltam até pela manhã, que tornam a prender-me.
- Não quero tua fartura - respondeu o Lobo - a troco de não ser cativo,
antes quero trabalhar, e jejuar livre.
E dizendo isto se foi.
O Lobo esfaimado
Passando um lobo esfaimado por uma casa, ouviu chorar dentro um menino,
e lhe dizia a mãe:
- Se choras, hei-de-te dar ao lobo.
Este, parecendo-lhe ser aquilo assim, esperou um pouco; porém vendo que,
sossegando-se o menino, a mãe, fazendo-lhe carícias, lhe dizia:
- Se vier o lobo havemos de matá-lo.
Uivando partiu dali, dizendo:
- Esta diz uma cousa, e faz outra! Há muitos cobiçosos, que cegos da sua
utilidade, esperam cousas impossíveis.
O Lobo mordido pelo Cão
Sendo um Lobo mordido
gravemente por um Cão, estava estirado na terra, sem se poder erguer. Vendo
passar uma Ovelha, pediu-lhe, que lhe trouxesse uma pouca de água de um rio,
que por ali corria, dizendo-lhe, que, se lhe dava de beber, ele lhe daria de
comer. Entendeu a Ovelha ser aquilo assim; trouxe-lhe de beber, e contra sua
vontade também de comer. A malícia faz grande dano aos simples.
O Milhano e sua Mãe
Estando o Milhano enfermo e
receando a morte, que via já chegada, rogou de propósito a sua mãe que fizesse,
por sua saúde, romarias aos Santos. Respondeu ela:
- De boa vontade, filho, as
fizera, mas temo que não te prestem; porque como gastaste a vida toda em males
e sempre com teu esterco sujaste os Templos dos Santos, receio que não me
queiram ouvir, ainda que os rogue por sua saúde.
O Mosquito e o Touro
Um mosquito pousou no chifre de um touro que pastava e lá ficou por
muito tempo, vendo a paisagem.
Antes de ir embora, voou e perguntou ao touro:
- O meu peso o incomodou, senhor touro? Gostaria de saber a sua opinião!
Se assim for, basta dizer e procurarei não incomodá-lo mais.
O touro, que sequer havia percebido a presença do mosquito, respondeu
sem muito interesse.
- Tanto faz. Se quiser ficar, fique, se quiser ir, vá embora. Para mim
não faz nenhuma diferença.
Moral da Estória:
Nem sempre os outros nos dão a importância que pensamos ter.