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Espaço dedicado à Wicca
Evolução
Autoria: Claudio Quintino
Muito se fala, quando o assunto é Wicca ou Paganismo, sobre a Deusa e o que
ela representa. Como sempre, e ainda bem, muitas são as explicações possíveis
- é a força criadora por trás de toda a criação; é a guia que conduz os
destinos do universo e da humanidade; é a natureza que nos permite viver. Mas
o que é, afinal, a Deusa?
Basicamente, tudo isso e muito mais. A Deusa, certamente, é a responsável por
todas as formas de vida existentes em nossa e outras dimensões. Mas não se
limita a isso. Quando um Pagão Celta fala da Deusa, ele deve ter ciência de
que está em contato com uma poderosa força de criação e vida, mas toda
criação pressupõe destruição, assim como toda vida pressupõe uma morte. O
conceito de bem e mal é praticamente desconhecido à Deusa - basta que
analisemos os processos naturais que fazem parte da Natureza. Querem um
exemplo? Ao assistirmos um desses magníficos documentários sobre a vida
selvagem, vemos retratada a vida, por exemplo, das gazelas. Somos expostos à
sofrida rotina desses animais que devem migrar quilômetros pelas savanas, em
busca de água e alimento, enfrentando perigosas travessias de rios,
desfiladeiros abruptos e temíveis predadores. Um desses predadores é o leão,
que em determinada parte do documentário surge caçando uma gazela mais velha
e, portanto já menos ágil. é um combate desigual, envolvendo normalmente um
grupo de leoas que cercam a gazela e sobre ela se lançam com sua ferocidade
conhecida, por vezes destroçando a pobre presa antes mesmo que esta esteja
inconsciente. Ficamos então com pena da gazela, e com uma certa raiva dos
leões. Na semana seguinte, o mesmo canal apresenta outro episódio da série de
documentários, desta vez enfocando a vida de um grupo de leões. Ficamos fascinados
com a organização do grupo, o poder de liderança do macho dominante, a
estratégia de caça precisa das fêmeas, e acompanhamos o drama de uma mamãe
leoa sem alimento para dar a seus dois jovens filhotes. Há já alguns dias que
o bando não come, e alguns membros do grupo já apresentam sintomas de
desnutrição. A situação é preocupante quando surge um bando de gazelas
estúpidas, que atravessam o caminho de nossos amigos leões. Segue-se então a
cena da caça e nos maravilhamos com a capacidade de superação dos felinos
que, enfim, acabam por conseguir o alimento de que tanto precisavam. Vemos o
pequeno filhote deitar-se ao lado de sua mãe, com a fome saciada, e sua
existência garantida, e respiramos aliviados.
Como somos incoerentes, em nossa busca por coerência! Nós, humanos
"racionais," determinamos que a morte é um processo negativo, uma
ofensa à vida. Mas a vida é a própria morte, e vice-versa. Não há bem ou mal
na natureza. Não há maldade no ato dos leões. O "vilão" do primeiro
documentário é o "herói" do segundo, pois ambos os protagonistas
respeitam a natureza e nela estão inseridos. A morte é apenas um estágio no
eterno espiralar dos ciclos de vida, morte e renascimento. Todas as criaturas
devem fenecer. Nada é eterno, a não ser a própria Deusa.
As Tríades dos Druidas de Gales ensinam que todo ser deve buscar a evolução
rumo à perfeição. Toda bondade advém da Deusa, e portanto nossa busca pela
perfeição nos leva ao encontro da Deusa. Admitamos que um ser altamente
evoluído esteja a um passo do conhecimento total, da sabedoria absoluta que
caracteriza a Deusa. Ao cumprir esse passo que o separa da Divindade
Absoluta, o que ocorre? Esse ser iguala-se em conhecimento e sabedoria à
Deusa. Teríamos assim dois seres absolutamente perfeitos, certo? Errado. O momento
em que um ser atinge um tamanho estado de evolução, comparado apenas ao da
Deusa Mãe, ao invés de assinalar o surgimento de outro Ser Supremo, outra
Deusa, por assim dizer, indica que este ser voltou ao ventre da Deusa. Isto
porque ela, a Força Criadora, é única em seu conhecimento e sabedoria. Sendo
perfeita em todos os níveis, ela está por todo o universo, em todas as
criaturas. Afinal, ela é o próprio universo. E, uma vez que a Deusa está em
tudo e em todos, nenhum outro ser pode também, concomitantemente, estar em
tudo e em todos. Um ser teoricamente evoluído ao ponto de poder se equiparar
à Deusa em sabedoria e poder de criação acaba por se fundir novamente à força
que o originou: une-se novamente à própria Deusa, para poder retomar seu
caminho evolutivo, numa infinita espiral.
A evolução, portanto, é o objetivo de nossa busca contínua pela perfeição.
Devemos, contudo, ter algo muito claro em nossa mente: JAMAIS, em momento
algum da existência de qualquer ser, haverá um momento em que possamos dizer:
"agora eu já sei tudo, agora encontrei a verdade, agora sou
perfeito." A sucessão de vidas que caracteriza nossa existência é um
eterno e inesgotável aprendizado.
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