Evangelhos apócrifos – O Livro de Melquisedeque

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Primeira parte

A História de um Vaso

Capítulo I

Eu estava descansando sob a sombra do Carvalho de Mambré, junto à tenda, quando vi chegar  apressadamente um dos servos de meu sobrinho Ló. Quase sem fôlego, ele passou a relatar-me sobre a tragédia: houvera no dia anterior uma batalha entre as cidades da planície, envolvendo quatro reis contra cinco. Como resultado, Sodoma fora derrotada e muitos de seus habitantes levados cativos, entre eles o meu sobrinho Ló. A notícia deixou-me muito aflito, pois ao mesmo tempo em que sentia que precisaria sair em seu socorro, via-me frágil, sem nenhuma possibilidade de me sair vitorioso.

Sempre fui um homem pacífico e detesto aqueles que derramam sangue. Tenho muitos servos, mas poucos sabem manejar espadas e lanças, pois desde a infância são treinados como pastores. Em lugar de espadas, eles manejam bordões com os quais conduzem os rebanhos. Em lugar de escudos, carregam vasos em suas cinturas, sempre cheios de água fresca para matarem sua sede e refrigerarem as ovelhas cansadas. Em lugar de vinho para se embebedarem, carregam presos em seus cintos pequenas botijas com o azeite das oliveiras, com os quais untam as feridas do rebanho. Em lugar de ressonantes trombetas eles sopram pequenos chifres, com os quais convocam o rebanho para o curral.

Imaginando como seria um combate entre os meus servos e os exércitos daqueles cinco reis vitoriosos, comecei a rir. Enquanto gargalhava, a voz d’Aquele que sempre me guia, soou aos meus ouvidos, dizendo:

–           Abraão, Abraão! Não menosprezes os instrumentos dos pastores, pois santificados pelo fogo do sacrifício, haverão de conquistar o grande livramento.

O Eterno passou a dar-me ordens, fazendo-me avançar pela fé, sem saber como tal livramento haveria de se realizar. O primeiro passo foi a convocação de todos os pastores que, deixando seus rebanhos, dirigiram-se ao Carvalho de Mambré, trazendo seus instrumentos pastoris. Eram ao todo 600 pastores. Ordenei que eles esvaziassem os jarros, colocando neles o azeite da botija.  Depois de cumprirem esta ordem, pedi que tomassem cada um a lã de uma ovelha, misturando-a com o azeite dos jarros.

Depois de transmitir todas as ordens aos pastores, o Eterno falou-me:

–           Toma agora o teu vaso, o teu único vaso, e traga-mo a mim para que eu te mostre o que deves fazer”.

Tínhamos na tenda três jarros adquiridos na cidade de Harã; Nos dois menores, guardávamos o azeite para as lâmpadas, e no terceiro que era o maior e mais bonito, guardávamos pérolas e pedras preciosas, jóias reunidas por Sara ao longo de nossas peregrinações. Julgando ser o terceiro jarro o escolhido, estendi as mãos para tomá-lo, mas o Senhor impediu-me de fazê-lo, afirmando que, ainda que ele fosse portado de riquezas que seriam essenciais para o livramento, Ele escolhera um jarro especial – aquele que fora rejeitado e esquecido. Lembrei-me do grande jarro de barro que nos fora presenteado por um humilde oleiro, quando estávamos próximos de Canaã. Nós o pusemos inicialmente ao lado dos três, e nele colocamos os primeiros frutos colhidos na terra prometida. Não havendo, contudo, nenhuma beleza nele, Sara o rejeitou, lançando-o para fora da tenda. Sete anos depois, o oleiro visitou-nos e, ao encontrá-lo abandonado junto à tenda, mostrou-nos uma maneira em que ele poderia ser útil. Amarrando-o firmemente com uma corda de linho, lançou-o ao fundo do poço; por meio dele, os pastores passaram a tirar água para os rebanhos.

Seguindo as orientações do Eterno, dirigi-me ao poço, fazendo emergir de suas profundezas o jarro esquecido; Ao vê-lo repleto de água, lembrei-me do momento em que ele fora lançado ali, vazio e seco. Depois de esvaziá-lo, o Eterno ordenou-me transferir para ele o azeite dos dois jarros menores bem como as jóias do terceiro. Como sobrara muito espaço vazio no jarro, o Eterno ordenou completá-lo com azeite novo de oliva. Ao concluir essa tarefa, o Senhor mandou-me fazer um longo pavio de lã, devendo ficar uma de suas pontas mergulhada no azeite e a outra suspensa sobre o vaso.

Depois destas coisas, o Eterno ordenou-me a acender o pavio com o fogo do altar. Ao aproximar-me do fogo sagrado que ainda ardia sobre o sacrifício da manhã, uma pequena fagulha saltou para o pavio, e pouco a pouco foi-se alimentando do azeite, até tornar-se numa labareda que podia ser vista de longe.

Capítulo II

Com o vaso nos ombros, comecei uma longa caminhada rumo às cidades da planície, sendo acompanhado pelos pastores. Logo começaram a surgir escarnecedores que, ao verem-me com aquele vaso incandescente em pleno dia, passaram a dizer que eu ficara louco. Ao espalhar esta notícia, muitos vieram ao meu encontro, aconselhando-me a retornar para a tenda, abandonando aquele jarro que seria capaz de destruir a boa reputação que eu havia conquistado entre eles. Quando eu lhes falei sobre os exércitos e sobre minha missão juntamente com os pastores, eles concluíram que de fato eu ficara louco. Tentaram tirar-me o vaso pela força, mas, agarrando-me a ele, impedi que o tirassem de mim.

Envergonhados diante de tudo aquilo, muitos pastores começaram a afastar-se: alguns retornaram para suas tendas, enquanto outros, uniram-se àqueles que riam de meu comportamento estranho. Sentindo-me sozinho com aquele pesado vaso sobre os ombros, comecei a angustiar-me. Ansiava encontrar alguém com quem pudesse compartilhar minha experiência, mas todos lançavam-me olhares de reprovação. Lembrei-me de Sara, minha amada esposa. Em obediência à voz do Eterno, havíamos trilhado por muitos caminhos, estando ela sempre ao meu lado, animando-me a prosseguir mesmo nos momentos mais difíceis. Com certeza Sara me traria consolo e forças para continuar firme, conduzindo o jarro da salvação. Enquanto avançava pelo caminho pensando em Sara, ela surgiu no meio da multidão. Ao dirigir-me a ela, fiquei surpreso e desalentado ao notar em seus olhos o mesmo menosprezo daqueles que zombavam de mim.

Lembrando-me da ordem do Criador de que teria de libertar meu sobrinho Ló, fui andando sozinho pelo caminho. Ao colocar-me no lugar daqueles que me achavam louco, eu dava-lhes razão, pois, em condições normais, nenhuma pessoa sai de casa, sem rumo definido, levando em pleno dia um vaso com uma labareda, afirmando estar marchando contra o exércitos de cinco reis. Realmente parecia se tratar de uma grande loucura. Mesmo assim, a despeito de todas as humilhações e palavras contra mim, eu avançava rumo ao vale. Toda aquela zombaria foi finalmente diminuindo à medida em que me distanciava do Carvalho de Mambré.

Começaram a sobrevir ao meu coração muitas dúvidas quanto ao meu futuro. Ficava às vezes aflito com o pensamento de que toda a minha experiência, desde a convocação dos pastores até aquele momento, poderia ser, de fato, demonstração de insanidade. Cheio de dúvidas, comecei a pensar na possibilidade de abandonar à beira do caminho o jarro, retornando para a tenda. Esses eram os conselhos de alguns pastores e amigos que, condoídos de minha solidão, ainda vinham ao meu encontro, aconselhando-me a retornar. Ali, diziam, eu poderia conquistar novamente a confiança dos pastores, voltando a ser, quem sabe, até mesmo um sacerdote honrado como antes. Sobre o altar, diziam, havia um fogo muito maior do que aquele que eu carregava sobre os ombros. Estava a ponto de retornar, quando Sara veio ao meu encontro, contando-me sobre o desprezo que muitos pastores lançavam contra mim. Ela estava consternada, pois toda aquela desonra recaía também sobre ela, ao ponto de não sentir mais desejo de permanecer junto ao altar.

Depois de alertar-me, Sara passou a falar-me de um plano: poderíamos, quem sabe, nos mudar para uma cidade distante, onde esqueceríamos todo aquele vexame. Esquecendo-me da voz que me mandara seguir rumo à planície, respondi que eu estaria disposto a acompanhá-la para qualquer lugar, se ela permitisse que eu levasse aquele jarro; Ele seria o nosso altar, aquecendo e iluminando nossas noites com sua chama. Ao ouvir sobre o vaso, Sara ficou novamente irada, afirmando não entender minha teimosia em continuar levando sobre os ombros aquele símbolo de vergonha e desprezo. Depois de dizer-me tais palavras, voltou-me as costas, retornando para a tenda.

Capítulo III

Angustiado por não poder agradar Sara, prossegui rumo ao futuro incerto, sendo orientado unicamente pela chama, cujo brilho aumentava à medida em que as trevas adensavam-se. Comecei a meditar sobre aquele fogo que me acompanhava com seu brilho e calor. Eu estava acostumado a ver o Fogo Sagrado entronizado sobre o altar de pedras, em meio aos louvores de muitos pastores, entre os quais me destacava como mestre e sacerdote. Naqueles momentos de adoração, eu me vestia com os melhores mantos, e fazia questão de realizar o sacrifício somente quando todos os meus servos estivessem reunidos ao meu redor, para que ouvissem meus conselhos e advertências. Na hora do sacrifício, eu erguia minha espada desembainhada e, com palavras amedrontadoras, proclamava a grandeza do Senhor dos Exércitos, o Deus Todo Poderoso que domina sobre os Céus e a Terra. Vibrando a espada num movimento ameaçador, eu representava diante de meus pastores a imagem de um Deus severo, que está sempre pronto a revidar qualquer afronta. Depois dessa demonstração de soberania e poder, eu tomava uma ovelha das mãos de um pastor, e a amarrava sobre o altar. Para que ficasse patente a ira divina, eu pisava sobre o seu pescoço, golpeando-a severamente, até vê-la perecer. Depois eu descia do altar e ficava esperando pelo Fogo Sagrado que jamais deixou de manifestar-se sobre o sacrifício.

Eu aprendera desde a infância a reverenciar o Fogo Sagrado, crendo ser ele uma revelação visível do Eterno, o Grande Deus Invisível. Até então, eu o vira como um Fogo Único e Indivisível. Agora, ao transportar em humilde jarro a chama que se desprendera do Altar, meus pensamentos agitavam-se com o surgimento de um novo conceito sobre o Criador: o conceito de um Deus Sofredor que é capaz de desprender-se do grande Ser representado pelo Fogo, para acompanhar o pecador em sua jornada.

Arrependido, prostrei-me diante do jarro e chorei amargamente. Estava consciente de que todo o zelo demonstrado junto ao Altar, tinha por finalidade a exaltação de meu orgulho, e não do amor daquele que me acompanhava pelo caminho. Subitamente, gravou-se-me na mente a convicção de que aquela pequena chama que se desprendera do Fogo Sagrado, era uma representação do Messias prometido, que Se desprenderia do Eterno para ser Deus Conosco, companheiro em todas as nossas jornadas. Ao sobrevir-me esta convicção, a chama alegrou-se, tornando-se mais brilhante e calorosa. Com o coração transformado, prossegui pelo caminho rumo ao vale, levando sobre os ombros o jarro que me trouxera depois de tanto desprezo, a alegria de uma nova compreensão sobre o caráter do Criador.

Momentos difíceis começaram a surgir em minha caminhada, quando ventos frios vindos do Mar Morto começaram a arremeter-se contra a pequena chama, procurando apagá-la. Eu a amparava com o meu corpo, andando muitas vezes de lado e mesmo de costas, mas sempre avançando rumo ao vale. Ao romper a luz do dia, achei-me a um passo da planície. Comecei então a encontrar pelo caminho muitos rebanhos que eram conduzidos por rudes pastores. À medida em que avançava entre eles, ocorriam tumultos e confusões, pois muitas ovelhas e cabras assustavam-se com a chama de meu jarro, debandando-se por todas as partes. Isto fez com que a maioria dos pastores ficassem irritados com a minha presença em seu meio. Sabendo que não poderia ficar retido naquele vale, prossegui rumo a Sodoma.

Enquanto avançava, começou a acontecer algo interessante: muitas ovelhas, meigas e submissas, começaram a acompanhar-me. Eram poucas a princípio, mas pouco a pouco seu número foi aumentando, até que passei a andar com dificuldade, devido ao grande número de ovelhas que me seguiam. Ao longe eu podia ver os pastores, enfurecidos, pela perda de suas ovelhas mais bonitas. Ao chegar à cidade de Sodoma, encontrei-a vazia e devastada. Seguindo os rastros deixados pelos exércitos e pela multidão de cativos, fui me aproximando cada vez mais do alvo de minha missão. Ao chegar à campina de Dã, pude avistar ao longe o grande acampamento dos soldados, ao pé de um outeiro. Sem pressa, encaminhei-me para lá, conduzindo o meu novo rebanho. Do alto do monte, pude observar o acampamento em toda a sua extensão. Havia ali milhares de soldados comemorando a vitória. Enquanto isso, centenas de cativos jaziam amontoados no meio do arraial, humilhados e sem esperança. Diante desse quadro, fiquei imaginando como poderia se dar o livramento.

Minha presença despertou curiosidade em alguns soldados que, ao ver-me com o vaso fumegante, aproximaram-se. Quando me perguntaram sobre o motivo de minha presença naquele lugar, eu disse-lhes que viera libertar meu sobrinho Ló. Minhas palavras tornaram-se motivo de muitos gracejos em todo o acampamento. Depois disso, passaram a escarnecer de Ló. Em pouco tempo, toda aquela zombaria transformou-se em gritos de vingança, e proclamaram que, na manhã seguinte, todos os cativos seriam exterminados, começando pelo meu sobrinho.

Capítulo IV

Enquanto eu tentava imaginar o que o Eterno poderia fazer para alcançar o livramento, vi surgir ao longe o vulto de pastores que se encaminhavam em minha direção, vindos de Sodoma. Pensei a princípio que fossem os pastores inimigos que vinham arrancar-me o rebanho conquistado com amor. Tal receio logo desapareceu dando lugar a um sentimento de muita alegria, quando descobri que eram os meus pastores fiéis. Ele foram aproximando-se em pequenos grupos de doze, até alcançarem o total de 300 pastores. Ao olhar para eles, pude notar em seus semblantes os sinais de uma grande luta espiritual que tiveram de enfrentar, para estarem do meu lado. Contaram-me da experiência de muitos companheiros que, desanimados, haviam lançado fora o azeite e a lã de seus vasos, retornando para as suas tendas. Falaram-me de como, na noite anterior, haviam aprendido a amar a luz de meu jarro, que para eles tornara-se como uma estrela que os guiava na escuridão.

Alegrava-me com a presença de meus humildes pastores, quando vieram em nossa direção Aner, Escol e Manre, acompanhados por 15 homens armados; Eram eles fiéis amigos que, conhecendo os perigos que enfrentaríamos naquele vale, vieram socorrer-nos. Para que não atrapalhassem o plano divino, pedi-lhes que permanecessem escondidos até o alvorecer, quando receberiam orientações sobre como participar da missão. Comecei a orientar os pastores, seguindo as instruções da voz divina que soava de dentro da chama: A primeira tarefa dos pastores seria cuidar do rebanho até o anoitecer. Ao retornarem, ordenei que amarrassem os novelos de lã embebidos em azeite na ponta de seus bordões, colocando-os dentro dos jarros que deveriam ser mantidos suspensos de boca para baixo. Passei a incendiá-los com o fogo de minha labareda, até que as trezentas tochas ficaram ardendo, mas, ocultas no interior daqueles vasos.

Ordenei a quarenta de meus corajosos pastores que, no momento indicado por um sinal, deveriam avançar silentes para o meio do acampamento, circundando todos os cativos que jaziam amontoados no meio do arraial. Ao mesmo tempo, os 260 pastores restantes deveriam circundar todo o acampamento, aguardando pelo sinal de quebrarem os vasos com os chifres. Orientado pela voz da chama, indiquei-lhes os sinais: quando a última tocha se apagasse no acampamento, deveriam ficar atentos, pois uma pequena lamparina seria acesa por um dos cativos. Assim que a lamparina começasse a arder, deveriam correr cada um para o seu lugar, evitando qualquer ruído para que não fossem notados. O sinal para quebrarem os vasos com os chifres, erguendo bem alto a tocha, era o apagar da lamparina.

Depois dessas orientações, os 260 pastores, ocultos pelas sombras da noite, espalharam-se pelo vale, e ficaram esperando pelo momento de se posicionarem ao redor do acampamento. Enquanto isso, os 40 se posicionaram próximos a uma passagem vulnerável, através da qual haveriam de alcançar os cativos. Já era alta noite quando a tocha do último soldado apagou-se, sobrevindo completa escuridão e silêncio sobre o arraial. Entre os cativos, havia um homem que naquela noite vivia a maior angústia de sua vida. Era o meu sobrinho que, depois de tornar-se alvo de tantos abusos e humilhações, tomara conhecimento do castigo que os aguardava pelo alvorecer. Naquela noite, Ló tinha seus pensamentos voltados para o seu tio. Lembrava-se com arrependimento do momento em que me deixara, mudando-se para as campinas de Sodoma. Em seu desespero, sentiu desejo de rever minha face e pedir-me perdão por ter-se afastado de mim. Justamente naquele momento, Ló foi atraído pelo brilho de uma tocha que ardia sobre o outeiro. Ao fitar o brilho, imaginou estar tendo uma visão, pois o mesmo revelava-lhe a face de seu querido tio. Querendo mostrar-me o seu rosto, Ló apalpou em meio às trevas, até encontrar uma pequena lamparina que trouxera em seu alforje. Frustrado, percebeu que não havia nela nenhum azeite. Concluiu que a lâmpada apagada e seca era um símbolo de sua vida vazia e sem fé. Sem desviar os olhos de meu rosto iluminado pela chama do jarro, num desesperado gesto de fé, Ló apalpou o pavio de sua lamparina, descobrindo nele um resto de azeite. Curvando-se, passou a ferir as pedras do fogo, até que uma faísca saltou para o pavio. Sem que soubesse, Ló estava comandando, com seus gestos, os passos para um grande livramento.

Os trezentos pastores ao verem o tênue brilho da lamparina, encaminharam-se rapidamente para os seus postos e ficaram aguardando o apagar da pequena chama. Desde o momento em que Ló erguera-se com sua diminuta chama, fiquei olhando para os seus olhos que fitavam os meus. Vi que sua face trazia sinais de indizível angústia e maus tratos. Mesmo assim pude ler em seus olhos que a esperança e a fé ainda não o haviam abandonado.O foguinho de sua lamparina, contudo, não resistiria por muito tempo. Era necessário que se apagasse, para sinalizar a grande vitória. Quando a escuridão voltou a cobrir a face de Ló, meus trezentos pastores arremeteram os chifres contra os vasos que mantinham ocultas as tochas ardentes. Um forte ruído, como de cavalaria em combate, ecoou por todas as partes, enquanto as tochas eram suspensas pelos bordões. Os trezentos chifres, usados até então para conduzir o rebanho, soavam agora como trombetas de conquistadores.

Todo o acampamento despertou num único salto e, sem saberem como escapar de tão terrível investida que partia de fora e de dentro, os soldados começaram a lutar entre si, enquanto meus pastores permaneciam em seus lugares, fazendo soar os chifres. Os cativos ficaram muito espantados a princípio, mas pouco a pouco foram tomando consciência do grande livramento que estava se operando em seu favor. Quando amanheceu, revelou-se aos nossos olhos um cenário de completa destruição. Todo o arraial estava coberto por milhares de corpos rasgados pelas próprias espadas e lanças. Somente uns poucos conseguiram fugir daquele acampamento de morte, mas foram perseguidos pelos meus 18 aliados que estavam armados, sendo alcançados em Hobá, situada à esquerda de Damasco. Enquanto isso, os cativos, agora libertos, recuperavam todas as riquezas que haviam sido saqueadas pelos inimigos.

Capítulo V

Do cimo do outeiro, enquanto eu vibrava com a alegria dos cativos naquela manhã de liberdade, ouvi a voz do Eterno falando-me do meio da chama:

–           Este livramento que hoje se concretiza, representa o livramento que hei de operar nos últimos dias, salvando os remanescentes de teus filhos, do cerco de numerosas nações que se aliarão a Gog com o propósito de destruí-los. Naquele dia em que triunfarem sobre o meu povo, a minha indignação será mui grande, e contenderei com ele por meio da peste, do fogo e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os muitos povos que estiverem com ele. Assim, eu me engrandecerei, vindicarei a minha santidade e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que eu sou o Senhor. E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito de Graça e de Súplicas; olharão para Mim a quem traspassaram, prantear-me-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por mim como se chora amargamente pelo primogênito. Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza.(1).

A chama que para mim tornara-se uma representação do Messias prometido, apagou-se no momento em que desci ao encontro dos pastores e dos muitos cativos agora libertos. Cheios de alegria e de admiração, todos queriam saber como tornara possível tão grande livramento, somente com a utilização daquelas tochas e chifres. Falei-lhes da importância daquele fogo que se desprendera do Altar, para libertá-los naquele vale, identificando-o com o Messias Salvador. Ao ver que todos carregavam em seus corpos e mantos a sujeira da escravidão, convidei-os a seguirem-me até o rio Jordão, onde poderiam banhar-se para purificação de seus pecados, pois aquele era o Yom Kipur, o dia do perdão. Somente três pessoas atenderam ao convite: Ló e suas duas filhas mais novas. Os demais retornaram contaminados para suas casas.

Antes de partir, o rei de Sodoma veio ao meu encontro, prometendo dar-me todas as riquezas recuperadas naquela manhã. Eu recusei sua oferta, para que jamais alguém possa dizer que eu me enriqueci com aquele saque. Permanecemos acampados às margens do rio Jordão, nas proximidades de Jerico por quatro dias. Naqueles dias de descanso, todos ficaram livres das impurezas, deixando-as nas águas do Jordão. Esse era um preparo especial para nossa subida a Salém, onde comemoraríamos a vitória nos dias de Sukot.

Cheios de alegria, iniciamos uma caminhada ascendente rumo à cidade de Salém, inconscientes da feliz surpresa que nos aguardava. Eu seguia à frente tendo ao meu lado Ló e suas duas filhas, e atrás vinham os 300 pastores, conduzindo o grande rebanho. À medida em que avançávamos, comecei a notar que o meu jarro tornara-se muito pesado. Ao baixá-lo, fiquei surpreso ao descobrir que estava repleto de pérolas e pedras preciosas de variados tamanhos e brilhos. Ao avistarmos ao longe a alva cidade, começamos a ouvir sons de uma grande festa. Acordes harmoniosos repercutiam pelos montes, enquanto avançávamos pelo caminho. Minha curiosidade em conhecer aquela cidade e o seu jovem rei era imensa, pois muito já ouvira sobre sua grandeza e fama. Tratava-se de um reino diferente, onde os súditos eram treinados não no manejo de arcos e flechas, mas no domínio de instrumentos musicais. Melquisedeque, o seu jovem rei, regia a todos com um cetro muito especial: um alaúde, pelo qual pagara um preço elevado.

Enquanto crescia em mim a alegria por estar nos aproximando da cidade do grande Rei, vimos uma multidão vestida de linho fino, puro e resplandecente, saindo ao nosso encontro. Todos tangiam instrumentos musicais e cantavam um hino de vitória. À frente da multidão vinha um jovem tocando um alaúde, trazendo na fronte uma coroa repleta de pedras preciosas, que brilhavam sob a claridade do sol poente. Eu tive a certeza de que aquele era o tão aclamado rei de Salém.

Ao nos encontrarmos, ficamos surpresos com a saudação que nos fizeram. Inclinando-se diante de mim, Melquisedeque afirmou:

–           Bendito és tu Abraão, servo do Deus Altíssimo, que possui os Céus e a Terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos (2).

Capítulo VI

Surpresos pela festiva recepção, fomos introduzidos na cidade, onde a beleza das mansões e jardins nos causou muita admiração. Tudo ali era puro e cheio de paz. Salém estava em festa, pois teria início naquele entardecer a festa de Sukot. Fomos recebidos no palácio real, edificado sobre o monte Sião. Ali, uma nova surpresa nos aguardava: a grande sala do trono estava toda adornada com representações de nossa vitória sobre os inimigos. Havia no centro uma mesa muito comprida, coberta por toalhas de linho fino adornadas com fios de ouro e pedras preciosas. Sobre a mesa estavam 304 coroas, cada uma trazendo a inscrição do nome de um vencedor. Num gesto que novamente nos surpreendeu, Melquisedeque, tomando as coroas, começou a colocá-las na cabeça de cada um de nós, começando por Ló e suas filhas. Estávamos todos admirados pelo fato do rei de Salém conhecer-nos individualmente, e por Ter preparado aquelas coroas muito antes de sermos vencedores. Eu observava a alegria de meus companheiros coroados quando, tomando uma coroa semelhante à sua, o rei de Salém dirigiu-se a mim com um sorriso. Ao levantá-la sobre minha cabeça, notei algo que até então não havia percebido: suas mãos traziam cicatrizes de profundos ferimentos. Vencido por um sentimento de gratidão, prostrei-me aos seus pés e, comovido, beijei suas bondosas mãos, banhando-as com minhas lágrimas.

Ao levantar-me, perguntei-lhe o significado daquelas cicatrizes. Com um meigo sorriso, ele prometeu contar-me a história daquele próspero reino, e do quanto lhe custara a sua paz.

Depois de coroar-nos, Melquisedeque nos fez assentar ao redor da grande mesa, e passou a servir-nos pão e vinho. A partir daquele momento, passamos a honrá-lo como sacerdote do Deus Altíssimo. Num gesto de gratidão, tomei o jarro que se enchera de pérolas e o coloquei aos pés do rei. Tomando-o nos braços, ele passou a acariciá-lo sem atentar para o brilho das jóias. Expressando gratidão por aquela oferta, ele disse-me que aceitaria o jarro; Quanto às pérolas e pedras preciosas, ele aceitaria somente o dízimo delas. Imediatamente passei a contar as jóias, separando as mais belas para o rei. Havia um total de 1440, das quais lhe entreguei 144. Ele as guardou cuidadosamente em uma caixinha de ouro puro, em cuja tampa havia lindos adornos marchetados de pedras preciosas. Depois de receber o dízimo que simbolizava o grande livramento operado por Deus na planície, Melquisedeque chamou para junto de si um de seus súditos que era mestre em adornos e pinturas, ordenando-lhe embelezar o jarro com uma linda gravura que retratasse o momento em que eu o ofertei. Enquanto o jarro era pintado, Melquisedeque passou a contar-me a história de seu reino, desde sua fundação até aquele momento em que estávamos comemorando a grande vitória sobre os inimigos.

Ao devolver-me o jarro, agora honrado pela mais bela gravura e inscrições que exaltavam a justiça e o amor, o rei de Salém ordenou-me levá-lo com aquelas jóias. Durante seis anos eu e meus pastores deveríamos contar para todos a história daquele jarro que transportara a chama vitoriosa do altar. A todos aqueles que, com arrependimento, aceitassem a salvação representada por sua história, deveríamos oferecer uma pedra preciosa ou pérola. Ao fim dos seis anos, as jóias acabariam. Já não haveria oportunidade de salvação. Sobreviria então o sétimo ano, no qual haveria um tempo de grande angústia e destruição, quando somente existiria proteção para aqueles que possuíssem as jóias. Por essa ocasião, as cidades da planície seriam totalmente destruídas pelo fogo do juízo, e os demais povos impenitentes, seriam dizimados por terríveis pragas.

Capítulo VII

Depois de revelar-nos sobre os sete anos que ainda restavam, dentro dos quais teríamos uma missão importante a cumprir, Melquisedeque nos afirmou que nossa experiência consistia numa parábola que representa a história universal, com ênfase no livramento dos filhos de Israel nos últimos dias. Ele o previu com as seguintes palavras:

–           Ao chegar a plenitude dos tempos, todos os esforços humanos em busca da paz se frustrarão. Naquele tempo, numerosas nações se aliarão contra o reino de Jerusalém, e sobrevirá um tempo de angústia qual nunca houve para os filhos de Israel. Depois de um terrível conflito, verão numerosos exércitos invadindo sua terra, numa aparente vitória. No momento mais difícil, quando as suas forças estiverem esgotadas, o Eterno intervirá em Seu favor, lançando por terra os numerosos inimigos.(3)

–           Toda a humanidade testemunhará, com espanto as cenas de livramento. Naquele dia, muitos povos e poderosas nações se posicionarão ao lado do Senhor dos Exércitos. Naquele dia acabará a cegueira dos filhos de Jacó, e olharão para Aquele a quem traspassaram, e chorarão amargamente por ele como se chora por um filho unigênito. Naquele dia os eleitos de Deus compreenderão as palavras do Livro:

–           Ouvi-me, vós, que estais à procura da justiça, vós que buscais o Eterno. Olhai para a rocha da qual fostes cavados, para a caverna da qual fostes tirados. Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, aquela que vos deu a luz. Ele estava só quando o chamei, mas eu o abençoei e o multipliquei. O Senhor consolou a Sião, consolou todas as suas ruínas; ele transformará o seu deserto em um Éden e as suas estepes em um jardim. Nela encontrarão gozo e alegria, cânticos de ações de graças e som de música.(4)

–           Naquele dia os habitantes de Jerusalém trocarão suas armas por instrumentos musicais e os remidos, consolados pela grandiosa revelação de Deus, com alegria cantarão:

–           “Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas novas e anuncia a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina! Porque o Eterno consolou o seu povo, ele redimiu Jerusalém. O Senhor descobriu o seu braço santo aos olhos de todas as nações, e todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso Deus.(5)

–           O grande livramento se cumprirá no início de uma nova semana de anos, ao fim de um ciclo determinado envolvendo dez jubileus. Durante seis anos, toda a humanidade, iluminada pela maior revelação do amor e da justiça de Deus, terá oportunidade de romper com o império do pecado, unindo-se aos filhos de Israel em sua marcha de purificação e restauração do reino da luz. Então acontecerá que todos os sobreviventes das nações que marcharam contra Jerusalém, subirão, ano após ano, para prostrar-se diante do Rei e Senhor dos Exércitos, e para celebrar a festa de Sukot. E acontecerá que aquele das famílias da Terra que não subir e não vier, haverá contra ele a praga com que o Eterno ferirá as nações que não subirem para celebrar a festa de Sukot.(6).

–           Naqueles anos de oportunidade, soará por todas as partes do mundo o último convite de misericórdia, num apelo para que todos os pecadores se arrependam e se unam ao Criador numa eterna aliança .Por todas as partes se ouvirá o brado divino:

–           Observai o direito e praticai a justiça, porque a minha salvação está prestes a chegar e a minha justiça a manifestar-se. Bem-aventurado o homem que assim procede, o filho do homem que nisto se firma, que guarda o sábado e não o profana e que guarda sua mão de praticar o mal. Não diga o estrangeiro que se entregou ao Senhor: – Naturalmente Deus vai excluir-me do seu povo, nem diga o eunuco: – Não há dúvida, eu não passo de uma árvore seca. Pois assim diz o Senhor aos eunucos que guardam os meus sábados e optam por aquilo que é a minha vontade, permanecendo fiéis à minha aliança: Hei de dar-lhes, na minha casa e dentro dos meus muros, um monumento e um nome mais precioso do que teriam com filhos e filhas; hei de dar-lhes um eterno nome, que não será extirpado. E, quanto aos estrangeiros que se entregarem ao Senhor para servi-lo, sim, para amar o nome do Eterno e tornarem-se servos seus, a saber, todos os que se abstêm de profanar o sábado e que se mantêm fiéis à minha aliança, trá-los-ei ao meu santo monte e os cobrirei de alegria na minha casa de oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão bem aceitos no meu altar. Com efeito, a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.(7)

–           Na última semana de anos, os filhos de Belial se aliarão contra os filhos da Luz, e os acusarão como causadores de toda a desarmonia no mundo. Em oposição à santificação do sábado que é o sinal da aliança entre Deus e seus escolhidos, muitas nações imporão outro dia para o culto, não podendo comprar nem vender todos aqueles que se mantiverem fiéis à aliança do Eterno.(8)

–           Ao fim dos seis anos, o rolo se fechará e não haverá mais oportunidade de salvação. Desprotegidos, os ímpios sofrerão os juízos divinos que se manifestarão nas sete últimas pragas. Desesperados, muitos correrão de um lado para o outro em busca da mensagem do rolo, mas não a encontrarão. Durante o sétimo ano, os escolhidos de Deus passarão por grandes provas, pois serão condenados pelas nações como os causadores de todo o caos que sobrevirá ao mundo em conseqüência dos juízos.(9)

–           Ao consumarem-se os sete anos, o Messias se manifestará nas nuvens do céu, acompanhado por todas as hostes celestes, para salvação de seu povo. Ao tocar Sua trombeta, os fiéis falecidos ressuscitarão revestidos de glória; os vivos vitoriosos serão transformados num abrir e fechar de olhos, recebendo corpos perfeitos. Juntos, todos os remidos serão arrebatados para a Nova e Eterna Jerusalém, numa viagem inesquecível que começará no primeiro dia da festa de Sukot. Depois de sete dias de feliz ascensão, chegarão à Cidade Santa para comemorarem, diante do trono ,no oitavo dia da festa, a grande vitória. Como que a sonhar, os resgatados do Senhor entrarão na Cidade Santa, encontrando ali o jardim do Éden, no meio do qual eleva-se o monte Sião, o lugar do trono de Deus. Coroados pelo Messias, os remidos entoarão o cântico da vitória, fazendo vibrar por todo o espaço os acordes de incontáveis instrumentos musicais. (10)

Capítulo VIII

Depois de proferir todas essas predições, Melquisedeque disse-nos novamente que toda a experiência que estávamos vivendo era prefigurativa, e teríamos de cumprir ainda importantes tarefas nos próximos sete anos: Durante seis anos a história do jarro deveria ser contada aos pecadores, dando-lhes a oportunidade de arrependerem-se, apossando-se das jóias que simbolizam salvação; ao fim dos seis anos, na véspera de Rosh Hashanah as pérolas acabariam, ficando fora do abrigo todos aqueles que não a receberam.

Ao ouvir tais palavras do rei de Salém, sobreveio-me grande angústia, por lembrar-me dos últimos passos de Sara. Eu temia que ela, em sua incredulidade, não aceitasse uma pérola. Se isto acontecesse, os meus lindos sonhos cairiam por terra, pois não conseguiria ser feliz em sua ausência. Lendo nos meus olhos a angústia, Melquisedeque consolou-me com uma promessa:

–           Abraão, daqui a seis anos o Eterno visitará sua tenda, e sua esposa será curada de sua aridez. Ela se converterá e lhe dará um filho que se chamará Isaque.

Ao findar a festa de Sukot, retornamos às nossas tendas junto ao Carvalho de Mambré. À medida que íamos avançando pelo caminho, muitas pessoas nos cercavam, admirados pela beleza do vaso repleto de pérolas. A todos contávamos a história de sua chama redentora, e dávamos as jóias àqueles que aceitavam a salvação. Quando chegamos ao Carvalho de Mambré, uma multidão de pessoas nos esperava. Muitos tinham ouvido falar do miraculoso livramento operado através daquele jarro que fora alvo de tanto menosprezo. Agora, estavam todos emudecidos ao vê-lo glorificado.

Juntamente com os meus pastores, continuamos a proclamar o infinito amor de Deus revelado pela chama. O número daqueles que procuravam pelas pérolas ia aumentando, dia após dia, e todos éramos felizes. Melquisedeque enviou-nos muitos de seus súditos que eram mestres em música, para realizarem uma missão importante. Eles apresentavam a história de seu reino de paz por meio de lindos cânticos que exaltavam o poder da humildade e do amor. Sua música tinha o poder de transformar corações infelizes, dando-lhes esperança e alegria em viver. Para que se propagasse a influência restauradora da música de Salém, eles ensinavam a muitos a cantarem tocarem flautas e alaúdes, enviando-os depois de certo tempo como mensageiros de sua missão de paz.

Os dias, os meses e anos foram-se passando, e as pérolas e pedras preciosas foram diminuindo dentro do jarro. Estávamos vivendo agora os últimos meses do sexto ano, que era o último da oportunidade. À medida em que os dias se passavam, aumentava em meu coração uma preocupação e uma angústia, pois Sara até então não tomara interesse em apossar-se de sua pérola, apesar de meus constantes rogos.

Naqueles momentos de aflição em que clamava a Deus pela salvação de Sara, meu único consolo eram as últimas palavras do rei de Salém, de que ao fim dos seis anos ela seria transformada. Vivíamos agora os últimos dias do sexto ano. A consciência de que o tempo estava se esgotando, fazia com que muitas pessoas nos procurassem de manhã até à noite, para apossarem-se das jóias da salvação. Com o coração ferido por uma indizível aflição, eu insistia com Sara, procurando convencê-la de sua necessidade em tomar, o quanto antes, uma pérola, pois as mesmas estavam ficando escassas. Sem atentar para a minha angústia, Sara desdenhava de meus apelos, afirmando que aquelas pérolas não tinham nenhum valor para ela.

Capítulo IX

Depois de uma noite de vigília em que, desesperadamente, procurei em vão convencer minha amada a apossar-se uma pérola, aceitando a salvação representada por aquele jarro, vi o sol surgir trazendo a luz do último dia, véspera de Rosh Hashaná. Ao olhar para dentro do vaso naquela manhã, vi que restavam apenas três pérolas. Ao admirar-lhes o brilho, comecei a imaginar que a maior seria para o meu filho prometido, a de tamanho intermediário seria a de Sara, e a menor seria a minha. Esse pensamento trouxe-me alívio e esperança. Mas, ao mesmo tempo, comecei a preocupar-me com a possibilidade de chegarem pessoas procurando por elas. Se viessem, eu não poderia negá-las.

Tomado por essa preocupação, permaneci sentado sob o Carvalho de Mambré. Na viração do dia, sobreveio-me um grande estremecimento quando vi ao longe três peregrinos que caminhavam rumo à nossa tenda. Comecei a clamar ao Eterno para que eles mudassem de rumo, mas meus clamores não foram atendidos. Dominado por uma indizível amargura, corri até eles e, depois de prostrar-me, convidei-os para a sombra. Tomando uma bacia com água, passei a lavar-lhes os pés, limpando-os da poeira do caminho. Ao ver os pés feridos e calejados daqueles homens, senti compaixão por eles. Compreendi que haviam vindo de muito longe, enfrentado perigos e desafios, com o propósito de pegarem em tempo as pérolas. Vi que eles eram mais merecedores que eu, Sara e nosso filho prometido.

Ao lavar os pés do terceiro, meu coração que, até então estava aflito, encheu-se de paz e alegria. Imaginava naquele momento, quão terrível seria se aquele terceiro peregrino não houvesse se unido aos dois primeiros naquela caminhada. Nesse caso eu seria obrigado a tomar da última pérola, subindo sem minha amada para Salém. Se eu tivesse de passar por essa experiência, a pérola que simboliza a alegria da salvação, se tornaria num símbolo de minha solidão e tristeza, pois a vida longe do carinho de Sara, seria para mim o maior castigo, como a própria morte.

Depois de lavar-lhes os pés, comecei a servir-lhes o alimento que foi especialmente preparado para eles. Enquanto os servia em silêncio, fiquei esperando pelo momento em que eles perguntariam pelas pérolas. Mas, sem revelar nenhuma pressa, eles falavam sobre a longa caminhada que fizeram, e sobre as cidades por onde haviam passado. Eu perguntei-lhes se conheciam Salém. Eles responderam-me afirmativamente, acrescentando que naqueles seis anos, muitas obras haviam sido realizadas naquela cidade, em preparação para uma grande festa que estava para realizar-se dentro de mais um ano, por ocasião da festa de Sukot.

As palavras daquele terceiro peregrino, o mais falante deles, começaram a trazer-me, misteriosamente, um sentimento de esperança. Ao olhar para os seus olhos, vi que ele se parecia com Melquisedeque. Lembrava-me da última promessa feita pelo rei de Salém, quando o terceiro peregrino perguntou-me com um sorriso:

–           Abraão, onde está Sara, sua mulher?!

Atônito, perguntei-lhe:

–           Como você sabe o meu nome e o nome de minha esposa?

O peregrino respondeu-me:

–           Não somente sei o nome de vocês, como também sei que daqui a um ano vocês terão um filho que será chamado Isaque.

Ao ouvir as palavras do visitante, corri para dentro da tenda a fim de chamar minha esposa, para que ouvisse as palavras daquele peregrino. Ao vê-la, o peregrino perguntou-lhe:

–           Sara, por que você riu de minhas palavras?

Assustada, Sara, respondeu:

–           Eu não ri, meu Senhor!

–           Não diga que não riu, pois eu a vi rindo dentro da tenda. Afirmou o peregrino.

Consciente de estar diante de alguém que conhecia o seu íntimo, Sara perguntou-lhe:

–           Quem és tu Senhor?!

– Eu sou a Chama que se desprendeu do fogo do Altar para estar no jarro que você rejeitou! Eu sou o Messias, o Deus que sofre humilhações e desprezo por amor ao seu povo!

Tendo feito esta revelação, o peregrino estendeu suas mãos sobre a cabeça de Sara para abençoá-la. Somente então vi que elas estavam marcadas por cicatrizes semelhantes às do rei de Salém. O peregrino, com muita ternura, começou a falar ao coração de minha amada, resgatando-a de sua incredulidade:

–           Sara, você é preciosa aos meus olhos! Todo o seu passado de descrença e infertilidade está perdoado! Tenho para você um futuro glorioso, pois você se tornará mãe de muitos povos e nações!

Depois de dizer estas palavras, o nobre visitante encaminhou-se para o jarro e, inclinando-se, tomou dele as três pérolas restantes. Dirigindo-se a Sara, entregou-lhe duas pérolas, e disse-lhe:

– Uma é para você e a outra é para o seu filho Isaque.

Com a vida transformada pelo amor do Eterno, Sara prostrou-se agradecida aos pés daquele peregrino que a salvara no último momento. Quando a vi prostrar-se submissa, meu coração por tantos anos aflito, rompeu-se em lágrimas de alegria e gratidão, e caí aos pés de meu Redentor e Rei. Depois de consolar-nos com a certeza de nossa eterna salvação, o peregrino entregou-me a última pérola. Quando apertei-a em minhas mãos, senti grande luz e paz inundar-me todo o ser, e passei a louvar ao Eterno pela certeza de que teria para sempre ao meu lado minha querida Sara e o filho que, segundo a promessa, dentro de um ano nasceria.

Capítulo X

Depois destas coisas, o Eterno despediu-se de Sara e dos pastores que ali se encontravam, e convidou-me a acompanhá-los até o outeiro que fica defronte do vale. Ao chegarmos àquele lugar, o Eterno despediu-se de seus dois companheiros, enviando-os para uma missão especial em Sodoma.

Do cimo do monte contemplávamos os férteis vales e florestas que, como um paraíso, estendiam-se em ambas as margens do rio Jordão, circundando as prósperas cidades, dentre as quais destacavam-se Sodoma e Gomorra.

Fora sobre aquela colina que, depois da contenda entre os meus pastores e os pastores de Ló, dei-lhe a oportunidade de escolher o rumo a seguir, pois não poderíamos permanecer juntos. Atraído pelas riquezas da campina, ele decidiu mudar-se para lá. Ao olhar para o meu companheiro que ficara silente desde o momento em que avistamos a campina, fiquei surpreso ao vê-lo chorando. Perguntei-lhe o motivo de sua tristeza, e Ele, soluçando, respondeu:

–           Este é para mim um dia de muita tristeza, pois pela última vez meus olhos podem pousar sobre este vale fértil. Choro pelos habitantes dessas cidades que não sabem que os seus dias acabaram!

A declaração do Messias trouxe-me à lembrança todos aqueles cativos que haviam sido libertos seis anos antes. Infelizmente, quase todos rejeitaram o banho da purificação, retornando imundos para suas casas. Unicamente Ló e suas filhas aceitaram a salvação, tomando posse de suas pérolas. Pensando numa possibilidade de livramento para aquele povo, perguntei ao Eterno:

–           E se por acaso existir, naquelas cidades, cinqüenta pessoas justas; mesmo assim elas serão destruídas?

O Senhor disse-me que se houvesse cinqüenta justos, toda a planície seria poupada.

–           E se houver 45 justos?

–           Se houvesse ali 45 justos, todas aquelas cidades seriam poupadas.(11)

Continuei com minhas indagações até chegar ao número dez. O Eterno disse-me que, se houvesse dez justos naquelas cidades, toda a planície seria poupada. Torturado por uma indizível agonia de espírito, o Senhor voltou a chorar amargamente, enquanto com voz embargada, pronunciava um triste lamento:

–           Sodoma e Gomorra, quantas vezes quis Eu ajuntar os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintainhos debaixo das asas, mas você não aceitou minha proteção. Por que você trocou a luz da minha salvação pelas trevas deste reino de morte?! Meus ouvidos estão atentos em busca de pelo menos uma prece, mas tudo é silêncio! Minhas mãos estão estendidas, prontas a impedir o fogo do juízo, mas vocês recusam o meu socorro!

Curvando-me ao lado de meu companheiro sofredor, uni-me a Ele na lamentação. Naquele momento de dor, tive a certeza de que Melquisedeque também sofria por todos aqueles que haviam trocado o amor e a paz de Salém pelas ilusões daquele vale de destruição. Depois de um longo pranto, o Messias consolou-me com a revelação de que os seus dois companheiros encontravam-se naquele momento em Sodoma, com a missão de salvar Ló e suas filhas, livrando-os da morte. Suas palavras trouxeram-me alívio, e prostrei-me agradecido aos seus pés.

Capítulo XI

Antes de partir, o Eterno encarregou-me de uma missão, dizendo:

–           Tome um rolo vazio e registre nele a história do vaso e a história de Salém, conforme ouviu dos lábios de Melquisedeque. Dentro de um ano, você e todos aqueles que aceitaram a salvação, deverão subir à Salém para a festa de Sukot. Naquele dia, entregará ao rei de Salém o jarro, oferecendo dentro dele, como presente, o rolo.

Naquela mesma tarde, em obediência às ordens do Senhor, comecei a registrar a história vivida por mim e por meus pastores, desde o momento em que parti rumo ao vale, levando sobre as costas o vaso com sua labareda. No dia seguinte, o sol já ia alto, quando, ao mencionar a cidade de Sodoma no manuscrito, lembrei-me que aquele era o dia de sua destruição. Com o coração acelerado, corri para lá e fiquei espantado com o cenário que se estendeu diante de meus olhos: em lugar daquele vale fértil, semelhante a um paraíso, havia um deserto fumegante, sem nenhuma vida. No lugar das cidades de Sodoma e Gomorra, havia uma cratera, para onde as águas do mar salgado escorriam.

Abalado ante essa visão de destruição, retornei à tenda com o coração entristecido. A lembrança de tantas pessoas que, por rejeitarem o perdão divino, haviam sido consumidas pelo fogo, deixou-me profundamente abalado. Nos dias seguintes, não encontrei forças para escrever. Retornei outras vezes ao outeiro, com a esperança de que tudo aquilo fosse um pesadelo, mas em lugar do vale fértil eu somente conseguia enxergar aquele caos.

Demorou vários dias para que eu voltasse a ter ânimo para prosseguir com os escritos do rolo.

Fim da primeira parte

Referências: (1)(Ezequiel 38; Zacarias 12: 10; (2) Genesis 14:18-24; (3)Jeremias 30:7-8; (4)

Isaias 51:1-3;(5)Isaias 52:7; (6)Zacarias 14:16-19; (7)Isaias 56:1-8;(8) Apocalipse 13: 15-18;

(9)Apocalipse 15; Sonfonias 1:13-18; (10)S.Mateus 24:30,31; Apocalipse 14:1-5; 21:1-5; (11)

Gênesis

Livro de Melquisedeque

Segunda parte

A História de Salém

Capítulo I

Esta é a história de Salém, segundo ouvi dos lábios de Melquisedeque por ocasião da festa de Sukot, cinco dias depois do livramento de Ló e suas filhas. Tudo começou com um sonho no coração de um homem chamado Adonias. Ele possuía muitas riquezas, mas a nada prezava mais que a justiça e a paz que nascem da sabedoria e do amor. Cansado com as injustiças que predominavam por toda a terra de Canaã, Adonias resolveu edificar um reino que fosse regido por leis de amor e de justiça. O nome da capital desse reino seria Salém, a Cidade da Paz. Os súditos de Salém não empunhariam arcos nem flechas, mas seriam treinados na arte musical. Cada habitante de Salém teria sempre ao alcance de suas mãos um instrumento musical, para expressar por meio dele a paz e a alegria daquele novo reino. Juntos formariam uma poderosa orquestra na luta contra a desarmonia que nasce do orgulho e do egoísmo.

O primeiro passo de Adonias para a concretização de seu plano, foi elaborar as leis do novo reino, as quais ele escreveu em um pergaminho. Os súditos de Salém não poderiam mentir, furtar, odiar, nem matar seus semelhantes. O orgulho e o egoísmo eram apontados como causa de todo o mal, portanto, não poderiam existir naquele lugar de paz. As leis do pergaminho requeriam a prática da humildade, da sinceridade, da amizade, e, acima de tudo, do amor, que é a maior de todas as virtudes.

Depois de registrar no pergaminho as leis que regeriam aquele reino, Adonias passou a arquitetar Salém. Seria uma cidade a princípio pequena, com habitações para mil e duzentas pessoas. Como lugar de sua edificação, foi escolhida uma região alta de Canaã, ao ocidente do Monte das Oliveiras. Em pouco tempo, a realização de Adonias começou a atrair pessoas de todas as partes que, de perto e de longe, vinham para conhecer os palácios e as mansões que estavam sendo edificados. Admirados ante a beleza daquela cidade tão alva, os visitantes perguntavam sobre quem seriam os seus moradores. Adonias mostrava-lhes o pergaminho, dizendo que Salém destinava-se aos limpos de coração – aqueles que estivessem dispostos a obedecerem suas leis.

Capítulo II

A edificação da cidade foi finalmente concluída, e Salém revelou-se formosa como uma noiva adornada, à espera de seu esposo. Assentado em seu trono, Adonias examinava os numerosos pretendentes que chegavam de todas as partes, desejosos em ser súditos daquele reino. Aqueles que, prometendo fidelidade às leis eram aprovados, recebiam três dotes do rei: o direito a uma mansão, vestes de linho fino e um instrumento musical no qual deveriam praticar.

A cidade ficou finalmente repleta de moradores. Cheio de alegria, Adonias convocou a todos para a festa de inauguração de Salém, no decorrer da qual proclamou um decreto que determinaria o futuro daquele reino, dizendo:

–           A partir deste dia, que é o décimo do sétimo mês, seis anos serão contados, nos quais todos os moradores serão provados. Somente aqueles que permanecerem leais, progredindo na prática das leis do pergaminho, serão confirmados como herdeiros deste reino de paz. Aqueles que forem enlaçados por culpas e transgressões serão banidos pelo juízo.

As palavras do rei levaram todos a um profundo exame de coração, e alegraram-se com a certeza de que alcançariam vitória sobre todo o orgulho e egoísmo, que são as raízes de todos os males.

Adonias tinha um único filho a quem dera o nome de Melquisedeque. A beleza, ternura e sabedoria desse filho amado haviam sido sua inspiração para a edificação de seu reino. Melquisedeque tinha doze anos de idade, quando Salém foi inaugurada. Era plano de Adonias coroá-lo rei sobre os súditos aprovados, ao fim dos seis anos. Este plano, ele o manteria em segredo até o momento devido.

O príncipe, com suas virtudes e simpatia, tornou-se logo muito querido de todos em Salém. Ele tinha sempre nos lábios um sorriso e uma palavra de carinho. Apreciava estar junto aos súditos em seus lares, recitando-lhes as leis do pergaminho em forma de lindas canções que vivia a compor. Sua presença trazia ao ambiente uma atmosfera de felicidade e paz. Esse amado príncipe possuía, de fato, todas as virtudes necessárias para ser rei de uma Salém vitoriosa.

Adonias edificara uma mansão especial junto ao palácio, com o propósito de ofertá-la ao súdito cuja vida expressasse mais perfeitamente as leis do pergaminho. Diariamente ele observava os moradores, procurando entre eles essa pessoa a quem desejava honrar. Passeava pelas alamedas de Salém, quando, por entre o trinar de pássaros, Adonias ouviu uma voz semelhante a de seu filho. Ao voltar-se para ver quem era, encontrou um belo jovem que cantarolava uma canção. Ao contemplar em sua face o brilho da sabedoria e da pureza, Adonias alegrou-se por haver encontrado aquele a quem poderia honrar. Aquele jovem, que era uma cópia fiel do príncipe, chamava-se Samael. Colocando-lhe um anel no dedo, o rei conduziu-o ao palácio, onde foi recebido por Melquisedeque que ofereceu-lhe muitos presentes, entre os quais o direito de estar sempre ao seu lado.

Adonias preparou um grande banquete em honra a Samael, para o qual todos foram convidados. Ao contemplá-lo ao lado do rei, os súditos o aclamaram com alegria, acreditando ser ele o próprio príncipe.

Exaltavam com júbilo as virtudes daquele formoso jovem, quando revelou-se Melquisedeque, posicionando-se com um sorriso à direita de seu pai. No banquete, Samael foi honrado por todos. Realmente ele era digno de residir na mansão do monte, pois havia nele um perfeito reflexo das virtudes que coroavam o amado príncipe.

Capítulo III

Salém crescia em felicidade e paz. Com alegria, os súditos reuniam-se a cada dia ao amanhecer para ouvirem, cantarem e tocarem as sublimes composições de Melquisedeque, que inspiravam atos de bondade e paz. Entre as amizades nascidas e fortalecidas em virtude da música harmoniosa, sobressaía aquela que unia o príncipe a Samael. Desde que passara a residir na mansão do monte, Samael tornara-se seu companheiro constante. Passavam longas horas juntos, meditando sobre as leis do pergaminho. Com admiração, o súdito honrado via o filho de Adonias transformar aquelas leis em lindas canções. As doces melodias nasciam dos seus lábios como o perfume de uma flor. Consciente da importância da música na preservação da harmonia e paz em Salém, o príncipe, além do canto, passou a dedicar-se à música instrumental, sendo o seu instrumento preferido o alaúde. Era por meio desse instrumento que conseguia expressar com maior perfeição a riqueza de seu íntimo.

Dos seis anos de prova, cinco, finalmente, passaram. Adonias, feliz por ver que até ali todos os habitantes de Salém haviam permanecido leais aos princípios contidos no pergaminho, convocou-os para um banquete, no qual faria importantes revelações. Tendo tomado seus lugares diante do trono, os súditos, com alegria uniram as vozes entoando os cânticos da paz, sendo regidos por Samael. Depois de ouvi-los, o rei, emocionado, dirigiu-se a seu filho, abraçando-o em meio aos aplausos da multidão agradecida. Todos reconheciam que a paz e a alegria em Salém eram em grande medida devidas ao amor e dedicação do querido príncipe, que era o autor daquelas doces canções. Naquele momento de reconhecimento e gratidão, Adonias revelou os seus planos mantidos até então em segredo. Com voz pausada, disse-lhes:

–           Súditos deste reino de paz, minh’alma está repleta de alegria por contemplar nesse dia vossas faces mais radiantes que outrora. Vossas vestes continuam alvas e puras, como quando as recebestes de minhas mãos. A harmonia de vossas vozes e instrumentos hoje são maiores.

Tendo dito estas palavras, o rei acrescentou com solenidade:

–           Um ano de prova ainda resta, ao fim do qual sereis examinados. Permanecendo fiéis como até aqui, sereis honrados, confirmados como súditos deste reino de paz. Contudo, se alguém for achado em falta, será banido, ainda que este julgamento nos traga muita tristeza e sofrimento.

As palavras do rei levaram os súditos a uma profunda reflexão. Todos, examinando-se, indagavam reverentes:

–           Estaremos aprovados?!

Certos de que seriam vitoriosos, pois amavam Salém e suas leis, uniram as vozes num cântico expressivo de fidelidade. Ao terminarem o cântico, Adonias revelou-lhes seu grande segredo:

–           Aqueles que forem aprovados, herdando este reino de paz, receberão como rei o meu filho, a quem darei o trono glorificado dessa Salém vitoriosa.

A revelação do rei foi aclamada por todos com muito júbilo. Adonias, contudo, ainda não lhes revelara todo o seu plano, por isso, pedindo-lhes silêncio, prosseguiu:

–           O meu filho empunhará um cetro especial, no qual selarei todo o direito de domínio. Seu cetro, simbolizando toda a harmonia, será um alaúde.

Diante desta revelação que a todos sensibilizou, o príncipe, prostrando-se aos pés de seu pai, chorou motivado por muita alegria. Enquanto isto, todos o aplaudiam com euforia, ansiando ver o raiar desse dia em que a paz seria vitoriosa. Adonias, chamando para junto de seu filho a Samael, concluiu dizendo:

–           No governo dessa Salém vitoriosa, tenho proposto fazer de Samael o primeiro depois de Melquisedeque. A ele será confiado o pergaminho das leis, devendo ser o guardião da honra desse reino triunfante.

Capítulo IV

Samael, ao conhecer os planos de Adonias quanto ao futuro de Salém, encheu-se de euforia. Contemplava agora risonho aquela cidade sem igual, imaginando seu futuro de glória. Considerando as palavras do rei, de que ele seria o segundo no reino, deixou ser dominado por um sentimento de exaltação. Ele, que até ali, em obediência às leis do pergaminho, vivera uma vida de humildade, começava a orgulhar-se de sua posição. Em seu devaneio sentia-se junto ao trono, tendo os súditos de Salém a seus pés, aclamando com louvores sua grandeza. Samael, totalmente dominado por esse sentimento, não dava por conta de que estava sendo conduzido para um caminho perigoso. O orgulho que o seduzira estava gerando o egoísmo que logo se manifestaria em cobiça.

Uma semana após a revelação de Adonias, os súditos promoveram uma festa em homenagem a Melquisedeque, o futuro rei de Salém. Vendo-o aclamado por tantos louvores, Samael teve o coração tomado por um estranho sentimento de inveja, fruto do orgulho e do egoísmo. Não podia suportar o pensamento de ser deixado em segundo plano. Não era ele tão formoso e sábio quanto o príncipe?! Era quase impossível disfarçar tal sentimento de infelicidade. Outrora, Samael encontrara indizível prazer nos momentos em que, ao lado do príncipe, recitava as leis contidas no pergaminho, que eram transformadas em lindas canções. Agora, tais momentos tornaram-se desagradáveis, pois aqueles princípios contrariavam os seus ideais. Decidiu, contudo, não revelar seus sentimentos de revolta. Suportaria o antiquado pergaminho até que, com sua autoridade, pudesse bani-lo do novo reino que seria estabelecido.  Não seria ele o guardião daquelas leis? Essa “vitória” procuraria alcançar mediante sua influência e sabedoria.

Julgando poder influenciar o filho de Adonias com seus sonhos de grandeza, Samael aproximou-se dele com euforia, e passou a falar-lhe das glórias do reino vindouro, onde os dois, cobertos de honras, desfrutariam os louvores de uma Salém vitoriosa. Seriam eles os heróis do mais perfeito reino estabelecido entre os homens. As delirantes palavras do súdito honrado trouxeram preocupação e tristeza ao coração do jovem príncipe, pois não refletiam os ensinamentos de amor e humildade do pergaminho. Vendo o seu íntimo amigo em perigo, Melquisedeque, com uma ternura jamais revelada, conduziu-o para junto do trono, onde, tomando o pergaminho, passou a ler compassadamente os seguintes parágrafos:

–           O reino de Salém será firmado sobre a humildade, pois esta virtude é a base de toda verdadeira grandeza. A humildade é fruto do amor, sendo contrária ao orgulho, que pode manter uma criatura presa ao pó, fazendo-a contentar-se com suas limitações, iludindo-a como se as mesmas fossem de infinito valor. A humildade consiste no esquecimento de si, e este, numa vida de abnegado serviço aos semelhantes.

Samael, esforçando-se para encobrir sua indignação ante a leitura do pergaminho que para ele era ultrapassado, disse ao príncipe, em tom de conselho amigo:

–           Meu bom companheiro, reinaremos numa Salém vitoriosa, que fulgurará muito acima deste pergaminho, cujos princípios foram cumpridos fielmente nesses anos de prova. A plena liberdade não será a glória de Salém? Pois saiba que, completa liberdade não coexistirá com estas leis, cujo objetivo encerra-se ao fim dos cinco anos. Caberá a nós dois coroarmos Salém com a honra de uma total liberdade, que gerará uma felicidade sem fim. Tal liberdade é impossível existir sob as limitações do pergaminho.

O filho do rei ficou muito abalado ante as palavras de seu amigo, que evidenciavam loucura. Como libertá-lo desse caminho de morte?!

Ninguém em Salém, além de Melquisedeque, conhecia a triste condição de Samael. Com paciência, o príncipe procurava conscientizá-lo do real valor do pergaminho, cujas leis não podiam jamais ser alteradas, pois isto seria o fim de toda a paz. Os conselhos do príncipe despertaram finalmente o seu coração. Meditando sobre suas palavras, conscientizou-se de estar seguindo por um caminho enganoso. Ao ver nos olhos daquele a quem tanto amava as lágrimas do arrependimento, o filho de Adonias alegrou-se com sua vitória sobre o orgulho e o egoísmo. Os dias que seguiram-se à libertação foram cheios de realizações. O príncipe revelava-se ainda mais amigo, disposto a dar tudo de si para que seu companheiro pudesse prosseguir triunfante no caminho da humildade. Naqueles dias de júbilo, foi dada a ele a honra de conhecer o cetro que estava sendo moldado.

Num momento de descuido, Samael, que voltara a desfrutar paz de espírito, permitiu que seu coração novamente ficasse possuído por um sentimento de grandeza, que fez desencadear nova tormenta em sua alma. Esse sentimento misto de orgulho e cobiça lhe sobreveio no momento em que o príncipe mostrava-lhe o dourado alaúde, no qual estava sendo impresso o selo de todo o domínio.

Capítulo V

De sua mansão Samael contemplava Salém em seu resplendor matinal. Vendo-a, qual noiva adornada à espera de seu rei, cobiçou-a. Em seu delírio passou a formular planos de conquista. Já podia sentir-se exaltado sobre o seu trono, tendo nas mãos o cetro precioso. Todos o aclamariam como o libertador da opressão daquelas leis. Salém seria um reino de completa liberdade e prazer. Dominado por esta cobiça, passou a maquinar planos de conquista. Samael decidiu agir subtilmente entre os súditos, levando-os a ver no pergaminho um empecilho à real liberdade. Em sua missão de engano, agiria com aparente bondade, revelando interesse pelo crescimento da felicidade de todos.

Pondo em prática seus planos, passou a visitar os súditos em suas mansões, falando-lhes das glórias do reino vindouro, onde desfrutariam completa liberdade. Grande era a sua influência em Salém. Todos admiravam sua beleza e sabedoria, tendo-o como um perfeito apóstolo da justiça e do amor. Ninguém podia imaginar que, em meio àquela atmosfera de júbilo e gratidão, uma armadilha sutil estava sendo colocada, nas garras da qual muitos poderiam cair por descuido. Em sua sedutora missão, Samael não falava contra o pergaminho, aliás, louvava-o por haver exercido naqueles seis anos, prestes a findarem, uma missão de prova. Em sua lógica, contudo, procurava mostrar que, no reino vindouro, quando todos estivessem aprovados, estariam acima daquelas leis. Seus argumentos, aparentemente corretos, preparavam-lhe o caminho para afirmar abertamente que, no novo reino, a existência do pergaminho seria um entrave à concretização da verdadeira liberdade.

As sementes da rebelião lançadas por Samael não tardaram a germinar no coração de muitos em Salém. Isto acontecia a seis meses do Yom Kipur, quando o destino de todos seria selado. Um terço dos habitantes, seduzido pelo terrível engano, exaltava-o agora, em completo desprezo às leis e ao príncipe, a quem julgavam ultrapassados. Adonias, que sofria ao ver o surgimento de toda essa rebeldia, convocou os súditos para uma reunião de emergência. Na face de todos podia-se ver as contrastantes disposições. Com voz compassiva, o rei passou a revelar-lhes, como jamais fizera antes, a grande importância das leis registradas no pergaminho, mostrando que elas eram a base de toda a prosperidade e paz. Se tais leis fossem banidas, toda felicidade e glória se extinguiriam, dando lugar ao caos.

Depois de mostrar a necessidade das leis, Melquisedeque, movido por um forte desejo de salvar aqueles a quem tanto amava, ergueu diante de todos o pergaminho e, com voz cheia de bondade, ofereceu-lhes o perdão e a oportunidade de recomeçarem no caminho da paz. Suas palavras a todos emocionou. Até mesmo Samael ficou a princípio motivado, contudo, o orgulho impediu-lhe novo arrependimento. Desta maneira, o súdito honrado, quando ainda podia olhar arrependido para o pergaminho, endureceu-se em sua rebeldia, decidindo prosseguir até o fim. Esta decisão, todavia, não a manifestaria prontamente, pois idealizara um traiçoeiro plano.

Ao findar o encontro da oportunidade, Samael convocou seus seguidores para uma reunião secreta, que foi realizada sob o manto da noite, junto ao riacho de Cedrom, que fica fora dos muros de Salém. Após maldizer o pergaminho e a todos aqueles que o defendiam, começou a falar-lhes de seus planos de vingança e traição:

–           Como vocês sabem, os seis anos da prova estão se esgotando, restando, a partir de hoje, vinte e quatro semanas para o dia da coroação. Se vocês quiserem ter-me como rei em lugar de Melquisedeque, poderei roubar-lhe o cetro, apoderando-me do reino.

Samael passou a explicar-lhes os lances da traição, dando-lhes as devidas orientações sobre a maneira de agirem a partir daquela data:

–           Precisamos manter uma aparência de fidelidade ao pergaminho e ao príncipe até que chegue o momento de agirmos. O golpe será dado na noite que antecede o dia da coroação. À meia-noite, furtivamente nos ausentaremos de Salém. Roubarei nessa noite o cetro e, juntos, fugiremos para o profundo vale onde estão as cidades de Sodoma e Gomorra. Ali nos armaremos, e marcharemos contra Salém, subjugando nossos inimigos. Acabaremos então com o pergaminho e com todos aqueles que se recusarem prestar obediência ao nosso governo.

Capítulo VI

Sobrevieram dias de aparente tranqüilidade e paz. Samael, fingindo fidelidade, estava sempre ao lado do príncipe, demonstrando admiração pelas suas novas composições que exaltavam as leis do pergaminho. Os seguidores de Samael, da mesma maneira, uniam as vozes em louvores que expressavam a grandeza dos princípios aos quais repugnavam. Melquisedeque, cheio de alegria por ver aproximar-se o dia de sua coroação, ensaiava com os súditos os cânticos da vitória, os quais compusera especialmente para aquela ocasião. Com felicidade falava a todos sobre seus sonhos em tornar Salém cada vez mais honrada por sua beleza e harmonia. Samael, em sua maldade velada, zombava do príncipe. Já previa a dor que lhe traria o golpe da traição.

Naqueles dias de aparente paz, o súdito rebelde procurou conhecer o lugar em que o cetro ficaria oculto até o dia da coroação. O príncipe, sem nada desconfiar, revelou-lhe todo o segredo: a sala, o cofre com seu enigma, o rico estojo e, finalmente o tesouro. Contemplando-o, o astuto Samael animou-se ao ver estampado em seu bojo o selo do domínio. Compreendeu que aquele que o possuísse teria nas mãos o reino de Salém. Somente alguns dias, pensou, e teria sob seu poder aquele instrumento precioso.

O sol declinou trazendo para Salém o dia que significaria vitória ou derrota. Pouco antes do anoitecer, Samael deixara o palácio onde passara todo o dia ao lado do príncipe, ajudando-o nos preparativos para a cerimônia da coroação. Dirigindo-se para sua mansão, saudou as trevas com um sorriso maldoso. Como ansiara por aquela noite! Enquanto os fiéis, embalados pela emoção da feliz vitória, revisavam sob a luz de candeias os adornos de seus instrumentos, de vestes e mansões, certificando-se que seriam aprovados na manhã seguinte, Samael e seus seguidores faziam seus últimos preparativos para desferirem o golpe.

À meia-noite, seguindo as instruções de Samael, todos os seus seguidores abandonaram silentemente suas mansões, rumando-se ao profundo vale de Cedrom, onde esperariam pelo seu novo rei. Samael, por sua vez, dirigiu-se aos fundos do palácio, por onde esperava entrar sem ser notado, indo ao encontro do cetro. Evitando qualquer ruído, transpôs o portal, dirigindo-se silentemente à sala que guardava o precioso cetro.

Naquele momento, o príncipe que, insone rolava em seu leito, pressentindo algum perigo, dirigiu-se ao quarto de seu pai e o despertou dizendo:

–           Meu pai, ouvi ruídos de passos no interior do palácio.

Afagando a cabeça de seu filho, Adonias, sonolento respondeu-lhe:

–           Filho, não se preocupe. Deite-se comigo e durma tranqüilamente. Daqui a pouco raiará o alvorecer e você terá nas mãos o alaúde dourado.

O príncipe, tranqüilizado pelas palavras confiantes de seu pai, entregou-se a um sono de lindos sonhos em que vivia ao lado de Samael e de todos os súditos de Salém, os momentos festivos da coroação. Enquanto isso, o rebelde, com as mãos trêmulas, apossava-se do cetro. Naquele momento, teve a idéia de levar somente o alaúde, deixando o estojo em seu devido lugar. Com um sorriso cheio de maldade, imaginou o momento em que o rei entregaria ao seu filho aquele estojo vazio. Levando consigo o cetro, Samael dirigiu-se apressadamente ao lugar em que seus seguidores o aguardavam. Ao encontrá-los, deu vazão a todo o seu orgulho proclamando:

–           Agora eu sou o rei de Salém. Quem possui um cetro como o meu? Com ele domino a terra e o mar. A minha força está nas trevas, pois através delas o conquistei.

Festejando a vitória, a turba ruidosa afastou-se para distante de Salém, seguindo rumo às cidades corrompidas da planície, onde pretendiam armarem-se para a conquista de seu reino.

O sol surgiu no horizonte, trazendo a luz do dia da expiação (Yom Kipur). Despertando de seu sono de lindos sonhos, o príncipe apronta-se para a cerimônia do juízo e da coroação. Vestes especiais de linho fino, adornadas com fios de ouro e pedras preciosas, foram-lhe preparadas. Depois de vestir-se, Melquisedeque encaminhou-se para o encontro de seus súditos, na extremidade sul de Salém. Dali os conduziria numa marcha festiva rumo ao palácio situado ao norte, sobre o monte Sião.

Adonias, fazendo soar um longo chifre, convocou a todos para a reunião do julgamento. Deixando suas mansões, todos os remanescentes dirigiram-se para a praça do portão sul, levando consigo seus instrumentos musicais. Ao encontrar-se com aqueles fiéis, Melquisedeque ficou surpreso pela ausência de muitos. Esse mistério doía-lhe na alma, pois lhe ocultava a face mais querida de seu amigo Samael. Deixando seus seguidores reunidos, o príncipe saiu à procura dos ausentes. Em sua busca infrutífera, dirigiu-se finalmente à mansão do monte, onde chamou por Samael. Sua voz, contudo, não trouxe nenhuma resposta além de um eco vazio, que traduzia ingratidão.

Lendo no triste vazio a traição, sentiu vontade de chorar. Num só momento veio-lhe à mente todo o passado daquele a quem buscara com tanta dedicação conservá-lo em sua glória, através de conselhos sábios. Recordou aqueles dias que seguiram à sua recuperação. Como se alegrara com a certeza de que seu amigo não mais voltaria a cair! Levando-o a pressentir a tragédia, vieram-lhe à lembrança as indagações de Samael sobre o alaúde, o qual mostrou-lhe num gesto de amizade. A memória deste fato, somada aos passos ouvidos no interior do palácio naquela noite, deu-lhe a certeza de que Salém corria perigo. Não suportando essa possibilidade de traição, prostrou-se em pranto, ferido pela terrível ingratidão daquele a quem dedicara tanto amor. Curvado pela dor, permaneceu por algum tempo procurando encontrar algum consolo. Enxugou finalmente as lágrimas, decidido a fazer qualquer sacrifício a fim de devolver a Salém sua glória e poder, redimindo-lhe o cetro das mãos do rebelde.

Consolado pela certeza da vitória, Melquisedeque retornou para junto dos súditos fiéis. Ocultando-lhes seu sofrimento, bem como o motivo da ausência de tantos, o príncipe guiou-os em marcha triunfal rumo ao palácio.

Capítulo VII

Ao aproximarem-se do monte Sião, galgaram os alvíssimos degraus da escadaria, sendo seguidos pela multidão exultante. Doía-lhe na alma a expectativa de ver morrer nos lábios dos fiéis, naquela manhã, o seu alegre canto, devido ao golpe da traição. Encontravam-se agora no interior do palácio, diante do magnífico trono que esperava pelo jovem rei. Na base do trono, jazia aberto, em meio a um arranjo de flores, o pergaminho das leis. Junto dele podia-se ver a linda coroa, feita de ouro e pedras preciosas, bem como o estojo daquele cetro que simbolizava toda a harmonia de Salém.

Os súditos estavam felizes, pois sabiam que seriam considerados dignos de herdar aquele reino de paz. Aguardavam agora o momento da coroação, quando o seu novo rei os regeria de seu trono com seu cetro precioso, num cântico triunfal. Em meio aos aplausos das hostes vitoriosas, Melquisedeque dirigiu-se a seu pai, que o recebeu com um carinhoso abraço. O momento era deveras solene. As hostes silenciaram-se na expectativa da coroação. O estojo seria aberto e todos testemunhariam a exaltação do querido príncipe. Com o coração pulsando forte pela alegria, Adonias curvou-se sobre o estojo, abrindo-o cuidadosamente. Ao encontrá-lo vazio, a alegria de seu semblante deu lugar a uma expressão de indizível preocupação e tristeza, pois naquele cetro selara o destino daquele reino de paz.

Ao ver seu pai e todos os súditos aflitos pela ausência do cetro e de tantos amigos que deveriam estar com eles naquele momento, Melquisedeque consolou-os com a promessa de que buscaria o cetro. Inconscientes dos riscos e perigos que aguardavam o príncipe em seu caminho, os súditos despediram-se dele, vendo-o partir apressadamente.

O alvorecer daquele dia que seria o da coroação alcançou os rebeldes distantes de Salém, a caminho das cidades da planície. Naquele manhã, Samael encheu-se de fúria ao ver que o precioso alaúde estava adornado com inscrições das leis contidas no pergaminho. Tomando uma pedra pontuda, passou a danificar o cetro, raspando-lhe todas as palavras de amor e justiça. Suas harmoniosas cordas estavam agora desafinadas sobre o seu bojo ferido, mas continuava sendo precioso, pois sobre ele jazia selado o domínio de Salém. Possuí-lo, significava ser dono de todo o poder.

Ao chegarem à altura em que o caminho bifurcava-se, Samael ordenou a seus seguidores que prosseguissem rumo a Gomorra, enquanto ele iria até Sodoma, onde permaneceria por dois dias, juntando-se depois a eles. Esperou pela noite para entrar em Sodoma. Quando ali entrou, caminhou pelas ruas estreitas sem ser notado, até encontrar uma casa isolada sobre uma elevação. Fazendo do cetro sua arma, invadiu a casa matando seus moradores, enquanto dormiam. Apossou-se dessa maneira daquela residência onde, solitário, maquinaria seus planos para a tomada de Salém.

O entardecer daquele dia que seria o da coroação alcançou o filho de Adonias a caminhar pelo pedregoso caminho rumo ao vale. Seus olhos carregados de tristeza e anseio voltam-se para o solo, em busca dos rastros dos rebeldes. A lembrança da ingratidão daqueles a quem tanto amava o fez chorar. Suas lágrimas, refletindo os últimos lampejos daquele sol poente, assemelham-se a gotas de sangue jorrando de um coração ferido. Ele chorava não por causa dos perigos que lhe sobreviriam naquela fria noite, mas pela infeliz sorte daqueles que haviam trocado a paz de Salém pela violência daquelas cidades da planície. O seu único consolo era a lembrança daqueles que, apesar de todas as tentações, haviam permanecido fiéis. A eles prometera devolver o cetro, e isto o faria apesar de qualquer sacrifício.

Depois de uma longa noite de insônia em que o príncipe ficou recostado ao lado do caminho, raiou a luz de um dia que seria decisivo. Ao aproximar-se de Sodoma naquela manhã, o pensamento de estar tão próximo do cetro de sua amada Salém fez com que se esquecesse de toda a fadiga, abreviando seus passos rumo ao desafio. Ao abeirar-se do grande portão da cidade, ficou tomado por um temor, ao ouvir ruídos espantosos de desarmonia, que traduziam o orgulho, o egoísmo e a cobiça que ali dominavam todos os corações, fazendo-os explodir na orgia de uma maldade sem fim.

Seria um grande risco expor-se à violência gratuita daquela cidade. Esse pensamento o fez deter-se a um passo do portal, onde estremecido curvou a fronte em indizível luta íntima. Era tentado a recuar, mas lutava com todas as forças de sua alma contra esse pensamento de fracasso. Pensando na triste sorte de Salém, cujo domínio estava sendo pisado no interior daquela cruel Sodoma, Melquisedeque tomou uma firme decisão: como um destemido guerreiro haveria de avançar, e, mesmo que tivesse de enfrentar o acúmulo de todos os perigos, prosseguiria, até erguer em suas mãos vitoriosas o cetro amado.

Resoluto e esperançoso, transpôs o portão de Sodoma, mergulhando naquele mundo estranho. Tudo ali era o oposto de Salém, começando pelas pedras ásperas e sujas de suas construções. Sodoma era um reino de trevas. A presença contrastante do príncipe foi logo notada por muitos que, em tumulto, o cercaram. A pureza de caráter expressa em sua meiga face e o esplendor de suas vestes encheram-nos de espanto, e recuaram como que vencidos por uma força invisível. Dominados pela fúria, passaram a persegui-lo à distância, decididos a fazê-lo recuar. Jogavam-lhe pedras e lama tentando macular-lhe as vestes, mas não o atingiam, enquanto ele avançava em sua ansiosa busca. Desistiram finalmente de persegui-lo, ao entardecer.

Capítulo VIII

O filho de Adonias percorrera todas as ruas e becos à procura do precioso cetro, mas em vão. Ao ver tombar no horizonte o sol, anunciando a chegada de mais uma escura e fria noite, seu coração ficou opresso por uma grande agonia. Ali, naquele último beco, quase vencido pela exaustão e pelo desespero, inclinou a fronte, desfazendo-se em pranto. Seus lábios pronunciaram em meio aos soluços as seguintes palavras:

–           Salém, Salém, você não pode perecer! O seu cetro precisa ser redimido das garras da rebeldia! Mas quando e onde vou encontrá-lo?! Já não restam forças em mim e a esperança de redimi-lo antes da noite me abandona!

O príncipe, em sua suprema angústia, não percebia que outro gemido de dor, procedente de cordas arrebentadas de um alaúde humilhado, fazia-se ouvir naquele entardecer. Subitamente, o fraco gemido penetrou seus ouvidos, reanimando-o com a certeza de que o grande momento da redenção havia chegado. Enxugando as lágrimas, reuniu as últimas forças correndo em direção a uma pequena casa situada sobre um monte, de onde parecia vir o som. Ao dirigir-se à porta entreaberta, deteve-se ao contemplar uma cena chocante, de humilhante escravidão: Samael, envolvido por um manto sujo, castigava o cetro de Salém. Tanto o rapaz quanto o cetro achavam-se tão desfigurados, que não restavam neles quase nenhum traço da glória perdida. Aquele cetro, contudo, mesmo arrasado como estava, era muito precioso, pois nele jazia o selo do domínio de Salém.

A contemplação daquele que fora seu maior amigo e daquele cetro idealizado como símbolo de toda a harmonia, em tão trágica condição, comoveu profundamente o príncipe, fazendo-o chorar em alta voz. Somente então o súdito rebelde percebeu sua presença indesejada. Estremecido, levantou-se, e, cheio de ira perguntou-lhe:

–           O que o trouxe a Sodoma?

Apontando para o cetro danificado, Melquisedeque exclamou:

–           A glória de Salém está destruída!!!

Com uma gargalhada, Samael zombou de sua tristeza, dizendo:

–           Agora eu sou o rei de Salém. Vocês que são fiéis ao pergaminho, tornar-se-ão meus escravos.

Sem se importar com as palavras de afronta de Samael, o príncipe, movido por uma infinita angústia, disse-lhe:

–           Samael, Salém está ferida por sua traição. Por que você trocou o seu lar de justiça e amor por esse vale de injustiça, ódio e morte?! Agora, se não deseja retornar à Salém arrependido, devolva-lhe o cetro. Foi para redimi-lo que, a despeito de todos os perigos, desci a esse vale hostil.

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Conhecendo o propósito do príncipe, o rebelde encheu-se de raiva e, cerrando os punhos, disse-lhe:

–      Eu o odeio Melquisedeque!

Tendo dito isto, arremessou o cetro ao chão, e pisando-o acrescentou:

–           Tenho vontade de fazer o mesmo com você.

Diante dessa afronta, o príncipe não sentiu nenhum temor, mas compaixão. Transportando-se ao feliz passado, lembrava-se dos momentos felizes em que tinha sempre ao seu lado a Samael. Ele era um jovem puro e humilde de coração. Por que permitira ser escravizado pela ilusão do orgulho e do egoísmo?! Quão doloroso era ver aquele jovem que, por sua beleza e simpatia, havia sido honrado acima de todos os súditos, agora arruinado pela cobiça! Não fora o sonho do príncipe ter junto ao seu trono glorificado, aquele que lhe era o mais precioso amigo?! Essa tragédia feria-lhe a alma.

Contudo, a triste condição do cetro o atingia ainda mais, pois ele fora feito como o símbolo de toda a harmonia, e estava sendo desfeito sob os pés da ingratidão. Surpreso por não ver nos olhos de Melquisedeque nenhuma expressão de temor, porém de piedade, Samael sentiu-se frustrado em suas afrontas que visavam amedrontá-lo, levando-o desistir de sua missão. Diante da postura digna do príncipe, que em silente dor o contemplava, sentiu-se envergonhado. Essa fraqueza, contudo, foi banida pelo orgulho que dominava o seu coração. Começou então a planejar algo terrível, para humilhar e ferir o príncipe, fazendo-o sofrer ainda mais.

Com escárnio disse-lhe:

–           O cetro de Salém poderá ser seu, se você conseguir pagar-me o preço de seu resgate.

Com um brilho nos olhos, o príncipe perguntou-lhe:

–           Qual é o preço?

Samael, com um sorriso maldoso, respondeu-lhe pausadamente:

–           O preço não é ouro nem prata, mas dor e sangue. Você deverá despir-se completamente de suas vestes, deitando-se ao chão. Deverá suportar nessa condição, espancamentos, até que o sol se ponha. Se você estiver disposto a submeter-me, sem reagir, o cetro será inteiramente seu

Estremecido ante tão cruel proposta, o filho de Adonias olhou para o sol que pairava distante sobre uma nuvem. Passou a travar em seu coração uma luta intensa. A princípio, o horror do sacrifício quase o dominou, levando-o recuar, mas o pensamento de ver Salém escravizada pela rebeldia, levou-o finalmente à decisão de pagar o preço do resgate, entregando-se ao humilhante sofrimento.

Tendo tomado a firme decisão de resgatar o cetro, o príncipe tirou as vestes, colocando-as sobre uma pedra. Deitou-se em seguida naquele solo frio, com a fronte voltada para o poente. Impiedosamente, Samael começou a espancá-lo, fazendo uso do próprio cetro como instrumento de tortura. Gemendo pela dor dos golpes que o faziam sangrar, o príncipe mantinha o olhar fixo no sol que parecia deter-se sobre a nuvem. Atordoado pela dor, contemplou finalmente o sol prestes a se pôr. Alentado pela vitória que se aproximava, murmurou baixinho:

–           Salém, Salém, daqui a pouco terei em meus braços o teu cetro precioso que, em minhas mãos, tornar-se-á num instrumento de justiça e paz.

Ouvindo a promessa do príncipe feita por entre gemidos, Samael bradou-lhe com fúria:

–           O seu sofrimento não trará nenhum alvorecer para Salém, pois suas mãos jamais serão capazes de tocar no cetro.

Depois de fazer essa afronta, Samael apossou-se de uma pedra pontuda, preparando-se para desferir os últimos golpes. Enquanto pensava sobre a feliz vitória de Salém, Melquisedeque sentiu seu braço direito ser comprimido pelos pés de Samael. Seguiu a esse rude gesto um golpe que o fez contorcer-se em agonia. Sua mão fora vazada cruelmente, passando a jorrar abundante sangue da ferida aberta. Essa mesma violência foi descarregada logo depois sobre sua mão esquerda. Não suportando a agonia causada por esses derradeiros golpes, o filho de Adonias, ensangüentado, mergulhou nas trevas de um profundo desmaio.

Capítulo IX

Ao cessar de golpear o príncipe, o súdito rebelde ficou possuído por um estranho horror, ao contemplar na face daquele que somente lhe fizera o bem, o torpor da morte. Procurava não recordar o passado, mas, irresistente, sentia ser arrastado aos dias de sua feliz inocência em Salém. Revestido de ricas vestes estava sempre ao lado do príncipe que, com dedicação, ensinava-lhe a cada dia suas canções falando de paz. Nas indesejadas lembranças pelas quais era arrastado, reviveu seus primeiros passos no caminho do orgulho e do egoísmo. Lembrou-se dos incessantes conselhos e rogos daquele que fora seu melhor amigo, para que desistisse daquele caminho que poderia conduzi-lo à infelicidade.

Depois de ser arrastado em lembranças por todo aquele passado de felicidade destruída por sua culpa, Samael teve consciência de sua ingratidão. Horrorizado pelo que fizera, curvou-se sobre o corpo ensangüentado de Melquisedeque, e desesperou-se ao vê-lo sem vida. Não suportando o peso da grande culpa, deixou às pressas aquele lugar, desejando ocultar-se distante, sob as trevas da fria noite.

Depois de um profundo desmaio, o príncipe começou a voltar à consciência. Em delírios que o transportavam ao seio de sua amada Salém, ele revivia momentos vividos e sonhados. Com alegria contemplava a face de seu maior amigo, para quem estendeu a mão com um sorriso. Mas seu gesto foi frustrado por uma profunda dor. Em meio aos aplausos dos súditos vitoriosos, recebe de seu pai o cetro, mas, ao tocá-lo, sente uma irresistível dor em suas mãos. Com esses sonhos frustrados pela dor, Melquisedeque despertou para a realidade. Estava nu, ferido e solitário, em um lugar perigoso, longe do abrigo e carinho de Salém. Mais doloroso era pensar que tudo aquilo era a retribuição de alguém que fora o alvo principal de todas as dádivas de seu amor.

O príncipe, sem poder mover-se, considerando a grande traição, passou a chorar sem consolo. Lamentava não por sua dor, mas pela perdição daqueles que haviam trocado o carinho e a justiça de Salém pelo desprezo e ódio que os reduziriam finalmente a cinzas sobre aquele vale condenado. Através das lágrimas, o príncipe contemplava o céu que, semelhante a um manto tinto de sangue, estendia-se banhado na luz do sol poente. Lembrou-se então do alaúde pelo qual pagara tão alto preço. Onde estaria ele? Em sua desesperada fuga, Samael deixara o cetro abandonado junto ao corpo ferido de Melquisedeque. Quando ele o viu, esqueceu-se de toda a dor, e alcançou-o com suas mãos feridas. Acariciando-lhe o bojo arruinado, disse-lhe com um sorriso:

–           Você é meu novamente. Eu o comprei com o meu sangue.

Samael que, dominado pelo estranho horror, fugira após cometer o horrível crime, deteve-se a um passo do portão de Sodoma. Ali impulsionado pelo orgulho, arrependeu-se com indignação de sua fraqueza. Por que fugira depois de conquistar tão grande vitória? Não era seu plano destruir o reino de Salém, para estabelecer seu próprio reino? Lembrando-se do cetro, decidiu retornar para tomá-lo. Por que o deixara abandonado junto ao cadáver daquele odiado príncipe?

Reunindo suas poucas forças, Melquisedeque dirigiu-se tropegamente ao lugar em que deixara suas vestes. Depois de vestir-se, tendo junto ao peito o cetro amado, o filho de Adonias, com profunda emoção, fez um juramento antes de deixar aquele lugar de seu sofrimento. Acariciando o cetro, disse-lhe:

–           Meu querido cetro, você foi criado como um emblema da harmonia que procede da justiça e do amor. Toda a glória de Salém repousava sobre você quando a rebeldia em sua ingratidão escravizou-o, arrastando-o para este vale hostil. Aqui você foi ferido e humilhado, vindo a tornar-se um instrumento de impiedade nas mãos do tirano. Eu, porém, o redimi com o meu sangue. Agora nossas feridas serão restauradas, e em breve seremos entronizados em meio aos louvores de uma Salém vitoriosa. Quando esse sonho se concretizar, testemunharemos juntos o fim daqueles que se levantaram contra nós para nos ferir. Samael e seus seguidores serão devorados pelo fogo que reduzirá a cinzas Sodoma e Gomorra.

Concluindo seu solene juramento, o jovem príncipe, já oculto pelas trevas da noite, deixou aquela colina, e sobre ela as marcas de seu sofrimento.

Desde que o filho do rei partira, prometendo retornar com o cetro, Salém vivia momentos de indizível anseio. Em pranto, o rei e os súditos remanescentes lembravam-se de todo aquele feliz passado desfeito pela ingratidão dos rebeldes. O que mais lhes torturava era a ausência do príncipe e do cetro, sem os quais todo o brilho daquele reino de paz se ofuscaria. Desejando consolar o coração de seus súditos, Melquisedeque avançava em meio à noite rumo aos montes que cercavam Salém. Ainda que enfraquecido e ferido, prosseguia em sua marcha ascendente, esperando alcançar sua pátria pela manhã.

Aquela longa e escura noite foi finalmente vencida pelos raios do alvorecer. Em Salém a esperança em rever Melquisedeque com o seu cetro estava quase banida quando, ao olharem para o Monte das Oliveiras, viram-no descendo pelo caminho do Getsêmani. Quando o encontraram no profundo vale de Cedrom, ficaram assustados com sua aparência: sua face estava pálida e seu manto encharcado de sangue. Mesmo assim, ele sorria expressando grande alegria. Ao perguntarem-no sobre o porquê daquelas marcas de sangue, Melquisedeque retirou de sob o manto suas mãos feridas, revelando-lhes entre elas o cetro redimido. Depois de contar-lhes os passos que o levaram ao resgate do cetro, os súditos, emudecidos, prostraram-se reverentes aos seus pés, aclamando-o como seu redentor e rei. Em meio aos louvores das hostes redimidas, o príncipe foi introduzido no palácio real, onde, sob os cuidados de seu amoroso pai, deveria restabelecer-se de seu sofrimento. O cetro desfigurado, agora mais precioso, seria também restaurado, devendo tornar-se mais belo que antes. O dia da coroação foi fixado para o próximo Yom Kipur. Naquele dia, Melquisedeque selaria com o cetro restaurado o triunfo de todos os fiéis, bem como a condenação dos rebeldes.

Capítulo X

Poucos instantes após a saída de Melquisedeque, Samael chegara ao local onde o deixara aparentemente sem vida, ao lado do alaúde. Sem entender aquele misterioso desaparecimento, ele prosseguiu para Gomorra, onde seus seguidores o esperavam. Ao vê-los, proclamou sua “vitória” sobre o odiado príncipe e sobre o cetro, os quais massacrara em Sodoma, não restando aos seguidores do pergaminho nenhuma esperança. Suas palavras agradaram a turba rebelde, que passou a comemorar a “conquista”, entregando-se à orgia. Zombavam agora da justiça e do amor, exaltando a Samael como rei vitorioso.

Obteriam agora armas, com o propósito de avançarem sobre Salém, desferindo-lhe o último golpe. Juntaram-se a eles, em seu maléfico propósito, muitos criminosos que foram recebidos como mestres no manejo de arcos e flechas. Em sua loucura, Samael ordenou o banimento de todo calendário, pois em seu reino de “liberdade” não estariam sujeitos a nenhum cômputo de tempo. As leis da moralidade foram também banidas, surgindo com isso um completo caos. Essa desordem revelou-se de maneira mais patente no barulho estridente e cacofônico, ao qual proclamaram como a nova música. Dominados pelo egoísmo, Samael e seus seguidores alimentavam-se de ilusões, inconscientes de que seus dias estavam contados. Os frutos da rebelião não tardariam a atrair sobre eles o fogo da destruição.

Dividindo seus seguidores em pequenos grupos, Samael passou a comandá-los em atos violentos que aterrorizavam os moradores das planícies. Por esse tempo, eles escondiam-se nas cavernas situadas próximas ao mar salgado.

O respeito e o medo dos guerrilheiros de Samael levaram finalmente os reis de quatro cidades a procurarem-no, propondo alianças de paz. Eram eles: Bara, rei de Sodoma; Bersa, rei de Gomorra; Senaab, rei de Adama; Semeber, rei de Seboim, e Segor, o rei de Bela. Por essa época, esses reis pagavam tributos a Cordolaomor, rei de Elam, que, acompanhado pelos exércitos de quatro outras cidades, os haviam subjugado no vale de Sidim junto ao mar salgado.

Fortalecido pelas alianças, Samael tornou-se mais ousado em suas investidas, levando o terror e a destruição aos territórios de cidades distantes. Os exércitos de Cordolaomor e seus aliados que retornavam nesses dias de outras conquistas, enfurecidos pelas provocações de Samael, marcharam contra os quatro reis, vencendo-os novamente no vale de Sidim. Foi nessa ocasião que levaram cativos os habitantes de Sodoma, entre os quais encontrava-se o meu sobrinho Ló. Acovardados diante do furor dos cinco reis, Samael e seus seguidores esconderam-se em suas cavernas, ao norte do mar salgado.

Capítulo XI

Os doze meses contados a partir do grande sacrifício estavam prestes a terminar. O cetro, totalmente restaurado, resplandecia em seu estojo, enquanto o príncipe, igualmente restabelecido das feridas causadas pela rebeldia, alegrava-se ao ver chegar o Yom Kipur de sua coroação. Enquanto isso, ele compunha lindas canções que expressavam o seu amor por Salém. Naqueles doze meses, a cidade da paz tornara-se mais bela, sendo adornada qual noiva para o grandioso dia da coroação.

A uma semana para o Yom Kipur, Samael, totalmente inconsciente de que o dia de seu julgamento se aproximava, reuniu os seus seguidores, anunciando-lhes que a próxima missão seria a conquista de Salém. Antes de avançarem, contudo, ele subiria sozinho para verificar os pontos vulneráveis da cidade. Depois de ser aplaudido pela turba, Samael partiu em sua missão de reconhecimento. Enquanto avançava sozinho, procurava não se lembrar daqueles momentos que lhe trouxeram terror pela culpa, mas, dominado por uma força superior, foi arrastado em suas lembranças para aquele monte da cruel tortura.

Todo o seu passado começou a vir-lhe à lembrança, como um peso esmagador. Quando despertou de suas lembranças, das quais não conseguiu fugir, já era noite. A escuridão que o envolvia pareceu-lhe o prenúncio de um triste fim. Esse desânimo, contudo, procurou bani-lo com a lembrança do exército que o esperava, pronto para cumprir suas ordens, na conquista de Salém, onde não haveria lembranças daquele pergaminho.

O alvorecer o alcançou próximo de Salém. Ao avistar o monte das Oliveiras, veio-lhe à lembrança a última vez que o transpôs, deixando para trás a cidade vencida. Quantas noites haviam passado desde então? Ele perdera a noção de tempo, não sabendo que justamente doze meses haviam se passado. Não podia imaginar que raiava naquela manhã o Yom Kipur, o dia de seu julgamento. Ao chegar ao topo do monte das Oliveiras naquela manhã, Samael surpreendeu-se ao ver que a cidade tornara-se mais bonita que outrora. Toda ela estava adornada de ramos e flores, como uma donzela à espera de seu noivo. Contudo, Salém estava abandonada, não havendo nenhum sinal de vida em todas as suas mansões. Isto o fez concluir que os golpes, que haviam aniquilado o príncipe e o cetro, trouxeram como conseqüência todo aquele abandono. Ele não sabia, contudo, que naquele momento todos os remanescentes daquele reino, encontravam-se ocultos no grande salão do palácio, aguardando pelo momento mais glorioso da coroação de Melquisedeque.

Imaginando-se exaltado sobre o trono abandonado, tendo a seus pés os exércitos vitoriosos, o rebelde penetrou na cidade, dirigindo-se apressadamente ao palácio. Ao transpor o portal principal que dava entrada ao salão principal, ficou surpreso ao ver ali reunida uma multidão de fiéis. Sobre um áureo tablado, enfeitado de flores talhadas em pedras preciosas, encontra-se o trono vazio. Na base do trono estava o pergaminho das leis, uma coroa de ouro cheia de pedras preciosas e o estojo que deixara vazio naquela noite de traição. Sem entender o enigma, Samael escondeu-se por trás de uma coluna, temendo ser reconhecido, e ficou observando. Os súditos, com expressão de feliz expectativa, olhavam para o trono vazio. Onde encontravam eles motivos para toda essa alegria, se haviam perdido o seu rei juntamente com o cetro? Samael questionava sobre esse mistério, quando Adonias, aplaudido pelos súditos, encaminhou-se para junto do trono. Com voz cheia de emoção pela vitória, o fundador de Salém anunciou que havia chegado o momento tão sonhado da coroação. Um brado de triunfo ecoou pelos ares quando, anunciado pelo seu pai, entrou o amado príncipe encaminhando-se em direção ao trono. Ao vê-lo coberto por um manto de glória, Samael ficou possuído por um terrível pavor, e procurou fugir. Descobriu, contudo, que todos os portais do grande salão estavam fechados por fora.

Teve início a cerimônia da coroação. Era um momento deveras solene. Adonias, num gesto reverente, tomou a rica coroa, colocando-a na fronte de seu filho. Prostrando-se depois sobre o estojo, abriu-o cuidadosamente, tirando dele o alaúde restaurado, cuja beleza e brilho eram muito superiores à sua primeira condição, ao sair das mãos de Adonias o seu luthier. Assentando-se no trono em meio às aclamações dos súditos, Melquisedeque passou a dedilhar o cetro, tirando dele acordes de muita harmonia e paz. Todos se aquietaram para ouvirem suas novas composições que expressavam o seu profundo amor pelo cetro e por todo aquele reino de paz.

Grande emoção invadia o coração de todos naquele momento, levando-os às lágrimas. Samael, sem forças para reagir, sentia-se torturado por aqueles acordes que faziam reviver em sua mente suas oportunidades perdidas, numa terrível dor para sua consciência. Melquisedeque compusera para aquele momento especial, canções que retratavam os momentos marcantes da história de Salém; Quando passou a cantar sobre a amizade que tinha por Samael, sua voz embargou-se pelas lágrimas que não conseguia conter. Triste para ele era cantar sobre a queda daquele que foi-lhe o maior amigo! Cantou então sobre o alto preço que teve de pagar pela reconquista do cetro, que representa a honra de Salém.

Ao contemplarem aquelas mãos marcadas pelas cicatrizes, tocando com tanta maestria e carinho o cetro restaurado, os súditos tomados por forte emoção, prostraram-se em pranto. Ao ver nas nãos de Melquisedeque aquele alaúde que, em suas mãos fora instrumento de tortura, Samael compreendeu, tarde demais o quanto errara, desviando-se dos conselhos do príncipe; Quantas vezes aquelas mãos sobre as quais descarregara toda aquela violência haviam sido estendidas num esforço de salvá-lo, e ele as havia negligenciado. Agora, era tarde demais! Tarde demais!!!

Capítulo XII

Os súditos triunfantes que, reverentes, haviam sido conduzidos a todo aquele passado de felicidade, traição, dor e triunfo, uniram finalmente as vozes numa jubilosa proclamação:

–           Verdadeiros e justos são os teus princípios, ó rei de Salém. Digno és de reinar em glória e majestade entre os louvores de teus fiéis, porque em teu sacrifício nos livraste das ameaças das trevas, fazendo renascer em nosso coração a alegria do alvorecer.

Esse cântico de exaltação foi seguido pela cerimônia de confirmação de todos os fiéis em sua vitória. O filho de Adonias, com o seu cetro redimido, passou a selar com um toque especial do cetro, a vitória de cada um. Formou-se para tanto uma longa fila de fiéis exultantes Os súditos confirmados, à medida em que iam recebendo o toque de aprovação do rei, posicionavam-se ao lado direito do trono, onde permaneciam aguardando pela confirmação dos outros.

Os olhares que, iluminados de alegria, haviam acompanhado o selamento dos últimos justos, pousaram sobre a figura estranha de Samael que, dominado por uma força irresistível, encaminhava-se cabisbaixo em direção do trono. Seu aspecto era horrível: seu semblante havia sido deformado pelo mal; suas vestes estavam sujas e mal cheirosas; tudo nele repugnava, ao ponto de ninguém reconhecê-lo. Em meio ao espanto dos súditos, Melquisedeque ergueu-se de seu trono como que ferido por uma grande dor; de seus lábios os súditos ouviram uma dolorosa exclamação:

–           Samael, Samael!!!

A figura deplorável daquele que fora tão belo, encheu a todos de tristeza, e começaram a prantear. Eles lamentavam por saber que o destino de Samael e de todos aqueles que o seguiram, poderia ter sido muito diferente, se eles houvessem atendido aos rogos de amor de Adonias e de seu filho. Não era o plano do rei e o sonho de Melquisedeque tê-lo como o guardião do pergaminho, sendo o segundo em honra naquele reino?

Samael que, reconhecendo sua desventura, aproximara-se cabisbaixo do trono, ao presenciar toda aquela lamentação, foi novamente iludido pelo orgulho, julgando tratar-se de uma demonstração de fraqueza de seus inimigos. A lembrança de seu exército que fortalecido o aguardava na planície, iludiu-o com a certeza de que seria vitorioso sobre Salém. Com esse pensamento, ergueu a fronte marcada pelo ódio e, fitando o rei, levantou o punho cerrado e o desafiou, desdenhando de sua autoridade, com a ameaça de tomar-lhe o trono. Ainda que condoídos por sua perdição, os súditos de Salém não suportaram a ousada afronta daquele enlouquecido jovem que, depois de causar tanto sofrimento, ainda era capaz de erguer-se com tamanho desafio.

O vitorioso rei que com tanto prazer selara com o seu cetro a conquista dos fiéis, ergueu-o dolorosamente para o selamento da triste sorte dos rebeldes. Imobilizado por uma força estranha, Samael, sem desviar os olhos do cetro, ouviu dos lábios do rei a proclamação de seu julgamento e de todos os seguidores: Prisioneiros de uma força invisível, ficariam retidos em suas cavernas por seis anos, sendo depois visitados pelo fogo do juízo que os destruiria juntamente com as cidades que a eles se aliaram.

Capítulo XIII

Ao ir para a cama depois daquele dia de tantas emoções, o jovem rei, imerso nas lembranças daquele passado de felicidade e dor, rolava em sua cama insone. Quando finalmente adormeceu, teve um sonho muito significativo. No sonho, apareceu-lhe um anjo luminoso, que saudou-o com um sorriso, dizendo-lhe que todo o Universo acompanhava com atenção aquele drama que estavam vivendo, e que o mesmo tinha um sentido prefigurativo, retratando acontecimentos passados e futuros, que envolvia todo o vasto universo.

As palavras do anjo despertaram em Melquisedeque um grande desejo de conhecer a história desse drama cósmico. Conhecendo o seu anseio, o anjo arrebatou-o no sonho revelando-lhe um distante futuro. Diante de seus olhos manifestaram-se as glórias de uma nova e esplêndida Salém, cujas muralhas e mansões eram de pedras preciosas; os portais da cidade eram de pérolas. Suas amplas avenidas eram de ouro puro. A cidade era quadrangular e se estendia por centenas de quilômetros. Estava dividida em dois setores distintos: Norte e Sul. Ao Sul elevavam-se incontáveis mansões, habitações eternas de anjos e de seres humanos redimidos. Ao Norte havia um lindo paraíso ao qual o anjo revelou ser o jardim do Éden. Ali, em ambas as margens do rio da vida, havia campos repletos de todo tipo de vegetação, com flores e frutos em abundância. Viviam ali em perfeita harmonia, todas as espécies de aves e animais.

No meio do paraíso podia-se ver uma montanha fulgurante, a qual o anjo afirmou ser o monte Sião, o lugar do trono de Deus. Era daquele monte que emanava o rio da vida, fluindo por toda a cidade. Quando alcançaram o topo da montanha sagrada, o rei de Salém ficou deslumbrado com o cenário visto ao seu redor. Encontrava-se na parte mais elevada de Sião a mais linda de todas as edificações revelado pelo anjo como o palácio de Deus. Aquela magnífica construção era sustentada por sete colunas, todas de ouro transparente, engastadas de lindas pérolas. Ao redor do palácio, floresciam a mais exuberante vegetação: havia ali o pinheiro, o cipreste, a oliveira, a murta, a romãzeira e a figueira, curvada ao peso de seus figos maduros.

Enquanto admirava-se ante a beleza daquele lugar, o anjo disse-lhe que a nenhum ser humano fora dado o privilégio de ver o interior daquele palácio de Deus. A ele seria dada esta honra, pois fora escolhido para ser o portador das mais amplas revelações sobre o reino da luz. Ao transporem com reverência um dos portais de pérolas, prostraram-se em adoração, enquanto ouviam o cântico de uma multidão de serafins, que circundavam o trono, em constante louvor Àquele que Era, que É e que Sempre Será. Ao olhar para Aquele que estava assentado sobre o trono, Melquisedeque ficou surpreso ao descobrir a figura de um homem. Ele estava coberto por um manto de linho fino, de uma alvura sem igual, e tinha sobre a cabeça uma coroa formada por sete coroas sobrepostas, repletas de pedras preciosas.

Ao olhar para as mãos que sustentavam o cetro, o filho de Adonias ficou surpreso ao descobrir nelas cicatrizes de ferimentos, semelhantes àquelas em suas mãos. O anjo afirmou-lhe ser o Messias, o Grande Melquisedeque, a manifestação visível de Yahweh, o Deus Invisível. Atraído para o cetro resplandecente, com o qual o Messias governava sobre todo o Universo, o rei de Salém viu nele o selo do domínio, e nele escrito o nome: Israel. Tomado por profunda emoção, Melquisedeque prostrou-se ante o Rei daquela eterna Salém, e, revivendo ali a história de sua pequena cidade, teve desejo de conhecer o grande drama da história universal. Conhecendo o desejo de seu coração, o anjo disse-lhe:

–           Agora lhe farei conhecer a história desta gloriosa Salém. Tudo o que lhe for mostrado na visão, você deverá registrar fielmente em um rolo. Você terá seis anos para escrevê-los. Ao fim dos sete anos, você receberá das mãos de um ancião um vaso contendo um rolo especial, com muitas revelações importantes, entre as quais estará a história de Salém. Você tomará esse rolo, e o costurará ao seu, formando um único rolo. Você o devolverá juntamente com o vaso ao patriarca para que ele o leve ao lugar que lhe mostrarei, onde ficará oculto até o fim dos dias. As revelações desse grande rolo, consistirão na luz e no consolo que enviarei aos escolhidos por ocasião da última semana de anos da história.

Depois de falar ao rei de Salém estas palavras, o anjo conduziu-o em visão a um infinito passado, quando o Universo ainda não existia. Uma história muito parecida com a de Salém passou a desdobrar-se diante de seus olhos; porém, numa dimensão infinitamente maior, começando pela criação do reino da luz. Com admiração contemplou a formação de bilhões de mundos e estrelas, repletos de vida e felicidade que passaram a girar em torno da Salém Celeste, o paraíso de Deus. Sua atenção voltou-se depois para o mais belo de todos os querubins que, honrado pelo Criador, passou a residir com Ele em Seu palácio. Uma eternidade de felicidade e paz parecia embalar aquele reino, quando a mesma experiência de egoísmo e rebeldia vivida por Samael, começou a repetir-se na vida daquele anjo amado. Cenas de uma grande rebelião começaram a ser mostradas a Melquisedeque, envolvendo todos os habitantes do Universo. O querubim honrado, semelhante a Samael, seduzira um terço das hostes que, passaram a reverenciá-lo como rei.

Em meio às cenas daquele grande conflito, o rei de Salém testemunhou a criação do planeta Terra, sobre a qual surgiu o homem como cetro racional daquele reino disputado. Com agonia viu o momento em que o chefe da rebelião aproximou-se subtilmente do paraíso, apossando-se do ser humano, depois de seduzi-lo com tentações. Ouviu então o seu brado, numa proclamação de vitória. A partir daquele momento, o inimigo de Deus passou a arruinar o ser humano, apagando nele todos os traços da glória divina, como Samael fizera com o cetro.

A sua própria experiência, ao declarar naquela manhã aos súditos de Salém sua decisão de ir em busca do cetro perdido, começou a repetir-se diante de Seus olhos. Reunindo as hostes que haviam permanecido fiéis ao Seu governo, o Criador passou a revelar um plano de resgate: Ele haveria de ir em busca do homem, e o remiria, ainda que isto lhe custasse infinito sacrifício. Diante desta revelação, o filho de Adonias prostrou-se comovido, ao descobrir que em sua vida tivera a honra de retratara o próprio Messias.

Todo o drama vivido pelo filho de Adonias em sua angustiante busca, até o momento de seu suplício pela redenção do cetro, foi ganhando amplitude naquela visão que abarcava toda uma eternidade. Diante de seus olhos desfilavam cenas de uma grande batalha que, sem trégua se estenderia até o dia do juízo final, quando o Messias, o Grande Melquisedeque, vitorioso, empunharia o cetro redimido, selando com ele a condenação de todos os filhos de Belial..

Capítulo XIV

Através das revelações recebidas do anjo, Melquisedeque tomou conhecimento do livramento alcançado por ocasião de sua coroação, quando diante de trezentos pastores com seus vasos incendiados, exércitos de cinco reis tombaram, saindo livres os cativos. Conhecendo nossa intenção de subir à Salém por ocasião de Sukot, o rei fez preparativos para uma grande festa, na qual comemoraríamos juntos a vitória sobre toda a desarmonia gerada pelo orgulho e pelo egoísmo. Foi por isso que ao chegarmos a Salém, ficamos surpresos com toda aquela honrada recepção.

Ocupar-me com o relato de todos esses acontecimentos, fez-me passar por todo este sétimo ano, quase sem notar os seus dias, que passaram velozes. Estamos hoje às portas de um novo Rosh Hashanah, quando os 300 pastores tocarão os chifres, convocando todos aqueles que possuem as pérolas, para a reunião solene de Yom Kipur. Cinco dias depois seremos recebidos em Salém para a festa de Sukot. A certeza de que acontecimentos importantes ainda deverão ser relatados neste rolo, fez-me reservar um espaço, no qual registrarei, dia após dia, os fatos, até a consumação desta história que estamos vivendo.

Rosh Hashaná! Esse foi o dia mais feliz de minha vida, pois meus braços puderam receber o filho da promessa. A primeira coisa que fiz, foi colocar-lhe em sua mãozinha direita a Segunda pérola que o Messias deu a Sara no dia de sua conversão; Ele a segurou com firmeza, alegrando-nos com a certeza de que viverá para sempre ao nosso lado. Dois dias antes do Yom Kipur, Isaque foi circuncidado, conforme a ordem do Eterno. Desde que os pastores começaram a tocar seus chifres em Rosh Hashanah, todos aqueles que possuem pérolas do vaso, deixaram suas tendas, dirigindo-se em pequenos grupos, para junto do Carvalho de Mambré.

Ao chegar o Yom Kipur, o dia da reunião solene, meus pastores informaram-me que todos aqueles que haviam recebido as pérolas, haviam comparecido ao encontro, não faltando nenhuma pessoa. É maravilhoso ver a alegria estampada no semblante de toda essa multidão que anseia pela subida à Salém. Todos trazem uma história para contar, de como foram vitoriosos sobre tantos desafios e provações. Todos estão felizes com a expectativa da subida à Salém para a festa de Sukot.

No primeiro dia da festa de Sukot, a multidão foi subdividida em pequenos grupos de doze pessoas, para subirmos em ordem à Salém. Tendo sobre os ombros o vaso com o rolo, posicionei-me à frente da multidão, sendo seguido por Sara e Isaque que vinham montados num camelo; Logo atrás vinha Ló e suas filhas; um pouco atrás, os trezentos pastores seguidos por todos os fiéis.

Iniciávamos nossa escalada quando, acompanhado por todos os seus súditos, surgiu Melquisedeque vindo ao nosso encontro, fazendo vibrar pelos ares o som festivo de muitos instrumentos musicais, comemorando a grande vitória. Depois de saudar-nos, o filho de Adonias conduziu-nos numa marcha festiva até adentrarmos os portais de Salém, que encontra-se agora mais bonita que outrora. Antes de iniciar o banquete, Melquisedeque coroou todos os vencedores, enquanto as hostes de Salém faziam soar seus instrumentos, comemorando a feliz vitória..

Grande foi a alegria do rei de Salém quando entreguei-lhe o jarro com o manuscrito. Ao desenrolá-lo, fiquei surpreso ao ver sua atenção voltar-se para a última parte do rolo que ainda estava vazia. Como se estivesse lendo algo ali, ele me disse:

–           Abraão, de tudo o que você escreveu , nada me comove mais do que o relato que você registrará na última parte de seu manuscrito.

Melquisedeque mostrou-me em seguida um rolo escrito por dentro e por fora, no qual escrevera naqueles seis anos a história do Universo, conforme revelações feitas a ele por um anjo. Tomando o meu manuscrito, ele o costurou ao seu formando um grande rolo. Tendo feito isto, enrolou-o cuidadosamente, colocando-o dentro do jarro.

Ao chegar o oitavo dia da festa, num ato que surpreendeu a todos, o rei enalteceu o jarro, colocando-o sobre o seu trono. Ao ver o vaso que fora tão humilhado e rejeitado, agora glorificado em meio aos louvores de Salém, senti uma forte emoção e chorei; Era impossível olhar para ele, sem pensar no seu significado: era um perfeito símbolo do Messias prometido. Por intermédio dele, muitas vidas haviam sido libertas e transformadas, começando pela minha. Sem o dom daquele vaso, eu não teria hoje em meus braços meu querido Isaque pelo qual Sara e eu esperamos por tanto tempo.

Depois de entronizar o jarro, o filho de Adonias, chamando-me para junto do trono, passou a honrar-me perante todos os fiéis; Tomando a caixinha de ouro na qual colocara as 144 pérolas do dízimo, ele colocou-a em minhas mãos, afirmando ser um presente seu para Isaque. Como se não bastasse, ele tomou o vaso que continha o valioso rolo e, colocando-o aos meus pés, disse que ele pertencia a mim e aos meus descendentes para sempre. Com o coração repleto de alegria, prostrei-me diante do rei que me oferecia tão precioso dom, estendendo-lhe as mãos com a caixinha das pérolas. Tomando-a de minhas mãos, ele a colocou dentro do jarro sob o rolo, reafirmando sua doação.

Capítulo XV

Ao dirigir-me ao aposento naquela noite, tendo ao meu lado Sara, Isaque e o jarro com o seu tesouro, experimentava uma felicidade jamais sentida em toda a minha vida. Como me era difícil pegar-me ao sono, fiquei acordado por longo tempo, imaginando o futuro de glória de Isaque e do jarro, cuja mensagem de amor, justiça e paz, levaria esperança aos meus descendentes por todas as gerações, até a vinda do Messias. Imaginando esse futuro feliz adormeci e tive um sonho no qual muito sofri. No sonho, o Eterno apareceu-me e disse:

–           Abraão, toma agora o jarro o qual tanto amas, e leva-o ao Mar Salgado, onde lhe mostrarei uma caverna na qual você o ocultará

Depois de dar-me esta ordem, o Eterno entregou-me uma machadinha e um manto de linho, com o qual envolvi o vaso. Comecei então uma dolorosa jornada, levando sobre os ombros aquele que simbolizava a concretização de todos as minhas esperanças. Quando cheguei à região norte do mar, fui conduzido para junto da caverna que deveria ocultar o jarro. Colocando-o sobre uma pedra, num gesto de despedida, passei a acariciá-lo, enquanto contemplava os adornos e inscrições que o embelezavam; o pensamento de que não mais o teria comigo, enchia-me de profunda tristeza. Meus olhos voltaram-se para a figura de Melquisedeque que inclinava-se para receber recebê-lo repleto de jóias. De repente a figura do rei começou a ganhar vida e movimento, e foi crescendo até que todo o jarro transformou-se num belo jovem que me olhava com amor. Pensei a princípio que fosse o rei de Salém, mas olhando para suas mãos, não encontrei as cicatrizes. Ao ver que seus olhos eram tão parecidos com os de Sara, perguntei-lhe o nome. Ele respondeu-me com um sorriso que era Isaque, o meu filho.

Alegrava-me na presença de Isaque, quando a voz divina novamente soou-me aos ouvidos dizendo:

–           Abraão, toma agora o teu filho a quem amas, e sacrifica-o com a machadinha que eu te dei(1)

Aterrorizado ante a ordem divina, caí aos pés de Isaque, não encontrando forças nem coragem para realizar o terrível ato. Contudo, ele consolou-me, afirmando estar disposto a cumprir a vontade divina. Depois de terrível luta íntima, tomei a decisão de sacrificar meu filho. Ao erguer-me, vi que Isaque contorcia-se em grande agonia, enquanto o seu corpo tornava-se coberto de chagas que cheiravam mal. Sentia desejo de socorrê-lo, curando-lhe as chagas, mas a voz insistia em sua ordem, para que eu o sacrificasse. Tomei então a machadinha e a ergui sobre o seu pescoço. Quando meus braços moviam-se para o golpe, um forte clarão nos iluminou, e senti que a machadinha não mais estava em minhas mãos.

Ao erguer a fronte, me deparei com o peregrino que anunciara o nascimento de Isaque. Ele estava vestido com vestes brilhantes, de linho fino, branco e puro; Seu rosto brilhava como o sol, enquanto olhava-me com infinito amor. Abraçando-me, ele enxugou minhas lágrimas e disse:

–           Abraão, agora sei que você verdadeiramente me ama, porque não me negou nem o jarro nem o seu filho a quem você ama. Por causa desse amor, eu transformarei você no pai da fé, e muitos povos e nações se alegrarão na luz do rolo que lhe foi dado.

Tendo dito estas palavras, o Peregrino encaminhando-se para Isaque que contorcia-se em dor, colocando as mãos sobre sua cabeça. Esse contato fez com que todas as impurezas que manifestavam-se em chagas purulentas no corpo de meu filho, se transferissem para o Seu corpo, enquanto a Sua glória era transferida para Isaque. Fiquei possuído por um misto de alívio e pesar – alívio por ver Isaque restaurado, mas aflito por contemplar o Messias opresso por tantas culpas. Por entre gemidos de dor ele afirmou:

–           Eu morrerei, para que Isaque e sua descendência possa ser justificada, redimida e glorificada perante Yahweh.

Ao voltar-me para o meu filho que fora liberto, vi que seu lugar fora ocupado por doze jovens que se chamavam: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulon, José, Benjamim, Dã, Naftalí, Gad, Aser. Quando lhes apresentei o Peregrino sofredor, eles o menosprezaram por não verem nele nenhuma beleza que os atraíssem. Finalmente eles o conduziram como um cordeiro e o sacrificaram, lançando o seu corpo dentro daquela caverna.(2)

Sobrevieram logo depois as trevas de uma longa noite, na qual fomos atacados por um grande exército que, depois de ferir-nos, arrancou-nos de nossa terra, espalhando-nos por entre as nações. Ali, todos os que nos encontravam nos humilhavam e perseguiam, acusando-nos da morte do Peregrino, e assim sofremos por toda a noite. Quando o dia estava quase raiando, sobreveio-nos o maior sofrimento, pois nossos inimigos, depois de uma pequena trégua, investiram sobre nós com a intenção de nos destruir completamente. O Eterno, contudo, bendito seja o Seu nome, teve compaixão de nós e nos libertou, reconduzindo-nos para a Terra Prometida. Mas mesmo ali não encontramos descanso, pois tínhamos de estar sempre atentos, defendendo-nos de muitos inimigos que procuravam nos destruir.

Cansados desses conflitos, nos aproximamos de nossos inimigos propondo uma aliança de paz; quando o acordo estava prestes a se concretizar, um desentendimento envolveu-nos num conflito ainda maior. Enquanto ouvíamos gritos de todos os lados clamando contra nós, vimos baixar as trevas de mais uma escura noite. Angustiados, passamos a clamar ao Eterno, dizendo:

–           Até quando Senhor buscaremos a paz e não a acharemos?! Ansiamos pelo descanso que nos prometestes, mas somente encontramos o furor de nossos inimigos! Auxilia-nos Senhor! Até quando teremos de esperar?!

Enquanto clamava em minha angústia, o Senhor veio ao meu encontro e disse-me:

–           Abraão, olha para o céu e conta o número das estrelas.

Ao olhar para o céu, vi que as estrelas moviam-se formando pequenos grupos de doze. Esses grupos por sua vez, juntavam-se de doze em doze, em formações perfeitas de 144 estrelas. Finalmente todo o céu cobriu-se por esses agrupamentos estelares: eram ao todo 40 grupos, somando um total de 5760 estrelas. Enquanto imaginava o que poderia significar o número daquelas estrelas, vi surgir no meio delas outra especial que foi aumentando em brilho e grandeza. A sua luz crescente, deu-me a certeza de que aquela noite seria finalmente vencida, e alcançaríamos um alvorecer de paz. A estrela de número 5761 continuou aumentando até que tornou-se do tamanho da Lua, e nela pude ler em letras muito brilhantes a palavra: Sábado, e abaixo, o nome de Israel.

Quando os raios que emanavam das letras sagradas começaram a penetrar as trevas da noite, atraindo a atenção de muitos sobre a Terra, ventos fortes vindos do Norte começaram a soprar, trazendo pesadas e negras nuvens em direção da estrela. Formou-se um cerco de trevas, enquanto camadas sobre camadas de nuvens foram comprimindo a estrela que, sem forças para resistir, foi-se apagando até que mergulhou em completa escuridão. Com o coração aflito, continuei olhando na direção da estrela oculta, sem perder a esperança de que ela seria liberta das garras daquelas nuvens ameaçadoras.

Em diferentes partes do céu escurecido pelas nuvens, começaram a surgir pontinhos de luz que foram se

agrupando de sete em sete, até alcançarem o total de 483 estrelas. Sem temerem as ameaças das nuvens escuras, elas foram-se aproximando mais e mais até formarem um anel de luz em torno da estrela opressa. O brilho dessas pequenas estrelas fez renascer a esperança de um livramento, e a estrela cativa emitiu por entre as nuvens um tênue raio de confiança.

Ao estreitarem-se cada vez mais em torno da estrela escurecida, as 483 estrelas se fundiram finalmente a ela, comunicando-lhe sua luz. Nesse momento, um grande clarão tomou conta do céu, e todas as nuvens foram desfeitas, perdendo o seu domínio. A junção de todas essas estrelas, deu origem a uma estrela de incomensurável esplendor, semelhante ao Sol. Em forma de uma coroa que pairava sobre ela, podia-se ler: Yom Kipur – É chegado o Último Jubileu.

Assim que surgiu no céu a estrela do Último Jubileu, veio ao nosso encontro um pequeno beduíno, carregando sobre os ombros um pesado jarro. Sua face estava marcada por uma grande luta, mas refletia a luz da estrela que lhe dava consolo e indizível alegria. Em seu jarro estava escrito em grandes letras o seguinte: “Caiu! Caiu a grande Babilônia! Sai dela povo meu! (3)

Aproximando-se dos doze filhos de Israel, o pequeno beduíno saudou-os com um sorriso, e disse-lhes que viera de muito longe, trazendo-lhes uma mensagem e um presente da parte do Rei de Salém. Curiosos, mas ao mesmo tempo desconfiados, eles assentaram-se e ficaram esperando, enquanto o beduíno enfiava suas mãos no jarro. A primeira coisa que ele tirou dali foi um pequeno manuscrito com uma mensagem intitulada: O Último Jubileu: Um Texto Sobre Melquisedeque. Os doze olharam entre si surpresos, pois o título da carta estava relacionado com as palavras escritas na última estrela. Ansiosos por conhecerem o conteúdo do manuscrito, eles o tomaram e passaram a ler as seguintes palavras:

–           “Falarei sobre o Ano Jubileu, que encontra-se em Levítico 25:13. Nós lemos: Neste Ano Jubileu, tornará cada um à sua possessão”. Esta é uma parte do mandamento que cumprir-se-á nos últimos dias, no Período da Remissão, quando aqueles que estão em cativeiro serão libertos, conforme as palavras de Isaias: “O Senhor enviou-me para proclamar libertação aos cativos.”(3)

–           O Libertador é o Messias, que foi prefigurado por Melquisedeque, rei de Salém. Ele era e sacerdote do Deus Altíssimo, e pronunciou uma benção sobre o nosso pai Abraão. Como Sumo Sacerdote, o Messias que é nosso eterno Melquisedeque, receberá por herança o domínio sobre todas as coisas, e Abraão tomará parte nesta herança. Não somente Abraão, como também sua descendência terá esse privilégio, quando ela se unir a Deus numa eterna aliança. Naquele tempo, o próprio Senhor será a herança e patrimônio de Seu povo. No último jubileu, Deus restaurará o Seu povo, e eles retornarão, cada um, ao seu patrimônio. A libertação referida na Lei do Jubileu deve ser entendida com o sentido de remissão de suas culpas, e não haverá mais punição para aqueles que forem justificados. Isto ocorrerá na última semana de uma série de setenta semanas de anos, envolvendo nove precedentes jubileus.(5)

–           Ao chegar o Dia do Juízo do Último Jubileu, todos aqueles que se colocam do lado da justiça, terão suas culpas anuladas, ao passo que os injustos e maus colherão as conseqüências de tudo o que semearam, e encontrarão o seu fim. (6)

–           Começará então o Ano do Favorável, do qual fala o profeta Isaias (61:2), que será marcado pelo Favor de Deus, pois o Rei da Justiça, Aquele que foi prefigurado por Melquisedeque, receberá o Seu domínio. Ele assentar-se-á entre as hostes santas no Céu, e executará várias sentenças de julgamentos, como foi predito por Davi: “Deus assentou-se em concílio entre os seres celestes, para realizar julgamento”.(7) Por meio desse julgamento, Israel será absolvido de suas culpas, e retornará ao seu lugar de eminência em meio aos povos. Esse retorno ocorrerá em cumprimento da Lei do Jubileu.

–           Ao mesmo tempo em que a palavra “Favor” indica o triunfo dos filhos de Deus, ela aponta também para a destruição dos ímpios. Salmos 7: 9 e 10 faz referência a esse julgamento, dizendo: “Deus é o juiz dos povos. Põe fim à maldade dos ímpios e confirma o justo”. Serão desarraigados todos os filhos de Belial, aqueles que desafiam os estatutos de Deus, e pervertem a justiça. O futuro Rei da Justiça, que é Melquisedeque (o Messias) executará sobre eles a justiça de Deus, estabelecendo ao mesmo tempo os justos. Acompanhado pelos exércitos celestes, ele dará fim aos intentos dos ímpios, fazendo com que os filhos de Deus fiquem em eminência. O julgamento em questão é o mesmo Dia da Retribuição do qual fala o profeta Isaias: “Como são belos sobre os montes os pés daquele que proclama a paz (Shalom), o mensageiro que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação; que diz a Sião: O teu Deus agora é aclamado Rei.”(8) A palavra paz (shalom) pode também ser lida como (shillum) que significa “retribuição”.

–           O mensageiro prometido se manifestará no Último Jubileu, e proclamará a sua mensagem de paz, dizendo: “ O Senhor enviou-me para confortar todos os que choram.” (9) O conforto que ele trará, consistirá numa revelação das sucessivas eras da história do universo, desde o princípio da criação até o fim. Naquele tempo, os filhos de Belial se aliarão com o propósito de perverter toda a justiça, mas serão confundidos pelos julgamentos de Deus.

–           O reino de Deus em Sião, será estabelecido mediante a aliança que Melquisedeque ( o Rei da Justiça) fará com todos os justos , destruindo ao mesmo tempo os filhos de Belial. O mandamento do jubileu fala também de um forte som de trombeta que repercutirá por toda a terra, no dia dez do sétimo mês.(10) Aplicando-se aos últimos dias, isto se refere à uma poderosa manifestação divina que sacudirá o mundo, preparando-o para a Era Messiânica” (*)

(*) O texto em destaque é uma tradução livre do manuscrito original encontrado na Gruta 11 de Qunram, em janeiro de 1956, por beduínos da tribo de Taamireh.

Depois de lerem com atenção as promessas contidas no pergaminho, os doze voltaram-se para o beduíno que, curvando-se sobre o jarro, tomou um grande rolo de pele de cordeiro, escrito por dentro e por fora. Antes de entregar-lhes, afirmou que a mensagem de consolo prometida no manuscrito que acabavam de ler, estava contida naquele rolo especial. Ao abrirem-no, vi que era o Livro de Melquisedeque, composto pelo manuscrito do rei de Salém e pelo meu. A leitura dos relatos ali contidos comoveu-os profundamente, levando-os a compreenderem que aquele a quem menosprezaram e entregaram para a morte, era o Messias prometido, o grande Melquisedeque que, em virtude de seu sacrifício, os libertara naquele Último Jubileu.

Cheios de arrependimento, choraram amargamente, mas foram consolados pelas revelações contidas no manuscrito do rei, onde as sucessivas eras da história eram contadas em ricos detalhes, desde o princípio da criação até aquele tempo.

Ao terminarem a leitura do Livro de Melquisedeque, os doze prostraram-se reverentes, e louvaram ao Eterno pelo consolo que lhes enviara, através de tão humilde mensageiro. Curvando-se sobre o jarro, o menino tomou uma caixinha de ouro ornamentada com pedras preciosas, na qual haviam 144 pérolas de variados tamanhos. Afirmando ser um presente de Melquisedeque para eles, o beduíno passou a distribuí-las, doze para cada, começando por Rúben. Aquelas pérolas simbolizavam a vitória que haviam alcançado mediante a concretização de uma nova e eterna aliança com o grande Melquisedeque, que é o Messias.

Depois de louvarem ao Eterno pelas pérolas que selavam a vitória alcançada, os doze, num gesto de reconhecimento e gratidão, passaram a honrar o humilde beduíno que, por meio de lutas e sacrifícios, resgatara das trevas todos aqueles tesouros, para ofertar-lhes naquele Jubileu. Representando os seus irmãos, Rúben, o primogênito, tomou um de seus melhores mantos e cobriu o corpo desnudo do menino. Aquecido por aquele manto que simbolizava sua maior conquista, o beduíno emocionou-se ao ver que ele trazia, do lado de seu coração, um distintivo precioso, com a gravura de uma cruz vermelha da qual saiam raios dourados. Isto fez com que reconhecesse que toda aquela honra recebida, pertencia ao Messias que resgatou-o das profundezas de uma caverna, conduzindo os seus passos através de caminhos perigosos e solitários, até que pudesse entregar aos filhos de Israel os tesouros contidos no jarro. Ele devia também aquela conquista aos seus três irmãos, sem os quais não teria encontrado aquele presente do rei de Salém. A lembrança de seus irmãos o fez chorar de saudade, e desejou muito beijar suas faces, compartilhando com eles toda a honra recebida.

Num gesto surpreendente que consolou o coração do menino, Rúben tomou três de suas pérolas mais  brilhantes e, colocando-as numa caixinha vermelha, entregou-as ao menino e disse:

–           Estas pérolas são para os seus irmãos.

Logo depois surgiram ao longe a figura de três beduínos que caminhavam ao nosso encontro, trazendo jarros em seus ombros. Quando os viu, o menino alegrou-se ao descobrir que eram os seus irmãos. O mais velho tinha em seu jarro uma inscrição que dizia: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora de seu juízo.(11) O segundo trazia no vaso a mesma inscrição contida no jarro do menino, porém em letras menores e menos brilhantes: Caiu, caiu a Grande Babilônia!(12) O terceiro carregava um vaso um pouco maior que os dois anteriores, e nele estava escrita uma advertência: Se alguém adorar a besta ou a sua imagem, e receber o sinal na fronte, ou na mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se acha preparado sem mistura, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. Abaixo desta advertência, em grandes letras lia-se o seguinte: Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e tem a fé do Messias.(13)

Quando eles viram o seu irmão mais novo em honra perante os filhos de Israel, correram ao seu encontro e prostraram-se, depondo os seus jarros aos seus pés. Em grande pranto revelaram o seu arrependimento pelo desprezo e sofrimentos pelos quais o fizeram passar. O pequeno beduíno inclinando-se para os seus irmãos com amor, beijou-lhes as faces, e falou-lhes que tudo o que lhes acontecera, fora para o bem. Depois de consolarem-se, os filhos de Israel prepararam um banquete em homenagem ao pequeno beduíno e aos seus irmãos. No banquete o rolo foi mais uma vez aberto, e todos alegraram-se com sua mensagem. Quando estavam quase ao fim da festa, o menino honrou os seus irmãos na presença de todos, dando-lhes as pérolas recebidas de Rúben. O mais velho recebeu a pérola menor, o do meio a pérola de tamanho médio, e o mais novo a maior. Eles ficaram felizes ao receberem aquelas jóias que simbolizavam sua vitória.

Todos tinham agora suas pérolas, menos o menino, cuja alegria consistia em ver os filhos de Israel e seus irmãos enriquecidos pelos presentes do Rei. A maior e mais brilhante de todas as pérolas, contudo, Rúben separara para ele. Quando a recebeu, seu coração transbordou de indizível alegria, vendo nela o símbolo de seu triunfo. Na pérola havia três inscrições: Melquisedeque, Eliahu Hanavi e Nova Jerusalém.

Depois da festa, o pequeno beduíno procurou pelo seu jarro, e ficou surpreso ao encontrá-lo repleto de

pérolas. Com muito esforço, tomou-o em seus braços, levando-o para junto de seus irmãos que tinham os seus jarros vazios. Começando pelo primogênito, ele foi compartilhando o tesouro, até que todos os vasos se encheram com aquelaslindas pérolas.  Renascidos pelo arrependimento e movidos pela gratidão, os três beduínos juntamente com os doze filhos de Israel, seguiram os passos do menino na realização de uma importante obra sobre a Terra: Sua missão seria abrir perante o mundo o Rolo de Melquisedeque, oferecendo a todos quantos aceitassem sua mensagem, aquelas pérolas que simbolizam a vida.

Durante seis anos a humanidade teria a oportunidade de conhecer a mensagem do rolo, e as advertências escritas naqueles jarros, apossando-se das pérolas da salvação. Ao fim dos seis anos, os jarros se esvaziariam e o rolo seria fechado. Enquanto os anos da oportunidade se escoavam, multidões acorriam de todas as partes em busca da mensagem do rolo e das pérolas. Olhando para os céus, descobri que a cada novo ano que era representado por um dia da semana, uma nova estrela surgia ao lado da estrela do jubileu, iluminando cada vez mais a Terra com a sua glória. Ao fim dos seis anos de oportunidade, o mundo achava-se dividido em duas classes de pessoas: os possuidores das pérolas da salvação, que são chamados filhos de Deus, e os que rebelaram-se contra a mensagem do rolo, os filhos de Belial.

Ao expirar-se o tempo da oportunidade, no momento em que as seis estrelas do jubileu enchiam toda a Terra com sua claridade, soou uma voz desde os céus, dizendo: Está Consumado! Quem é injusto , faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; quem é justo, faça justiça ainda, e quem é santo, santifique-se ainda. Eis que cedo venho, e esta comigo a minha recompensa, para retribuir a cada um segundo a sua obra. Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro, o princípio e o fim. Bem aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas. Ficarão de fora os feiticeiros, os adúlteros, os homicidas, os idólatras e todo o que ama e pratica a mentira.(14)

Quando o Messias, que é Melquisedeque, proclamou o decreto, o rolo foi fechado, pois não havia mais pérolas nos jarros. Subitamente as seis estrelas se apagaram, mergulhando o mundo em completa escuridão. Surgiu então no céu uma estrela vermelha, cujos raios traziam luz e proteção para os filhos de Deus, ao passo que para os ímpios traziam trevas e sofrimento. Isto fez com que eles blasfemassem contra Deus, levantando-se contra os Seus redimidos  No momento mais difícil, quando as mãos dos ímpios pesavam sobre os justos prestes a destruí-los, a Terra foi sacudida por um grande terremoto.(15) Em meio às nuvens negras, surgiu o brilho de uma estrela que foi crescendo rapidamente, até cobrir todo o céu. Hozanas de vitória ecoaram por todas as partes, quando os remidos contemplaram a face do Messias que vinha em seu socorro, acompanhado pelos exércitos dos céus. Diante de sua presença majestosa, os ímpios fugiram, mas foram consumidos pelo fogo.(16)

O Messias fez soar sua trombeta, e todos os justos mortos ressurgiram com corpos perfeitos e imortais. Logo depois, os justos vivos foram transformados, recebendo, igualmente, corpos incorruptíveis. Acompanhados pelos anjos, fomos arrebatados para o encontro com nosso Rei e Redentor nos ares. Ele nos recebeu com indizível alegria, e nos conduziu numa viagem inesquecível rumo à Nova e Eterna Jerusalém. (17)

Ao entrarmos na Cidade Santa, ficamos deslumbrados diante de tantas maravilhas. Fomos conduzidos ao paraíso, onde fora preparado um grande banquete para nós Ali, diante do trono, em meio às hosanas angelicais, fomos coroados pelo Messias, recebendo um reino de paz que jamais findará. Enquanto desfrutava as delícias do Éden, acordei e vi que tudo fora um sonho. Levantando-me, tomei Isaque nos braços e, sentando-me do lado do jarro, os acariciei até o alvorecer, enquanto relembrava as cenas marcantes de meu sonho.

Ao encontrar-me com Melquisedeque naquela manhã, desejei contar-lhe o meu sonho. Mas antes que eu lhe dissesse algo, ele fitou-me com um olhar muito parecido com o do Messias, e me deu uma ordem:

–           Abraão, toma agora o jarro que você tanto ama e leve-o ao Mar Salgado, onde lhe mostrarei uma caverna na qual você o esconderá.

Tomando uma machadinha e um manto de linho, o rei acompanhou-me até a caverna que eu vira no sonho, onde assentei-me para registrar estas últimas palavras. O rolo será agora lacrado, e será deixado no silêncio da caverna, e permanecerá oculto até que seja aberto perante as nações, no Último Jubileu.

Referências: (1) Gênesis 22: 1, 2; (2)Isaias 53; (3)Apocalipse 18: 2,4; (4)Isaias 61: 1; (5)

Levitico 25:10; Daniel 9: 24,25; (6) Levítico 25:9; (7)Salmo 82: 1; (8) Isaias 52:7; (9) Isaias 61: 3;

(10) Levítico 25: 9; (11) Apoc. 13:7; (12) Apoc. 13:9; (13)Apoc. 13:9 – 12; (14)Apoc. 22: 11-15;

(15) Apoc. 16: 17-21; (16) S. Mateus 24: 29-31; (17)I Coríntios 15: 50-55; Apoc. 21 e 22.

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Evangelhos apócrifos – O Segundo Livro de Adão e Eva

Textos apócrifos, Evangelhos apócrifosEvangelhos Apócrifos – O Segundo Livro de Adão e Eva

Capítulo 1

QUANDO LULUVA ouviu as palavras de Caim, chorou e foi chamar seu pai e sua mãe, e contou-lhes como é que Caim matara seu irmão Abel.

2 Então todos eles clamaram em altos brados e elevaram suas vozes e bateram em suas faces e jogaram pó sobre a cabeça e rasgaram suas vestes e saíram e chegaram ao lugar onde Abel fora morto.

3 E encontraram-no prostrado na terra, morto, e as feras a sua volta; enquanto eles choravam e gritavam por causa deste justo. Seu corpo, por causa de sua pureza, exalava um aroma de doces especiarias.

4 E Adão carregou-o, suas lágrimas rolando por sua face; e foi à Caverna dos Tesouros, onde o depositou e envolveu-o com especiarias, doces e mirra.

5 E Adão e Eva continuaram com o seu funeral, em grande pesar, por cento e quarenta dias. Abel tinha quinze anos e meio de idade, Caim dezessete e meio.

6 Quanto a Caim, quando o luto pelo seu irmão terminara, tomou sua irmã Luluva e casou-se com ela, sem consentimento de seu pai e sua mãe pois eles não podiam mantê-lo longe dela, por causa de seus corações pesarosos.

7 Ele então desceu até a base da montanha, longe do jardim, perto do lugar onde havia matado seu irmão.

8 E neste lugar havia muitas árvores frutíferas e florestas. Sua irmã deu-lhes filhos que por sua vez começaram a se multiplicar, gradativamente até que encheram aquele lugar.

9 Mas quanto a Adão e Eva não se uniram depois do funeral de Abel por sete anos. Após isso, entretanto, Eva concebeu e enquanto estava grávida Adão lhe disse: “Vem, vamos fazer uma oferenda e oferecê-la a Deus e pedir-Lhe que nos de uma bela criança, em que possamos achar consolo, e que possamos unir em matrimônio à irmã de Abel”.

10 Então eles prepararam uma oferenda e trouxeram-no ao altar, ofereceram — na perante o Senhor, puseram-se pedir-Lhe que aceitasse sua oferenda e que lhes desse um bom filho.

11 E Deus ouviu Adão e aceitou sua oferenda. Então, eles fizeram culto, Adão, Eva e sua filha, e desceram à Caverna dos Tesouros e colocaram uma lamparina ali, a fim de queimar de noite e de dia, diante do corpo de Abel.

12 Então Adão e Eva continuaram a jejuar e orar até que chegou a hora do parto de Eva, quando então ela disse a Adão: “Eu desejo ir à caverna na rocha, para ali dar à luz”.

13 E ele disse: “Vai e leva contigo tua filha para cuidar de ti; mas eu permanecerei nesta Caverna dos Tesouros diante do corpo de meu filho Abel”.

14 Então Eva obedeceu a Adão e foi com sua filha. Mas Adão permaneceu sozinho na Caverna dos Tesouros.

Capítulo 2

1 E Eva deu à luz um filho perfeito e belo de figura e semblante. Sua beleza era como a de seu pai Adão, ainda mais belo.

2 Então Eva consolou-se ao vê-lo, e permaneceu oito dias na caverna; em seguida ela enviou sua filha a Adão para lhe dizer que viesse ver a criança e lhe desse um nome. Mas a filha ficou em seu lugar ao lado do corpo de seu irmão até que Adão voltasse. Assim fez ela.

3 Assim, quando Adão veio e viu a boa aparência da criança, sua beleza, e sua figura perfeita, alegrou-se com ele, e consolou-se por Abel. Então deu à criança o nome de Seth, que significa “que Deus ouviu minha prece e libertou-me de minha aflição”. Mas isto também significa “poder e força”.

4 Então, após Adão ter dado um nome à criança, ele voltou à Caverna dos Tesouros; e sua filha retomou para sua mãe.

5 Mas Eva continuou em sua caverna, até que se completassem quarenta dias, quando então ela foi a Adão, levando consigo a criança e sua filha.

6 E eles foram ao rio de água, onde Adão e sua filha lavaram-se por causa de sua tristeza por Abel; mas Eva e o bebê lavaram-se para se purificar.

7 Então eles retomaram e pegaram uma oferenda, foram à montanha e fizeram a oferenda pelo bebê; e Deus aceitou. sua oferenda, enviou Sua bênção sobre eles e sobre seu filho Seth; e eles voltaram à Caverna dos Tesouros.

8 Quanto a Adão, ele não conheceu novamente sua mulher Eva pelo resto dos dias de sua vida; nem mais nasceu-lhes descendência; mas apenas aqueles cinco, Caim, Luluva, Abel, Aclia e Seth.

9 Mas Seth encorpava em estatura e força; e começou a jejuar e orar com fervor.

Capítulo 3

1 Quanto a nosso pai Adão, ao final de sete anos de separação de sua mulher Eva, foi alvo da inveja de Satã; e lutou para fazê-lo viver com ela novamente.

2 Então Adão ergueu-se e foi para cima da Caverna dos Tesouros; e continuou a dormir ali noite após noite. Mas logo que clareava, todos os dias, ele descia para a caverna para orar e receber uma bênção.

3 Mas quando anoitecia ele subia ao topo da caverna, onde dormia sozinho, com receio de que Satã o derrotasse. E continuou assim separado por trinta e nove dias.

4 Então Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, ao ver Adão assim sozinho, jejuando e orando, apareceu-lhe na forma de uma bela mulher, que veio e parou na sua frente na noite do quadragésimo dia, e disse-lhe:

5 “O Adão, desde o tempo em que morais nesta caverna, temos sentido grande paz entre vós, e vossas preces nos alcançaram e temos estado contentes conosco.

6 “Mas agora, ó Adão, que tu subiste ao topo da caverna para dormir, tivemos dúvidas acerca de vós, e grande tristeza se nos abateu por causa de tua separação de Eva. Então, nova-mente, quando estás no topo desta caverna, tua prece esvazia-se e teu coração vagueia de um lado a outro.

7 “Mas quando tu estavas na caverna” tua prece era como fogo concentrado; ele descia até nós e tu encontravas descanso.

8 Então eu também lamentei por teus filhos que es tão separados de ti; e minha tristeza é grande pelo assassínio de teu filho Abel; pois ele era justo; e todos afligem-se por um homem justo.

9 “Mas eu me alegrei com o nascimento de teu filho Seth mas depois de pouco tempo eu me entristeci muito por causa de Eva, porque ela é minha irmã. Pois quando Deus enviou um grande sono sobre ti e tirou-a do teu lado, Ele me tirou também junto com ela. Mas Ele a elevou colocando-a contigo, ao mesmo tempo que rebaixou a mim.

10 “Eu me alegrei por causa de minha irmã por ela estar contigo. Mas Deus me tinha feito uma promessa antes: Não te lamentes; quando Adão subir ao topo da Caverna dos Tesouros e separar-se de Eva sua mulher, Eu te enviarei a ele, te unirás a ele em casamento dar-lhe-ás cinco filhos, como Eva lhe deu cinco.

11 “E agora, vê! A promessa de Deus para comigo é cumprida; pois foi Ele quem me enviou a ti para o casamento porque se tu te casares comigo, eu te darei filhos mais belo e melhores que os de Eva.

12 “Então, novamente, ti és ainda apenas um jovem; não termines tua juventude neste mundo em tristeza; mas passa os dias de tua juventude em gozo e prazer. Pois teus dias são poucos e tua provação é grande. Sê forte; termina teus dias neste mundo em júbilo. Eu terei prazer contigo e tu regozija comigo desta maneira, sem receio.

13 “Levanta-te, pois, e cumpre a ordem de teu Deus. Ela então acercou-se de Adão e abraçou-o.

14 Mas ao ver que ele seria vencido por ela, Adão orou a Deus com grande fervor para que Ele o libertasse dela.

15 Então Deus enviou Sua Palavra a Adão, dizendo: “Ó Adão, esta figura é daquele que te prometera a Divindade e majestade; ele não é benevolente para contigo; mas mostra-se a ti uma vez na forma de uma mulher; em outro momento, na semelhança de um anjo; em outras ocasiões, na semelhança de uma serpente; e em outra hora, na semelhança de um deus; mas ele faz tudo isso apenas para destruir tua alma.

16 “Agora, portanto, ó Adão, compreendendo teu coração, Eu te libertei muitas vezes de suas mãos; para mostrar-te que Eu sou um Deus misericordioso; e que Eu quero o teu bem e não tua ruína,”

Capítulo 4

1 Então Deus ordenou a Satã que se mostrasse a Adão diretamente, em sua própria forma hedionda.

2 Mas quando Adão o viu, teve medo e tremia ao ver o seu aspecto.

3 E Deus disse a Adão: “Olha para este demônio e para sua aparência hedionda, e saibas que foi ele quem te fez cair da luz para a escuridão, da paz e do repouso para a labuta e a miséria.

4 E olha, ó Adão, para aquele que disse de si mesmo que era Deus! Pode Deus ser negro? Acaso Deus tomaria a forma de uma mulher? Acaso há alguém mais forte que Deus? E pode Ele ser vencido?

5 “Olha, pois, ó Adão, e vê como ele está preso na tua presença, no ar, incapaz de fugir! Portanto, Eu te digo, não tenhas medo dele; daqui em diante toma cuidado, e cuidado com ele, no que ele possa te fazer!”

6 Então Deus expulsou Satã para longe de Adão, a quem Ele fortaleceu, e cujo coração Ele consolou, dizendo-lhe: “Desce à Caverna dos Tesouros e não te separes de Eva; Eu suprimirei de ti todo desejo animal”.

7 A partir deste momento o desejo deixou Adão e Eva, e eles desfrutaram o repouso por ordem de Deus, Mas Deus não fez o mesmo a nenhum dos descendentes de Adão, mas apenas a Adão e Eva.

8 Então Adão adorou o Senhor por tê-lo libertado e por ter apaziguado suas paixões. E ele desceu de cima da caverna e habitou com Eva como dantes.

9 Isto pôs um fim aos quarenta dias de sua separação de Eva.

Capítulo 5

1 Quanto a Seth, quando tinha sete anos de idade, conhecia o bem e o mal, era persistente em jejuar e orar, e passava todas as suas noites suplicando a Deus por misericórdia e perdão.

2 Ele também jejuava ao elevar sua oferenda todos os dias, mais do que seu pai: pois tinha um belo semblante, como o de um anjo de Deus. Ele também tinha um bom coração, preservando as melhores qualidades de sua alma; e por esta razão erguia sua oferenda todos os dias.

3 E a Deus agradava sua oferenda; mas também Lhe agradava sua pureza. E ele continuou assim fazendo a vontade de Deus, de seu pai e sua mãe, até completar sete anos de idade.

4 Após isso, descendo do altar e tendo terminado sua oferenda, Satã apareceu-lhe na forma de um belo anjo, cheio de luz; com uma vara de luz em sua mão, cingido com um cinto de luz.

5 Ele cumprimentou Seth com um belo sorriso e se pôs a iludi-lo com belas palavras, dizendo-lhe: “O Seth, por, que moras nesta montanha? Pois aqui é áspero, cheio de pedras e areia, de árvores sem frutos comestíveis; um lugar ermo sem habitações e sem cidades; não é um bom lugar para habitar. Mas tudo é calor, cansaço e sofrimento”.

6 Ele continuou dizendo: “Mas nós moramos em belos lugares, num mundo diferente desta terra. Nosso mundo é de luz e nossas condições são das melhores; nossas mulheres são mais bonitas que quaisquer outras; e eu desejo que tu, ó Seth, te cases com uma delas; porque vejo que tu és belo de se olhar, e nesta terra não há nenhuma mulher à tua altura. Alem disso, os que vivem neste mundo são apenas cinco alma a ao todo.

7 “Mas em nosso mundo há muitos homens e muitas donzelas, um mais belo que o outro Eu desejo, portanto, levar-te daqui, para que tu possas ver meus parentes e casar-te com quem tu preferires.

8 “Tu então habitarás comigo e estarás em paz; tu serás pleno de esplendor e luz, como nós.

9 “Tu permanecerás em nosso mundo e descansará; deste mundo e da sua miséria tu nunca mais te sentirás cansado e esgotado; tu nunca mais farás uma oferenda, nem pedirás misericórdia; pois não cometerás mais pecado nem serás arrebatado por paixões.

10 “E se ouvires o que te digo, tu te casarás com uma das minhas filhas; pois entre nós não é pecado fazê-lo; nem é considerado desejo animal.

11 “Pois em nosso mundo não temos Deus, mas somos todos deuses; todos pertencemos à luz, celestiais, poderoso fortes e gloriosos.”

Capítulo 6

1 Quando Seth ouviu essa palavras, ficou maravilhado inclinou seu coração para o discurso traiçoeiro de Satã e disse-lhe: “Acaso disseste que há um outro mundo criado além deste, e outras criaturas mais belas que as criaturas que estão neste mundo?”

2 E Satã disse: “Sim; procura ouvir o que te disse, mas eu ainda as louvarei e a seu modo de ser, para que me ouças”.

3 Mas Seth lhe disse: “Teu discurso maravilhou-me; e tua bela descrição de tudo isto.

4 “Ainda assim eu não posso ir contigo hoje, não antes de ir a meu pai Adão e a minha mãe Eva e dizer-lhes tudo o que me contaste. Então se eles me permitirem ir contigo, eu Irei.

5 Novamente Seth disse: “Receio fazer qualquer coisa sem o consentimento de meu pai e minha mãe, para que eu não pereça como meu irmão Caim e como meu pai Adão, que desobedeceu ao mandamento de Deus. Mas, vê, tu conheces este lugar; vem e encontra-te comigo aqui amanhã”.

6 Quando Satã ouviu isto, ele disse a Seth: “Se tu contares a teu pai Adão o que eu te contei, ele não te permitirá vir comigo.

7 “Mas ouve-me; não contes a teu pai e tua mãe o que eu te disse; mas vem comigo hoje para nosso mundo; onde tu verás lindas coisas e divertir-te-ás ali, e festejarás este dia entre meus filhos, vendo-os e tomando tua dose de alegria; e rejubilando-te mais e mais. Então eu te trarei de volta a este lugar amanhã; mas se tu preferires habitar comigo, que assim seja.”

8 Então Seth respondeu: “O espírito de meu pai e de minha mãe depende de mim; e se eu me esconder deles por um dia sequer, eles morrerão, e Deus me considerará culpado por pecar contra eles.

9 “E não fosse por saberem que eu vim a este lugar para trazer minha oferenda, eles não se separariam de mim nem por uma hora sequer; nem eu iria a qualquer outro lugar, a menos que eles me permitissem. Mas eles me tratam muito bem, pois eu volto a eles rapidamente.”

10 Então Satã lhe disse: “Que acontecerá a ti se te esconderes deles por uma noite apenas e voltares a eles ao raiar do dia”?

11 Mas Seth, quando viu como ele continuava a falar e que ele não o largaria, correu, subiu ao altar, estendeu suas mãos a Deus e buscou dEle a libertação.

12 Então Deus enviou Sua Palavra e amaldiçoou Satã, que fugiu dele.

13 Mas quanto a Seth, ele tinha subido ao altar, assim dizendo em seu coração: “O altar é o lugar de oferenda, e Deus está ali; um fogo divino a consumirá, assim Satã será incapaz de me machucar, e não me levará daqui”.

14 Então Seth desceu do altar e foi até seu pai e sua mãe, a quem encontrou no caminho, com saudade de ouvir sua voz, pois ele se tinha atrasado um pouco.

15 Ele então se pôs a contar-lhes o que lhe acontecera com Satã, sob a forma de um anjo.

16 Mas quando Adão ouviu este relato, beijou sua face e preveniu-o quanto àquele anjo, contando-lhe que era Satã que assim lhe aparecera. Em seguida Adão pegou Seth, foram à Caverna dos Tesouros e rejubilaram-se ali.

17 Mas daquele dia em diante Adão e Eva nunca mais se separaram dele, fosse para onde ele fosse, ou por sua oferenda ou por qualquer outra coisa.

18 Este sinal acontecera a Seth quando ele tinha nove anos de idade.

Capítulo 7

1 Quando nosso pai Adão viu que Seth tinha um coração perfeito, quis que ele se casas-se; para que o inimigo não lhe aparecesse mais uma vez e o dominasse.

2 Assim Adão disse a seu filho Seth: “Eu desejo, ó meu filho, que tu te cases com sua irmã Aclia, a irmã de Abel, para que ela te dê filhos, que povoarão a terra; de acordo com a promessa de Deus a nós.

3 “Não tenhas medo, ó meu filho; não há vergonha nisso. Eu desejo que tu te cases, por receio de que o inimigo te vença.”

4 Seth, entretanto, não desejava se casar; mas por obediência as seu pai e sua mãe, ele não disse palavra.

5 Assim Adão casou-o com Aclia. E ele tinha quinze anos de idade.

6 Mas quando completou vinte anos, ele gerou um filho, a quem chamou de Enós; e depois gerou outros filhos além deste.

7 Quando Enós tomou-se adulto, casou-se e gerou Cainã.

8 Cainã também tomou-se adulto, casou-se, e gerou Malaleel.

9 Esses antepassados nasceram durante a vida de Adão e moraram na Caverna dos Tesouros.

10 Então chegou a época dos novecentos e trinta anos de Adão e dos cem de Malaleel Mas Malaleel, ao tomar-se adulto, gostava de jejuar, orar e do trabalho duro; até que o fim dos dias de Adão aproximou-se.

Capítulo 8

1 Quando nosso pai Adão viu que seu fim estava próximo chamou seu filho Seth, que veio a ele na Caverna dos Tesouros e disse-lhe:

2 “Seth, meu filho, traze-me teus filhos e os filhos de teus filhos, para que eu possa abençoá-los antes de morrer”.

3 Quando Seth ouviu estas palavras de seu pai Adão, retirou-se derramou um rio de lágrimas sobre suas faces e reuniu seus filhos e os filhos de seus filhos, e trouxe-os a seu pai Adão.

4 Mas quando nosso pai Adão viu-os em sua volta, chorou por ter de separar deles.

5 E quando eles o viram chorando, todos choraram junto, prostraram-se sobre suas face dizendo: “Como é que serás separado de nós, ó nosso pai? como é que a terra te receberá e  esconder-te-á de nossos olhos” Assim eles se lamentaram muito, e com palavras assim.

6 Então nosso pai Adão abençoou-os a todos e disse a Seth, depois de abençoá-los:

7 “O Seth, meu filho, tu conheces este mundo, que cheio de tristeza e exaustão; e sabes de tudo o que nos aconteceu, de nossas provações aqui. Eu, portanto, ordeno-te agora com estas palavras; guardar a inocência, ser puro e justo e confiante em Deus; e não te inclinares aos discursos de Satã, nem às aparições nas quais ele se mostrar a ti.

8 “Mas guarda os mandamentos que eu te dou neste dia de hoje; depois dá-os a teu filho Enós; e que Enós os dê a seu filho Cainã, e Cainã a seu filho Malaleel; de maneira que estes mandamentos prevaleçam firmemente entre vossos filhos.

9 “O Seth, meu filho, no momento em que eu morrer tomai meu corpo e ungi-o com mirra, aloés e cássia e deixai-me aqui nesta Caverna dos Tesouros, onde estão estas lembranças todas que Deus nos deu do jardim.

10 “O meu filho, mais tarde virá um dilúvio que destruirá todas as criaturas e poupará apenas oito almas.

11 “Mas, ó meu filho, que aqueles que forem poupados dentre vossos filhos naquele tempo, levem meu corpo num barco até o dilúvio passar e eles saírem do barco.

12 “Então eles levarão meu corpo e deposita-lo-ão no centro da terra, pouco depois de serem salvos das águas do dilúvio.

13 “Pois o lugar onde meu corpo será depositado é o centro da terra; Deus virá dali e salvará toda a nossa raça.

14 “Mas agora, ó Seth, meu filho, coloca-te à frente de teu povo; cuida dele e mantêm-no no temor de Deus; e conduze-o no bom caminho. Ordena-lhe que jejue para Deus; e faze-o entender que não deve seguir Satã, para que ele não o destrua.

15 “Então, novamente, afasta teus filhos e os filhos de teus filhos dos filhos de Caim; nunca lhes permitas misturarem-se com aqueles; nem se aproximarem deles, seja em suas palavras, seja em seus atos.”

16 Então Adão fez sua bênção descer sobre Seth, sobre seus filhos, e sobre todos os filhos de seus filhos.

17 Em seguida voltou-se para seu filho Seth e para Eva sua mulher, e disse-lhes: “Preservai este ouro, este incenso e esta mirra que Deus nos deu como uma marca; pois nos dias vindouros um dilúvio exterminará a criação inteira. Mas aqueles que entrarem para a arca deverão levar consigo o ouro, o incenso e a mirra, junto com meu corpo; e depositarão o ouro, o incenso e a mirra, com meu corpo no centro da terra.

18 “Então, depois de um longo tempo, a cidade onde forem encontrados o ouro, o incenso e a mirra com meu corpo, será saqueada. Mas quando for saqueada, o ouro, o incenso e a mirra serão guardados junto com o espólio guardado, e nenhum deles perecerá, até que venha a Palavra de Deus feito homem; quando reis os levarão e os oferecerão a Ele, o ouro em lembrança de Ele ser Rei; incenso em lembrança de Ele ser Deus do céu e da terra; e mirra, em lembrança de Sua paixão.

19 “Ouro também como uma lembrança de Sua vitória sobre Satã e todos os nossos inimigos; incenso como uma lembrança de que Ele ressuscitará dos mortos, e será exaltado acima das coisas do céu e das coisas da terra, e mirra, em lembrança de que Ele beberá fel amargo; e sentirá as dores do inferno de Satã.

20 “E agora, ó Seth, meu filho, vê, eu te revelei mistérios ocultos que Deus me havia revelado. Guarda meu mandamento para ti e para teu povo.”

Capítulo 9

1 Quando Adão terminou sua ordem a Seth seus membros afrouxaram, suas mãos e pés perderam toda a força, sua boca emudeceu e sua língua cessou de falar de todo. Ele cerrou seus olhos e entregou o espírito.

2 Mas quando seus filhos viram que ele estava morto, jogaram-se sobre ele, homens e mulheres, velhos e jovens, chorando.

3 A morte de Adão ocorreu ao término de novecentos e trinta anos de sua vida sobre a terra; no décimo quinto dia de Barmude, após a contagem de uma etapa do sol, à nona hora.

4 Foi numa sexta-feira, no mesmo dia em que ele foi criado, e no qual descansou; e a hora em que morreu, era a mesma de quando saiu do jardim.

5 Então Seth o envolvei bem, embalsamou-o com muitas especiarias aromáticas de árvores sagradas e da Montanha Sagrada; e depositou seu corpo a leste, dentro da caverna, ao lado do incenso; colocou na sua frente uma lamparina permanentemente acesa.

6 Em seguida seus filho; puseram-se diante dele chorando e pranteando-o a noite inteira até o raiar do dia.

7 Em seguida Seth e seu filho Enós e Cainã, o filho de Enós, saíram e levaram boas oferendas para apresentar ao Senhor, e chegaram ao altar sobre o qual Adão oferecia presentes a Deus, quando ele o fazia.

8 Mas Eva lhes disse: “Esperai até que peçamos primeiro a Deus que aceite nossas oferendas, e guarde consigo a alma de Adão Seu servo, e que a leve para descansar”.

9 E todos puseram-se de pé oraram.

Capítulo 10

1 E quando terminar sua oração, a Palavra de Deu veio e consolou-os pelo seu pai Adão.

2 Depois disso, ofereceram seus presentes por eles e por seu pai.

3 E quando terminara sua oferenda, a Palavra de Deu veio a Seth, o mais velho dentre eles, dizendo-lhe: “O Seth, Seth, Seth, três vezes. Como Eu estive com teu pai, assim também estarei contigo, até o cumprimento da promessa que Eu lhe fiz, a teu pai, dizendo que Eu enviarei Minha Palavra e salvar-te-ei e à tua descendência.

4 “Mas, quanto a teu pai Adão, guarda os mandamentos que ele te deu; e afasta teus descendentes dos de Caim teu irmão.”

5 E Deus retirou Sua Palavra de Seth.

6 Então Seth, Eva e seus filhos desceram da montanha para a Caverna dos Tesouros.

7 Mas Adão foi o primeiro cuja alma morreu na terra do Éden, na Caverna dos Tesouros; pois ninguém morrera antes dele, apenas seu filho Abel, assassinado.

8 Então todos os filhos de Adão levantaram-se e prantearam seu pai Adão e fizeram oferendas por ele, durante cento e quarenta dias.

Capítulo 11

1 Após a morte de Adão e de Eva, Seth separou seus filhos, e os filhos de seus filhos, dos filhos de Caim. Caim e seus descendentes desceram e habitaram a oeste, abaixo do lugar onde ele matara seu irmão Abel.

2 Mas Seth e seus filhos moravam ao norte, na Montanha da Caverna dos Tesouros, para ficarem próximos de seu pai Adão.

3 E Seth, o mais velho, grande e bom, de alma pura e de mente forte, liderava seu povo; e instruía-o em inocência,penitência e mansidão, e não permitia que nenhum dos seus descesse para junto dos filhos de Caim.

4 Mas por causa de sua pureza eles eram chamados “Filhos de Deus”, e estavam com Deus, no lugar das hostes de anjos caídos; pois continuaram louvando a Deus e cantando-Lhe salmos em sua caverna, a Caverna dos Tesouros.

5 Pois Seth punha-se em pé defronte ao corpo de seu pai Adão e de sua mãe Eva, e orava noite e dia, e pedia por misericórdia para si e seus filhos; e ao ter alguma dificuldade no lidar com um filho, Ele o aconselhava.

6 Mas Seth e seus filhos não gostavam do trabalho terreno, mas davam-se a coisas celestes; pois não tinham outros pensamentos a não ser louvores, doxologias e salmos a Deus.

7 Por isso eles sempre ouviam as vozes dos anjos, louvando e glorificando a Deus, vindas de dentro do jardim ou quando eram enviados por Deus numa missão ou quando subiam ao céu.

8 Pois Seth e seus filhos, em razão de sua pureza, ouviam e viam aqueles anjos” Pois o jardim não estava muito acima deles, mas apenas a cerca de quinze cúbitos espirituais.

9 Agora, um cúbito espiritual equivale a três cúbitos humanos, ao todo quarenta e cinco cúbitos.

10 Seth e seus filhos habitavam na montanha abaixo do jardim; não semeavam nem colhiam; não manufaturavam nenhum alimento para o corpo, nem mesmo trigo, mas tão-somente oferendas. Comiam os frutos das árvores carregadas que cresciam na montanha onde moravam.

11 Pois Seth freqüente-mente jejuava a cada quarenta dias, como também o faziam seus filhos mais velhos. Porque a família de Seth sentia o aroma das árvores do jardim, quando o vento de lá soprava.

12 Eles eram felizes, inocentes, sem sobressaltos, não havia inveja, nem más ações nem ódio entre eles. Não havia paixão animal; de nenhuma boca dentre eles saíam palavras deturpadas ou maldição; nem conselho mau nem mentira. Pois os homens daquele tempo nunca juravam, mas, sob circunstâncias difíceis, quando as pessoas precisam jurar, eles juravam pelo sangue de Abel o justo.

13 Mas eles confinavam seus filhos e suas mulheres todos os dias na caverna para jejuar e orar e adorar Deus o Altíssimo. Eles se abençoavam no corpo de seu pai Adão e ungiam-se com ele.

14 E assim fizeram até que o fim de Seth aproximou-se.

Capítulo 12

1 Então Seth o justo chamou seu filho Enós e Cainã, filho de Enós, e Malaleel, filho de Cainã e disse-lhes:

2 “Como o meu fim está próximo, quero construir um telhado sobre o altar no qual oferecemos presentes.”

3 Eles obedeceram sua ordem e saíram, todos, tanto velhos quanto jovens, e trabalharam com persistência construíram um lindo telhado sobre o altar.

4 E a intenção de Seth, a fazer assim, era que a bênção vivesse sobre seus filhos na montanha; e que ele fizesse uma oferenda por eles antes de morrer.

5 Então, quando a construção do telhado estava pronta ordenou-lhes que fizessem oferendas. Eles trabalharam diligentemente nelas e trouxeram-nas a Seth seu pai que a levou e ofereceu-as sobre o altar; e pediu a Deus que aceitasse suas oferendas, que tivesse misericórdia pela alma de seus filhos, e que os protegesse das mãos de Satã.

6 E Deus aceitou sua oferenda e enviou Sua bênção sobre ele e sobre seus filhos. então Deus fez uma promessa a Seth, dizendo: “Ao final dos grandes cinco dias e meio, acerca dos quais Eu fiz uma promessa a ti e a teu pai, enviarei Minha Palavra e salvar-te-ei à tua descendência”.

7 Então Seth e seus filhos e os filhos de seus filhos, reuniram-se e desceram do altar foram à Caverna dos Tesouro, onde oraram e abençoaram no corpo de nosso pai Adão ungiram-se com ele.

8 Mas Seth habitou a Caverna dos Tesouros por algum dias e depois sofreu os sofrimentos da morte.

9 Então Enós, o primogênito, veio a ele, com Cainã, com Malaleel, o filho de Cainã, e Jared, filho de Malaleel, e Enoque, filho de Jared, com suas mulheres e filhos, para receberem as bênçãos de Seth.

10 Então Seth orou por eles e abençoou-os e conjurou-os pelo sangue de Abel o justo, dizendo: “Eu vos imploro, meus filhos, não deixeis que nenhum de vós desça desta Sagrada e pura Montanha.

11 Não façais camaradagem com os filhos de Caim o assassino e o pecador, que matou seu irmão; pois sabeis, ó meus filhos, que fugimos dele, e de todo o seu pecado, com toda nossa força, porque ele matou seu irmão Abel.”

12 Depois de dizer isto, Seth abençoou Enós, seu primogênito, e ordenou-lhe que mantivesse o hábito de ministrar na pureza diante do corpo de nosso pai Adão todos os dias de sua vida; e também de ir periodicamente ao altar que ele Seth construíra. E ordenou-lhe instruir seu povo em justiça, em discernimento e pureza todos os dias de sua vida.

13 Em seguida os membros de Seth afrouxaram; suas mãos e pés perderam toda a força, sua boca emudeceu e tomou-se incapaz de falar; e ele entregou o espírito e morreu um dia depois de completar novecentos e doze anos; ao vigésimo sétimo dia do mês Abib; tendo então Enoque vinte anos de idade.

14 Então eles enrolaram cuidadosamente o corpo de Seth, embalsamaram-no com ervas aromáticas e depositaram-no na Caverna dos Tesouros, à direita do corpo de nosso pai Adão, e prantearam-no durante quarenta dias. Ofereceram presentes por ele, como o fizeram por nosso pai Adão.

15 Depois da morte de Seth, Enós elevou-se à chefia de seu povo, a quem ele instruiu em justiça e discernimento, como seu pai lhe havia ordenado.

16 Mas na época em que Enós chegou aos oitocentos e vinte anos de idade, Caim tinha uma prole numerosa; pois eles casavam-se com freqüência, dados que eram a prazeres animais; até que a terra abaixo da montanha estava cheia deles.

Capítulo 13

1 Naqueles dias vivia Lamec o cego, que descendia dos filhos de Caim. Ele tinha um filho cujo nome era Atun, e ambos possuíam muito gado.

2 Mas Lamec tinha o hábito de enviá-lo para pastar por um jovem pastor, que cuidava dele; e que, ao voltar para casa à noite, chorava perante seu avó e perante seu pai Atun e sua mãe Hazina e dizia-lhes: “Quanto a mim, não posso pastorear este gado sozinho, com receio de que alguém me roube algum, ou me mate por causa dele”, Pois entre os filhos de Caim havia muito roubo, assassínio e pecado.

3 Então Lamec apiedou-se dele e disse: “Em verdade. sozinho ele pode ser dominado pelos homens deste lugar”.

4 Assim, Lamec ergueu-se, pegou um arco que guardava desde sua juventude, antes de se tornar cego, e pegou flechas grandes, pedras lisas, uma funda que possuía e foi ao campo com o jovem pastor e colocou-se na retaguarda do gado, enquanto o jovem pastor vigiava o gado, Lamec assim fez por muitos dias.

5 Entrementes, Caim, desde que Deus o renegara e o amaldiçoara com tremor e terror, não conseguia nem estabelecer-se nem encontrar repouso em lugar algum; mas vagueava de um lugar para outro.

6 Em suas andanças chegou até as mulheres de Lamec e perguntou-lhes acerca dele, Elas disseram-lhe: “Ele está no campo com o gado.

7 Então Caim foi à sua procura; e, ao chegar ao campo, o jovem pastor ouviu seu ruído e o gado arrebanhando-se para sair de sua frente.

8 Então ele disse a Lamec: “O meu senhor, acaso é uma fera selvagem ou um ladrão’?

9 E Lamec disse-lhe: “Faça-me entender para onde ele olha, quando se aproximar”.

10 Então Lamec curvou seu arco, colocou uma flecha nele e ajustou uma pedra na funda, e quando Caim saiu do campo aberto, o pastor disse a Lamec: “Atira, vê, ele está chegando”.

11 Então Lamec atirou em Caim com uma flecha e atingiu-o no lado. E Lamec golpeou-o com uma pedra de sua funda, que bateu em seu rosto e arrancou-lhe os olhos; então Caim caiu de uma vez e morreu.

12 Então Lamec e o jovem pastor foram até ele e encontraram-no prostrado no solo. É o jovem pastor disse-lhe: “Este é Caim, nosso avó, que tu mataste, ó meu senhor”!

13 Então Lamec penalizou-se com isto e, de amargura remorso, com suas mãos espalmadas golpeou a cabeça do jovem, que caiu como morto,  Lamec pensou que fosse só um desmaio; por isso ele pegou um pedra e golpeou-o e esmagou sua cabeça até que ele morreu.

Capítulo 14

1 Quando Enós completo novecentos anos de idade, todos os filhos de Seth e Cainã e o seu primogênito, com suas mulheres e filhos, reuniram-se a seu redor, pedindo-lhe uma bênção.

2 Ele então orou por eles abençoou-os, e conjurou-o pelo sangue de Abel o justo, dizendo-lhes: “Não permitais que nenhum de vosso filhos desça desta Montanha Sagrada, e não permitais que façam camaradagem com os filhos de Caim o assassino.

3 Em seguida Enós chamou seu filho Cainã e disse-lhe “Atenta, ó meu filho, e dedicaste de coração a teu povo instrui-o em justiça e em inocência; e põe-te ministrando defronte ao corpo de nosso pai Adão, todos os dias de tua vida’

4 Após isso, Enós entrou em repouso, com a idade de novecentos e oitenta e cinco  anos; e Cainã enrolou-o e depositou-o na Caverna dos Tesouros à esquerda de seu pai Adão; e fez oferendas por ele, segundo o costume de seus ancestrais.

Capítulo 15

1 Após a morte de Enós, Cainã se colocou na chefia de seu povo na justiça e inocência, como seu pai lhe ordenara; ele também continuou a ministrar perante o corpo de Adão, dentro da Caverna dos Tesouros.

2 Então, depois de viver novecentos e dez anos, acometeram-no o sofrimento e a doença. E, estando prestes a entrar em repouso, todos os chefes de família com suas mulheres e filhos vieram a ele, e ele abençoou-os e conjurou-os pelo sangue de Abel o justo, dizendo-lhes: “Não permitais que nenhum dentre vós desça desta Montanha Sagrada; e não façais camaradagem com os filhos de Caim, o assassino”.

3 Malaleel, seu primogênito, recebeu esta ordem de seu pai, que o abençoou e morreu.

4 Então Malaleel embalsamou-o com ervas aromáticas e depositou-o na Caverna dos Tesouros, com seus ancestrais; e todos fizeram oferendas por ele, segundo o costume de seus ancestrais.

Capítulo 16

1 Então Malaleel chefiou seu povo e instruiu-o na justiça e inocência, e vigiou-o para que não se relacionasse com os filhos de Caim.

2 Ele também continuou na Caverna dos Tesouros, orando e ministrando perante o corpo de nosso pai Adão, pedindo a Deus misericórdia para si e para seu povo; até que completou oitocentos e setenta anos de idade, quando caiu doente.

3 Então todos os seus filhos reuniram-se a seu redor para vê-lo e pedir-lhe sua bênção a todos, antes que deixasse este mundo.

4 Então Malaleel ergueu-se e sentou-se no leito, com lágrimas rolando pelas faces, e chamou seu filho mais velho Jared, que veio até ele.

5 Ele então beijou sua face e disse-lhe: “ah Jared, meu filho, conjuro-te, por Aquele que fez o céu e a terra, a vigiares teu povo e a provê-lo na justiça e na inocência; e conjuro-te a não permitires que nenhum deles desça desta Montanha Sagrada até os filhos de Caim, para que não pereçam com eles.

6 “Ouve, ó meu filho, futuramente virá uma grande destruição sobre esta terra por causa deles; Deus ficará irado com o mundo e destrui-lo-á pelas águas.

7 “Mas eu também sei que teus filhos não te obedecerão, e que eles descerão desta montanha e relacionar-se-ão com os filhos de Caim, e que perecerão com eles.

8 “ah meu filho! ensina-os e vigia-os, para que nenhuma culpa te seja atribuída por causa deles.”

9 Malaleel disse, ainda, a seu filho Jared: “Quando eu morrer, embalsama meu corpo e deposita-o na Caverna dos Tesouros, ao lado dos corpos de meus ancestrais; em seguida põe-te perante meu corpo e ora a Deus; e cuida deles, e cumpre teu ministério perante eles, até tu mesmo entrares em repouso.”

10 Malaleel em seguida abençoou os seus filhos; e depois disso deitou-se em seu leito e entrou em repouso como seus ancestrais.

11 Mas quando Jared viu que seu pai Malaleel estava morto, chorou e entristeceu-se, e abraçou e beijou suas mãos e pés; e assim fizeram todos os seus filhos.

12 E seus filhos embalsamaram-no cuidadosamente e depositaram-no ao lado dos corpos de seus ancestrais. Em seguida ergueram-se e prantearam-no por quarenta dias.

Capítulo 17

1 Então Jared seguiu a ordem de seu pai e ergueu-se como um leão sobre seu povo. Ele instruía-o em justiça e inocência, e ordenou-lhe que nada fizesse sem aconselhar-se com ele. Pois receava que pudesse ir ter com os filhos de Caim.

2 Por causa disso dava-lhes ordens repetidamente; e continuou a fazê-lo até o fim de quatrocentos e oitenta e cinco anos de idade.

3 Ao final desse período, aconteceu-lhe o seguinte sinal. Como Jared postava-se como um leão defronte aos corpos de seus ancestrais, orando e prevenindo seu povo, Satã invejou-o e forjou uma linda visão, porque Jared não permitia que seus filhos fizessem qualquer coisa sem a sua anuência.

4 Satã então apareceu-lhe com trinta homens da sua hoste, na forma de belos homens; sendo o próprio Satã o mais velho e o maior dentre eles, com uma bela barba.

5 Eles pararam à boca da caverna e chamaram por Jared, para que saísse a seu encontro.

6 Ele saiu a seu encontro e achou-os com a aparência de belos homens, cheios de luz e de grande beleza. Admirou sua beleza e sua aparência; e pensou consigo mesmo se eles poderiam ser filhos de Caim.

7 Ele também disse em seu coração: “Como os filhos de Caim não podem subir ao alto desta montanha, e nenhum deles é tão belo como estes parecem ser; e dentre estes homens não está nenhum da minha parentela, estes devem ser os estranhos”.

8 Então Jared e eles trocaram saudações e ele disse ao mais velho dentre eles: “O meu pai, explica-me a maravilha que há em ti, e dize-me quem são estes contigo; pois me parecem estranhos”.

9 Então o mais velho se pôs a chorar, e os outros choraram junto; e ele disse a Jared: “Eu sou Adão, a quem Deus criou primeiro, e este é Abel meu filho, que foi morto por seu ir-mão Caim, cujo coração Satã incitou que o matasse.

10 “Depois, este é meu filho Seth, que eu pedi ao Senhor, que me deu para consolar-me no lugar de Abel.

11 “Depois, este aqui é meu filho Enós, filho de Seth, e aquele outro é Cainã, filho de Enós, e aquele outro ainda é Malaleel, filho de Cainã, teu pai.”

12 Mas Jared continuou espantado com sua aparência, e com o que o mais velho lhe falava.

13 Então o mais velho disse-lhe: “Não estranhes, ó meu filho; nós vivemos na terra ao norte do jardim, a qual Deus criou antes do mundo. Ele não queria nos permitir viver lá, mas nos colocou dentro do jardim, abaixo do qual vós estais morando agora.

14 “Mas depois que eu desobedeci, Ele me fez sair de lá e deixou-me morar nesta caverna; grandes e dolorosos sofrimentos me aconteceram; e quando minha morte aproximou-se, eu ordenei a meu filho Seth que cuidasse bem de seu povo; e esta minha ordem deve ser passada de um para o outro, até o fim das gerações vindouras.

15 “Mas, ó Jared, meu filho, nós vivemos em belas regiões, ao passo que vós viveis aqui na miséria, como este teu pai Malaleel me informou; contando-me que um grande dilúvio virá e destruirá a terra inteira.

16 “Portanto, ó meu filho, receando por vós, levantei-me e levei meus filhos comigo, e vim até aqui para visitar-te e a teus filhos: mas eu te encontrei em pé nesta caverna, chorando, e teus filhos espalhados por esta montanha, no calor e na miséria.

17 “Mas, ó meu filho, ao nos perdermos ao caminharmos até aqui, encontramos outros homens abaixo desta montanha; que habitam um lindo país, cheio de árvores e de frutas, e de toda a espécie de vegetais; é como um jardim; de maneira que ao encontrá-los pensamos que éreis vós; até que teu pai Malaleel contou-me que eles não o eram.

18 “Agora, portanto, ó meu filho, ouve meu conselho e desce até eles, tu e teus filhos. Vós descansareis de todo esse sofrimento em que estais. Mas caso tu não queiras descer até eles, então levanta-te, toma teus filhos, e vem conosco ao nosso jardim; vós vivereis em nossa linda terra, e repousareis de toda esta aflição, que tu e teus filhos suportais agora.”

19 Jared, então, ao ouvir este discurso do mais velho, surpreendeu-se e se pôs a andar de lá para cá, mas naquele momento não encontrou nenhum de seus filhos.

20 Então ele respondeu e disse ao mais velho: “Por que vos escondestes até hoje”?

21 E o mais velho retrucou: “Se teu pai não nos tivesse contado, nós não saberíamos”.

22 Então Jared tomou suas palavras como verdadeiras.

23 Assim, aquele mais velho disse a Jared: “Para que procuraste em tua volta”? E ele disse: “Eu estava procurando por um de meus filhos para contar-lhe que eu vou convosco, e para que eles desçam até aqueles de quem tu me falaste”.

24 Quando o mais velho ouviu a intenção de Jared, disse-lhe: “Deixa este propósito por ora e vem conosco; tu verás nosso país; caso a terra onde moramos te agradar, nós e tu retomaremos aqui e levaremos tua família conosco. Mas se o nosso país não te agradar, tu voltarás a teu próprio lugar”.

25 E o mais velho apressou Jared que fosse antes que um de seus filhos viesse e o aconselhasse a não fazê-lo.

26 Jared, então, saiu da caverna e foi com eles, e no meio deles. E eles consolaram-no até que chegaram ao topo da montanha dos filhos de Caim.

27 Então o mais velho disse a um de seus companheiros: “Nós esquecemos algo na entrada da caverna, e que é a vestimenta escolhida que trouxemos para vestir Jared”.

28 Ele então disse a um deles: “Alguém volte; e nós esperaremos aqui. Então vestiremos Jared e ele será como nós, bom, bonito e adequado para vir conosco para nosso país”.

29 Então aquele voltou.

30 Mas quando ele estava a uma curta distância, o mais velho chamou-o e disse-lhe: “Espera até que eu chegue e fale contigo”.

31 Então ele parou e o mais velho aproximou-se dele e disse-lhe: “Uma coisa esquecemos na caverna, é isto: apagar a lamparina que queima lá dentro, acima dos corpos que lá estão. Em seguida volta a nós, rápido”.

32 Aquele partiu e o mais velho voltou para junto de seus companheiros e de Jared. E eles desceram da montanha, e Jared com eles; e ficaram junto a uma fonte de água, próximo às casas dos filhos de Caim, e aguardaram o seu companheiro até que ele trouxesse a vestimenta para Jared.

33 Aquele, então, que voltara à caverna, apagou a lamparina e voltou para junto deles e trouxe uma ilusão consigo e mostrou-a a eles. E quando Jared a viu, admirou sua beleza e graça, e alegrou-se em seu coração acreditando que era tudo verdadeiro.

34 Mas enquanto eles ali estavam, três deles entraram nas casas dos filhos de Caim, e disseram-lhes: “Trazei-nos hoje algum alimento até a fonte de água, para nós e nossos companheiros comermos”.

35 Mas, ao verem-nos, os filhos de Caim surpreenderam-se com eles e pensaram: “Estes são bonitos de se olhar, e tais como nunca vimos antes”. Assim eles se levantaram e foram até a fonte de água, para ver seus companheiros.

36 Então os acharam tão bonitos, que se puseram a clamar alto pela vizinhança para que outros se juntassem e viessem ver aqueles belos seres. Então rodearam-nos, homens e mulheres.

37 Em seguida o mais velho disse-lhes: “Nós somos estrangeiros em vossa terra, trazei-nos alimento e bebida, vós e vossas mulheres, para refazermo-nos convosco”.

38 Quando aqueles homens ouviram essas palavras do mais velho, cada um dos filhos de Caim trouxe sua mulher, e outro trouxe sua filha, e assim, muitas mulheres vieram ter com eles; cada um dirigindo-se a Jared ou em favor de si mesmo ou de sua mulher; todos iguais.

39 Mas quando Jared viu o que eles faziam, até sua alma retraiu-se; ele nem queria provar do alimento ou da bebida deles.

40 O mais velho viu-o retrair-se deles e disse-lhe: “Não fiques triste; eu sou o grande chefe, assim como me verás fazer, faze-o tu da mesma maneira”.

41 Então ele estendeu suas mãos e tomou uma das mulheres, e cinco de seus companheiros fizeram o mesmo perante Jared, para que ele fizesse como eles.

42 Mas ao vê-los agindo com infâmia, Jared chorou e disse consigo mesmo: “Meus ancestrais nunca fizeram nada parecido”.

43 Ele então estendeu suas mãos e orou com coração ar-dente, e com muito lamento, e suplicou a Deus que o livrasse daquelas mãos.

44 Tão logo Jared começou a orar, o ancião fugiu com seus companheiros; pois eles não podiam permanecer num local de oração.

45 Em seguida Jared voltou-se mas não os viu mais, porém achou-se no meio dos filhos de Caim.

46 Ele então chorou e disse: “Ó Deus, não me destruais junto com esta raça, contra a qual meus ancestrais me preveniram; pois, ó meu Senhor Deus, pensei que aqueles que me apareceram eram meus ancestrais; mas agora descobri serem demônios que me iludiram com sua aparência bonita até eu acreditar neles.

47 “Mas agora eu Vos peço, ó Deus, que me livreis desta raça, no meio da qual estou agora, como Vós me livrastes daqueles demônios. Enviai Vosso anjo para que me tire do meio deles; pois eu sozinho não tenho força para escapar-lhes.”

48 Quando Jared terminou sua oração, Deus enviou Seu anjo até o meio deles, que pegou Jared e colocou-o sobre a montanha, e indicou-lhe o caminho, aconselhou-o, e então o deixou.

Capítulo 18

1 Os filhos de Jared tinham o costume de visitá-lo a toda hora para receber sua bênção e pedir seu conselho para tudo que fizessem; e quando ele tinha trabalho para fazer, eles faziam-no por ele.

2 Mas desta vez, ao entrarem na caverna, não encontraram Jared, mas encontraram a lamparina apagada e os corpos dos ancestrais revirados, e vozes saíam deles pelo poder de Deus, que diziam: “Satã enganou nosso filho numa visão, querendo destruí-lo como destruiu nosso filho Caim”.

3 Eles também disseram: “Senhor Deus do céu e da terra, libertai nosso filho da mão de Satã, que forjou uma visão grande e falsa diante ele”. Eles também falaram de outros assuntos, pelo poder de Deus.

4 Mas ao ouvirem essas vozes, os filhos de Jared amedrontaram-se e puseram-se a chorar pelo seu pai; pois não sabiam o que lhe havia acontecido.

5 E choraram por ele durante aquele dia até o pôr-do-sol.

6 Então Jared chegou com um semblante angustiado, miserável de espírito e de corpo, e lastimoso por ter estado longe dos corpos de seus ancestrais.

7 Mas, ao aproximar-se Jared da caverna, seus filhos viram-no, e acorreram, e penduraram-se no seu pescoço lamentando-se e dizendo-lhe: “ah pai, onde estiveste, e por que nos deixaste, como não devias”? E mais: “ah pai, quando desapareceste a lamparina acima dos corpos de nossos antepassados apagou-se, os corpos foram revirados e vozes saíram deles”.

8 Quando Jared ouviu isto ficou penalizado e foi para dentro da caverna; e lá encontrou os corpos jogados pelo chão, a lamparina apagada e os próprios antepassados orando por sua libertação das mãos de Satã.

9 Então Jared caiu sobre os corpos e abraçou-os e disse: “ah meus antepassados, através de vossa intercessão que Deus me liberte das mãos de Satã! E suplico que peçais a Deus que me guarde e oculte-me dele até o dia de minha morte”.

10 Então todas as vozes calaram-se, salvo a voz de nosso pai Adão, que falou a seu companheiro, dizendo: “ah Jared, meu filho, oferece presentes a Deus por ter-te libertado da mão de Satã; e quando trouxeres essas oferendas, oferece-as no altar no qual eu oferecia. Além disso, cuidado com Satã; pois ele me enganou muitas vezes com suas visões, querendo destruir-me, mas Deus libertou-me de sua mão.

11 “Ordena a teu povo que esteja em guarda contra ele; e nunca pares de oferecer presentes a Deus.”

12 Então a voz de Adão também se calou; e Jared e seus filhos espantaram-se com isto. Em seguida colocaram os corpos como estavam antes; e Jared e seus filhos permaneceram orando durante aquela noite inteira, até o raiar do dia.

13 Então Jared preparou uma oferenda e ofereceu-a no altar, conforme Adão lhe ordenara. E enquanto subia ao altar, orava a Deus por misericórdia e perdão de seu pecado, por permitir que houvessem apagado a lamparina.

14 Então Deus apareceu a Jared no altar e abençoou-o e a seus filhos, e aceitou suas oferendas; e ordenou a Jared pegar do fogo sagrado do altar e com ele acender a lamparina que iluminava o corpo de Adão.

Capítulo 19

1 Então Deus revelou-lhe novamente a promessa feita a Adão; explicou-lhe os cinco mil e quinhentos anos, e revelou-lhe a mistério de Sua vinda à terra.

2 E Deus disse a Jared: “Quanto ao fogo que tu pegaste do altar para acender a lamparina, que permaneça junto a todos vós para iluminar os corpos; e que não saia da caverna, até que o corpo de Adão dela saia.

3 “Mas, ó Jared, cuida do fogo, para que queime brilhante na lamparina; nem saias novamente da caverna, até receberes uma ordem através de uma visão, e não de uma ilusão, como a que viste.

4 “Então ordena novamente a teu povo que não mantenha relacionamento com os filhos de Caim, e não aprenda seus costumes; pois Eu sou Deus que não ama o ódio nem ações perversas.”

5 Deus deu também muitos outros mandamentos a Jared e abençoou-o. Então retirou Sua Palavra dele.

6 Em seguida Jared aproximou-se de seus filhos, pegou um pouco de fogo e desceu à caverna, e acendeu a lamparina perante o corpo de Adão; e deu a seu povo os mandamentos conforme Deus lhe dissera.

7 Este sinal aconteceu a Jared no final dos seus quatrocentos e cinqüenta anos; como aconteceram também muitas outras maravilhas, que não registramos. Mas registramos apenas este para sermos breves e não alongarmos nossa narrativa.

8 E Jared continuou a ensinar seus filhos por oitenta anos; mas depois disso eles começaram a desobedecer aos mandamentos que ele lhes dera, e a fazer muitas coisas sem seu consentimento. Eles começaram a descer da Montanha Sagrada, um após o outro, e a se misturar aos filhos de Caim, em camaradagem impura.

9 Agora, a razão pela qual os filhos de Jared desceram da Montanha Sagrada, é esta, que vos revelaremos em seguida.

Capítulo 20

1 Depois de haver Caim descido à terra do solo escuro, e seus filhos ali multiplicado, existia um dentre eles, cujo nome era Genum, filho de Lamec o cego, que havia matado Caim.

2 Mas quanto a este Genum, Satã veio-lhe em sua infância; e ele fizera diversas trombetas e trompas, e instrumentos de corda, címbalos e saltérios, e liras e harpas e flautas; e tocava-os o tempo todo e a toda hora.

3 E ao tocá-los, Satã entrou neles, assim que deles ouviam-se belos e doces sons que arrebatavam o coração.

4 Então ele reunia grupos e mais grupos para tocá-los; e quando eles tocavam, agradavam muito aos filhos de Caim, que se inflamavam com o pecado entre si e ardiam como fogo, enquanto Satã inflamava seus corações, um para com o outro, e aumentava a paixão entre eles.

5 Satã também ensinou Genum a tirar do cereal uma bebida forte; e Genum usava-a para reunir grupos e mais grupos em casas de bebida; e colocava-lhes nas mãos toda espécie de frutas e flores; e eles bebiam juntos.

6 Assim, este Genum multiplicou o pecado excessivamente; além disso, agia com orgulho e ensinava os filhos de Caim a praticar toda sorte da mais grosseira maldade, que eles não conheciam; e conduziu-os às várias práticas que eles antes não conheciam.

7 Então, Satã, ao ver que eles cediam a Genum e obedeciam-lhe em tudo que ele lhes dizia, alegrou-se muitíssimo, aumentou o entendimento de Genum, até que ele pegou o ferro e com ele fez armas de guerra.

8 Então, quando eles se embebedavam, o ódio e o crime aumentavam entre eles; um homem usava violência contra o outro para ensinar-lhe o mal, tomando seus filhos e pervertendo-os, na sua frente.

9 E quando os homens viam que estavam vencidos, e viam outros que não tinham sido subjugados, aqueles que eram derrotados vinham Genum, refugiavam-se a selado, e ele fazia-os seus aliados seus.

10 Assim o pecado aumentou entre eles muitíssimo; a que um homem dava em casamento sua própria irmã ou filha ou mãe e outras; ou a filha da irmã de seu pai, de maneira que não havia mais distinção e parentesco, e eles não mais sabiam o que era iniqüidade; mas agiam com maldade, e a terra ficou manchada pelo pecado; eles encolerizaram Deus o Juiz que os havia criado.

11 Mas Genum reunia grupos e mais grupos que tocava trombetas e todos os outros instrumentos já mencionados, ao sopé da Montanha Sagrada; eles faziam assim para que os filhos de Seth que estavam na Montanha Sagrada os ouvissem.

12 Mas quando os filhos de Seth ouviam o barulho, surpreendiam-se e vinham em grupo e ficavam parados no topo montanha para olhar para os de baixo; e assim fizeram durante um ano inteiro.

13 Quando, ao findar daquele ano, Genum viu que eles estavam sendo aos poucos conquistados para seu lado, Satã entrou nele e ensinou-lhe como fazer corantes em diversos padrões para vestimentas, e fez entender como tingir de vermelho e carmesim, de púrpuras e de outras mais.

14 E os filhos de Caim, que engendraram tudo isso, e brilhavam belos e paramentados esplendidamente, juntaram-no sopé da montanha, em esplendor, com trombetas e vestidos suntuosos, e corridas cavalos, cometendo todas as formas de abominações.

15 Enquanto os filhos de Seth, que estavam na Montanha Sagrada, oravam e louvavam a Deus no lugar das hostes de anjos que tinha caído; pelo que Deus os tinha chamado de “anjos”, porque Ele alegrava-se muito com eles.

16 Mas, após isso, eles não mais guardavam Seu manda-mento nem acreditavam na promessa que Ele havia feito a seus antepassados, mas relaxaram-se no jejum e oração e no aconselhamento de Jared seu pai. E continuaram a se reunir no topo da montanha para olhar para os filhos de Caim, desde a manhã até o anoitecer, e para o que eles faziam, para os seus belos vestidos e ornamentos.

17 Então os filhos de Caim olharam para cima, lá de baixo, e viram os filhos de Seth, parados aos grupos no topo da montanha; e chamaram-nos para que descessem até eles.

18 Mas os filhos de Seth disseram-lhes de cima: “Não sabemos o caminho”. Então Genum, o filho de Lamec, ouviu-os dizer que não sabiam o caminho, e pôs-se a pensar consigo mesmo como trazê-los para baixo.

19 Então Satã apareceu-lhe durante a noite, dizendo: “Não há caminho para eles descerem da montanha onde moram; mas quando eles vierem amanhã, dize-lhes: ‘Vinde até o lado oeste da montanha; ali encontrareis o caminho de um riacho que desce até o sopé da montanha, entre duas colinas; descei por ali até nós”.

20 Então, quando raiou o dia, Genum soprou as trombetas e tocou os tambores sob a montanha, como costumava. Os filhos de Seth ouviram-no e vieram como de costume.

21 Então Genum disse-lhes de baixo: “Ide até o lado oeste da montanha, ali encontrareis o caminho para descer”.

22 Mas quando os filhos de Seth ouviram essas suas palavras, voltaram à caverna para Jared, para contar-lhe tudo o que tinham ouvido.

23 Então, ao ouvir isso, Jared entristeceu-se; pois sabia que eles desobedeceriam seu conselho.

24 Após isso, um centena de homens dentre os filhos de Seth reuniu-se e falou entre si: “Vamos, desçamos até os filhos de Caim e vejamos o que eles fazem e divirtamo-nos com eles”.

25 Mas quando Jared ouviu isso da centena de homens, até a sua alma comoveu-se e seu coração penalizou-se. Então ele ergueu-se com grande fervor e colocou-se no meio deles e adjurou-os pelo sangue de Abel o justo: “Que nenhum de vós desça desta montanha sagrada e pura, na qual nossos antepassados nos ordenaram morar”.

26 Mas quando Jared viu que eles não aceitaram suas palavras, disse-lhes: “O meus filhos bons e inocentes e santos, sabei que uma vez que descerdes desta montanha sagrada, Deus não vos permitirá a ela voltar novamente”.

27 Outra vez adjurou-os, dizendo: “Eu adjuro pela morte de nosso pai Adão e pelo sangue de Abel, de Seth, de Enós, de Cainã e de Malaleel, que me obedeçais e não desçais desta montanha sagrada; pois no momento em que a deixardes, sereis destituídos de vida e de misericórdia; e não sereis chamados de filhos de Deus, mas de filhos do demônio”‘.

28 Mas eles não queriam ouvir suas palavras.

29 Enoque já era adulto nesta época e, em seu zelo por Deus, levantou-se e disse: “Ouvi-me, ó vós, filhos de Seth, pequenos e grandes, ao desobedecerdes o mandamento de nossos antepassados, e ao descerdes desta montanha sagrada, nunca mais subireis aqui”.

30 Mas eles se rebelaram contra Enoque e não quiseram ouvir suas palavras, mas desceram da Montanha Sagrada.

31 E quando olharam para as filhas de Caim, para seus belos corpos e para suas mãos e pés tingidos de cor, e para as tatuagens ornamentais nos seus rostos, o fogo do pecado acendeu-se neles.

32 Então Satã fez com que elas parecessem lindíssimas perante os filhos de Seth, e também fez com que os filhos de Seth parecessem belíssimos aos olhos das filhas de Caim, de maneira que as filhas de Caim desejassem como feras selvagens os filhos de Seth, e os filhos de Seth desejassem as filhas de Caim, até que cometeram abominações com elas.

33 Mas depois de assim caírem em degradação, eles voltaram ao caminho pelo qual haviam descido, e tentaram subir a Montanha Sagrada. Mas não conseguiram, pois as pedras daquela montanha sagrada tomaram-se fogo refulgindo diante deles, por isso eles não podiam mais subir.

34 E Deus encolerizou-s com eles e teve pena deles por que desceram da glória, e com isto perderam ou renunciaram à sua própria pureza ou inocência e decaíram na impureza no pecado.

35 Então Deus enviou Sua Palavra a Jared, dizendo: “Esses teus filhos, aos quais chamaste de Meus filhos, vê, eles desobedeceram ao Meu mandamento e desceram ao antro da perdição e do pecado. Envia um mensageiro àqueles que ficaram para que não desçam e se percam”.

36 Então Jared chorou perante o Senhor e pediu-lhe misericórdia e perdão. Pois preferia que sua alma abandonasse seu corpo, a ouvir essas palavras de Deus sobre a descida de seus filhos da Montanha Sagrada.

37 Mas ele seguiu a ordem de Deus e pregou-lhes que na descessem da montanha sagrada e que não mantivessem relacionamento com os filhos de Caim.

38 Mas eles não ouvira sua mensagem e não quisera seguir seu conselho.

Capítulo 21

1 Após isso, um outro grupo reuniu-se e foi procurar por seus irmãos; mas todos pereceram como os outros. E assim foi, grupo após grupo, até que sobraram apenas uns poucos.

2 Então Jared caiu enfermo de pesar e sua enfermidade era tal que o dia de sua morte aproximou-se.

3 Então ele chamou Enoque, seu primogênito, e Matusalém, filho de Enoque, e Lamec, filho de Matusalém, e Noé, filho de Lamec.

4 E quando eles chegaram à sua presença, orou por eles e abençoou-os e disse-lhes: “Vós sois filhos justos, inocentes; não desçais desta Montanha Sagrada; pois vede, vossos filhos e os filhos de vossos filhos desceram desta Montanha Sagrada e dela se afastaram por seus desejos abomináveis e desobediência ao mandamento de Deus.

5 “Mas eu sei, pelo poder de Deus, que Ele não vos deixará nesta Montanha Sagrada porque vossos filhos desobedeceram ao Seu mandamento e ao de nossos antepassados, que recebemos deles.

6 “Mas, ó meus filhos, Deus nos conduzirá para uma terra estranha, e vós nunca mais tornareis a ver com vossos olhos este jardim e esta Montanha Sagrada.

7 “Portanto, ó meus filhos, firmai vossos corações em vós mesmos e guardai o manda-mento de Deus que está convosco. E quando partirdes desta Montanha Sagrada, para uma terra estranha que não conheceis, levai convosco o corpo de nosso pai Adão e com ele estes três presentes e oferendas preciosas. a saber, o ouro, o incenso e a mirra; e deposita-os no lugar onde o corpo de nosso pai Adão repousar.

8 “E àquele de vós que restar, ó meus filhos, virá a Palavra de Deus, e quando ele partir desta terra deverá levar consigo o corpo de nosso pai Adão e deverá depositá-lo no centro da terra, o lugar no qual será engendrada a salvação.”

9 Então Noé disse-lhe: “Quem dentre nós é aquele que restará”?

10 E Jared respondeu: “Tu és aquele que restará. E tu deverás retirar o corpo de nosso pai Adão de dentro da caverna e colocá-lo contigo na arca quando o dilúvio chegar.

11 “E teu filho Sem, que sairá de teus quadris, é quem depositará o corpo de nosso pai no centro da Terra, no lugar de onde virá a salvação.”

12 Então Jared dirigiu-se a seu filho Enoque e disse-lhe: “Tu, meu filho, permanece nesta caverna e ministram com diligência ante o corpo de nosso pai Adão todos os dias de tua vida; e instrui teu povo em justiça e inocência”.

13 E Jared acabou de falar. Suas mãos afrouxaram-se. seus olhos fecharam-se, e ele repousou como seus antepassados. Sua morte teve lugar quando Noé tinha trezentos e sessenta anos de idade, e quando ele próprio tinha novecentos e oitenta e nove anos de vida; no décimo segundo dia de Takhsas, numa sexta-feira.

14 Mas, ao morrer, lágrimas jorraram pelo rosto de Jared por causa de sua grande tristeza pelos filhos de Seth que caíram durante seus dias.

15 Então Enoque, Matusalém, Lamec e Noé, estes quatro, prantearam-no, embalsamaram-no cuidadosa-mente, e em seguida deitaram-no na Caverna dos Tesouros. Depois ergueram-se e prantearam-no ainda durante quarenta dias.

16 E quando esses dias de luto terminaram, Enoque, Matusalém, Lamec e Noé permaneceram com a tristeza no coração, porque seu pai os deixara, e eles não mais o viam.

Capítulo 22

1 Mas Enoque guardou o mandamento de Jared seu pai e continuou a ministrar na caverna.

2 E foi a esse Enoque que aconteceram muitas maravilhas, e que também escreveu um célebre livro; mas essas maravilhas não podem ser contadas aqui.

3 Então, após isso, os filhos de Seth desencaminharam-se e caíram, eles, seus filhos e suas esposas. E quando Enoque, Matusalém, Lamec e Noé os viram, seus corações sofreram por causa de sua queda na dúvida cheia de descrença; e eles choraram e buscaram a misericórdia de Deus, para que os protegesse e os retirasse desta geração má.

4 Enoque continuou a ministrar ante o Senhor por trezentos e oitenta e cinco anos, ao findar este período ele soube, pela graça de Deus, que Deus tencionava removê-lo da terra.

5 Ele então disse a seu filho: “O meu filho, eu sei que Deus tencionava trazer águas do dilúvio sobre a terra destruir nossa criação.

6 “E vós sois os último governantes deste povo da montanha; pois eu sei que ninguém vos restará para gerar filhos nesta Montanha Sagrada e nenhum de vós governará os filhos de seu povo; nem restará um grupo grande de vós nesta montanha.”

7 Enoque também disse-lhes: “Vigiai vossa alma mantende-vos em vosso temor a Deus e em vosso serviço a Ele e adorai-O em fé correta e servi-O com justiça, inocência discernimento, em penitência também em pureza”.

8 Quando Enoque terminou seus mandamentos a eles, Deus transportou-o da montanha para a região da vida, as moradas dos justos e dos escolhidos, à morada do Paraíso da alegria, na Luz que alcança céu, Luz que está além da Luz deste mundo; pois é a Luz de Deus que preenche o mundo inteiro, mas que nenhum lugar pode conter.

9 Portanto, porque Enoque estava na Luz de Deus, achou-se fora do alcance da morte; até que Deus decidisse fazê-lo morrer.

10 Ao todo, nenhum de nossos antepassados ou de seus filhos permaneceu naquela Montanha Sagrada, com exceção destes três, Matusalém, Lamec e Noé. Pois todos os outros desceram da montanha e caíram no pecado com os filhos de Caim. Portanto, foi-lhes aquela montanha, e nenhum permaneceu nela salvo aqueles três homens.

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Evangelhos apócrifos – O Primeiro Livro de Adão e Eva

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O Conflito de Adão e Eva com Satanás

Capítulo 1

Ao TERCEIRO DIA, Deus plantou o jardim a leste da terra, no extremo leste do mundo, além do qual, em direção ao nascente, não se acha nada além de água, que circunda o mundo inteiro, e alcança os limites do céu.

2 E ao norte do jardim há um mar de água, claro e puro ao paladar, como nada se iguala; de maneira que, através de sua transparência, pode-se olhar para as profundezas da terra.

3 E quando um homem lava-se nela, torna-se limpo por sua limpidez e branco por sua brancura, mesmo que ele estivesse escuro.

4 E Deus criou este mar de Seu próprio agrado, pois Ele sabia o que seria do homem que Ele iria fazer; assim, após deixar o jardim, por causa de sua desobediência, nasceriam homens na terra, dentre os quais morreriam os justos cujas almas Deus faria ressurgir no último dia; quando então voltariam à sua carne, banhar-se-iam na água do mar, e todos se arrependeriam de seus pecados.

5 Mas quando Deus fez Adão sair do jardim, Ele não colocou na fronteira norte, para que não se aproximasse do mar de água, e ele e Eva se lavassem nele, e se tomassem limpos de seus pecados, esquecendo a desobediência cometida.

6 Então, novamente, quando ao lado sul do jardim, não agradava a Deus permitir a Adão lá habitar; pois, quando o vento soprasse do norte, tra-lhe-ia no lado sul, o delicioso aroma daquelas árvores do jardim.

7 Por isso Deus não colocou Adão ali para que não aspirasse o doce aroma daquelas árvores, esquecendo sua desobediência e encontrando alívio ao se deliciar com o aroma das árvores, e assim se limpasse c sua desobediência.

8 Novamente, também porque Deus é misericórdia e de grande piedade, e governa todas as coisas de uma maneira que somente Ele sabe, Ele fez nosso pai Adão habitar na fronteira oeste do jardim, porque daquele lado a terra é muito extensa.

9 E Deus ordenou-lhe que ali habitasse numa caverna dentro da rocha, a Caverna dos Tesouros, abaixo do jardim.

Capítulo 2

1 Mas quando nosso pai Adão e Eva saíram do jardim, palmilharam o chão com seus pés sem saber por onde caminhavam.

2 E quando chegaram à abertura dos portões do jardim e viram a terra vasta estendendo-se diante deles, coberta de pedras grandes e pequenas, e de areia, tiveram medo e tremeram, e prostraram-se com suas faces no chão, acometidos pelo medo; e jaziam como mortos.

3 Porque haviam estado até então na terra do jardim, bela-mente plantada com toda a espécies de árvores, e agora se viam numa terra estranha que não conheciam e nunca tinham visto.

4 E porque naquele tempo eles eram cheios de graça e de uma natureza luminosa, e não tinham o coração voltado para coisas terrenas.

5 Por isso Deus teve piedade deles; e quando Ele os viu caídos defronte ao portão do jardim, enviou Sua Palavra ao pai Adão e a Eva, e ergueu-os de sua prostração.

Capítulo 3

1 Deus disse a Adão: “Eu ordenei os dias e os anos nesta terra, e tu e tua descendência deverão habitar e caminhar nela, até se cumprirem os dias e os anos: então Eu enviarei a Palavra que te criou, e à qual tu desobedeceste. a Palavra que te fez sair do jardim. e que te ergueu quando tu estavas caído.

2 “Sim, a Palavra que te salvará novamente quando os cinco dias e meio estiverem consumados.

3 Mas ao ouvir estas palavras de Deus, acerca dos grandes cinco dias e meio, Adão não entendeu o seu significado.

4 Pois Adão estava pensando que haveria somente cinco dias e meio para ele, até o fim do mundo.

5 E Adão chorou e suplicou a Deus que lhe explicasse isto.

6 Então Deus, em Sua misericórdia por Adão, que fora feito segundo Sua própria imagem e semelhança, explicou-lhe que estes eram cinco mil e quinhentos anos; e como o Um vi-ria para salvá-lo e à sua descendência.

7 Mas Deus fizera antes disso esta aliança com nosso pai Adão, nos mesmos termos, quando ele saiu do jardim e se encontrava junto à árvore da qual Eva tomara do fruto e lho dera a comer.

8 Porquanto, ao sair do jardim, nosso pai Adão passou por aquela árvore e viu como Deus então havia mudado sua aparência para uma outra forma e como ela ressecara.

9 E aproximando-se dela Adão teve medo, tremeu e caiu; mas Deus, em Sua misericórdia, ergueu-o, e então fez esta aliança com ele.

10 E, novamente, quando Adão estava junto ao portão do jardim e viu o querubim, com uma espada de fogo fulgurante na mão, encolerizar-se e fitá-lo com desagrado, tanto ele quanto Eva ficaram com medo dele e pensaram que ele tencionava matá-los. Assim eles prostraram-se e tremeram de medo.

11 Mas ele apiedou-se deles e mostrou-lhes misericórdia; e, voltando-se, subiu ao céu e suplicou ao Senhor, e disse:

12 “Senhor, Vós me enviastes para guardar o portão do jardim com uma espada de fogo.

13 “Mas quando Vossos servos Adão e Eva viram-me, prostraram-se e ficaram como mortos. O meu Senhor, que devemos fazer com Vossos ser-vos?”

14 Então Deus apiedou-se deles e mostrou-lhes misericórdia, e enviou Seu anjo para guardar o jardim.

15 E a Palavra do Senhor veio a Adão e Eva e ergueu-os.

16 E o Senhor disse a Adão: “Eu te disse que ao final dos cinco dias e meio Eu enviaria minha Palavra e salvar-te-ia.

17 “Fortalece pois teu coração, e habita na Caverna dos Tesouros, da qual Eu te falei antes.”

18 E quando Adão ouviu esta Palavra de Deus, ele foi consolado pelo que Deus lhe tinha dito. Pois Ele lhe dissera corno o salvaria.

Capítulo 4

1 Mas Adão e Eva choraram por terem de sair do jardim, a sua primeira habitação.

2 E, certamente, quando Adão olhou para sua carne, que estava alterada, chorou amargamente, ele e Eva, pelo que haviam feito. E eles caminharam e desceram docilmente para a Caverna dos Tesouros.

3 E ao chegarem Adão lamentou-se e disse a Eva: “Olha para esta caverna que será nos,sa prisão neste mundo, é um lugar de castigo!

4 “Que é isto comparado com o jardim? Que é esta estreiteza comparada como o espaço do outro?

5 “Que é esta rocha ao lado destas grutas? Que são as trevas desta caverna comparada à luz do jardim?

6 “Que é esta lápide de rocha suspensa para nos abriga comparada à misericórdia do Senhor que nos acolhia?

7 “Que é o solo desta caverna comparado à terra do jardim? esta terra, coberta de pedras, e aquela plantada cor deliciosas árvores frutíferas?”

8 E Adão disse a Eva: “Olha para teus olhos e para os meus que dantes viam anjos no céu louvando; e eles, também, sem cessar.

9 “Mas agora nós não vemos como víamos: nossos olhos são de carne; não podem ver da mesma maneira como viam antes.”

10 Adão disse novamente a Eva: “Que é nosso corpo hoje comparado ao que era em dia passados, quando habitávamos no jardim”?

11 Após isso, Adão não gostou de ter de entrar na caverna, sob a rocha suspensa, nem entraria nela jamais por vontade própria.

12 Mas curvou-se às ordens de Deus, e disse a si mesmo: “A não ser que eu entre na caverna, serei novamente um desobediente”.

Capítulo 5

1 Então Adão e Eva entraram na caverna e permaneceram em pé orando, em sua própria língua, desconhecida para nós, mas que eles bem conheciam.

2E enquanto oravam, Adão ergueu os olhos e viu acima de sua cabeça a rocha e o teto da caverna que o cobria, de maneira que não podia ver nem o céu nem as criaturas de Deus. Então ele chorou e golpeou pesadamente seu peito até que caiu e ficou como morto.

3 E Eva sentou-se chorando; pois acreditava que ele estivesse morto.

4 Então ela ergueu-se, estendeu suas mãos a Deus, pedindo-lhe misericórdia e piedade, e disse: “O Deus, perdoai-me o meu pecado, o pecado que eu cometi, e não o volteis contra mim.

5 “Pois fui eu quem provocou a queda de Vosso servo, do jardim para este lugar perdido; da luz para esta escuridão; e da morada da alegria para esta prisão.”

6 “Ó Deus, olhai para este Vosso servo assim caído e ressuscitai-o de sua morte, para que ele possa lamentar-se e arrepender-se de sua desobediência cometida através de mim.

7 “Não leveis sua alma desta vez; mas deixai-o viver para que ele possa expiar sua culpa segundo a medida de seu arrependimento, e fazer Vossa vontade, antes de sua morte.

8 “Mas se Vós não o ressuscitardes, então, ó Deus, levai minha própria alma, para que eu esteja com ele; e não me deixeis neste antro só e abandonada, pois eu não suporta-ria ficar só neste mundo, mas com ele somente.

9 “Pois Vós, ó Deus, fizeste cair uma sonolência sobre ele, e tomaste um osso de seu lado, e restauraste a carne em seu lugar, por Vosso poder divino.

10 “E Vós me tomaste, o osso, e me fizeste uma mulher, luminosa como ele, com coração, razão e fala; e de carne como ele mesmo; e Vós me fizeste à semelhança de seu semblante, por Vossa misericórdia e poder.

11 “ah Senhor, eu e ele somos um, e Vós, ó Deus, sois o nosso Criador, Vós sois Aquele que nos fez a ambos no mesmo dia.

12 “Portanto, ó Deus, dai-lhe vida, para que ele possa estar comigo nesta terra estranha, enquanto nós morarmos nela por causa de nossa desobediência.

13 “Mas se Vós não quiserdes dar-lhe vida, então levai a mim, até a mim, como ele; para que nós dois possamos morrer da mesma maneira.”

14 E Eva chorou amargamente, e caiu sobre nosso pai Adão; por causa de sua grande tristeza.

Capítulo 6

1 Mas Deus olhou para eles; pois eles se haviam matado pelo grande pesar.

2 Mas Ele queria ressuscitá-los e consolá-los.

3 Portanto enviou-lhes Sua Palavra a fim de que eles ficassem de pé e fossem ressuscitados imediatamente.

4 E o Senhor disse a Adão e Eva: “Desobedecestes por vossa livre vontade, até que saístes do jardim no qual Eu vos havia colocado.

5 “Por vossa própria e livre vontade desobedecestes por causa de vosso desejo de divindade, grandiosidade e condição sublime, tal qual Eu tenho; assim Eu Vos privei da natureza luminosa na qual estáveis então, e vos fiz sair do jardim para esta terra rude e cheia de sofrimento.”

6 “Se ao menos não tivésseis desobedecido ao Meu mandamento e tivésseis guardado Minha lei, e não tivésseis comido do fruto da árvore, da qual Eu vos disse que não vos aproximásseis. E havia árvores frutíferas no jardim melhores que aquela.”

7 “Mas o maldoso Satã, que não se manteve em sua primitiva condição nem conservou sua fé — nele não havia boa intenção em relação a Mim e, embora Eu o tivesse criado, ainda assim Me desprezou e buscou a divindade, de modo que Eu atirei do céu para baixo –  ele foi quem fez a árvore parece agradável a vossos olhos, até que comestes dela, obedecendo-lhe.

8 “Assim desobedecestes a Meu mandamento, e portanto. Eu fiz cair sobre vós todas essas tristezas.”

9 “Pois Eu sou Deus o Criador, aquele que quando criou as criaturas, não tenciona destruí-las. Mas depois de terem provocado grandemente Minha ira, Eu as puni com  castigos atrozes, para que se arrependessem.”

10 “Mas, se, ao contrário elas ainda se mantiverem firmes em sua desobediência serão amaldiçoadas para sempre.”

Capítulo 7

1 Quando Adão e Eva ouviram estas palavras de Deus choraram e soluçaram ainda mais; mas fortaleceram seu coração em Deus, porque agora sentiam que o Senhor era para eles como um pai e uma mãe, e por esta mesma razão choraram diante dEle, e buscaram sua misericórdia.

2 Então Deus apiedou deles, e disse: “ah Adão, Eu fiz Minha aliança contigo; e não voltarei atrás; nem permitir que retomes ao jardim, até que Minha aliança dos grandes cinco dias e meio se cumpra”.

3 Então Adão disse a Deus. “ah Senhor, Vós nos criastes nos fizestes aptos a estar no jardim; e antes de eu desobedecer, Vós fizestes todas as feras virem até mim, a fim de que eu as nomeasse.”

4 “Vossa graça estava então sobre mim; e eu nomeei a cada uma de acordo com Vosso pensamento; e Vós as fizestes todas submissas a mim.”

5 “Mas, ó Senhor, agora que eu desobedeci ao Vosso mandamento, todas as feras levantar-se-ão contra mim e me devorarão, e a Eva Vossa serva; e eliminarão nossa vida da face da terra.”

6 “Suplico-Vos, portanto, ó Deus, que, desde que Vós nos fizestes sair do jardim e ficar numa terra estranha, não permitais que as feras nos causem mal.”

7 Quando o Senhor ouviu estas palavras de Adão, apiedou-se dele, e sentiu que ele dissera a verdade, que as feras do campo se levantariam e o devorariam, e a Eva, porque Ele, o Senhor, estava irado com os dois por causa de sua desobediência.

8 Então Deus ordenou às feras, e aos pássaros, e a tudo que se move sobre a terra, que viessem a Adão e se afeiçoassem a ele e não o perturbassem, nem a Eva; nem ainda aos bons e justos dentre os de sua posteridade.

9 Então as feras prestaram obediência a Adão, de acordo com o mandamento de Deus; exceto a serpente, com quem Deus estava irado. Esta não veio a Adão, junto com as feras.

Capítulo 8

1 Então Adão chorou e disse: “ó Deus, quando eu morava no jardim, e havia enlevo em nossos corações, víamos os anjos que cantavam louvores no céu, mas agora não os vemos mais; ao entrarmos na caverna, toda a criação ocultou-se de nós”.

2 Então Deus, o Senhor, disse a Adão: “Quando tu eras obediente a Mim, tinhas uma natureza luminosa em ti, e por esta razão podias ver coisas muito distantes. Mas, após tua desobediência, a natureza luminosa foi-te retirada; e não te foi mais permitido ver coisas distantes, mas apenas as bem próximas, aquelas ao alcance de tuas mãos, e segundo a capacidade da carne; pois esta é grosseira”.

3 Após ouvirem estas palavras de Deus, Adão e Eva seguiram seu caminho louvando-O e adorando-O com o coração pesaroso.

4 E Deus interrompeu a comunicação com eles.

Capítulo 9

1 Então Adão e Eva deixaram a Caverna dos Tesouros e aproximaram-se do portão do jardim, e ali pararam a olhar para ele, e choraram por dele terem saído.

2 E Adão e Eva partiram da frente do portão do jardim em direção ao sul, e encontraram ali a água que irrigava o jardim, a água da raiz da Árvore da Vida, e que se dividia em quatro rios que corriam pela terra.

3 Então eles vieram e aproximaram-se desta água e olharam para ela; e viram que era a água que brotava da raiz da Árvore da Vida que estava no jardim.

4 E Adão chorou e gemeu e golpeou seu peito por estar afastado do jardim: e disse a Eva:

5 “E por que tu trouxeste sobre mim, sobre ti mesma e sobre nossa descendência tantos flagelos e castigos”?

6 E Eva disse-lhe: “Que foi que tu viste para chorar e falar-me assim”?

7 E disse ele a Eva: “Não vês esta água que estava conosco no jardim e que irrigava as árvores do jardim, e de lá corria?

8 “E nós, quando estávamos no jardim, não nos importávamos com isto; mas desde que viemos para esta terra estranha, nós a amamos, e faremos uso dela para nosso corpo.”

9 Mas quando Eva ouviu dele essas palavras, chorou; e cheios de dor e gemendo, caíram na água; e ali teriam acabado consigo mesmos, a fim de nunca mais voltar a ver a criação; pois quando eles olharam para a obra da criação, sentiram que deviam pôr um fim a si mesmos.

Capítulo 10

1 Então Deus, misericordioso e benevolente, olhou para eles assim caídos na água tão próximos da morte, e enviou um anjo que os tirou da água, e deitou-os na praia como mortos.

2 Então o anjo subiu até Deus, foi bem-vindo, e disse: “ah Deus, Vossas criaturas deram seu último suspiro”.

3 Então Deus enviou Sua Palavra a Adão e Eva e os ressuscitou de sua morte.

4 E Adão disse, após haver sido ressuscitado: “ó Deus, enquanto estávamos no jardim nem nos importávamos com esta água nem dela necessitávamos; mas desde que viemos para esta terra não podemos passar sem ela”.

5 Então Deus disse a Adão: “Enquanto estavas sob Meu comando e eras um anjo luminoso, não conhecias esta água.

6 “Mas após teres desobedecido ao Meu mandamento não podes passar sem água para lavar teu corpo e fazê-lo crescer; pois este é agora como o das feras, e necessita de água.”

7 Quando Adão e Eva ouviram essas palavras de Deus choraram um choro amargo; Adão suplicou a Deus que lhe permitisse voltar ao jardim e olhar para ele uma vez mais.

8 Mas Deus disse a Adão: “Eu te fiz uma promessa; quando esta promessa for cumprida, Eu te trarei de volta ao jardim, a ti e à tua descendência justa”.

9 E Deus parou de se comunicar com Adão.

Capítulo 11

1 Então Adão e Eva sentiram-se queimando de sede calor e tristeza.

2 E Adão disse a Eva: “Não devemos beber desta água mesmo se morrermos. O Eva quando esta água penetrar em nossas entranhas, aumenta nossos castigos e os de nossos filhos que virão depois de nós”.

3 Adão e Eva abstiveram-se então da água, e não beberam nada; mas caminharam e entraram na Caverna dos Tesouros.

4 Mas uma vez dentro dela Adão não podia ver Eva; ele apenas ouvia o ruído que ela fazia. Nem ela podia ver Adão, mas ouvia o ruído que ele fazia.

5 Então Adão chorou em profundo sofrimento e golpeou seu peito; e erguendo-se disse a Eva: “Onde estás”?

6 E ela lhe disse: “Vê, eu estou nesta escuridão”.

7 Ele então lhe disse: “Recorda-te da natureza luminosa na qual vivíamos enquanto habitávamos no jardim!

8 “O Eva! recorda-te da glória que repousava em nós no jardim. O Eva! recorda-te das árvores que faziam sombra sobre nós no jardim enquanto nos movíamos entre elas.

9 “O Eva! recorda-te de que, enquanto estávamos no jardim, não conhecíamos nem a noite nem o dia. Pensa na Árvore da Vida, de sob a qual brotava a água, e que derramava brilho sobre nós! Recorda-te, ó Eva, da terra do jardim e da sua luminosidade!”

10 “Pensa, oh! pensa neste jardim onde não havia escuridão enquanto morávamos nele.”

11 “Enquanto que, tão logo chegamos a esta Caverna dos Tesouros, a escuridão envolveu-nos; tanto que não mais podemos ver-nos um ao outro; e todo o prazer desta vida chegou a um fim.”

Capítulo 12

1 Então Adão golpeou seu peito, e também Eva, e eles prantearam a noite inteira até a aurora se aproximar, e eles lamentaram suspirando a noite longa em Miyazia.

2 E Adão agrediu-se e jogou-se no chão da caverna, em amargo pesar, e por causa da escuridão, ali permaneceu como morto.

3 Mas Eva ouviu o barulho que ele fez ao cair ao chão. E ela tateou à sua volta procurando-o e encontrou — o como um cadáver.

4 Então ela ficou com medo, sem fala e permaneceu junto dele.

5 Mas o Senhor misericordioso olhou para a morte de Adão e para o silêncio de Eva por causa do medo da escuridão.

6 E a Palavra de Deus chegou a Adão e ressuscitou-o de sua morte, e abriu a boca de Eva para que ela voltasse a falar.

7 Então Adão ergueu-se na caverna e disse: “ah Deus, por que a luz nos deixou e a escuridão nos acometeu? Por que nos deixais nesta longa escuridão? Por que nos quereis assim castigar?

8 “E esta escuridão, ó Senhor, onde estava, antes de nos acometer? Ela é tamanha que não podemos ver um ao outro.”

9 “Pois, enquanto estávamos no jardim, não vimos nem mesmo sabíamos o que é a escuridão. E eu não fiquei oculto de Eva, nem ela ficou oculta de mim, até que agora ela não me pode ver; e nenhuma escuridão nos havia acometido antes, separando-nos um do outro.”

10 “Mas ela e eu estávamos ambos numa única luz brilhante. Eu a via e ela a mim. Mas agora desde que entramos nesta caverna, a escuridão nos envolveu e nos separou, assim que eu não a vejo e ela não me vê a mim.”

11 “ah Senhor, quereis então castigar-nos com esta escuridão?”

Capítulo 13

1 Então, quando Deus, que é misericordioso e cheio de piedade, ouviu a voz de Adão, lhe disse:

2 “ah Adão, enquanto o bom anjo foi obediente a Mim, a luz brilhante repousava nele e em suas hostes.”

3 “Mas quando ele desobedeceu Meu mandamento, Eu o privei dessa natureza luminosa, e ele se tornou opaco.”

4 “E quando ele estava nos céus, nos domínios de luz, ele não conhecia nada da escuridão.”

5 “Mas ele desobedeceu, e Eu o fiz cair do céu para a terra; e foi esta escuridão que lhe sobreveio.”

6 “E sobre ti, ó Adão, enquanto em Meu jardim e obediente a Mim, esta luz brilhante repousou também sobre ti.”

7 “Mas quando Eu soube de tua desobediência, privei-te desta luz brilhante. Ainda assim, por Minha misericórdia não te transformei em escuridão, mas fiz teu corpo de carne, e sobre ele estendi esta pele a fim de que suporte o frio e calor.”

8 “Tivesse Eu permitido Minha ira cair pesadamente sobre ti, serias destruído; e tivesse Eu te transformado em escuridão, seria como se Eu te matasse.”

9 “Mas, em Minha misericórdia, fiz-te como és, quando tu desobedeceste ao meu mandamento, ó Adão, expulsei-te do jardim e te fiz chegar a esta terra; e ordenei-te habitar nesta caverna; e a escuridão caiu sobre ti, como caiu sobre aquele que desobedeceu ao Meu mandamento.”

10 “Neste caso, ó Adão, esta noite te enganou. A noite não há de durar para sempre; mais por doze horas apenas; quando terminar, a luz do dia retornara.”

11 “Não lamentes, portanto, nem te alteres, e não diga em teu coração que esta escuridão é longa e se arrasta devagar; e não digas em teu coração que Eu te estou castigando com isto.”

12 “Fortalece teu coração não e tenhas medo. Esta escuridão não é castigo. Mas, ó Adão Eu fiz o dia e coloquei nele o sol para dar luz, a fim de que tu teus filhos fizésseis o vosso trabalho.”

13 “Pois Eu sabia que tu irias pecar e desobedecer, e vir para esta terra. Ainda assim Eu não te forçaria, nem seria duro contigo, nem te confinaria; nem te condenaria por tua queda; nem por tua saída da luz para a escuridão; nem mesmo por tua saída do jardim para esta terra.”

14 “Pois Eu te fiz de luz; e quis gerar de ti filhos de luz, semelhantes a ti.”

15 “Mas um dia tu não guardaste Meu mandamento; antes que Eu terminasse a criação e abençoasse tudo nela.”

16 “Então Eu te dei um mandamento acerca da árvore, de não comeres dela. Mesmo assim Eu sabia que Satã, que enganou-se a si próprio, também te enganaria.”

17 “Assim Eu te fiz saber, por meio da árvore, que não te aproximasses dele. E Eu te disse para que não comesses do seu fruto, nem dele provasses, nem te sentasses debaixo dela.”

18 “Não tivesse Eu falado a ti, ó Adão, acerca da árvore, e te deixasse sem um aviso, e tu tivesses pecado, teria sido uma maldade de Minha parte não te dar nenhum aviso; tu te volta-rias e Me culparias por isto.”

19 “Mas Eu te dei o mandamento e te preveni, e tu caíste. Assim, Minhas criaturas não Me podem culpar; porém a culpa recai sobre elas somente.”

20 “E, ó Adão, Eu fiz o dia para ti e para teus descendentes que virão depois de ti, para nele trabalharem e labutarem. E Eu fiz a noite para eles descansarem nela do seu trabalho; e para os animais do campo saírem à noite e procurarem seu alimento.”

21 “Porém, é pouca a escuridão que te resta agora, ó Adão; pois a luz do dia logo surgirá.”

Capítulo 14

1 Então Adão disse a Deus: “Ó Senhor, levai minha alma, e não me deixeis mais ver estas trevas; ou levai-me a algum lugar onde não haja escuridão”.

2 Mas Deus o Senhor disse a Adão: “Em verdade Eu te digo, esta escuridão passará por ti todos os dias que determinei para ti até o cumprimento da Minha aliança; quando então Eu te salvarei e te levarei de novo para o jardim, para a morada de luz que tu almejas, onde não há escuridão. Eu o trarei a ele, ao reino do céu”.

3 Novamente Deus disse a Adão: “Toda esta miséria que acarretaste sobre ti por causa da tua desobediência não te libertará das mãos de Satã e ele não te salvará.

4 “Mas Eu, sim, salvar-te-ei. Quando Eu descer do céu e tomar-Me carne da tua descendência, e tomar sobre Mim a enfermidade da qual tu padeces, então a escuridão que caiu sobre ti nesta caverna virá sobre Mim no túmulo, quando Eu estiver na carne da tua descendência.”

5 “E Eu, que sou eterno, estarei sujeito à contagem dos anos, dos tempos, dos meses e dos dias, e serei considerado como um dos filhos dos homens, para te salvar.”

6 E Deus parou de se comunicar com Adão.

Capítulo 15

1 Então Adão e Eva choraram e entristeceram-se por causa das palavras que Deus lhes dissera, que eles não voltariam ao jardim até o cumprimento dos dias decretados para eles; mas principalmente por haver Deus dito que Ele deveria sofrer para salvá-los.

Capítulo 16

1 Depois disso Adão e Eva não pararam de orar e chorar na caverna até que a manhã desceu sobre eles.

2 E ao ver a luz sendo-lhes devolvida, deixaram de ter medo e fortaleceram seus corações.

3 Então Adão começou a sair da caverna. E quando chegou na boca da caverna, parou e voltou sua face em direção do leste, viu o sol levantar-se em raios brilhantes e sentiu o seu calor no seu corpo; teve medo dele e pensou em seu coração que esta chama vinha para castigá-lo.

4 Ele chorou então, e golpeou seu peito, e prostrou-se com a face na terra, e fez seu pedido, dizendo:

5 “ah Senhor, não me castigueis, nem me destruais, nem tireis já minha vida da terra.”

6 Pois ele pensou que o sol era Deus.

7 Já que enquanto estava no jardim e ouvia a voz de Deus e o som que Ele fazia no jardim e O temia, Adão nunca vira a luz brilhante do sol, nem seu calor flamejante tocara seu corpo.

8 Por isso ele ficou com medo do sol quando seus raios ardentes o alcançaram. Ele pensou que com isto Deus tencionava castigá-lo todos os dias decretados para ele.

9 Pois Adão também disse em seus pensamentos: Já que Deus não nos castigou com escuridão, eis que Ele fez es sol nascer para castigar-nos queimando-nos com seu calor.

10 Mas, enquanto ele assim pensava no seu coração, Palavra de Deus veio e lhe disse:

11 “ah Adão, levanta-te põe-te em pé. Pois o sol não é Deus; mas foi criado para iluminar o dia. Foi o que Eu te falei na caverna dizendo que aurora irromperia e haveria luz durante o dia.

12 “Mas Eu sou Deus Aquele que te confortou noite.”

13 E Deus parou de se comunicar com Adão.

Capítulo 17

1 Então Adão e Eva saíram pela boca da caverna e caminharam em direção ao jardim.

2 Mas ao aproximarem-se dele, defronte ao portão oeste do qual viera Satã quando enganou Adão e Eva, encontrara a serpente que se tomara Satã e que tristemente lambia o pó e  se arrastava com seu peito no chão, por causa da maldição Deus.

3 A serpente, que antes tinha sido o mais sublime de todos os animais, agora esta mudada e se tomara escorregadia e o pior de todos eles, e arrastava-se sobre seu peito e andava sobre seu ventre.

4 Considerando que fora o mais belo de todos os animais, mudada, tomou-se o mais feio de todos eles. Em vez de alimentar-se do melhor, agora comia o pó. Em vez de habitar, como antes, os melhores lugares, agora vivia no pó.

5 E, enquanto era o mais belo de todos os animais, todos emudeciam perante sua beleza; agora tomara-se abominável.

6 E, novamente, enquanto ela habitara uma bela morada, todos os outros animais para ali acorriam; e onde bebesse, eles também bebiam; agora, depois de se tomar venenosa pela maldição de Deus, todos os animais fugiam de sua morada, e não bebiam mais da água que ela bebesse; mas fugiam desta.

Capítulo 18

1 Quando a amaldiçoada serpente viu Adão e Eva, inclinou a cabeça, pos-se sobre sua cauda e, com os olhos injetados de sangue, fez menção de matá-los.

2 E avançou diretamente para Eva e lançou-se atrás dela; enquanto Adão, de lado, chorava por não ter uma vara em suas mãos com a qual pudesse golpear a serpente, e não sabia como matá-la.

3 Mas, com o coração ardendo por Eva, Adão aproximou-se da serpente e segurou-a pela cauda; quando então ela se voltou em sua direção e disse:

4 “ó Adão, por causa de ti e de Eva eu sou escorrega-dia e ando sobre meu ventre.” Então, sendo grande sua força, derrubou Adão e Eva e os esmagou, com intenção de matá-los.

5 Mas Deus mandou um anjo que lançou a serpente para longe deles e os ergueu.

6 Então a Palavra de Deus veio à serpente, dizendo: “Da primeira vez Eu te fiz loquaz e te fiz andar sobre teu ventre; mas Eu não te havia privado da fala.

7 “Agora, entretanto, sê muda; e não mais falarás, tu e tua raça; porque da primeira vez a ruína das minhas criaturas aconteceu através de ti, e agora tu querias matá-las.”

8 Então a serpente emudeceu, e não mais falou.

9 E soprou um vento do céu por ordem de Deus e carregou a serpente para longe de Adão e Eva, jogando-a na beira do mar, e ela foi parar na Índia.

Capítulo 19

1 Mas Adão e Eva choraram perante Deus. E Adão disse-Lhe:

2 “ó Senhor, quando eu estava na caverna Vos disse, meu Senhor, que os animais do campo se levantariam e me devora-riam, e eliminariam minha vida na terra.”

3 Então Adão, por causa do que lhe havia acontecido, golpeou seu peito e prostrou-se em terra como um cadáver; então sobreveio a Palavra de Deus que o ergueu e disse-lhe:

4 “ó Adão, nenhum desses animais poderá ferir-te porque quando Eu fiz estes animais e outras coisas moventes virem até ti na caverna, não permiti à serpente vir com eles, para que não se levantasse contra vós e vos fizesse tremer; e o medo que sentiríeis penetrasse em vossos corações.”

5 “Pois Eu sabia que esta amaldiçoada é maldosa; por isso Eu não lhe permiti chegar perto de vós com os outros animais.”

6 “Mas agora fortalece teu coração e não tenhas medo.

Eu estou contigo até o fim dos dias que determinei para ti.”

Capítulo 20

1 Então Adão chorou e disse: “ó Deus, levai-nos para algum outro lugar, onde a serpente não possa novamente aproximar-se e levantar-se contra nós. Para que não encontre Vossa criada Eva sozinha e a mate, pois seus olhos são medonhos e maus”.

2 Mas Deus disse a Adão e Eva: “Daqui por diante não tenhais medo, não permitirei que ela se aproxime de vós; Eu a afastei de vós, dessa montanha; nem permitirei que ela de modo algum vos machuque”.

3 Então Adão e Eva adoraram a Deus e deram-lhe graças e louvaram-no por livrá-los da morte.

Capítulo 21

1 Então Adão e Eva puseram-se à procura do jardim.

2 E o calor fustigava-os como chamas em seus rostos e eles suavam de calor e choravam perante o Senhor.

3 Mas o lugar onde eles choravam estava junto a uma montanha alta, defronte ao portão oeste do jardim.

4 Então Adão lançou-se do topo dessa montanha; sua face ficou dilacerada e também sua carne; muito sangue escorria dele, e ele estava próximo da morte.

5 Enquanto isso, Eva permaneceu na montanha chorando por ele que assim jazia.

6 E ela disse: “Eu não desejo viver após ele; pois tudo que ele fez a si mesmo foi por minha causa”.

7 Então ela lançou-se atrás dele e foi dilacerada e retalhada pelas pedras; e jazia como morta.

8 Mas Deus, o misericordioso, que cuida das Suas criaturas, olhou para Adão e Eva mortos, e enviou-lhes Sua Palavra e ressuscitou-os.

9 E disse a Adão: “ó Adão toda essa miséria que forjaste para ti mesmo não será eficaz contra Minha regra, nem alterara a aliança dos cinco mil e quinhentos anos.”

Capítulo 22

1 Então Adão disse a Deus: “Eu definho no calor; estou enfraquecido de andar e sinto aversão a este mundo. E não sei quando quereis retirar-me daqui para descansar”.

2 Então o Senhor Deus lhe disse: “ó Adão, isto não é possível no momento, não até que tu termines teus dias. Então Eu te retirarei dessa terra vil”.

3 E Adão disse a Deus: “Enquanto eu estava no jardim, não conhecia nem o calor, nem a fraqueza, nem tinha de me mover de lá para cá, nem sentia tremor, nem medo; mas agora, desde que vim para esta terra, aconteceu-me toda esta miséria.

4 Então Deus disse a Adão: “Enquanto tu guardaste Meu mandamento, Minha luz e Minha graça estavam sobre ti. Mas, ao desobedecer ao Meu mandamento, a tristeza e a miséria acometeram-te nesta terra.”

5 E Adão chorou e disse: “O Senhor, não me abandoneis por isso, nem me golpeeis com pesados castigos, nem ainda me retribuais de acordo com meu pecado; pois nós, de nossa própria vontade, desobedecemos ao Vosso mandamento, e abandonamos Vossa lei, e buscamos tornar-nos deuses como Vós, quando Satã o inimigo nos enganou”.

6 Então Deus disse nova-mente a Adão: “Por teres trazido a esta terra medo e tremor, fraqueza e sofrimento trilhando e vagando por ela, e por teres subido esta montanha e de lá caído para morrer, tudo isso Eu tomarei sobre Mim mesmo para te salvar”.

Capítulo 23

1 Então Adão chorou mais e disse: “O Deus, tende piedade de mim por tomar sobre Vós o que eu fizer”.

2 Mas Deus retirou Sua Palavra de Adão e Eva.

3 Então Adão e Eva puseram-se de pé; e Adão disse a Eva: “Cinge-te, e eu também me cingirei.” E ela cingiu-se, conforme Adão mandara.

4 Então Adão e Eva tomaram de pedras e as dispuseram em forma de altar; e colheram folhas das árvores fora do jardim, com a quais limparam as manchas de sangue que haviam derramado nas pedias.

5 Mas o sangue que caiu na areia, eles o recolheram junto com o pó no qual estava misturado e ofereceram-no sobre o altar em oferenda a Deus.

6 Então Adão e Eva postaram-se sob o altar e choraram, suplicando a Deus da seguinte maneira: “Perdoai-nos nossa desobediência e nosso pecado, e olhai-nos com Vossos olhos de misericórdia. Pois quando está-vamos no jardim nossos louvores e nossos hinos se elevavam a Vós sem cessar.

7 “Mas ao chegarmos a esta terra estranha, o louvor puro não era mais nosso, nem a prece virtuosa, nem corações compreensivos, nem pensamentos doces, nem conselhos justos, nem discernimento profundo, nem sentimentos sinceros, nem nos restava nossa natureza luminosa. Mas nosso corpo está transformado, não se assemelha mais ao de antes.

8 “Ainda assim, olhai para o nosso sangue, agora oferecido sobre estas pedras, e aceitai  o de nossas mãos como o louvor que costumávamos cantar a Vós antes, no jardim.”

9 E Adão começou a fazer mais pedidos a Deus.

Capítulo 24

1 Então, Deus o misericordioso, bom e que ama os homens, olhou para Adão e Eva e para o seu sangue que Lhe haviam dado em oferenda; sem ordem dele para assim proceder. Mas Ele os admirou; e aceitou suas oferendas.

2 E Deus enviou de Sua presença um fogo brilhante, que consumiu a oferenda.

3 Ele sentiu o doce aroma da oferenda e teve misericórdia.

4 Então a Palavra de Deus veio a Adão e disse-lhe: “O Adão, assim como tu derramaste teu sangue, Eu derramarei Meu próprio sangue quando tomar-me carne de tua descendência, e assim com tu morreste, Ó Adão, também morrerei. E assim como tu construíste um altar, também eu farei para ti um altar na terra; e assim como tu ofereceste teu sangue sobre o altar, Eu também farei de Meu sangue o perdão dos pecados, e apagarei nele as desobediências.

6 “E agora, vê, aceitei tua oferenda, 0 Adão, mas os dias da Aliança que Eu determinei para ti não estão cumpridos. Quando estiverem consumados, então Eu te trarei de volta ao jardim.”

7 “Agora, portanto, fortalece teu coração, e quando a tristeza vier sobre ti, faze-Me uma oferenda, e Eu serei favorável a ti.”

Capítulo 25

1 Mas Deus sabia o que Adão guardava em seus pensamentos, que ele deveria matar-se várias vezes e fazer-Lhe uma oferenda de seu sangue.

2 Por isso Ele lhe disse: Ó Adão, não te mates novamente como o fizeste, lançando-te da montanha”.

3 Mas Adão disse a Deus: “Eu tinha a intenção de acabar comigo mesmo completamente por ter desobedecido ao Vosso mandamento, e por ter saído do belo jardim; e pela luz brilhante da qual Vós me privastes, e pelos louvores que jorravam de minha boca sem cessar, e pela luz que me cobria.

4 “Agora, por Vossa bondade, ó Deus, não me abandone completamente; mas sede benévolo comigo toda vez que eu morrer, e trazei-me de volta vida.”

5 “E através disso saber-se-á que Vós sois um Deus misericordioso, que não quereis que alguém pereça; que não gostais que alguém caia; e que não condenais ninguém cruelmente, perversamente à destruição total.”

6 Então Adão permaneceu em silêncio.

7 E a Palavra de Deus veio-lhe e abençoou-o e confortou-o, e prometeu-lhe que o salvaria no fim dos dias determinado para ele.

8 Esta, então, foi a primeira oferenda que Adão fez a Deus; e assim fez disso um habito.

Capítulo 26

1 Então Adão tomou Eva, e puseram-se no caminho de volta à Caverna dos Tesouros onde moravam. Mas ao aproximarem-se e a virem de longe, uma pesada tristeza tomou conta de Adão e Eva quando para ela olharam.

2 Então Adão disse a Eva: “Quando estávamos na montanha, fomos confortados pela Palavra de Deus que conversou conosco; e a luz que vinha do leste iluminou-nos.

3 “Mas agora a Palavra de Deus ocultou-se de nós, e a luz que nos iluminava está tão mudada como se estivesse prestes a desaparecer e permitir que a escuridão e a tristeza caiam sobre nós.”

4 “E somos forçados a entrar nesta caverna que parece prisão, onde a escuridão nos envolve de maneira que ficamos separados um do outro; e tu não me podes ver, nem eu te posso ver.

5 Depois de dizer Adão estas palavras, ele choraram e estenderam as mãos a Deus; pois estavam cheios de tristeza.

6 E suplicaram a Deus que lhes trouxesse o sol para iluminá-los, para que a escuridão não tomasse a envolvê-los e para que não fossem novamente para debaixo daquela cobertura de rocha. Eles preferiam morrer a ver a escuridão.

7 Então Deus olhou para Adão e Eva e considerou sua enorme tristeza e considerou tudo que eles haviam feito como coração ardente por causa do sofrimento presente, em vez de seu bem estar anterior, e por causa de toda a miséria que lhes acontecera numa terra estranha.

8 Por isso Deus não estava irado com eles; nem impaciente com eles, mas Ele estava paciencioso e indulgente para com eles, pois eram os filhos que Ele criara.

9 Então a Palavra de Deus chegou a Adão, dizendo: “Adão, quanto ao sol, se Eu não o houvesse trazido a ti, os dias, horas, anos e meses perderiam sua validade, e a Aliança que eu fiz contigo jamais se cumpriria.

10 “Neste caso serias abandonado e submetido a um longo flagelo, e ficarias para sempre sem alguma salvação.”

11 “Sim, é melhor que conduzas tua alma por longo tempo e com serenidade, enquanto suportas a noite e o dia; até que os dias se cumpram e chegue o tempo da Minha promessa.”

12 “Então Eu virei e te salvarei, ó Adão, pois Eu não desejo que tu permaneças no sofrimento.”

13 “E Eu, ao olhar para todas as coisas boas nas quais viveste, e porque saíste delas, de boa vontade mostrar-te-ia misericórdia.”

14 “Mas Eu não posso alterar a Aliança que saiu de Minha boca; do contrário Eu te traria de volta ao jardim.”

15 “Quando, no entanto, a Aliança for cumprida, então Eu terei misericórdia para contigo para com tua descendência, e trar-te-ei para uma terra de alegria onde não há tristeza nem sofrimento, mas felicidade e louvores que nunca cessam; e um belo jardim que nunca passará.”

16 E Deus disse novamente a Adão: “Sê paciente e entra na caverna, pois a escuridão da qual tinhas medo durará apenas 12 horas, e quando terminar, a luz ressurgirá”.

17 Então, após ouvir de Deus estas palavras, Adão e Eva adoraram-no, e seus corações consolaram-se. Eles voltaram para caverna, segundo seu hábito, enquanto lágrimas corriam de seus olhos, tristeza e lamentações vinham do coração e eles desejavam ardentemente que a alma lhes deixasse o corpo.

18 E Adão e Eva permaneceram orando até que a escuridão da noite desceu sobre eles,  Adão ficou oculto de Eva, e ela dele.

Capítulo 27

1 Quando Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, viu como eles continuavam em oração, e como Deus se comunicava com eles e os consolava, e como Ele aceitara sua oferenda, Satã criou uma visão.

2 Ele iniciou transformando suas hostes; em suas próprias mãos havia um fogo flamejante, e eles estavam envoltos em uma grande luz.

3 Em seguida, colocou seu trono próximo à boca da caverna, pois não podia entrar nela por causa das orações que proferiam. E lançou luz para dentro da caverna, até que a caverna reluziu sobre Adão e Eva; enquanto isso, suas hostes começavam a cantar louvores.

4 E Satã fez isto para que quando Adão visse a luz, pensasse consigo mesmo que era uma luz celeste, e que as hostes de Satã eram anjos; e que Deus os enviara para guardar a caverna e dar-lhes luz na escuridão.

5 Assim, quando Adão saísse da caverna e os visse, e Adão e Eva reverenciassem a Satã, então ele dominaria Adão e            humilha-lo-ia pela segunda vez diante de Deus.

6 Quando, portanto, Adão  e Eva viram a luz, imaginando que fosse real, fortaleceram seus corações; no entanto como estavam trêmulos, Adão disse a Eva:

7 “Olha para aquela grande luz e ouve aquelas muitas canções de louvor, olha para aquelas hostes paradas lá fora que não entram e nem vêm até nós, eles não nos contam o que dizem ou de onde vêm, ou qual é o significado dessa luz; nem o que são aqueles louvores; para que foram eles enviados aqui, e por que não entram?”

8 “Se eles fossem de Deus viriam a nós na caverna e nos contariam a que vieram.”

9 Em seguida Adão colocou-se de pé e orou a Deus com o coração ardente, e disse:

10 “ah Senhor, há no mundo um outro deus além de vós que teria criado anjos enchendo-os de luz e enviando-os a nós para nos guardar, e que viria junto com eles?”

11 “Pois eis que vemos estas hostes que se postam à boca da caverna; eles estão em grande luz; eles cantam altos louvores. Se eles são de algum outro deus que não Vós, dizei-me; e se eles são enviados por Vós, dizei-me a razão pela qual os enviastes.”

12 Tão logo Adão disse essas palavras, um anjo de Deus apareceu-lhe na caverna e disse-lhe: “ah Adão, não tenhas medo. Este é Satã com suas hostes; ele deseja enganar-vos como vos enganou antes. Da primeira vez, ele escondeu-se na serpente; mas desta vez ele veio a vós na semelhança de um anjo de luz para que, quando o adorásseis, ele pudesse subjugar-vos bem na presença de Deus”.

13 Em seguida o anjo afastou-se de Adão, agarrou Satã e o despojou do disfarce que assumira, e levou-o em sua verdadeira forma, horrenda, a Adão e Eva, que ficaram com muito medo ao vê-lo.

14 E o anjo disse a Adão: “Esta forma horrenda tem sido dele desde que Deus o fez cair do céu. Ele não poderia aproximar-se de vós assim; por isto é que ele se transformou num anjo de luz”.

15 Em seguida o anjo expulsou Satã e suas hostes para longe de Adão e Eva, e disse-lhes: “Não temais; Deus, que vos criou, vos fortalecerá”.

16 E o anjo partiu.

17 Mas Adão e Eva permaneceram em pé na caverna; não lhes veio nenhum consolo; eles estavam divididos em seus pensamentos.

18 E quando amanheceu, disseram suas preces; e em seguida saíram em busca do jardim. Pois seus corações ansiavam por ele, e não conseguiam conformar-se com deixá-lo.

Capítulo 28

1 Mas quando o voluntarioso Satã viu-os a caminho do jardim, reuniu suas hostes e apareceu sobre uma nuvem, como uma visão, com o intuito de enganá-los.

2 Mas quando Adão e Eva deram com ele assim, como numa visão, pensaram que fossem anjos de Deus vindos para consolá-los por terem deixado o jardim, ou levá-los de volta para lá.

3 E Adão estendeu suas mãos para Deus, implorando-Lhe que o fizesse compreender quem eram eles.

4 Então Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, disse a Adão: “O Adão, eu sou um anjo do grande Deus; e vê as hostes que me rodeiam.

5 “Deus enviou-me e a eles para pegar-te e levar-te à fronteira norte do jardim; à praia do mar límpido e nele banhar-te e a Eva, e elevar-vos à vossa alegria anterior, para que retorneis novamente ao jardim.”

6 Estas palavras calaram fundo no coração de Adão e Eva.

7 Ainda assim Deus negou Sua Palavra a Adão, e não o fez compreender imediatamente, mas esperou para testar sua força; se ele seria derrotado como Eva o fora no jardim, ou se ele resistiria.

8 Então Satã dirigiu-se a Adão e Eva e disse: “Eis que vamos ao mar de água”, e puseram-se a caminho.

9 E Adão e Eva seguiram-nos a uma pequena distância.

10 Mas quando chegaram à montanha ao norte do jardim, uma montanha muito alta, sem degraus para chegar ao topo, o Demônio acercou-se de Adão e Eva e fê-los subir ao topo, de fato, e não numa visão; desejando, com isso, jogá-los lá de cima e matá-los, e apagar da terra seus nomes; de maneira que esta terra ficasse apenas para ele e suas hostes.

Capítulo 29

1 Mas quando Deus o misericordioso viu que Satã desejava matar Adão com suas diversas artimanhas, e viu que Adão estava dócil e sem malícia, Deus falou com Satã em voz alta e o amaldiçoou.

2 Então ele e suas hostes fugiram, e Adão e Eva permaneceram em pé no cume da montanha, de onde eles viram, lá em baixo, o grande mundo, bem acima do qual estavam. Porém as hostes que havia pouco estiveram a seu lado, desapareceram.

3 Eles choraram, os dois, Adão e Eva, perante Deus, e suplicaram Seu perdão.

4 Em seguida veio a Palavra de Deus a Adão dizendo “Compreende a respeito deste Satã, pois ele procura engana-te e a teus descendentes que virão”.

5 E Adão chorou diante de Deus e suplicou e implorou que Ele lhe desse alguma coisa do jardim, como uma pequena lembrança, para servir-lhe de consolo.

6 E Deus olhou para o pensamento de Adão e enviou anjo Miguel ao mar que se estende até a Índia, para dali pegar bastões de ouro e trazê-los a Adão.

7 Isto fez Deus em Sua sabedoria, para que estes bastões de ouro, estando com Adão na caverna, iluminassem a noite a sua volta e eliminassem o seu medo da escuridão.

8 Em seguida o anjo Miguel desceu por ordem de Deus, pegou os bastões de ouro, como Deus lhe ordenara, e levou-os para Deus.

Capítulo 30

1 Depois dessas coisas Deus ordenou ao anjo Gabriel para descer ao jardim e dizer ao querubim que o guardava, “Ouve, Deus mandou-me entrar no jardim e pegar incenso perfumado para dá-lo Adão”.

2 Então o anjo Gabriel desceu por ordem de Deus ao jardim, e falou ao querubim conforme Deus mandara.

3 O querubim então disse: “Muito bem”. E Gabriel entrou e pegou o incenso.

4 Então Deus mandou Seu anjo Rafael descer ao jardim e tratar com o querubim sobre um pouco de mirra para dá-la a Adão.

5 E o anjo Rafael desceu e disse ao querubim conforme Deus mandara, e o querubim disse: “Bem”. Então Rafael entrou e pegou a mirra.

6 Os bastões de ouro provinham do mar da Índia, onde há pedras preciosas. O incenso provinha da fronteira leste do jardim; e a mirra da fronteira oeste, de onde viera a amargura de Adão.

7 E os anjos trouxeram estas três coisas a Deus, junto da Árvore da Vida, no jardim.

8 Então Deus disse aos anjos: “Mergulhai-os na fonte de água; em seguida levai-os e borrifar Adão e Eva com esta água, para que eles tenham um pouco de consolo em sua tristeza, e dai-os a Adão e Eva”.

9 E os anjos fizeram como Deus lhes ordenara, e deram todas aquelas coisas a Adão e Eva no cume da montanha sobre a qual Satã os havia colocado, quando tentou eliminá-los.

10 E ao ver os bastões de ouro, o incenso e a mirra, Adão rejubilou-se e chorou, pois pensou que o ouro fosse uma lembrança do reino de onde ele viera, que o incenso fosse uma lembrança da luz brilhante que lhe fora tomada e que a mirra fosse um símbolo da tristeza em que se encontrava.

Capítulo 31

1 Depois dessas coisas. Deus disse a Adão: “Tu Me pediste algo do jardim para consolar-te, e Eu te dei estas três prendas para teu consolo; para que tu confies em Mim e em Minha Aliança feita contigo.

2 “Pois Eu virei e salvar-te-ei; e reis trarão para Mim, quando vestido de carne, ouro, incenso e mirra; ouro como sinal do Meu reino; incenso como sinal de Minha natureza divina; e mirra como símbolo de Meu sofrimento e de Minha morte.”

3 “Mas, ó Adão, coloca tudo junto de ti na caverna; o ouro, para que possa lançar luz sobre ti à noite; o incenso, para que sintas seu doce perfume; e a mirra, para confortar-te em tua tristeza.”

4 Depois de Adão ouvir estas palavras de Deus, ele O adoro-ri. Ele e Eva O adoraram e agradeceram-Lhe, porque Ele os tinha tratado misericordiosamente.

5 Em seguida Deus ordenou que os três anjos, Miguel, Gabriel e Rafael, entregassem a Adão o que cada um fora buscar. E eles assim o fizeram, um a um.

6 E Deus mandou que Suriel e Salatiel carregassem Adão e Eva para baixo do cume da montanha alta, e os levassem para a Caverna dos Tesouros.

7 Lá chegando, colocaram o ouro no lado sul da caverna, o incenso no lado leste e a mirra no lado oeste. Pois a boca da caverna estava no lado norte.

8 Os anjos então confortaram Adão e Eva, e partiram.

9 Eram setenta bastões de ouro, doze libras de incenso e três libras de mirra.

10 Tudo permaneceu com Adão na Casa dos Tesouros; é por isso que foi chamada “de esconderijo”. Mas outros intérpretes afirmam que era chamada “Caverna dos Tesouros” por causa dos corpos de homens justos que lá estavam.

11 Estas três coisas Deus deu a Adão ao terceiro dia após a saída do jardim, em lembrança dos três dias que o Senhor permaneceria no coração da terra.

12 E estas três coisas, como continuaram com Adão na caverna, davam-lhe luz à noite; e de dia davam-lhe um pouco de alívio a sua tristeza.

Capítulo 32

1 E Adão e Eva permaneceram na Caverna dos Tesouros até o sétimo dia; eles não comeram do fruto da terra, nem beberam da água.

2 E quando alvoreceu no oitavo dia, Adão disse a Eva: “O Eva, nós oramos para Deus nos dar alguma coisa do jardim, e Ele enviou Seus anjos que nos trouxeram o que tínhamos desejado.

3 “Mas agora, levanta-te, vamos até o mar de água que vimos antes, e vamos permanecer em pé nele, pedindo que Deus seja de novo benevolente conosco e nos leve de volta ao jardim: ou nos dê algo; ou que Ele nos dê consolo em alguma outra terra que não essa onde estamos.”

4 Em seguida Adão e Eva saíram da caverna, foram e ficaram em pé na beira do mar no qual eles se tinham lançado antes, e Adão disse a Eva:

5 “Vem, entra neste lugar e não saias daqui antes de terminarem trinta dias, quando eu virei a ti. E ora a Deus com o coração ardente e com voz doce para que nos perdoe.”

6 “E eu irei a um outro lugar, e entrarei nele, e farei com tu.”

7 Em seguida Eva entrou na água, como Adão lhe ordenara. Adão também entrou na água; e eles ficaram em pé orando; e suplicaram a Deus que lhes perdoasse sua ofensa, e que os restituísse ao estado anterior.

8 E assim eles permaneceram em pé, orando, até o final de trinta e cinco dias.

Capítulo 33

1 Mas Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, procurou por eles na caverna, mas. não os encontrou. apesar de buscá-los diligentemente.

2 Mas encontrou-os em pé na água, orando, e pensou consigo mesmo: “Adão e Eva estão assim em pé naquela água suplicando a Deus que lhes perdoe a desobediência e os restitua a seu estado primeiro, e para que Ele os livre de minhas mãos.

3 “Mas eu os enganarei e para que saiam da água e não cumpram o seu voto.”

4 Em seguida, aquele que odeia tudo o que é bom não se dirigiu a Adão, mas a Eva, e tomou a forma de um anjo de Deus, louvando e rejubilando, e disse-lhe:

5 “A paz esteja contigo! Alegra-te e rejubila-te Deus é benevolente conosco, e Ele me enviou a Adão. Eu lhe trouxe as boas novas da salvação e de seu preenchimento com a luz fulgurante de antes.”

6 “E Adão, alegre com sua restauração, enviou-me a ti para que tu venhas a mim, para que eu te coroe de luz assim como a ele.

7 “E ele me disse: Fala com Eva; se ela não vier contigo, lembra-a do sinal de quando estávamos no cume da montanha; como Deus enviou Seus anjos que nos pegaram e nos levaram para a Caverna dos Tesouros, e colocaram o ouro no lado sul; o incenso no lado leste; e a mirra no lado oeste’. Vem até ele agora.”

8 Ao ouvir estas palavras, Eva rejubilou-se muito. E, pensando que a visão de Satã fosse real, saiu do mar.

9 Ele foi na frente, e ela o seguiu até que chegaram a Adão. Então Satã escondeu-se dela, e ela não mais o viu.

10 Ela então foi e parou diante de Adão que estava em pé na água, rejubilando-se no perdão de Deus.

11 E quando ela o chamou, ele voltou-se, viu-a ali e chorou e golpeou seu peito; e, amargurado de tristeza, afundou na água.

12 Mas Deus olhou para ele e para sua miséria e para a iminência de ele dar seu último suspiro. E a Palavra de Deus veio do céu e disse-lhe: “Sobe pela margem alta até Eva. E, ao chegar junto dela, dize-lhe: ‘Quem te disse vem aqui’?”

13 Então ela relatou-lhe as palavras do anjo que lhe aparecera e lhe dera um sinal.

14 Mas Adão entristeceu-se e fê-la saber que aquele era Satã. Ele então a tomou pelas mãos, e ambos voltaram à caverna.

15 Estas coisas aconteceram-lhes na segunda vez em que desceram até a água, sete dias depois de saírem do jardim.

16 Eles jejuaram dentro da água por trinta e cinco dias; ao todo eram quarenta e dois dias desde que havia deixado o jardim.

Capítulo 34

1 E na manhã do quadragésimo terceiro dia, eles saíram da caverna, tristes e chorosos. Seus corpos estavam enfraquecidos e ressequidos de fome e sede, de jejuar e orar, e de sua pesada tristeza por causa de sua desobediência.

2 E depois de saírem da caverna, subiram a montanha a oeste do jardim.

3 Ali pararam e oraram e suplicaram a Deus que lhes concedesse o perdão de seus pecados”

4 E, após suas orações, Adão se pôs a rogar a Deus dizendo: “O meu Senhor, meu Deus e meu Criador, Vós mandastes que se juntassem os quatro elementos, e eles foram reunidos por Vossa ordem.

5 “Em seguida abristes Vossa mão e me criastes a partir de um elemento, o pó da terra; e me trouxestes para o jardim à terceira hora, numa sexta-feira, e me informastes disso na caverna.”

6 “Naquele tempo, no início, eu não conhecia nem a noite nem o dia, pois eu tinha uma natureza luminosa, e a luz na qual eu vivia nunca me deixou para que eu conhecesse a noite ou o dia.”

7 “Naquele tempo, novamente, ó Senhor, naquela terceira hora quando me criastes, trouxestes a mim todas as feras, e os leões, e os avestruzes, as aves do ar, e todas as coisas que se movem na terra, que criastes na primeira hora antes de mim na sexta-feira.”

8 “E foi de Vossa vontade que Eu nomeasse a todos, um por um, com um nome apropriado. Mas Vós me deste entendimento e sabedoria, e um coração puro e um discernimento justo vindo de Vós, para que eu os nomeasse segundo Vosso próprio discernimento considerando a nomeação deles.”

9 “ah Deus, Vós os fiz estes obedientes a mim e ordenastes que nenhum deles se desgarrasse de meu controle, de acordo com Vosso mandamento, e com o domínio que me destes sobre eles. Mas agora eles estão afastados de mim.”

10 “Então aconteceu aquela terceira hora da sexta-feira, na qual me criastes, e me destes o mandamento referente árvore, da qual eu não me deveria aproximar, nem comer de seus frutos, pois Vós me dissestes no jardim: Quando comeres da árvore, da morte morrerás’.

11 “E se tivésseis me punido com a morte como o dissestes, eu deveria ter morrido naquele mesmo instante.”

12 “Além do mais, quando me destes a ordem relativa à árvore, que eu não deveria nem me aproximar dela nem dela comer, Eva não estava comigo: ainda não a tínheis criado nem a tirado ainda do meu lado; mais, nem ouvira esta ordem de Vós.”

13 “Em seguida, ao fim da terceira hora naquela sexta-feira, ó Senhor, provocastes uma sonolência e um sono caiu sobre mim e eu dormi, e fique dominado pelo sono.”

14 “Depois, tirastes um costela do meu lado e a criaste segundo Vossa própria imagem e semelhança. Então eu acordei; e quando a vi e soube quem era ela, eu disse: Isso é osso do meus ossos, e carne de minha carne; daqui por diante ela ser chamada mulher’.”

15 “Foi de Vossa boa vontade, ó Deus, que veio a sonolência e o sono que recaíram sobre mim; e imediatamente tiraste Eva do meu lado, até que ela estava fora, assim que eu não vi como ela foi feita; nem puc testemunhar, ó meu Senhor são sublimes e grandiosas são Vossa bondade e glória.”

16 “E por Vossa boa vontade, ó Senhor, nos destes a ambos corpos de uma natureza luminosa, e nos fizestes os dois, um; e nos destes Vossa graça e nos cumulastes de louvores do Espírito Santo; e não deveríamos estar nem famintos nem sedentos, nem conhecer o que é a tristeza, nem ainda a fraqueza de coração; nem o sofrimento, o jejum, ou a exaustão.”

17 “Mas agora, ó Deus, desde que desobedecemos Vosso mandamento e quebramos Vossa lei, Vós nos levastes para uma terra estranha e permitistes que o sofrimento e a fraqueza, a fome e a sede nos acometessem.”

18 “Agora, portanto, ó Deus, suplicamos a Vós, dai-nos algo de comer do jardim, para satisfazer nossa fome, e algo para matar nossa sede.”

19 “Pois, vede, por muitos dias, ó Deus, não provamos nada nem bebemos nada, e nossa carne está ressecada, e nossa força está esgotada e o sono abandonou nossos olhos por causa da fraqueza e do choro.”

20 “Então, ó Deus, não ousamos colher nenhum dos frutos das árvores, por temer-vos. Pois quando O desobedecemos antes, nos poupastes e não nos fizestes morrer.”

21 “Mas agora, pensamos em nosso coração, se comermos dos frutos das árvores sem a ordem de Deus, Ele nos destruirá dessa vez e nos eliminará da face da terra.”

22 “E se bebermos dessa água, sem a ordem de Deus, Ele nos porá um fim e nos erradicará imediatamente.”

23 “Portanto, ó Deus, agora que eu venho a este lugar com Eva, suplicamos que nos deis do fruto do jardim, para que possamos saciar-nos com ele.”

24 “Pois desejamos o fruto que está na terra e tudo o mais que nos falta.”

Capítulo 35

1 Então Deus olhou novamente para Adão e para seu pranto e seus gemidos, e a Palavra de Deus veio-lhe e lhe disse:

2 “O Adão, quando estavas no meu jardim não conhecias nem o comer nem o beber; nem a fraqueza nem o sofrimento, nem a magreza da carne, nem a mudança; nem o sono abandonava teus olhos. Mas desde que desobedeceste e vieste para esta terra estranha, todas estas provações têm acontecido a ti.”

Capítulo 36

1 Então Deus ordenou ao querubim, que guardava o portão do jardim com uma espada de fogo na mão, que buscasse alguns frutos da figueira e os desse a Adão.

2 O querubim obedeceu à ordem do Senhor Deus e foi ao jardim e trouxe dois figos e dois galhos, cada figo com sua folha; estes provinham de duas das árvores entre as quais Adão e Eva se haviam escondido quando Deus fora andar no jardim,e a Palavra de Deus viera a Adão e Eva dizendo-lhes: “Adão, Adão, onde estás”?

3 E Adão respondera: “ó Deus, aqui estou. Quando eu ouvi Vosso som e Vossa voz, eu me escondi, pois estou nu”.

4 Então o querubim tomou dois figos e trouxe-os a Adão e Eva. Mas lançou-os para eles de longe; pois eles não podiam aproximar-se do querubim por causa de sua carne, que não podia aproximar-se do fogo.

5 Antes, os anjos tremiam na presença de Adão e temiam-no. Mas agora Adão tremia perante os anjos e temia-os.

6 Então Adão aproximou-se e pegou um figo, e Eva também veio por sua vez e pegou o outro.

7 E, ao tomá-lo em suas mãos, olharam e reconheceram que provinham das árvores entre as quais eles se haviam escondido.

Capítulo 37

1 Em seguida Adão disse a Eva: “Vês estes figos e suas folhas, com as quais nos cobrimos quando fomos despidos de nossa natureza luminosa? Agora, não sabemos que miséria e sofrimento podem nos acometer se os comermos.

2 “Agora, portanto, ó Eva, vamos nos conter e não comer deles, tu e eu, e vamos pedir a Deus que nos dê do fruto da Árvore da Vida.”

3 Assim Adão e Eva contiveram-se e não comeram desses figos.

4 Mas Adão começou a orar a Deus e a suplicar-Lhe que desse do fruto da Árvore da Vida, dizendo assim: “ó Deus quando desobedecemos ao vosso mandamento na sexta hora da sexta-feira, fomos despojados da natureza luminosa que tínhamos e continuamos no jardim depois de nossa desobediência, por não mais que três horas.

5 “Mas ao anoitecer, Vós nos fizestes sair de lá. O Deus nós Vos desobedecemos por uma hora, e todas essas provações e tristezas acontecem-nos até hoje.”

6 “E aqueles dias, junto com este quadragésimo terceiro dia, não redimem aquela uma hora durante a qual desobedecemos!”

7 “O Deus, olhai para nós com um olhar de piedade e não nos castigueis de acordo com nossa desobediência ao Vosso mandamento, em Vossa presença.”

8 “O Deus, dai-nos do fruto da Árvore da Vida para que possamos dele comer e viver não tomar a passar por sofrimentos e outros aborrecimentos nesta terra; pois Vós sois Deus.”

9 “Quando desobedecemos ao Vosso mandamento, Vós nos fizestes sair do jardim e enviastes um querubim para guardar a Árvore da Vida para evitar que dela comêssemos e vivêsseis e não conhecêssemos fraquezas depois da desobediência.”

10 “Mas agora, ó Senhor, vede, agüentamos todos estes dias, e suportamos todos os sofrimentos. Fazei estes quarenta e três dias equivalerem à uma hora durante a qual desobedecemos.”

Capítulo 38

1 Depois dessas coisas a Palavra de Deus veio a Adão e disse-lhe:

2 “O Adão, quanto ao fruto da Árvore da Vida, o qual pediste, não o darei a ti agora, mas sim quando os cinco mil e quinhentos anos se cumprirem, Então Eu te darei o fruto da Árvore da Vida, e tu a comerás e viverás para sempre, tu e Eva, e tua descendência justa.”

3 “Mas estes quarenta e três dias não podem compensar a hora durante a qual tu desobedeceste ao Meu mandamento.”

4 “é Adão, Eu te dei de comer da figueira na qual tu te escondestes, Vai e come dela, tu e Eva.”

5 “Eu não negarei teu pedido nem tirarei tua esperança; portanto, suporta, até o cumprimento da Aliança que Eu contigo fiz.”

6 E Deus retirou Sua Palavra de Adão.

Capítulo 39

1 Em seguida Adão voltou a Eva e disse-lhe: “Levanta-te e pega um figo para ti, e eu pega-rei o outro; e vamos para a nossa caverna,

2 Então Adão e Eva pegaram um figo cada e foram em direção da caverna; era quase a hora do pôr-do-sol; e seus pensamentos fizeram-nos desejosos de comer do fruto.

3 Mas Adão disse a Eva: “Eu tenho medo de comer deste figo, Não sei o que poderá advir disso”.

4 Assim Adão chorou e pos-se a orar diante de Deus, dizendo: “Satisfazei minha fome, sem que eu tenha de comer este figo; pois, após comê-lo, de que me valerá ele? E o que desejarei e pedirei a Vós, ó Deus, depois que ele se acabar’?

5 E ele disse novamente: “Tenho medo de comer dele; pois não sei o que. me acontecerá por isto”.

Capítulo 40

1 Então a Palavra de Deus veio a Adão e disse-lhe: “O Adão, por que não tiveste antes este temor, nem suportaste este jejum, nem tiveste tanto cuidado assim? E por que não tiveste este medo antes de desobedecer?

2 “Mas depois de vires morar nesta terra estranha, teu corpo animal não poderia existir sobre a terra sem alimento terreno, para fortalecê-lo e para restaurar sua energia.”

3 E Deus retirou Sua Palavra de Adão.

Capítulo 41

1 Então Adão tomou o figo e colocou-o sobre os bastões de ouro. Eva também pegou seu figo e colocou-o sobre o Incenso.

2 E o peso de cada figo era o de uma melancia; pois os frutos do jardim eram maiores que os frutos da terra.

3 Mas Adão e Eva permaneceram em pé e jejuaram durante aquela noite inteira, até o alvorecer.

4 Quando o sol se levantou encontrou-os em suas preces, e Adão disse a Eva depois que terminaram de orar:

5 “ó Eva, vem, vamos até a beira do jardim do lado sul; ao lugar onde o rio nasce e se separa em quatro correntes. Ali oraremos a Deus e lhe pediremos que nos dê de beber da Água da Vida.”

ó. “Pois Deus não nos alimentou com a Árvore da Vida, para que não vivêssemos. Portanto, pedir-lhe-emos que nos dê da Água da Vida, para com ela aplacar nossa sede, em vez de beber da água desta terra.”

7 Ao ouvir estas palavras de Adão, Eva concordou; e ambos levantaram-se e foram à fronteira sul do jardim.

8 E eles permaneceram em pé e oraram ante o Senhor e pediram-Lhe que olhasse para eles dessa vez, que os perdoas-se e que lhes concedesse seu pedido.

9 Depois dessa prece de ambos, Adão se pôs a orar em voz alta perante Deus, e disse:

10 “ó Senhor, quando eu estava no jardim e via a água que corria sob a Árvore da Vida, meu coração não desejava, nem meu corpo precisava beber dela; nem eu conhecia a sede, pois estava vivo; e em condição superior à de agora.”

11 “De maneira que para viver eu não necessitava de nenhum Alimento da Vida, nem bebia da Água da Vida.”

12 “Mas agora, ó Deus, eu estou morto; minha carne esta ressequida pela sede. Dai-me Água da Vida para que possa dela beber e viver.”

13 “Por Vossa misericórdia ó Deus, salvai-me desses flagelos e provações, e levai-me para outra terra diferente desta, que não me permitis habitar no Vosso jardim.”

Capítulo 42

1 Então veio a Palavra Deus a Adão e disse-lhe:

2 “ó Adão, quanto ao que tu dizes: Levai-me para uma terra onde haja descanso, não é outra terra diferente desta mas é o reino do céu, o único lugar onde há descanso.”

3 “Mas tu não podes nele entrar no momento presente mas apenas depois do teu julgamento feito e cumprido.”

4 “Então far-te-ei subir ao reino do céu, a ti e à tua descendência justa; e dar-te-ei ti e a eles o descanso que pedes presentemente.”

5 “E se dizes: Dai-me Água da Vida para que eu dela possa beber e viver, isto não pode ser hoje, mas no dia que eu descer ao inferno, quebrar os portões de bronze esmagar os reinos de ferro.”

6 “Então, por misericórdia salvarei tua alma e a alma justos para dar-lhes descanso em Meu jardim. E isto será quando o mundo chegar ao fim.

7 “E, novamente, conquanto a Água da Vida que buscas não te seja concedida hoje, te será dada no dia em que Eu derramar Meu sangue sobre tua cabeça na terra do Gólgota.”

8 “Pois Meu sangue será para ti a Água da Vida, e não somente para ti, mas para todos da tua descendência que acreditarem em Mim; para que seja para eles o descanso eterno.”

9 O Senhor disse novamente a Adão: “ah Adão, quando estavas no jardim, estas provações não te aconteceram.”

10 “Mas, desde que desobedeceste ao Meu mandamento, acarretaste todos estes sofrimentos.”

11 “Agora, também, tua carne necessita de alimento e bebida; bebe, pois, daquela água que corre junto a ti na face da terra.”

12 Então Deus retirou Sua Palavra de Adão.

13 E Adão e Eva adoraram ao Senhor e voltaram do rio à caverna. Era meio-dia; e quando se aproximaram da caverna, viram ali um grande fogo.

Capítulo 43

1 Então Adão e Eva ficaram amedrontados e detiveram-se. E Adão disse a Eva: “Que fogo é esse ao largo de nossa caverna? Não fizemos nada para provocar este fogo.

2 “Não temos nem pão para assar lá dentro, nem caldo para cozinhar lá. Quanto a este fogo, não o conhecemos, nem sabemos como chamá-lo.”

3 “Mas desde que Deus mandou o querubim com uma espada de fogo que reluzia e relampejava em sua mão e que de medo caímos e ficamos como cadáveres, nunca mais vimos nada igual.”

4 “Mas agora, ó Eva, vê, este é o mesmo fogo que estava na mão do querubim, a quem Deus enviou para guardar a caverna onde moramos.”

5 “é Eva, é porque Deus esta zangado conosco e nos quer expulsar dali.”

6 “E Eva, desobedecemos novamente ao Seu mandamento naquela caverna, assim Ele enviou este fogo para queimar à sua volta, e assim impedir-nos de entrar.”

7 “Se isto for realmente assim, ó Eva, onde moraremos?

E         para onde escaparemos da face do Senhor? Pois quanto ao jardim, Ele não nos permitirá habitar nele, e Ele nos privou das. boas coisas de lá; mas Ele nos colocou nesta caverna, onde temos suportado a escuridão, as provações e dificuldades, até que finalmente encontramos consolo ali.”

8 “Mas agora, se Ele nos levasse para uma outra terra, quem sabe o que poderia acontecer lá? E, quem sabe, a escuridão daquela terra poderia ser bem maior que a escuridão desta terra?”

9 “Quem sabe o que pode-ria acontecer naquela terra de dia ou de noite? E quem sabe, ó Eva se seria distante ou próximo do jardim o lugar onde a Deus agradaria colocar-nos; ou onde Deus nos impediria de vê-Lo, porque desobedecemos ao Seu mandamento, e por Lhe fazermos pedidos em todas as ocasiões?”

10 “O Eva, se Deus nos mandar para urna outra terra estranha que não esta, onde achamos consolo, deve ser para matar nossa alma e apagar nosso nome da face da terra.

11 “Ó Eva, se formos afastados ainda mais do jardim e de Deus, onde O acharemos novamente para pedir-Lhe que nos dê ouro, incenso, mirra e alguns frutos da figueira?”

12 “Onde O acharemos para confortar-nos uma segunda vez? Onde O acharemos, para que ele possa pensar em nós com relação à Aliança que Ele fez a nosso favor?”

13 Em seguida Adão calou-se e não disse mais nada. E eles continuaram a olhar, ele e Eva, em direção da caverna, e para o fogo que se erguia à sua volta.

14 Mas aquele fogo provinha de Satã. Pois ele juntara árvores e capim seco, os carregara e trouxera para a caverna, e tinha ateado fogo neles, a fim de consumir a caverna e o que estava dentro dela.

15 Assim Adão e Eva seriam abandonados na tristeza, e ele acabaria com sua confiança em Deus, e faria com que eles O negassem.

16 Mas, por misericórdia de Deus, ele não podia queimar a caverna, pois Deus enviara Seu anjo até a caverna para preservá-la desse fogo, até que este se extinguisse.

17 E este fogo durou do meio-dia até o raiar do dia seguinte. Este foi o quadragésimo quinto dia.

Capítulo 44

1 Ainda Adão e Eva estavam parados, olhando para fogo, e incapazes de se aproximarem da caverna por causa de seu pavor.

2 E Satã continuou trazendo árvores e lançando-as a fogo, até que a sua chama elevou-se bem alto e cobriu a caverna inteira, pensando ele como pensava consigo mesma em consumir a caverna com muito fogo. Mas o anjo do Senhor a estava protegendo.

3 E mesmo assim ele não podia amaldiçoar Satã, não podia feri-lo pela palavra, porque não tinha autoridade sobre ele, nem era do seu feitio fazê-lo com palavras de sua boca.

4 Por isto o anjo lidou com ele sem proferir nenhuma palavra ruim, até que a Palavra de Deus veio, dizendo a Satã: “Vai embora daí; uma vez já enganaste Meus servos, e desta vez tu procuras destruí-los.

5 “Não fosse por Minha misericórdia, Eu teria eliminado da terra a ti e a tuas hoste. Mas Eu tenho sido paciente contigo, e o serei até o fim mundo.”

6 Então Satã fugiu da presença do Senhor. Mas o fogo continuou queimando em torno da caverna como um carvão e brasa durante o dia inteiro; qual era o quadragésimo sexto dia que Adão e Eva passava desde que haviam saído do jardim.

7 E quando Adão e Eva viram que o calor do fogo baixou um pouco, puseram-se a andar em direção à caverna para entrar nela como precisavam; mas eles ainda não podiam, por causa do calor do fogo.

8 Então ambos puseram-se a chorar por causa do fogo que os separava da caverna, e que se dirigia para eles, queimando. E Eva estava amedrontada.

9 Então Adão disse a Eva: “Vê este fogo do qual temos uma parte em nós: antes nos obedecia, mas não mais o faz, agora que transgredimos o limite da criação e mudamos nossa condição, e nossa natureza está alterada. Mas o fogo não mudou em sua natureza, nem foi alterado do estado em que foi criado. Portanto, ele tem agora poder sobre nós, e quando nos aproximamos dele ele chamusca nossa carne”.

Capítulo 45

1 Então Adão ergueu-se e orou a Deus, dizendo: “Vede, este fogo fez uma separação entre nós e a caverna na qual Vós nos ordenastes habitar; mas agora, vede, não podemos entrar nela”.

2 Então Deus ouviu Adão e enviou-lhe Sua Palavra, que dizia:

3 “ah Adão, vê este fogo! quão diferentes são a sua chama e o seu calor do jardim de delícias e das boas coisas que há nele!”

4 “Quando tu estavas sob Meu controle, todas as criaturas abandonavam-se a ti, mas depois que tu desobedeceste ao Meu mandamento, elas todas se levantam contra ti.”

5 Novamente Deus lhe disse: “Vê, ó Adão, como Satã te tem exaltado! Ele te privou da Divindade e de um estado sublime em Mim, e não manteve sua palavra a ti mas, depois de tudo, tornou-se teu inimigo. Foi ele quem fez este fogo no qual pretendia queimar-te e a Eva.”

6 “Por que, ó Adão, ele não manteve seu acordo contigo nem por um dia sequer, mas te privou da glória que estava contigo, quando tu cedeste a seu comando?”

7 “Tu pensas, Adão, que ele te amou quando fez este acordo contigo? Ou que te amou e desejou elevar-te para o alto?”

8 “Mas não, Adão, ele não fez isto tudo por amor a ti; mas desejava fazer-te sair da luz para a escuridão; e de um estado sublime para a degradação; da glória para a humilhação; da alegria para a tristeza; e do descanso para a fome e a fraqueza.”

9 Deus disse também a Adão: “Vê este fogo atiçado por Satã em volta de tua caverna; vê esta maravilha que te circunda; e saibas que isto te envolverá, tanto a ti quanto a tua descendência, se atenderdes a seu comando; que ele vos castigará com fogo; e que descereis para o inferno depois de mortos.”

10 “Então vereis o queimar de seu fogo, que assim estará queimando em volta de vós e de vossa descendência. Não haverá libertação para vós, a não ser por ocasião da Minha vinda: da mesma maneira como tu não podes entrar na tua caverna, por causa do grande fogo à sua volta; não até que Minha Palavra venha e abra um caminho para ti no dia em que Minha Aliança for cumprida.”

11 “Não há nenhuma maneira, no presente momento, de saíres daí para descansar, não até que Minha Palavra venha, aquele que é Minha Palavra. Então Ele abrirá uma passagem para ti, e tu terás descanso.” Em seguida Deus falou com Sua Palavra àquele fogo que queimava em volta da caverna, que se afastasse até Adão ter passado por ele. Então o fogo afastou-se pela ordem de Deus, e uma passagem foi aberta para Adão.”

12 E Deus retirou Sua Palavra de Adão.

Capítulo 46

1 Então Adão e Eva puseram-se novamente a caminhar em direção da caverna. E quando chegaram no caminho aberto entre o fogo, Satã soprou para dentro do fogo como um redemoinho, e lançou sobre Adão e Eva um fogo em brasa ardente; de maneira que seus corpos foram chamuscados, e o fogo em brasa queimou-os de leve.

2 E por causa da queimadura do fogo Adão e Eva gritaram e disseram: “ó Senhor, salvai-nos! Não deixeis que sejamos flagelados e consumidos por este fogo ardente, nem nos exijais isso por termos desobedecido Vosso mandamento”.

3 Então Deus olhou para seus corpos, onde Satã fez fogo queimar, e enviou seu anjo, que apagou o fogo. Mas as feridas permaneceram em seus corpos.

4 E Deus disse a Adão: ” Vê o amor que tem Satã, que fingiu dar-te a Divindade e a grandeza; e, vê, ele te queima como fogo e procura eliminar-te face da terra.”

5 “E agora olha para Mim ó Adão; Eu te criei, e quantas vezes te libertei de sua mão? Não fosse assim, não teria ele te destruído?”

6 Deus disse novamente a Eva: “Que te prometeu ele no jardim, dizendo: Ao comerdes da árvore, vossos olhos se abrirão, e vós sereis como deuses conhecendo o bem e o mal. Mas vê, ele queimou vossos corpos com fogo e obrigou-vos a provar-lhe o gosto, em lugar gosto do jardim; e obrigou-nos a ver o queimar do fogo e o no mal que disto vem; vede o poder que ele exerce sobre vós.”

7 “Vossos olhos virara bem que ele tomou de vós, e verdade ele abriu vossos olhos e vistes o jardim no qual estáveis Comigo, e vós também vistes o mal que adveio de Satã sobre nós. Mas quanto à Divindade, ele não vos pode dar, nem cumprir a promessa feita a vós.  Não, ele está amargurado convosco e com vossa descendência que virá depois de vós.”

8 E Deus retirou Sua Palavra deles.

Capítulo 47

1 Então Adão e Eva entraram na caverna, ainda tremendo por causa do fogo que chamuscara seus corpos. Então Adão disse a Eva:

2 “Vê, o fogo queimou nossa carne neste mundo; mas como será quando morrermos e Satã punir nossa alma? Não que nossa libertação esteja muito distante, a não ser que Deus venha, e por misericórdia de nós, cumpra Sua promessa.”

3 Em seguida Adão e Eva entraram na caverna, dando graças por entrarem nela uma vez mais, pois pensavam que nunca mais conseguiriam ao ver o fogo ao seu redor.

4 Mas quando o sol se estava pondo, o fogo ainda ardia e aproximava-se de Adão e Eva na caverna, de maneira que eles não podiam dormir ali. Depois que o sol se pôs, eles saíram. Este foi o quadragésimo sétimo dia depois de terem saído do jardim.

5 Adão e Eva então chegaram ao pé da colina ao lado do jardim para dormir, como necessitavam.

6 E eles puseram-se de pé e oraram a Deus que lhes perdoasse seus pecados, e em seguida adormeceram no sopé da montanha.

7 Mas Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, pensou consigo mesmo: “Conquanto Deus tenha prometido a Adão, por meio da Aliança, que o salvaria de toda miséria, a mim nada me prometeu, através da Aliança, e não me libertará de minhas misérias; e se Ele prometeu-lhe que fará com que ele e sua descendência habitem o reino onde eu estive antes, matarei Adão.

8 “A terra estará livre dele; e ficará só para mim; de maneira que, ao morrer, ele não terá nenhum descendente para herdar o reino que permanecerá meu próprio domínio; então Deus precisará de mim e há de me recolocar com minhas hostes.”

Capítulo 48

1 Após o que Satã chamou suas hostes, que vieram todas a ele, e disseram-lhe:

2 “O Senhor nosso, que queres tu fazer?”

3 Ele, pois, lhes disse: “Sabeis que este Adão, a quem Deus criou do pó, é que nos tomou nosso reino. Vamos, reunamo-nos para matá-lo; arremessaremos uma rocha sobre ele e Eva, e os esmagaremos com ela”.

4 Depois de ouvirem de Satã estas palavras, as hostes foram até a parte da montanha onde Adão e Eva estavam adormecidos.

5 Então Satã e suas hostes agarraram uma enorme rocha, larga e lisa e sem mácula, porque pensaram consigo mesmos: “Se houver um buraco na rocha, ao cair sobre eles, o buraco na rocha poderia encaixar-se sobre eles, e assim eles escapariam e não morreriam”.

6 Ele então disse às suas hostes: “Erguei esta rocha e arremessai-a bem em cima deles, de maneira que ela não role para algum outro lugar. E depois de arremessá-la, fugi sem demora”.

7 E eles assim o fizeram conforme ele ordenara. Mas quando a rocha caiu da montanha sobre Adão e Eva, Deus ordenou-lhe que se tornasse um tipo de cobertura sobre eles, sem lhes causar mal algum. E assim se fez por ordem de Deus.

8 Mas quando a rocha caiu, a terra inteira tremeu com isso, e foi sacudida por causa do tamanho da rocha.

9 E como a terra tremia e sacudia, Adão e Eva despertaram de seu sono e acharam-se sob uma rocha que pairava como uma cobertura. Mas eles não sabiam como isso tinha acontecido; pois, quando adormeceram, estavam sob o céu e não sob um abrigo; e ao ver isso, ficaram amedrontados.

10 Então Adão disse a Eva: “Por que a montanha curvou-se e a terra tremeu e sacudiu-se por nossa causa? E por que esta rocha estendeu-se sobre nós como uma tenda?”

11 “Acaso Deus tenciona castigar-nos e encerrar-nos nesta prisão? Ou Ele quer fechar a terra sobre nós?”

12 “Ele está zangado conosco por termos saído da caverna sem ordem Sua; e por termos assim procedido por nossa própria conta, sem consultá-lo, abandonando a caverna e vindo a este lugar.”

13 Então Eva disse: “Se, em verdade, a terra tremeu por nossa causa, e esta rocha forma uma tenda sobre nós por causa de nossa desobediência então ai de nós, ó Adão, pois nosso castigo será longo.”

14 “Mas levanta-te e ora Deus e pede-Lhe que nos permita saber a respeito disso, e que é esta rocha que se estende sobre nós como uma tenda

15 Então Adão pos-se de pé orou diante de Deus para que lhe permitisse entender esse mistério. E Adão permanece assim orando até o amanhece

Capítulo 49

1 Então a Palavra de Deu veio e disse:

2 “O Adão, quem te aconselhou, quando saíste da caverna, para vir a este lugar?”

3 E Adão disse a Deus: ” ó Senhor, nós viemos a este lugar por causa do calor do fogo que nos assolava dentro da caverna”.

4 Então o Senhor Deus disse a Adão: “O Adão, tu te apavoraste com o calor do fogo por uma noite, mas como ser quando habitares no inferno.

5 “No entanto, ó Adão, não tenhas medo, nem digas em teu coração que estendi esta rocha como uma cobertura sobre ti para castigar-te.”

6 “Isto veio de Satã, que te prometera a Divindade e a majestade. Foi ele quem lançou esta rocha sobre ti para te matar, e Eva contigo, e assim impedir-vos de viver sobre terra.”

7 “Mas, por misericórdia de vós, no momento em que esta rocha estava caindo sobre vós, ordenei-lhe que formasse um abrigo sobre vós; e que a rocha debaixo de vós baixasse.”

8 “E este sinal, ó Adão, acontecer-me-á durante a Minha vinda à terra: Satã incitará o povo judeu a que Me mate; e deitar-me-ão numa rocha e selarão uma grande pedra sobre Mim, e Eu permanecerei dentro dessa rocha por três dias e três noites.”

9 “Mas ao terceiro dia Eu ressurgirei novamente, e será a tua salvação, ó Adão, e a de tua descendência, acreditar em Mim. Mas, ó Adão, não te retirarei de sob essa rocha antes de se passarem três dias e três noites.”

10 E Deus retirou Sua Palavra de Adão.

11 E Adão e Eva permaneceram sob a rocha três dias e três noites, como Deus lhes ordenara.

12 E Deus assim procedeu com eles porque eles deixaram sua caverna e vieram ter neste lugar sem Sua ordem.

13 Mas, após três dias e três noites, Deus abriu a rocha e retirou-os de lá. Tinham a carne ressequida e os olhos e os corações perturbados de tanto chorar.

Capítulo 50

1 Então Adão e Eva saíram de lá e chegaram à Caverna dos Tesouros, e ali permaneceram orando aquele dia inteiro, até o anoitecer.

2 E isto aconteceu no final dos cinqüenta dias depois de terem deixado o jardim.

3 Mas Adão e Eva levantaram-se novamente e oraram a Deus na caverna durante aquela noite inteira e pediram-Lhe misericórdia.

4 E quando o dia amanheceu, Adão disse a Eva. “Vem! vamos e façamos alguma coisa para nossos corpos”.

5 Assim eles saíram da caverna e chegaram à fronteira norte do jardim, e procuraram algo para cobrir seus corpos. Mas não encontraram nada, e não sabiam como executar o trabalho. No entanto seus corpos estavam manchados, e eles estavam emudecidos de frio e de calor.

6 Então Adão se pôs de pé e pediu a Deus que lhe indicas-se algo para cobrir seus corpos.

7 Então veio a Palavra de Deus e disse-lhe: “O Adão, toma Eva e vem à beira do mar, onde ambos jejuastes antes. Ali encontrareis peles de carneiro cuja carne foi devorada por leões, e cujas peles sobraram. Pegai-as e fazei vestimentas para vós, e vesti-vos com isto”.

Capítulo 51

1 Após ouvir estas palavras de Deus, Adão tomou Eva e partiu do extremo norte do jardim para o sul, para o rio de água onde eles haviam jejuado.

2 Mas, ao caminharem, e antes de alcançarem aquele lugar, Satã, o malvado, ouviu a Palavra de Deus conversando com Adão a respeito de suas vestimentas.

3 Isto o ofendeu, e ele apressou-se a ir ao lugar onde estavam as peles de carneiro, com a intenção de pegá-las e jogá-las ao mar, ou atirá-las ao fogo, para que Adão e Eva não as encontrassem.

4 Mas, quando estava prestes a pegá-las, a Palavra de Deus veio do céu e prendeu-o ao lado daquelas peles até Adão e Eva aproximaram-se dele. Mas ao achegarem-se, sentiram medo dele e de sua aterradora aparência.

5 Então veio a Palavra de Deus a Adão e Eva e disse-lhes: “Este é o que estava escondido na serpente, e que vos enganou e despojou-vos da veste de luz e glória na qual estáveis.

6 “Este é quem vos prometeu majestade e Divindade. Onde, então, está a beleza que estava nele? Onde está sua Divindade? Onde está sua luz? Onde está a glória que repousava nele?

7 “Agora sua figura é horrenda; ele se tomou abominável entre os anjos; e passou a ser chamado Satã.

8 “ó Adão, ele desejava tomar de vós esta veste terrena de peles de carneiro e destruí-la, e não permitir que vos cobrisses com elas.

9 “Será sua beleza, então, tão grande que vos fez segui-lo? E que ganhastes ouvindo-o? Vede suas obras más e então olhai para Mim; para Mim, vosso Criador, e para as boas obras que Eu vos faço.

10 “Vede, Eu o aprisionei ate que chegásseis e o vísseis e percebêsseis sua fraqueza, e que nenhum poder lhe restou.”

11 E Deus o libertou de sua prisão.

Capítulo 52

1 Depois disso Adão e Eva não disseram mais nada, mas choraram perante Deus por terem sido criados e porque seus corpos necessitavam de um cobertura terrena.

2 Então Adão disse a Eva. “ó Eva, estas são as peles de animais com as quais no cobriremos. Mas, ao vestirmos isto, vê, uma marca de morte quer recai sobre nós, da mesma maneira que recai sobre os donos destas peles, que morreram e desapareceram. Assim também nós morreremos e passaremos.

3 Então Adão e Eva tomaram as peles e voltaram à Caverna dos Tesouros e, uma vez ali, puseram-se de pé e oraram pois necessitavam.

4 E pensaram como poderiam fazer vestimentas dessa peles; pois não tinham habilidade para isso.

5 Então Deus lhes enviou Seu anjo para mostrar-lhe como trabalhá-las. E o anjo disse a Adão: “Vai e traz alguns espinhos de palmeira”. Então Adão saiu e trouxe alguns como o anjo lhe ordenara.

6 Em seguida o anjo pôs a trabalhar as peles diante dele à maneira de quem prepara uma túnica. E pegou os espinhos e enfiou-os nas peles mostrando-lhes como fazê-lo.

7 Em seguida o anjo pos-se de pé e pediu a Deus que os espinhos naquelas peles  ficassem escondidos, como se fossem cosidos com um único fio.

8 E assim foi, por ordem de Deus; estas se tomaram vestimentas para Adão e Eva, e Ele com elas os vestiu.

9 A partir de então a nudez de seus corpos ficou encoberta da vista um do outro.

10 E isto aconteceu no final do qüinquagésimo primeiro dia.

11 Então, com os corpos cobertos, Adão e Eva puseram-se de pé e oraram e buscaram a misericórdia e perdão do Senhor, e agradeceram-Lhe por Ele ter sido misericordioso, e por haver coberto sua nudez. E eles não interromperam a oração durante aquela noite inteira.

12 E quando amanheceu, com o nascer do sol, disseram suas preces conforme seu hábito; e saíram da caverna.

13 E Adão disse a Eva: “Já que não sabemos o que existe a oeste desta caverna, vamos pôr-nos a caminho e ver isto hoje”. Então eles partiram e caminharam em direção da fronteira oeste.

Capítulo 53

1 Eles ainda não se encontravam muito distante da caverna quando Satã veio em sua direção e escondeu-se entre eles e a caverna, sob a forma de dois leões enfurecidos após três dias sem alimento, que se arremessaram contra Adão e Eva, como se fossem despedaçá-los e devorá-los.

2 Então Adão e Eva choraram e suplicaram a Deus que os libertassem de suas garras.

3 Então a Palavra de Deus veio-lhes e expulsou os leões para longe.

4 E Deus disse a Adão: “é Adão, que procuras tu na fronteira oeste? E por que abandonaste por tua própria conta a fronteira leste, onde é a tua moradia?

5 “Agora, então, volta para tua caverna e permanece lá para que Satã não te engane, nem execute seu propósito contra ti.

6 “Pois nesta fronteira oeste, ó Adão, de ti virá uma descendência que a povoará; e que se irá degradar com seus pecados e com sua submissão ao comando de Satã, e também por imitar suas obras.

7 “Por causa disso trarei sobre eles as águas de um dilúvio e destrui-los-ei a todos. Mas libertarei os que se mantiverem justos dentre eles; e tra-los-ei a uma terra distante, e a terra onde agora habitas ficará desolada e sem nenhum morador.”

8 Depois que Deus assim discursou para eles, voltaram à Caverna dos Tesouros. Mas sua carne estava ressequida e sua força falhava-lhes à força de jejuar e orar, e por causa da tristeza que sentiam por ter desobedecido a Deus.

Capítulo 54

1 Então Adão e Eva puseram-se de pé na caverna e oraram durante aquela noite toda até que amanheceu. E após o nascer do sol, ambos saíram da caverna com o pensamento vagueando sob o peso da tristeza, e sem saber para onde caminhar.

2 E caminharam assim até a fronteira sul do jardim. E começaram a subir ao longo daquela fronteira até chegarem à fronteira leste, além da qual não havia mais espaço.

3 E o querubim que guardava o jardim estava no portão oeste, protegendo-o de Adão e Eva; para que eles não entrassem subitamente no jardim. E o querubim voltou-se, como se fosse matá-los; de acordo com o mandamento que Deus lhe dera.

4 Quando Adão e Eva chegaram à fronteira oeste do jardim — pensando consigo mesmos que o querubim não estava olhando — enquanto estavam parados diante do portão como se desejassem entrar, repentinamente veio o querubim com uma espada de fogo flamejante na mão; e ao vê-los, adiantou-se para matá-los. Pois temia que Deus o destruísse se eles entrassem no jardim sem Sua ordem.

5 E a espada do querubim pareciam flamejar de longe. Mas quando ele a ergueu sobre Adão e Eva, sua chama não faiscou.

6 Por esta razão o querubim pensou que Deus estava favorável a eles, e trazia-os de volta ao jardim. E o querubim parou intrigado.

7 Ele não podia subir até o Céu para certificar-se da ordem de Deus concernente à entrada deles no jardim; portanto, postou-se na frente deles, já que estava incapacitado de sair  junto deles; pois receava que eles entrassem no jardim se licença de Deus, que então destruiria.

8 Quando Adão e Eva viram o querubim vindo em sua direção com uma espada de fogo flamejante na mão, eles prostraram-se de medo, e pareciam mortos.

9 Neste momento os céus e a terra tremeram, e outros querubins desceram do céu até o querubim que guardava o jardim, e viram-no perplexo e silencioso.

10 Então, novamente, os outros anjos desceram até o lugar onde Adão e Eva estavam. Eles estavam divididos entre a alegria e a tristeza.

11 Estavam contentes, porque pensavam que Deus estava sendo favorável a Adão, e desejava que ele retomasse jardim; e desejava restituí-lo a felicidade que uma vez desfrutara.

12 Mas entristeciam-se por Adão, pois ele estava caído como um morto, ele e Eva; e disseram em seus pensamentos: “Adão não morreu neste lugar; mas Deus o matará por ter vindo a ele e ter desejado entrar no jardim sem sua permissão.

Capítulo 55

1 Então veio a Palavra de Deus a Adão e Eva, e os fez ressurgir de seu estado de mortos dizendo-lhes: “Por que viestes até aqui? E vossa intenção entrar no jardim, do qual Eu vos tirei? Isto não pode ser hoje, mas somente quando a Aliança que Eu fiz convosco for consumada”.

2 Então Adão, ao ouvir a Palavra de Deus e o esvoaçar dos anjos, aos quais não via, mas apenas ouvia com seus ouvidos o seu som, ele e Eva choraram e disseram aos anjos:

3 “ah Espíritos que servem a Deus, olhai para mim, e para a minha incapacidade, então eu vos via. Eu entoava louvores como vós o fazeis; e meu coração estava bem acima de vós.

4 “Mas agora, que eu desobedeci, aquela natureza luminosa abandonou-me, e eu cheguei a este miserável estado. E agora, neste estado, não posso ver-vos e vós não me servis como costumáveis. Pois eu me tomei carne animal.

5 “Ainda assim, ó anjos de Deus, pedi agora comigo a Deus, que me restitua ao que eu era antes; que me resgate desta miséria e retire de mim a sentença de morte que Ele proferiu contra mim, por tê-lo desobedecido.”

6 Então, ao ouvirem estas palavras, todos os anjos entristeceram-se por ele; e amaldiçoaram Satã que enganara Adão, até que ele saiu do jardim para a miséria; da vida para a morte; da paz para a aflição; e da alegria para uma terra estranha.

7 Então os anjos disseram a Adão: “Tu ouviste Satã e abandonaste a Palavra de Deus,que te criou; e acreditaste que Satã cumpriria tudo o que te prometera.

8 “Mas agora, ó Adão, nós te faremos saber o que nos ocorreu através dele, antes de sua queda do céu.

9 “Ele reuniu suas hostes e enganou-os prometendo dar-lhes um grande reino, uma natureza divina; e outras promessas ele lhes fez.

10 “Suas hostes acreditaram na veracidade de sua palavra, de maneira que confiaram nele e renunciaram à glória de Deus.

11 “Ele então mandou chamar-nos conforme as hierarquias nas quais estávamos – para colocarmo-nos sob seu comando e ouvir sua vã promessa. Mas nós não quisemos e não seguimos seu conselho.

12 “Então, depois de lutar com Deus e ter-se conduzido com arrogância para com Ele, reuniu suas hostes e fez guerra contra nós. E se não fosse pelo poder de Deus, que estava conosco, não poderíamos ter prevalecido contra ele para lançá-lo do céu.

13 “E quando ele caiu para fora do nosso meio, houve um grande júbilo no céu, por ele ter descido para longe de nós. Pois se ele tivesse continuando no céu, nada, nem mesmo um único anjo permaneceria nele.

14 “Mas Deus, em Sua misericórdia, expulsou-o do nosso meio para esta terra escura; pois ele se havia tornado a própria escuridão e um fazedor de injustiça.

15 “E ele continuou, ó Adão, a fazer guerra contra ti, até que te enganou e te fez sair do jardim para esta terra estranha, onde todas estas provações aconteceram a ti. E a morte, que Deus trouxe sobre ele, ele também a trouxe a ti, ó Adão, pois tu lhe obedeceste, e desobedeceste a Deus.”

16 Em seguida, todos os anjos rejubilaram e louvaram a Deus, e pediram-Lhe que não destruísse Adão desta vez, por sua tentativa de entrar no jardim; mas que o tolerasse até o cumprimento da promessa; e o ajudasse neste mundo até que ele se libertasse das mãos de Satã.

Capítulo 56

1 Então veio a Palavra de Deus a Adão e disse-lhe:

2 “Adão, olha para aquele jardim de alegria e para esta terra de labuta, e vê os anjos que estão no jardim, que está repleto deles, e vê a ti sozinho sobre esta terra com Satã, a quem obedeceste.

3 “No entanto, se tu te houvesses submetido e sido obediente a Mim, e tivesses mantido Minha Palavra, estarias com Meus anjos no Meu jardim.

4 “Mas, quando desobedeceste e ouviste Satã, tu te tornaste seu hóspede entre seus anjos, que são cheios de maldade; e vieste a esta terra, que te apresenta espinhos e cardos.

5 “ó Adão, pede àquele que te enganou que te dê a natureza divina que te prometeu, ou que faça um jardim para ti como Eu o fiz; ou que te preencha com a mesma natureza luminosa com a qual Eu te preenchi.

6 “Pede-lhe que te faça um corpo igual ao que Eu fiz para ti, ou que te dê um dia de descanso como Eu te dei; ou que crie dentro de uma alma racional, como Eu criei para ti; ou que te remova daqui para uma outra terra diferente desta que Eu te dei. Mas, ó Adão, ele não cumprirá uma única coisa sequer das que ele te prometeu.

7 “Reconhece, pois, Minha benevolência para contigo, e Minha misericórdia por ti, Minha criatura; que Eu não te repudiei por tua desobediência Mim, mas em Minha piedade por ti Eu te prometi que no fim dos grandes cinco dias e meio. Eu virei e te salvarei.”

8 Então disse Deus novamente a Adão e Eva: “Erguei-vos e descei daqui para que o querubim, com a espada de fogo fulgurante na mão, não vos destrua”.

9 Mas o coração de Adão foi consolado pelas palavras de Deus a ele dirigidas, e adorou O.

10 E Deus ordenou a Seus, anjos escoltarem Adão e Eva a caverna em júbilo por causa do medo que os acometera.

11 Então os anjos ergueram Adão e Eva e os levaram montanha abaixo, com canções e salmos, até que chegaram a caverna. Ali os anjos puseram-se a consolá-los e a fortalecê-los; e então partiram em direção ao céu, para o seu Criador que os havia enviado.

12 Mas depois que os anjos deixaram Adão e Eva, veio Satã, acanhado, e parou na entrada da caverna na qual estavam Adão e Eva. Ele então chamou Adão, e disse: “O Adão, vem, deixa-me falar contigo”.

13 Então Adão saiu da caverna, pensando ser este um dos anjos de Deus que viera para dar-lhe um bom conselho.

Capítulo 57

1 Mas quando Adão saiu e viu sua figura horrenda, teve medo dele, e disse-lhe: “Quem és tu”?

2 Então Satã respondeu e disse-lhe: “Sou aquele que se escondeu na serpente e falou a Eva e a enganou até que ela obedecesse sua ordem. Sou aquele que a enviou, através das artimanhas de minha fala, para enganar-te, até que tu e ela comestes do fruto da árvore; e saístes de sob o comando de Deus”.

3 Mas, ao ouvir estas suas palavras, Adão lhe disse: “Acaso tu podes fazer-me um jardim como o que Deus fez para mim? Ou acaso tu podes vestir-me com a mesma natureza luminosa com a qual Deus me vestiu?

4 “Onde está a natureza divina que prometeste dar-me? Onde está aquela bela conversa que mantiveste conosco antes, quando estávamos no jardim?”

5 Então Satã disse a Adão: “Tu pensas que se eu prometesse qualquer coisa a alguém,eu lha traria algum dia ou cumpriria minha palavra? Não é assim. Pois eu mesmo nunca pensei em obter o que pedia.

6 “Por isso eu caí, e te fiz cair pelo que eu mesmo caí; e assim é conosco também; quem aceitar meu conselho, cairá por isto.

7 “Mas agora, ó Adão, em razão de tua queda tu estás sob meu governo, e eu sou teu soberano; porque tu me ouviste e desobedeceste teu Deus. Nem haverá libertação alguma de minhas mãos até o dia prometido a ti por teu Deus.”

8 Novamente ele disse: “Já que não sabemos o dia combinado contigo por teu Deus, nem a hora que serás libertado, por esta razão nós multiplicaremos a guerra e o assassínio contra ti e teus descendentes depois de ti.

9 “É de nossa vontade e por nosso bel-prazer que não deixaremos nenhum dos filhos dos homens para herdar nossas hierarquias no céu.

10 “Quanto à nossa moradia, ó Adão, é no fogo ardente; e não cessaremos nossas obras más, não, nem por um dia nem por uma hora sequer. E eu, ó Adão, atiçarei o fogo sobre ti quando vieres à caverna para nela habitar.”

11 Depois de ouvir estas palavras, Adão chorou e lamentou-se e disse a Eva: “Ouve o que ele disse: que não cumprirá nada do que te prometeu no jardim. Será verdade, então, que ele se tomou nosso soberano?

12 “Mas pediremos a Deus, que nos criou, que nos liberte de suas mãos.”

Capítulo 58

1 Então Adão e Eva estenderam suas mãos para Deus, orando e pedindo-Lhe que expulsasse Satã para longe deles; para que ele não lhes causasse nenhuma violência, e não os forçasse a negar Deus.

2 Então Deus imediatamente lhes enviou Seu anjo, que expulsou Satã para longe deles. Isto aconteceu por volta do pôr-do-sol, ao qüinquagésimo terceiro dia depois de sua saída do jardim.

3 Então Adão e Eva entraram na caverna e prostraram-se com suas faces voltadas para a terra, para orar a Deus.

4 Mas enquanto oravam, Adão disse a Eva: “Tu viste que tentações sucederam-nos nesta terra. Vem, levantemo-nos e peçamos a Deus que nos perdoe os pecados que cometemos; e não sairemos antes do final do dia após o quadragésimo. E se morrermos aqui, Ele nos salvará”.

5 Então Adão e Eva ergueram-se e uniram-se na súplica a Deus.

6 Eles permaneceram assim orando na caverna; não saiam nem de noite nem de dia, até que suas preces elevaram-se de sua boca como uma chama de fogo.

Capítulo 59

1 Mas Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, não lhes permitiu terminarem suas preces. Pois convocou suas hostes e todas vieram. Ele então lhes disse: “Desde que Adão e Eva, a quem enganamos, concordaram entre si em orar a Deus noite e dia, e pedir-Lhe que os liberte, e desde que eles não querem sair da caverna até o final do quadragésimo dia.

2 “E desde que eles continuarão suas preces como ambos concordaram em fazer, para que Ele os liberte de nossas mãos e os restitua a seu estado anterior, vejam o que faremos com eles.” E suas hostes disseram-lhe: “O poder é teu, ó Senhor nosso, para fazer o que te agradar”.

3 Então Satã, grande em maldade, levou suas hostes e entrou na caverna, na trigésima noite dos quarenta dias; e golpeou Adão e Eva, até deixá-los mortos.

4 Então veio a Adão e Eva a Palavra de Deus, a qual os ergueu de seu sofrimento, e Deus disse a Adão: “Sê forte não tenhas medo daquele que acabou de vir a ti”.

5 Mas Adão chorou e disse: “Onde estáveis Vós, ó meu Deus, quando eles nos golpearam e este sofrimento nos acometeu, a mim e a Eva, Vossa serva”?

6 Então Deus lhe disse “Adão, vê, ele é senhor e mestre de tudo que tu tens, aquele que disse que te daria a Divindade. Onde está este amor por ti? E onde está o presente que ele prometeu?

7 “Ao menos uma vez agradou-lhe, ó Adão, vir a ti, consolar-te e fortalecer-te, e rejubilar-se contigo, e enviar suas hostes para te proteger, porque tu o ouviste e seguiste o seu conselho e desobedeceste meu mandamento e seguiste seu comando?”

8 Então Adão chorou perante o Senhor, e disse: “ó Senhor, porque eu desobedeci um pouco, Vós me castigastes dolorosamente por isso, mas eu Vos peço, libertai-me de suas mãos; ou então tende piedade de mim e retirai minha alma de meu corpo que está agora nesta terra estranha”.

9 Então Deus disse a Adão: “Se ao menos tivesse havido este suspirar e orar antes, antes que tu desobedecesses! Então tu terias repouso da aflição em que estás agora”.

10 Mas Deus teve paciência com Adão e permitiu-lhe e a Eva permanecerem na caverna até que se cumprissem os quarenta dias.

11 Mas quanto a Adão e Eva, sua força e carne definharam pelo jejum e pela oração, de fome e sede; pois eles não tinham provado nem alimento nem bebida desde que deixaram o jardim; nem as funções de seus corpos ainda estavam estabelecidas; e eles não tinham mais força para continuar em oração por causa da fome, até o fim do dia posterior ao quadragésimo. Eles estavam caídos na caverna; ainda assim a fala que escapasse de suas bocas, era somente de louvores.

Capítulo 60

1 Então, no trigésimo nono dia, Satã veio à caverna vestindo um traje de luz e com um cinto reluzente amarrado à cintura.

2 Em suas mãos segurava um bastão de luz, e sua aparência era muito assustadora, mas sua face era agradável e sua fala doce.

3 Transformara-se assim com o propósito de enganar Adão e Eva, e fazê-los sair da caverna, antes de cumprirem os quarenta dias.

4 Pois ele disse consigo mesmo: “Agora, se eles cumprirem os quarenta dias de jejum e oração, Deus os restituirá a seu estado anterior; e se Ele não o fizer, ainda assim será benevolente para com eles; e mesmo se Ele não tiver misericórdia deles, ainda lhes dará algo do jardim para consolá-los; como já o fez por duas vezes.”

5 Então Satã aproximou-se da caverna com esta agradável aparência e disse:

6 “ah Adão, erguei-vos, ponde-vos de pé, tu e Eva, e acompanhai-me a uma terra boa; e não tenhais medo. Eu sou de carne e osso como vós; e fui a primeira criatura criada por Deus.

7 “E assim foi que, depois de criar-me, Ele me colocou num jardim ao norte, nos limites do mundo.

8 “E Ele me disse: ‘Permanece aqui!’ E eu permaneci ali de acordo com Sua Palavra, e não desobedeci Seu mandamento.

9 “Então Ele fez um torpor vir sobre mim, e Ele te tirou, ó Adão, do meu lado, mas não te fez habitar junto a mim.

10 “Mas Deus tomou-te em Sua mão divina e colocou-te num jardim no leste.

11 “Então eu me entristeci por tua causa, pois enquanto que Deus te tirara de meu lado, Ele não te permitiu permanecer comigo.

12 “Mas Deus me disse: `Não te entristeças por causa de Adão a quem eu tirei de teu lado, nenhum mal lhe acontecerá.

13 “`Pois agora Eu tirei de seu lado uma companheira para ele; e dei-lhe alegria assim procedendo:”

14 Em seguida Satã disse novamente: “Eu não sabia como aconteceu que viésseis para esta caverna, nem nada sobre esta provação que vos acometeu, até que Deus me disse: `Vê, Adão desobedeceu, aquele que tirei do teu lado, e Eva também, a quem tirei do lado dele; e expulsei-os do jardim; eu os fiz habitar num país de tristeza e miséria, porque eles Me desobedeceram e deram ouvidos a Satã. E eis que estão sofrendo até este dia, o octogésimo’!

15 “Então Deus me disse: `Levanta-te, vai a eles, e faze-os virem para a tua casa, e não permitas que Satã aproxime-se deles e os perturbe. Pois eles estão agora em grande miséria; e estão caídos, definhado de fome’.

16 “Ele continuou dizendo-me: Quando tu os levares para tua casa, dá-lhes de comer de fruto da Árvore da Vida, e dá-lhes de beber da água da paz;  e veste-os com uma vestimenta de luz, e restitui-os a seu anterior estado de graça, e não os deixeis em miséria, pois eles: vieram de ti. Mas não te entristeças por eles nem te arrependas daquilo que lhes sucedeu’.

17 “Mas quando eu ouvi isto, fiquei entristecido; e meu coração não pôde suportá-lo pacientemente por tua causa. O meu filho.

18 “Mas, O Adão, ao ouvir isto o nome de Satã, fiquei amedrontado, e disse comigo mesmo: Não sairei, a fim de que ele não me apanhe numa armadilha como o fez a meus filhos Adão e Eva.

19 “E eu disse: ó Deus quando eu for a meus filhos Satã me encontrará no caminho e fará guerra contra mim, como o fez contra eles.

20 “Então Deus me disse. Não tenhas medo; ao encontrá-lo, golpeia-o com o bastão que seguras em tua mão, e não tenhas medo dele, pois tu pertences à antiga ordem e ele não prevalecerá contra ti’.

21 “Então eu disse: ó meu Senhor, eu estou velho, e não posso ir. Enviai Vossos anjo para que me tragam’.

22 “Mas Deus me disse: ‘Os anjos, na verdade, não são como eles, e não concordarão em acompanhá-los. Mas Eu te escolhi porque eles são teus rebentos, e semelhantes a ti, ouvirão o que dizes’.

23 “Deus me disse mais: Se tu não tens forças para caminhar, enviarei uma nuvem para te carregar e deixar-te à entrada da caverna; então a nuvem retomará deixando-te lá.

24 “E se eles vierem contigo, enviarei uma nuvem para carregar-te a ti e a eles.’

25 “Então Ele ordenou que viesse uma nuvem, e esta carregou-me e trouxe-me a vós; e em seguida retomou.

26 “E agora, ó meus filhos, Adão e Eva, olhai para meus cabelos brancos e para meu estado de debilidade e para minha vinda daquele lugar distante. Vinde, vinde comigo para um lugar de repouso.”

27 Então ele começou a chorar e a soluçar diante de Adão e Eva, e suas lágrimas jorravam sobre a terra como água.

28 E quando Adão e Eva ergueram seus olhos e viram sua barba, e ouviram sua doce fala, seus corações comoveram-se com ele; ouviram-no, pois acreditaram que ele era verdadeiro.

29 E parecia-lhes que real-mente eram seus filhos, quando viram que sua face era igual à deles próprios; e confiaram nele.

Capítulo 61

1 Então ele tomou Adão e Eva pela mão, e começou a conduzi-los para fora da caverna.

2 Mas quando estavam a pouca distância dela, sabendo Deus que Satã os havia dominado e os estava tirando de lá antes que se cumprissem os quarenta dias, para levá-los a algum lugar distante e depois destruí-los, então a Palavra do Senhor Deus novamente veio e amaldiçoou Satã e afastou-o deles.

3 E Deus começou a falar a Adão e Eva, dizendo-lhes: “Que foi que vos fez sair da caverna para este lugar”?

4 Então Adão disse a Deus: “Acaso criastes um homem antes de nós? Pois quando estávamos na caverna subitamente veio a nós um bom velho que nos disse que era um mensageiro de Deus a nós, para levar-nos de volta a algum lugar de repouso.

5 “E acreditamos, ó Deus, que ele era o Vosso mensageiro, e saímos com ele; e não sabíamos se devíamos ou não ir com ele.”

6 Então Deus disse a Adão: “Vê, foi o pai das artes malignas que te conduziu e a Eva para fora do jardim das Delícias. E agora, certamente, ao ver que tu e Eva vos unistes para jejuar e orar, e que vós não sairíeis da caverna antes do término dos quarenta dias, ele desejou tomar vão vosso propósito, quebrar vosso laço mútuo; tirar toda vossa esperança e conduzir-vos para algum lugar onde pudesse destruir-vos.

7 “Porque ele seria incapaz de fazer-vos qualquer coisa, a não ser que se mostrasse semelhante a vós.

8 “Portanto, ele veio a vós com uma face igual à vossa e começou a fazer-vos ofertas como se elas fossem todas verdadeiras.

9 “Mas Eu, por misericórdia e pela benevolência que tive por vós, não lhe permiti que vos destruísse, mas afastei-o de vós.

10 “Agora, portanto, ó Adão, toma Eva e volta para vossa caverna, e permanece lá até o raiar do quadragésimo dia. E quando sairdes, ide em direção ao portão leste do jardim.”

11 Então Adão e Eva adoraram a Deus, e louvaram e agradeceram-no pela salvação que lhes viera dEle. E retornaram para caverna. Isto aconteceu ao anoitecer do trigésimo nono dia.

12 Então Adão e Eva puseram-se de pé e, com grande zelo, oraram a Deus, para que sua necessidade de força fosse satisfeita; pois sua força os havia abandonado, por fome e sede e oração. Mas eles permaneceram em vigília aquela noite inteira orando, até a manhã.

13 Então Adão disse a Eva: “Levanta-te, vamos em direção ao portão leste do jardim como Deus nos disse”.

14 E eles disseram suas preces como era de hábito diário; e saíram da caverna, para aproximarem-se do portão leste do jardim.

15 Então Adão e Eva puseram-se em pé e oraram e suplicaram a Deus que os fortaleces-se e que lhes enviasse algo com que satisfazer sua fome.

16 Mas quando terminaram suas preces, permaneceram onde estavam pois lhes faltava forças.

17 Então veio a Palavra de Deus novamente e disse-lhes “ah Adão, levanta-te, vai e traz para cá dois figos”.

18 Então Adão e Eva levantaram-se, e caminharam até se aproximarem da caverna.

Capítulo 62

1 Mas Satã o perverso estava com inveja pelo consolo que Deus lhes dera.

2 Assim, ele os precedeu e entrou na caverna e pegou o dois figos e enterrou-os do lado de fora da caverna, de maneira que Adão e Eva não os encontrassem. Ele também tinha em seus pensamentos destruí-los.

3 Mas, por misericórdia de Deus, logo que aqueles dois figos; estavam dentro da terra, Deus anulou o desígnio de Satã em relação a eles e transformou-o em duas árvores frutíferas que sombreavam a caverna.

4 Então, quando as duas árvores cresceram e cobriram se de frutos, Satã afligiu-se lamentou-se, e disse: “Teria sido melhor deixar aqueles figos como estavam; pois agora vê, eles se transformaram em duas árvores frutíferas, da quais Adão comerá todos o dias de sua vida. Enquanto que o que eu tinha em pensamento, quando os enterrei, em destruí-los inteiramente, escondê-los para sempre.

5 “Mas Deus anulou meu desígnio, e não quis que esta fruta sagrada perecesse; e Ele desmascarou minha intenção e anulou o plano que eu armara contra Seus servos.”

6 Então Satã partiu envergonhado, por não ter alcançado seu desígnio.

Capítulo 63

1 Mas Adão e Eva, ao se aproximarem da caverna, viram duas figueiras cobertas de frutos e sombreando a caverna.

2 Então Adão disse a Eva: “Parece-me que nos perdemos. Quando é que estas duas árvores cresceram aqui? Parece-me que o inimigo deseja nos desviar. Acaso tu dirias que há na terra uma outra caverna que não esta?

3 “Ainda assim, ó Eva, entremos na caverna e achemos nela os dois figos; pois esta é a nossa caverna, na qual estávamos. Mas se não acharmos os dois figos nela, então não pode ser a nossa caverna.

4 Então entraram na caverna e procuraram por seus quatro cantos, mas não encontraram os dois figos.

5 E Adão chorou e disse a Eva: “Viemos então a uma caverna errada, ó Eva? Parece-me que estas duas figueiras são os dois figos que estavam na caverna.” E Eva disse: “Eu, de minha parte, não sei.”

6 Então Adão pos-se de pé e orou e disse: “ó Deus, Vós nos ordenastes voltar à caverna, pegar os dois figos e então reto-mar a Vós.

7 “Mas agora não os encontramos. O Deus, ou Vós os pegastes, e plantastes estas duas árvores, ou perdemos nosso caminho; ou o inimigo nos enganou? Se isto for assim, então, ó Deus, revelai-nos o segredo destas árvores e dos dois figos.”

8 Então veio a Palavra de Deus a Adão, e disse-lhe: “ó Adão, quando Eu te enviei para buscar os figos, Satã foi na tua frente à caverna, pegou os figos e enterrou-os do lado de fora, a leste da caverna, pensando em destruí-los; e não plantando-os com boa intenção.

9 “Não é por sua bondade, então, que estas árvores cresceram instantaneamente; mas Eu tive misericórdia de ti e ordenei-lhes que crescessem. E elas cresceram até se tomarem duas grandes árvores, para que tenhais sombra sob seus galhos, e encontreis repouso, e que Eu vos faça ver Meu poder e Minhas obras maravilhosas.

10 “E também para mostrar-vos a maldade de Satã e suas obras más, pois desde que saístes do jardim, ele não cessou, não, nem por um único dia sequer, de fazer-vos algum mal. Mas Eu não lhe dei poder sobre vós.”

11 E Deus disse: “Daqui por diante, ó Adão, regozijai-vos com as árvores, tu e Eva; e repousai debaixo delas quando vos sentirdes cansados. Mas não comais de seus frutos, nem vos aproximeis deles”.

12 Então Adão chorou, e disse: “ó Deus, Vós nos mata-reis novamente ou nos expulsareis de Vossa presença e eliminareis nossa vida da face da terra?

13 “ó Deus, eu Vos imploro, se sabeis que nestas árvores há morte ou algum mal,como da primeira vez, arrancai-as de perto de nossa caverna, ou secai-as; e deixai-nos morrer de calor, de fome, e de sede.

14 “Pois nós conhecemos Vossas obras maravilhosas, ó Deus, sabemos que são grandiosas e que pelo Vosso poder podeis fazer sair uma coisa da outra, independentemente de alguém o desejar. Pois Vosso poder pode transformar rochas em árvores, e árvores em rochas.”

Capítulo 64

1 Então Deus olhou para Adão e para sua força de pensamento, para sua resistência à fome e à sede e ao calor. E Ele transformou as duas figueiras em dois figos como eram antes e então disse a Adão e Eva: “Cada um de vós pode pegar um figo”. E eles os pegaram, como o Senhor lhes ordenara.

2 E Ele lhes disse: “Entrai na caverna e comei os figos e satisfazei vossa fome, a fim de que não morrais”.

3 Assim, como Deus lhes ordenara, eles entraram na caverna por volta do pôr-do-sol. E Adão e Eva se puseram de pé e oraram à hora do pôr-do-sol.

4 Então sentaram-se para comer os figos; mas não sabiam como comê-los; pois não estavam acostumados a comer alimento terreno. Eles receavam também que, se comessem, seus estômagos ficariam sobrecarregados e sua carne mais densa e seus corações passariam a gostar de alimento terreno.

5 Mas, enquanto estavam assim sentados, Deus, por piedade deles, enviou-lhes Seu anjo, a fim de que não perecessem de fome e sede.

6 E o anjo disse a Adão e Eva: “Deus vos manda dizer que não tendes força para jejuar ate a morte; comei, portanto, e fortalecei vosso corpo; pois agora sois carne animal, que não pode subsistir sem alimento e água”.

7 Então Adão e Eva pegaram os figos e puseram-se comê-los. Mas Deus introduzira neles uma mistura como a de pão saboroso e sangue.

8 Então o anjo deixou Adão e Eva, que comeram dos figo; até saciarem sua fome. Em se seguida guardaram o que restou mas pelo poder de Deus, os figos ficaram cheios como antes porque Deus os abençoara.

9 Depois disso, Adão e Eva ergueram-se e oraram com coração alegre e a força renovada, e louvaram e rejubilaram se sem cessar durante a noite inteira. E este foi o fim do octogésimo terceiro dia.

Capítulo 65

1 E quando o dia raiou, levantaram-se e oraram, segundo do seu hábito, e em seguida, saíram da caverna.

2 Mas como sentiam-se muito perturbados por causa do alimento que ingeriram, e a qual não estavam acostumados, andavam a esmo pela caverna dizendo um ao outro:

3 “Que foi que nos aconteceu ao comermos, para que esta dor nos acometesse? Ai de nós, morreremos! Teria sido melhor morrer que ter comido; e ter mantido puro nosso corpo que tê-lo poluído com alimento.”

4 Então Adão disse a Eva: “Esta dor não nos acometeu no jardim, nem comíamos lá alimento ruim assim. Tu pensas, ó Eva, que Deus nos castigará através do alimento que está dentro de nós, ou que nossas entranhas sairão? Ou que Deus pretende matar-nos com esta dor antes que Ele cumpra Sua promessa a nós”?.

5 Então Adão implorou ao Senhor e disse: “O Senhor, não nos deixeis perecer através do alimento que ingerimos. O Senhor, não nos abatais; mas lidai conosco de acordo com Vossa grande misericórdia, e não nos abandoneis até o dia da promessa que nos fizestes”.

6 Então Deus olhou para eles e imediatamente tornou-os aptos para comer alimento; como até hoje; a fim de que não perecessem.

7 Então Adão e Eva voltaram à caverna tristes e chorando por causa da alteração em sua natureza. E ambos sabiam desde então que eram seres alterados; que sua pretensão de voltar ao jardim agora estava rompida; e que não poderiam mais penetrar nele.

8 Pois agora seus corpos tinham funções estranhas; e toda a carne que necessita de alimento e água para sua existência não pode estar no jardim.

9 Então Adão disse a Eva: “Vê, nossa esperança rompeu-se: e também a de entrarmos no jardim. Não fazemos mais parte dos habitantes do jardim; mas daqui por diante somos terrenos e pertencemos ao pó, somos habitantes da terra. Não retomaremos ao jardim até o dia que Deus prometeu salvar-nos e levar-nos novamente ao jardim, como Ele nos prometeu”.

10 Então eles oraram a Deus para que tivesse misericórdia deles; depois do que acalmaram-se, mas o coração deles continuava dilacerado e sua saudade esfriara; e eram como estrangeiros na terra. Aquela noite Adão e Eva passaram na caverna, onde dormiram pesadamente por causa do alimento que haviam ingerido.

Capítulo 66

1 Quando amanheceu, no dia seguinte, depois de terem comido o alimento, Adão e Eva oraram na caverna, e Adão disse a Eva: “Vê, pedimos a Deus alimento e Ele no-lo deu. Mas agora vamos pedir-Lhe que nos dê água para beber”.

2 Então eles se levantaram e foram até a beira do rio de água que estava na fronteira sul do jardim, no qual eles se haviam lançado antes. E pararam à margem e oraram a Deus para que Ele lhes ordenasse beber da água.

3 Então a Palavra de Deus veio a Adão e disse-lhe: “Ó Adão, seu corpo agora tornou-se grosseiro e necessita de água. Tomai e bebei, tu e Eva; dai graças e louvai”.

4 Adão e Eva então se aproximaram e beberam dela, até que seus corpos sentiram-se refrescados. Após beberem, eles louvaram a Deus, e em seguida voltaram à caverna, segundo seu hábito anterior. Isto aconteceu no final de oitenta e cinco dias.

5 Então, no octogésimo sexto dia, eles tomaram de dois figos e os penduraram na caverna, junto com suas folhas, para que fossem uma marca e uma bênção de Deus. E colocaram-nos lá até que lhes surgisse uma posteridade, que veria as coisas maravilhosas que Deus lhes fizera.

6 Então Adão e Eva nova-mente puseram-se de pé fora da caverna e imploraram a Deus que lhes mostrasse algum ali-mento com o qual nutrir seus corpos.

7 Então a Palavra de Deus veio e disse: “O Adão, desce para o lado oeste da caverna, até a terra de solo escuro, que lá acharás alimento”.

8 E Adão obedeceu à Palavra de Deus, tomou Eva e desceu à terra do solo escuro, e lá encontrou trigo crescendo, espigado e maduro, e figos para comer; e Adão rejubilou-se com isto.

9 Então a Palavra de Deus veio novamente a Adão e disse-lhe: “Toma desse trigo e dele faze pão para ti, para nutrir teu corpo com ele”. E Deus deu ao coração de Adão sabedoria para trabalhar o cereal até este transformar-se em pão.

10 Adão executou tudo isso, até ficar enfraquecido e cansado. Então voltou à caverna: rejubilando-se com o que havia aprendido a fazer com o trigo, até transformá-lo em pão para consumo próprio.

Capítulo 67

1 Mas quando Adão e Eva desceram à terra da lama negra, e se aproximaram do trigo que Deus lhes mostrara e viram-no maduro e pronto para ceifar, como não havia foice para ceifá-lo, cingiram-se e puseram-se a arrancar o trigo até tudo terminar.

2 Então juntaram-no num monte; e, debilitados pelo calor e pela sede, abrigaram-se à sombra de uma árvore, onde a brisa acalentou-os até dormirem.

3 Mas Satã viu o que Adão e Eva tinham feito. E chamou suas hostes e disse-lhes: “Já que Deus mostrou a Adão e Eva tudo sobre seu trigo para fortalecer seus corpos — e, eis que eles vieram e fizeram um monte dele, e agora debilitados pela labuta estão agora adormecidos —, vinde, vamos tocar fogo neste monte de cereal e queimá-lo e tomemos esta bilha de água que está a seu lado e esvaziem- la a fim de que eles não encontrem nada para beber, e assim os mataremos de fome e sede.

4 “Então, quando eles acordaram de seu sono, e procurarem voltar à caverna, nós iremos até eles no caminho e os desviaremos; para que ele: morram de fome e sede; então talvez eles possam negar Deus e Ele os destruirá. Assim nos livraremos deles,”

5 Então Satã e suas hostes lançaram fogo sobre o trigo e o consumiram.

6 Mas, por causa do calor das chamas, Adão e Eva despertaram de seu sono e viram o trigo queimado e a bilha de água a seu lado, derramada.

7 Então eles choraram e voltaram à caverna.

8 Mas ao subirem do sopé da montanha onde estavam, Satã e suas hostes vieram ao seu encontro na forma de anjos, louvando Deus.

9 Então Satã disse a Adão: “Ó Adão, por que sofres tanto de fome e sede? Parece-me que Satã queimou o trigo”. E Adão lhe disse: “Sim”.

10 Novamente Satã disse a Adão: “Volta conosco; somos anjos de Deus. Deus nos enviou a ti para mostrar-te um outro campo de cereal melhor que esse; e além dele há uma fonte de água boa e muitas árvores, próximo de onde tu morarás e lavrarás o campo de trigo para um propósito melhor do que este que Satã consumiu”.

11 Adão pensou ser verdade, e que eram anjos esses que lhe falavam; e voltou com eles.

12 Então Satã se pôs a desencaminhar Adão e Eva durante oito dias, até que ambos caíram como mortos de fome e sede e exaustão. Então ele fugiu com suas hostes e abandonou-os.

Capítulo 68

1 Então Deus olhou para Adão e Eva e para o que lhes acontecera por causa de Satã, e como ele os fizera perecer.

2 Deus, então, enviou Sua Palavra e ergueu Adão e Eva de seu estado de morte.

3 Em seguida, Adão, depois de ressurgido, disse: “ó Deus, queimastes e nos tomastes o grão que nos destes e esvaziastes a bilha de água. E enviastes Vossos anjos, que nos desviaram do campo de trigo. Quereis fazer-nos perecer? Se isto vem de Vós, ó Deus, então tirai nossa alma; mas não nos castigueis”.

4 Então Deus disse a Adão: “Eu não queimei o trigo e não derramei a água da bilha e não enviei Meus anjos para desencaminhar-te.

5 “Mas Satã, teu senhor, é que o fez; ele, a quem tu te sujeitaste, rejeitando assim Meu mandamento. Ele foi quem queimou o trigo e derramou a água e desencaminhou-te; e todas as promessas que ele te tem feito em verdade são apenas uma ilusão, um engodo e uma mentira.

6 “Mas agora, ó Adão, deves reconhecer Minhas boas obras feitas a ti.”

7 E Deus ordenou a Seus anjos que pegassem Adão e Eva e levassem-nos ao campo de trigo, o qual encontraram como antes, com a bilha cheia de água.

8 Lá eles viram uma árvore e nela encontraram maná sólido; e os anjos ordenaram-lhes comer do maná quando estivessem famintos.

9 E Deus conjurou Satã com uma maldição, para que não mais viesse e destruísse o campo de trigo.

10 Em seguida, Adão e Eva tomaram o trigo e fizeram dele uma oferenda, pegaram-na e ofereceram-na na montanha, o lugar onde tinham feito sua primeira oferenda de sangue.

11 E ofereceram esta oblação novamente sobre o altar que haviam erguido antes. E permaneceram em pé e oraram, e suplicaram ao Senhor dizendo: O Deus, quando estávamos no jardim, nossos louvores elevavam-se a Vós assim como esta oferenda e nossa inocência elevava-se a Vós como esse incenso. Mas agora, ó Deus, aceitai de nós esta oferenda, e não nos abandoneis, privados de Vossa misericórdia”.

12 Então Deus disse a Adão e Eva: “já que fizestes esta oblação e a oferecestes a Mim, Eu a farei Minha carne quando descer à terra para vos salvar; e farei com que seja oferecida continuamente no altar, por perdão e por misericórdia, para aqueles que dela participarem devidamente”.

13 E Deus enviou um fogo reluzente sobre a oferenda de Adão e Eva e encheu-a de esplendor, graça e luz; e o Espírito Santo desceu sobre esta oblação.

14 Então Deus ordenou a um anjo que apanhasse línguas de fogo e com elas fizesse uma oferenda e a levasse para Adão e Eva. E o anjo assim o fez, como Deus lhe ordenara, e ofereceu-lhes.

15 E as almas de Adão e Eva ficaram radiantes, seus corações se encheram de alegria e contentamento e com louvores a Deus.

16 E Deus disse a Adão: “Este será um costume entre vós; fareis assim quando a aflição e a tristeza vos acometerem. Mas vossa libertação e vossa entrada no jardim não se dará até que os dias se cumpram, como o combinado entre Eu e vós; assim não fosse, Eu, por Minha misericórdia e piedade por vós, trar-vos-ia de volta ao Meu jardim, e à Minha proteção, por causa da oferenda que acabastes de fazer ao Meu nome”.

17 Adão rejubilou-se com estas palavras que ouviu de Deus; e ele e Eva O adoraram perante o altar, no qual fizeram reverências, e em seguida voltaram à Caverna dos Tesouros.

18 E isto aconteceu no fim do décimo segundo dia após o octogésimo dia, desde que Adão e Eva saíram do jardim.

19 E eles permaneceram em pé durante a noite inteira orando até o amanhecer; e então saíram da caverna.

20 Com alegria no coração, por causa da oferenda que tinham feito a Deus, e que havia sido aceita por Ele Adão disse a Eva: “Façamos isto três vezes por semana, no quarto dia, quarta-feira, no dia da preparação, sexta-feira, e no Domingo Sabático, durante todos os dias de nossa vida”.

21 E como concordassem com estas palavras entre eles, seus pensamentos agradaram Deus, assim como a resolução que tomaram juntos.

22 Após isso, veio a Palavra de Deus a Adão e disse: “O Adão, tu determinaste com antecedência os dias nos quais virão sofrimentos sobre Mim, quando Me tornar carne; pois são o quarto dia, quarta-feira, e o dia da preparação, sexta-feira.

23 “Mas, quanto ao primeiro dia, Eu criei então todas as coisas e ergui os céus. E, nova-mente, através da Minha Ressurreição neste dia, de novo criarei alegria e elevarei às alturas aqueles que acreditarem em Mim; ó Adão, oferece esta oblação todos os dias de tua vida.”

24 Então Deus retirou Sua Palavra de Adão.

25 Mas Adão continuou oferecendo esta oblação assim.

Todas as semanas, três vezes, até o final de sete semanas. E no primeiro dia, que é o qüinquagésimo, Adão fez uma oferenda como costumava, e ele e Eva pegaram-na e foram ter ao altar perante Deus, como Ele lhes ensinara.

Capítulo 69

1 Então Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, invejoso de Adão e de sua oferenda através da qual ele obtivera a graça de Deus, apressou-se e pegou uma pedra afiada dentre as pedras-ferro afiadas; apareceu na forma de um homem, foi e postou-se ao lado de Adão e Eva.

2 Adão estava com suas oferendas no altar e havia começado a orar, com suas mãos estendidas a Deus.

3 Então Satã avançou com uma pedra-ferro afiada que tinha consigo e com ela trespassou Adão do lado direito, fazendo verter sangue e água, então Adão caiu sobre o altar como um cadáver. E Satã fugiu.

4 Então Eva acorreu e pegou Adão e colocou-o debaixo do altar. E lá permaneceu, pranteando-o; enquanto um jorro de sangue escorria do lado de Adão sobre sua oferenda.

5 Mas Deus olhou para a morte de Adão. Então enviou Sua Palavra e ergueu-o e disse-lhe: “Executa tua oferenda, pois em verdade, Adão, ela é de grande valor, e nela não há erro”.

6 Deus disse mais a Adão: “Assim também acontecerá a Mim, na terra, quando Eu for trespassado, e sangue e água escorrerão do Meu lado e escorrerão sobre Meu corpo, que é a verdadeira oferenda; e que será oferecido no altar como uma oferenda perfeita”.

7 Então Deus ordenou que Adão terminasse sua oferenda, e quando ele acabou, adorou a Deus e louvou-O pelos sinais que lhe mostrara.

8 E Deus curou Adão em um dia, que é o final das sete semanas; e que é o qüinquagésimo dia.

9 Então Adão e Eva voltaram da montanha e entraram na Caverna dos Tesouros, como costumavam. Com isto completaram-se para Adão e Eva, cento e quarenta dias desde sua saída do jardim.

10 Em seguida ambos permaneceram em pé aquela noite e oraram a Deus. E, quando amanheceu, saíram e desceram-na direção oeste da caverna, ao lugar onde estava seu trigo, e aí repousaram à sombra de uma árvore, pois o necessitavam.

11 Mas, uma vez ali, um bando de animais selvagens cercou-os. Era obra de Satã, em sua maldade; para fazer guerra contra Adão através do casamento.

Capítulo 70

1 Após isto, Satã, aquele que odeia tudo o que é bom, tomou a forma de um anjo, e com ele dois outros, de maneira que pareciam os três anjos que trouxeram a Adão o ouro, o incenso e a mirra.

2 Passaram diante de Adão e Eva, enquanto eles estavam sob a árvore, e cumprimentaram Adão e Eva com belas palavras cheias de engodo.

3 Mas, quando Adão e Eva viram seu porte agradável e ouviram sua doce fala, Adão ergueu-se e recebeu-os e trouxe-os até Eva, e eles permaneceram todos juntos; o coração de Adão estava alegre enquanto isso porque pensava serem os mesmos anjos que lhe haviam trazido o ouro, o incenso e a mirra.

4 Porque, quando estes vieram a Adão da primeira vez, deles veio-lhe paz e alegria, por lhe haverem trazido bons presentes; assim Adão pensou que estavam ali uma segunda vez para lhe dar outros presente com que se alegrar. Pois não sabia que era Satã, portanto o recebeu com alegria e fez-lhe companhia.

5 Então Satã, o mais alto dentre eles, disse: “Rejubila-te ó Adão, e contenta-te. Vê, Deus nos mandou a ti para te dizer mos algo”.

6 E Adão disse: “Que é” Então Satã respondeu: “É ume coisa leve, ainda que seja uma palavra de Deus, ouvi-la-ás de nós e fa-la-ás. Mas, se não ou vires, voltaremos a Deus e lhe diremos que tu não quiseste receber Sua palavra”.

7 E Satã disse novamente a Adão: “Não te amedrontes nem te permitas que o tremor cai sobre ti; não nos conheces”?

8 Mas Adão disse: “Eu não vos conheço”.

9 Então Satã disse-lhe: “Eu sou o anjo que te trouxe o ouro e te levou à caverna; este outro é quem te trouxe o incenso; aquele terceiro é quem te trouxe a mirra quando tu estava no topo da montanha, e quem te carregou à caverna.

10 “Mas, quanto aos outros anjos, nossos companheiros que vos transportaram para caverna, Deus não os enviou conosco desta vez; pois Ele me disse: Vós sois suficiente.

11 Assim, quando Adão ouviu essas palavras, acreditou neles, e disse a esses anjo: “Falai a palavra de Deus, para que eu possa recebê-la”.

12 E Satã lhe disse: “Jura e promete-me que tu a receberás”.

13 Adão então disse: “Eu não sei como jurar e prometer”.

14 E Satã lhe disse: “Estende tua mão e coloca-a entre as minhas.”

15 Então Adão estendeu sua mão e colocou-a entre as mãos de Satã; quando Satã lhe disse: “Diz e, agora: Tão verdade como Deus é vivo, racional e fala, e ergueu os céus no espaço, e firmou a terra sobre as águas, e criou-me dos quatro elementos e do pó da terra, eu não quebrarei minha promessa nem renunciarei à minha palavra”‘.

16 E Adão assim jurou.

17 Em seguida Satã lhe disse: “Vê, já é passado agora algum tempo desde que tu saíste do jardim, e tu não conhecias nem a maldade nem o mal. Mas agora Deus te diz que tomes Eva, que saiu de teu lado, e te unas a ela em matrimônio, para que ela te dê filhos para te consolar e afastar de ti o sofrimento e a tristeza; agora isto não é difícil nem há nisto nenhuma vergonha para ti”.

Capítulo 71

1 Mas, ao ouvir essas palavras de Satã, Adão muito se entristeceu por causa de seu juramento e sua promessa e disse: “Hei de cometer adultério com minha carne e meus ossos e pecar contra mim mesmo, para que Deus me destrua e me elimine da face da terra?

2 “Considerando que antes, quando eu comi da árvore, Ele me expulsou do jardim para esta terra estranha e privou-mede minha natureza luminosa e trouxe a morte sobre mim. Se, então, eu fizer isto, Ele arrebatará minha vida da terra e lançar-me-á ao inferno, e castigar-me-á ali por longo tempo.

3 “Mas Deus nunca pronunciou as palavras que tu me disseste; e vós não sois anjos de Deus, nem ainda enviados dEle. Mas sois demônios, vindos a mim sob a falsa aparência de anjos. Afastai-vos de mim; vós, amaldiçoados por Deus!”

4 Então aqueles demônios fugiram da presença de Adão. E ele e Eva ergueram-se e retomaram à Caverna dos Tesouros, e nela entraram.

5 Em seguida Adão disse a Eva: “Se tu viste o que eu vi, não o dize; pois eu pequei contra Deus jurando pelo Seu grandioso nome, e coloquei minha mão mais uma vez lia de Satã.” Eva, então, conteve-se como Adão lhe havia dito.

6 Então Adão ergueu-se e estendeu suas mãos a Deus, implorando e pedindo-Lhe, em lágrimas, que lhe perdoasse o que houvera feito. E Adão permaneceu assim em pé e orando por quarenta dias e quarenta noites. Nem comeu nem bebeu até cair sobre o solo de fome e sede.

7 Então Deus enviou Sua Palavra a Adão, ergueu-o de onde jazia e disse-lhe: “O Adão, por que juraste em Meu nome, e por que fizeste um acordo com Satã mais uma vez?”.

8 Mas Adão chorou e disse: “ó Deus, perdoai-me, pois eu o fiz sem saber; acreditando que fossem anjos de Deus”.

9 E Deus perdoou Adão dizendo-lhe: “Cuidado com Satã”.

10 E Ele retirou Sua Palavra de Adão.

11 Então o coração de Adão consolou-se; e tomou Eva e saíram da caverna para preparar o alimento para seus corpos.

12 Mas a partir daquele dia Adão lutou em seus pensamentos sobre seu casamento com Eva; temeroso de fazê-lo, com receio de que Deus ficasse irado com ele.

13 Então Adão e Eva foram até o rio de água e sentaram-se à sua margem, como pessoas costumam fazer quando se divertem.

14 Mas Satã invejava-os; e queria destruí-los.

Capítulo 72

1 Então Satã, e dez dentre os de suas hostes, transformaram-se em donzelas, incomparáveis em graça a quaisquer outras no mundo inteiro.

2 Surgiram do rio na presença de Adão e Eva e disseram entre si: “Vinde, olharemos para os semblantes de Adão e Eva, que pertencem aos homens da terra. Quão belos são eles, e quão diferentes da nossa é a sua aparência”. Em seguida vieram a Adão e Eva e saudaram-nos; e ficaram parados a admirá-los.

3 Adão e Eva olharam para eles também e admiraram-se de sua beleza, e disseram: “Há então, abaixo de nós, um outro mundo com tão belas criatura como estas”?

4 E aquelas donzelas disseram a Adão e Eva: “Sim, certamente, somos uma criação numerosa”.

5 Então Adão lhes disse: “Mas como vós vos multiplicais?

6 E elas lhe responderam: “Nós temos maridos que se uniram a nós em casamento, e nos lhes parimos filhos, que crescem, e que por sua vez casam-se e são dados em casamento e também geram filhos; e assim aumentamos em número. E se tu, ó Adão, não quiseres acreditar em nós, mostrar-te-emos nossos maridos e nossos filhos.

7 Então elas gritaram por cima do rio como se estivesse chamando seus maridos e seus filhos, que saíram do rio, homens e crianças; e cada um veio até sua esposa, seus filhos com ele.

8 Mas quando Adão e Eva os viram, ficaram estarrecido e admiraram-nos.

9 Então eles disseram Adão e Eva: “Vede nossos maridos e nossos filhos; uni-vos e casamento, como nós nos unimos a nossas esposas, e tereis filhos como nós”, Isto era um ardil de Satã para enganar Adão.

10 Satã também pensou consigo mesmo: “Deus primeiro deu um mandamento a Adão concernente ao fruto árvore, dizendo-lhe: Não comas dele; senão de morte morrerás, Mas Adão comeu e ainda assim Deus não o matou: Ele apenas decretou morte, castigos e provações, até o dia em que abandonar seu corpo.

11 “Agora, então, se eu o enganar levando-o a fazer isto, e unir-se a Eva em casamento sem a ordem de Deus, Deus então o matará.”

12 Foi por isso que Satã operou esta aparição perante Adão e Eva; porque procurava matá-lo e fazê-lo desaparecer da face da terra.

13 Entrementes, o fogo do pecado apossou-se de Adão e ele pensou em cometer pecado. Mas conteve-se, receando que, se seguisse este conselho de Satã, Deus o mataria.

14 Então Adão e Eva ergueram-se e oraram a Deus, enquanto Satã e suas hostes desceram para dentro do rio, na presença de Adão e Eva; para que eles vissem que estavam voltando para suas próprias regiões.

15 Então Adão e Eva voltaram para a Caverna dos Tesouros, como necessitavam; por volta do anoitecer.

16 E ambos ergueram-se e oraram a Deus aquela noite. Adão permaneceu em pé, orando, ainda que não sabendo como orar, por .causa dos pensamentos de seu coração em relação ao seu casamento com Eva; e assim continuou até a manhã.

17 E quando a luz surgiu, Adão disse a Eva: “Ergue-te, vamos até o sopé da montanha, onde eles nos trouxeram o ouro, e perguntemos ao Senhor a respeito desse assunto”.

18 Então Eva disse: “Qual é esse assunto, O Adão?”

19 E ele lhe respondeu: “Que eu possa pedir ao Senhor que me informe sobre eu me unir a ti em casamento; pois não farei sem Sua ordem, com receio de que Ele nos faça perecer, a ti e a mim. Pois aqueles demônios fizeram meu coração arder com pensamentos do que eles nos mostraram, em suas visões pecaminosas”.

20 Então Eva disse a Adão: “Por que precisamos ir até o sopé da montanha? E melhor erguermo-nos e orarmos a Deus na nossa caverna, para que saibamos se este conselho é bom ou não.

21 Então Adão ergueu-se em oração e disse: “ah Deus, sabeis que Vos desobedecemos, e a partir do momento em que desobedecemos, fomos destituídos de nossa natureza luminosa; e nosso corpo tornou-se grosseiro, necessitando de alimento e água; e com desejos animalescos.

22 “Ordenai-nos, ó Deus, para que não lhes cedamos sem Vossa ordem, para que Vós não nos extingais. Pois se Vós não nos derdes a ordem, seremos dominados e seguiremos o conselho de Satã, e Vós novamente nos farei perecer.

23 “Caso contrário, então tomai nossas almas, a minha e a de Eva; deixai-nos livres desta luxúria animal. E se Vós não nos derdes ordem nenhuma a respeito disto, então separai Eva de mim e a mim dela; e colocai-nos longe um do outro.

24 “Ainda mais, ó Deus, quando nos afastardes um do outro, os demônios nos enganarão com suas visões e destruirão nosso coração e deturparão nossos pensamentos de um em relação ao outro. Ainda se não for cada uma de nós em relação ao outro, em todo caso, acontecerá através de sua aparência quando eles se nos aparecerem.” Aqui Adão terminou sua oração.

Capítulo 73

1 Então Deus atentou para as palavras de Adão e viu que eram verdadeiras, e que ele podia aguardar por longo tempo Sua ordem, a respeito do conselho de Satã.

2 E Deus aprovou Adão nas suas considerações e na oração que ele oferecera em Sua presença; e a Palavra de Deus veio a Adão e disse-lhe: “O Adão, se ao menos tu tivesses tido este cuidado antes de sair do jardim para esta terra”!

3 Após isto, Deus enviou Seu anjo que havia trazido incenso e o anjo que tinha trazido mirra a Adão, para que o informassem a respeito de sua união com Eva.

4 Então aqueles anjos disseram a Adão: “Pega o ouro e dá-o a Eva como um presente de casamento e contrata o casamento com ela, então dá-lhe um pouco de incenso e mirra de presente; e então sede vós, tu e ela, uma só carne”.

5 Adão obedeceu aos anjos e pegou o ouro e colocou-o no peito de Eva, em sua vestimenta; e pediu-lhe sua mão.

6 Então os anjos ordenaram a Adão e Eva que se erguessem e orassem por quarenta dias e quarenta noites; e, após isso, que Adão viesse ter com sua esposa; pois então isto seria um ato puro e não deturpado; e eles teriam filhos que se multiplicariam e povoariam a face da terra.

7 Então ambos, Adão e Eva receberam as palavras dos anjos, e os anjos retiraram-se.

8 Então Adão e Eva começaram a jejuar e orar, até o findar dos quarenta dias; e então uniram-se, como os anjos lhes haviam dito. E desde o tempo em que Adão deixara o jardim até o seu casamento com Eva se haviam passado duzentos e vinte e três dias, que são sete meses e treze dias.

9 Assim Satã em sua guerra contra Adão foi vencido.

Capítulo 74

1 E eles moraram na terra trabalhando para manter bem-estar de seus corpos; assim estiveram até terminarem os nove meses da gravidez de Eva, e aproximara-se o tempo em que ela deveria dar à luz.

2 Então ela disse a Adão “Esta caverna é um lugar sagrado por causa das marcas nela depositadas desde que deixamos o jardim; e novamente oraremos aqui. Não convém, portanto, que eu dê à luz aqui; é melhor recorrermos ao abrigo da rocha que, Satã arremessou sobre nós quando nos quis matar com isto mas que foi sustentada e estendida como uma tenda sobre nós por ordem de Deus, formando uma caverna”.

3 Então Adão removeu Eva para aquela caverna; e quando chegou a hora em que ela daria à luz, ela labutou muito. Assim Adão penalizou-se, e seu coração sofreu por sua causa; pois ela estava próxima da morte; para que palavra de Deus a ela fosse cumprida: “Em sofrimento tu darás à luz teu filho”.

4 Mas quando Adão viu a aflição na qual Eva estava, ergueu-se e orou a Deus, e disse: “ah Senhor, olhai para mim com ó olho de Vossa misericórdia, e tirai-a de sua aflição”.

5 E Deus olhou para Sua serva Eva e libertou-a, e ela deu à luz seu primogênito e com ele uma filha.

6 Então Adão alegrou-se com o parto de Eva e também com os filhos que ela lhe tinha dado. E Adão cuidou de Eva na caverna, até o fim de oito dias, quando eles chamaram ao filho Caim e à filha Luluva.

7 O significado de Caim é “aquele que odeia”, porque ele odiou sua irmã no ventre de sua mãe; antes de eles saírem deste. Por isso Adão o chamou Caim.

8 Mas Luluva significa bela, porque era mais bela que sua mãe.

9 Então Adão e Eva esperaram até que Caim e sua irmã tivessem quarenta dias de vida, quando Adão disse a Eva: “Faremos uma oferenda e a oferecemos pelas crianças”.

10 E Eva disse: “Faremos uma oferenda pelo primogênito; e depois faremos uma pela filha”.

Capítulo 75

1 Então Adão preparou uma oferenda, e ele e Eva ofereceram-na por seus filhos e trouxeram-na ao altar que haviam construído antes.

2 E Adão fez o oferecimento e suplicou a Deus que aceitasse sua oferenda.

3 Então Deus aceitou a oferenda de Adão e enviou uma luz do céu que brilhou sobre a oferenda. E Adão e o filho aproximaram-se da oferenda, mas Eva e a filha mantiveram-se afastadas.

4 Então Adão desceu do altar e eles se alegraram; e Adão e Eva esperaram até que a filha estivesse com oitenta dias de idade; então Adão preparou uma oferenda e a levou a Eva e às crianças; e eles foram ao altar, onde Adão a ofereceu, como precisava, pedindo ao Senhor que aceitasse sua oferenda.

5 E o Senhor aceitou a oferenda de Adão e Eva. Em seguida Adão, Eva e as crianças reuniram-se e desceram da montanha, rejubilando-se.

6 Mas eles não voltaram à caverna na qual nasceram; e sim foram à Caverna dos Tesouros, para que as crianças andassem por ela e fossem abençoadas pelas lembranças trazidas do jardim.

7 Mas após terem sido abençoadas com estas lembranças, elas voltaram à caverna na qual nasceram.

8 Entretanto, antes que Eva oferecesse a oferenda, Adão a levara e fora com ela ao rio de água no qual eles tinham se lançado antes; e ali eles se lavaram. Adão lavou seu corpo e Eva o seu, até se limparem, depois do sofrimento e aflição que haviam passado.

9 Mas Adão e Eva, depois de se lavarem no rio de água, retomavam todas as noites à Caverna dos Tesouros, onde oravam e eram abençoados; e então voltaram à sua caverna, onde os filhos nasceram.

10 Assim fizeram Adão e Eva até os filhos desmamarem. Então, quando eles estavam desmamados, Adão fez uma oferenda pelas almas dos filhos; além das três vezes, ele fazia uma oferenda por eles todas as semanas.

11 Quando os dias de amamentação dos filhos terminaram, Eva novamente concebeu, e ao completar seus dias ela deu à luz mais um filho e filha; e eles chamaram ao filho Abel e à filha, Aclia.

12 Então, ao final de quarenta dias, Adão fez uma oferenda pelo filho, e no final de oitenta dias ele fez mais uma oferenda pela filha e fez por eles como tinha feito antes por Caim e Luluva.

13 Ele os trouxe à Caverna dos Tesouros onde receberam uma bênção, e então voltaram a caverna onde nasceram. Depois do nascimento destes, Eva parou de engravidar.

Capítulo 76

1 E as crianças começaram a robustecer e a crescer em altura; mas Caim tinha o coração duro e mandava em seu irmão mais novo.

2 E muitas vezes quando seu pai fazia uma oferenda, ele ficava para trás e não se juntava para oferecer.

3 Mas, quanto a Abel, este tinha um coração manso, e era obediente a seu pai e sua mãe aos quais freqüentemente induzia a fazer uma oferenda, por que gostava disso; e orava e jejuava bastante.

4 Então veio este sinal a Abel. Ao chegar à Caverna de Tesouros, e ver os bastões de ouro, o incenso e a mirra, ele perguntou a seus pais Adão e Eva a respeito deles, e disse-lhe “Como é que vós os recebestes.

5 Então Adão contou-lhe tudo o que lhes havia acontecido. E Abel sensibilizou-se com o que seu pai lhe contara.

6 Mais tarde seu pai, Adão contou-lhe das obras de Deus e do jardim; e depois disso ele permaneceu atrás de seu pai naquela noite inteira na Caverna dos Tesouros.

7 E naquela noite, enquanto estava orando, Satã apareceu-lhe na figura de um homem, que lhe disse: “Tu muita vezes induziste teu pai para que fizesse uma oferenda, que jejuasse e orasse, por isso eu matarei e te farei desaparecer deste mundo”.

8 Mas, quanto a Abel, ele orou a Deus e expulsou Satã de perto de si; e não acreditou nas palavras do demônio. Então, quando raiou o dia, um anjo de Deus apareceu-lhe e lhe disse: “Não diminuas nem o jejum, nem a oração, nem os oferecimentos de oblações a teu Deus. Pois, vê, o Senhor aceitou tua oração. Não tenhas medo da figura que apareceu a ti à noite e te ameaçou de morte.” E o anjo o deixou.

9 Então, quando era dia, Abel foi ter com Adão e Eva e contou-lhes a visão que tivera. Mas, ao ouvirem-no, lamentaram-se muito com isto, ainda assim não lhe disseram nada sobre isto; apenas o consolaram.

10 Mas, quanto ao cruel Caim, Satã veio-lhe à noite, mostrou-se e disse-lhe: “Já que Adão e Eva amam teu irmão Abel muito mais que amam a ti, e desejam uni-lo em matrimônio com tua bela irmã, porque eles o amam; mas desejam unir-te em matrimônio com tua desfavorecida irmã, porque eles te odeiam.

11 “Agora, portanto, eu te aconselho, quando eles o fizerem, que mates teu irmão; então tua irmã sobrará para ti; e a irmã dele será posta de lado.”

12 E Satã deixou-o. Mas o malvado permaneceu no coração de Caim, que procurou mais de uma vez matar seu irmão.

Capítulo 77

1 Mas quando Adão viu que o irmão mais velho odiava o mais novo, procurou abrandar seu coração e disse a Caim:

“Toma, ó meu filho, dos frutos de tua plantação, e faze uma oferenda a Deus para que Ele possa te perdoar tua maldade e teu pecado”.

2 Ele também disse a Abel: “Toma tu da tua plantação e faze uma oferenda e traze-a a Deus, para que Ele te possa perdoar tua maldade e teu pecado”.

3 Então Abel obedeceu à voz de seu pai e tomou de sua plantação, fez uma boa oferenda e disse a seu pai Adão: “Vem comigo para mostrar-me como oferecer”.

4 E eles foram, Adão e Eva com ele, e mostraram-lhe como oferecer seu presente no altar. Então, após isso, permaneceram em pé e oraram para que Deus aceitasse a oferenda de Abel.

5 Então Deus olhou para Abel e aceitou sua oferenda. E a Deus agradou mais Abel que sua oferenda, por causa de seu bom coração e corpo puro. Não havia vestígio de falsidade nele.

6 Em seguida eles desceram do altar e foram para a caverna onde moravam. Mas Abel, por causa de sua alegria por ter feito sua oferenda, repetia-a três vezes por semana, seguindo o exemplo de seu pai Adão.

7 Mas, quanto a Caim, ele não sentiu prazer no fazer oferendas; mas depois de muito empenho de seu pai, ofereceu seu presente uma vez; e quando ofereceu, seu olhar estava na oferenda que fez, e pegou a menor de suas ovelhas para ofertá-la, e seu olhar estava novamente sobre ela.

8 Por isso Deus não aceitou sua oferenda, porque seu coração estava cheio de pensa-mentos assassinos.

9 E assim todos viveram juntos na caverna onde Eva tinha dado à luz, até Caim completar quinze anos e Abel, doze.

Capítulo 78

1 Então Adão disse a Eva: “Vê, os filhos estão adultos; devemos pensar em achar esposas para eles”.

2 Então Eva respondeu: “Como poderemos fazê-lo”?

3 Então Adão disse-lhe: “Uniremos em matrimônio a irmã de Abel com Caim e a irmã de Caim com Abel”.

4 Então disse Eva a Adão: “Eu não gosto de Caim porque ele é cruel, mas deixa-os estar até que ofereçamos ao Senhor por eles”.

5 E Adão não disse mais nada.

6 Entrementes, Satã veio a Caim na figura de um homem do campo e disse-lhe: “Vê, Adão e Eva aconselharam-se sobre o casamento de vós dois; e eles concordaram em casar a irmã de Abel contigo e tua irmã com ele.

7 “Mas se não fosse por meu amor a ti, eu não te contaria isto. Ainda assim se tu seguires meu conselho, e me obedeceres, eu te trarei no dia de teu casamento belas vestes, ouro e prata em profusão, e meus parentes te servirão,”

8 Então Caim disse com alegria: “Onde estão teus parentes”?

9 E Satã respondeu: “Meu parentes estão num jardim ao norte, para onde eu pretendia levar teu pai Adão; mas ele não quis aceitar minha oferta.

10 “Mas tu, se aceitares minhas palavras e se vieres a mim após teu casamento, repousarás da miséria na qual estás; e repousarás e estarás em melhores condições que teu pai Adão.”

11 Com estas palavras de Satã Caim abriu seus ouvidos e inclinou-se para sua fala.

12 E ele não permaneceu no campo, mas foi a Eva, sua mãe, e bateu nela e amaldiçoou-a e disse-lhe: “Por que, pretendeis tomar minha irmã uni-la em matrimônio com meu irmão? Acaso estarei morto’?

13 Sua mãe, entretanto acalmou-o, e enviou-o ao campo onde estivera.

14 Então, quando Adão chegou, ela contou-lhe o que Caim fizera.

15 Mas Adão lamentou-se conteve-se e não disse palavra.

16 Então, pela manhã Adão disse a Caim seu filho “Escolhe de teu rebanho os jovens e bons e oferece-os a teu Deus; e eu falarei a teu irmã para que faça a seu Deus um oferenda de grãos”.

17 Ambos obedeceram seu pai Adão e pegaram sus oferendas e ofereceram-nas na montanha do altar.

18 Mas Caim comportou arrogantemente com seu irmão e empurrou-o do altar e não queria permitir-lhe que oferecesse seu presente no altar, mas oferecer o seu, com um coração orgulhoso, cheio de falsidade e fraude.

19 Mas, quanto a Abel, este juntou pedras que estavam à mão e sobre elas ofereceu seu presente com um coração humilde e livre de falsidade.

20 Caim estava então em pé ao lado do altar no qual oferecera seu presente; e clamou a Deus que aceitasse sua oferenda; mas Deus não a aceitou dele; nem desceu um fogo divino para consumir sua oferenda.

21 Mas ele permaneceu em pé reclinado sobre o altar, olhando com menosprezo e riso em direção de seu irmão Abel, para ver se Deus aceitaria sua oferenda ou não.

22 E Abel orou a Deus para que aceitasse sua oferenda. Então um fogo divino desceu e consumiu sua oferenda. E Deus sentiu o doce aroma de sua oferenda, porque Abel O amava e rejubilava-se nEle.

23 E porque Deus estava bem contente com ele, enviou seu anjo de luz na figura de homem que tinha participado de sua oferenda, porque Ele sentira o doce aroma de sua oferenda, e consolou Abel e fortaleceu seu coração.

24 Mas Caim, vendo tudo isto que aconteceu com a oferenda de seu irmão, encolerizou-se por causa disso.

25 Então abriu sua boca e blasfemou contra Deus, porque Ele não aceitara sua oferenda.

26 Mas Deus disse a Caim: “Por que estás de aparência triste? Se justo para que Eu possa aceitar tua oferenda. Não é contra Mim que murmuras, mas contra ti mesmo”.

27 E Deus disse isto a Caim em resposta, e porque Ele o abominou e à sua oferenda.

28 E Cairo desceu do altar com cor mudada e o semblante angustiado, e foi ter com seu pai e sua mãe e contou-lhes tudo o que lhe havia sucedido. E Adão lamentou-se muito que Deus não aceitara a oferenda de Caim.

29 Mas Abel desceu rejubilaste e com o coração cheio de alegria, contou a seu pai e sua mãe como Deus havia aceitado sua oferenda. E eles alegraram-se com isto e beijaram sua face.

30 E Abel disse a seu pai: “Porque Caim empurrou-me do altar e não quis deixar-me oferecer meu presente sobre ele, eu fiz uma altar para mim e ofereci meu presente sobre ele”.

31 Mas, ao ouvir isto, Adão ficou muito penalizado, porque era o altar que ele construíra primeiro, e no qual havia oferecido seus próprios presentes.

32 Quanto a Caim, ele estava tão mal-humorado e tão irado que foi ao campo; ali, Satã veio até ele e disse-lhe: “Uma vez que teu irmão Abel refugiou-se junto a teu pai Adão, porque tu o empurraste do altar, eles beijaram sua face e alegraram-se com ele, muito mais do que contigo”.

33 Quando Caim ouviu estas palavras de Satã, encheu-se de fúria; não permitiu que ninguém o soubesse. Mas estava na espreita para matar seu irmão, até que o trouxe à caverna, e então lhe disse:

34 “O irmão, o campo está tão belo, e há nele tão belas e agradáveis árvores e fascinantes de se olhar! Mas irmão, tu nunca estiveste um dia sequer no campo para te divertires lá.

35 “Hoje, ó meu irmão, desejo muito que venhas comigo para o campo, para te divertires e para abençoares nossos campos e nossos rebanhos, pois tu és justo, e eu te amo muito, ó meu irmão! Mas tu te afastaste de mim.”

36 Então Abel consentiu em ir ao campo com seu irmão Caim.

37 Mas, antes de ir, Caim disse a Abel: “Espera por mim, até que eu busque uma vara, por causa dos animais selvagens”.

38 Então Abel parou à espera, em sua inocência. Mas Caim, o zeloso, buscou uma vara e saiu.

39 E eles puseram-se, Caim e seu irmão Abel, a andar pelo caminho; Caim falando com ele e confortando-o, para fazê-lo esquecer tudo.

Capítulo 79

1 E assim eles continuaram até chegarem a um lugar ermo, onde não havia ovelhas; então Abel disse a Caim: “Vê, meu irmão, estamos exaustos de andar, pois não vemos nenhuma árvore, nem fruta, nem vegetação, nem ovelhas, nenhuma das coisas sobre as quais me contaste. Onde estão aquelas tuas ovelhas que disseste para abençoar”?

2 Então Caim disse-lhe: “Continua, e logo verás muitas coisas belas, mas vai na minha frente, até que eu te alcance”.

3 Então Abel foi adiante mas Caim permaneceu para trás.

4 Abel caminhava em sus inocência, sem falsidade; não acreditando que seu irmão mataria.

5 Então Caim, quando alcançou, consolou-o com sua conversa, andando um pouco atrás dele; então apressou passo e golpeou-o com a vara golpe após golpe, até ele fica sem sentidos.

6 Mas, quando Abel caiu a chão, vendo que seu irmão pretendia matá-lo, disse a Caim. “O meu irmão, tem piedade de mim. Pelos seios que sugamos, não me golpeies! Pelo ventre que nos carregou e nos trouxe a mundo, não me golpeies até morte com esta vara! Se queres me matar, pega uma dessa pedras grandes, e mata-me de vez”.

7 Então Caim, o cruel, assassino sem coração, pegou uma grande pedra e golpeou com ela a cabeça de seu irmão até que seus miolos esvaziaram se para fora e ele encharcou-se em seu sangue, diante dele.

8 E Caim não se arrependeu do que fizera.

9 Mas a terra, quando sangue do justo Abel caiu sobre ela, tremeu, ao beber se sangue, e queria eliminar Caim por isso.

10 E o sangue de Abel clamou misteriosamente a Deus, para que o vingasse de seu assassino.

11 Então Caim começou imediatamente a cavar a terra onde jazia seu irmão; pois estava tremendo por causa do medo que o acometeu, quando viu a terra tremer por sua causa.

12 Então lançou seu irmão na cova que fizera e cobriu-o com pó. Mas a terra recusava-se a recebê-lo; e expeliu-o imediatamente.

13 Novamente Caim cavou a terra e escondeu nela seu irmão; mas novamente a terra o lançou fora; por três vezes a terra assim lançou fora o corpo de Abel.

14 A terra lamacenta lançou-o fora da primeira vez porque ele não era a primeira criação; e lançou-o fora da segunda vez e não queria recebê-lo porque ele era justo e bom, e foi morto sem uma causa; e a terra lançou-o fora da terceira vez e não queria recebê-lo para que permanecesse perante seu irmão em testemunho contra ele.

15 E assim a terra zombou de Caim, até que a Palavra de Deus veio-lhe acerca de seu ir-mão.

16 Então Deus ficou irado e muito desgostoso com a morte de Abel; e Ele trovejou do céu e lançou relâmpagos diante de Si, e a Palavra do Senhor Deus veio do céu a Caim, e disse-lhe: “Onde está Abel teu irmão”?

17 Então Caim respondeu com o coração orgulhoso e a voz áspera: “Como, ó Deus? Acaso sou o guardião de meu irmão”?

18 Então Deus disse a Caim: “Amaldiçoada a terra que bebeu o sangue de Abel teu irmão; e tu, tu permaneces tremendo e sacudindo-te; isto será um sinal sobre ti, para seres morto por quem te encontrar”.

19 Mas Caim chorou porque Deus lhe dissera aquelas palavras; e Caim Lhe disse: “O Deus, quem me encontrar, matar-me-á; e serei eliminado da face da terra”.

20 Então Deus disse a Caim: “Quem te encontrar não te matará”. Porque, antes disso, Deus havia dito a Caim: “Eu determinarei sete castigos para aquele que matar Caim”. Pois quanto à palavra de Deus a Caim: “Onde está teu irmão”? Deus o disse de misericórdia por ele, tentando fazê-lo arrepender-se.

21 Pois se Caim se tivesse arrependido naquela ocasião, e tivesse dito: “ó Deus, perdoai-me meu pecado, e o assassínio de meu irmão”, Deus então lhe teria perdoado seu pecado.

22 E quanto a Deus dizendo a Caim: “Amaldiçoado seja o solo que bebeu o sangue de teu irmão”, isto também era a misericórdia de Deus para com Caim. Pois Deus não o amaldiçoara, mas amaldiçoou o solo; embora não fosse o solo que matara Abel e cometera iniqüidade.

23 Pois convinha que a maldição caísse sobre o assassino; ainda assim, por misericórdia, Deus ordenou Seus pensamentos de maneira que ninguém o soubesse, e rejeitasse Caim.

24 E Ele lhe disse: “Onde está teu irmão”? Para o que ele respondeu e disse: “Eu não sei”. Então o Criador lhe disse: “Fica tremendo e sacudindo-te”.

25 Então Caim tremeu e ficou aterrorizado; e por este sinal Deus fez dele exemplo perante toda a criação, como o assassino de seu irmão. Também Deus trouxe tremor e terror sobre ele, para que ele pudesse ver a paz na qual estava antes, e ver também o tremor e o terror que suportava depois; a fim de que pudesse humilhar-se perante Deus, e arrepender-se de seu pecado e buscar a paz que desfrutara antes.

26 E na Palavra de Deu que dizia: “Eu determinarei sete castigos para quem matar Caim”, Deus não estava procurando matar Caim pela espada mas Ele procurava, por ordem severa, fazê-lo morrer de jejum e oração e lamento, até a hora em que fosse libertado de se pecado.

27 E os sete castigos são as sete gerações que Deus deixou reservadas para Caim pelo assassínio de seu irmão.

28 Mas, quanto a Caim desde que matara seu irmão não conseguia achar nenhum repouso em lugar algum; mais voltou a Adão e Eva, tremendo aterrorizado e manchado pelo sangue…Fim

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Apócrifos – Relação dos Evangelhos Apócrifos

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Antigo Testamento

Apocalipse de Adão

Apocalipse de Baruc

Apocalipse de Moisés

Apocalipse de Sidrac

As Três Estelas de Seth

Ascensão de Isaías

Assunção de Moisés

Caverna dos Tesouros

Epístola de Aristéas

Livro dos Jubileus

Martírio de Isaías

Oráculos Sibilinos

Prece de Manassés

Primeiro Livro de Adão e Eva

Primeiro Livro de Enoque

Primeiro Livro de Esdras

Quarto Livro dos Macabeus

Revelação de Esdras

Salmo 151

Salmos de Salomão (ou Odes de Salomão)

Segundo Livro de Adão e Eva

Segundo Livro de Enoque (ou Livro dos Segredos de Enoque)

Segundo Livro de Esdras (ou Quarto Livro de Esdras)

Segundo Tratado do Grande Seth

Terceiro Livro dos Macabeus

Testamento de Abraão

Testamento dos Doze Patriarcas

Vida de Adão e Eva

Novo Testamento

A Hipostase dos Arcontes

(Ágrafos Extra-Evangelhos)

(Ágrafos de Origens Diversas)

Apocalipse da Virgem

Apocalipse de João o Teólogo

Apocalipse de Paulo

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Atos de André

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Atos de Pedro

Atos de Pedro e André

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Correspondência entre Paulo e Sêneca

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Ensinamentos do Apóstolo Tadeu

Ensinamentos dos Apóstolos

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Epístola de Jesus ao rei Abgaro (2 versões)

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Epístola de Pôncio Pilatos a Herodes

Epístola de Pôncio Pilatos ao Imperador

Epístola de Tibério a Pôncio Pilatos

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Martírio de André

Martírio de Bartolomeu

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A Sedutora (4Q184)

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Bênção de Jacó (4QPBl)

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Cânticos do Sábio (4Q510-4Q511)

Cânticos para o Holocausto do Sábado (4Q400-4Q407/11Q5-11Q6)

Comentários sobre a Lei (4Q159/4Q513-4Q514)

Comentários sobre Habacuc (1QpHab)

Comentários sobre Isaías (4Q161-4Q164)

Comentários sobre Miquéias (1Q14)

Comentários sobre Naum (4Q169)

Comentários sobre Oséias (4Q166-4Q167)

Comentários sobre Salmos (4Q171/4Q173)

Consolações (4Q176)

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Escritos do Pseudo-Daniel (4QpsDan/4Q246)

Exortação para Busca da Sabedoria (4Q185)

Gênese Apócrifo (1QapGen)

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Horóscopos (4Q186/4QMessAr)

Lamentações (4Q179/4Q501)

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Melquisedec, o Príncipe Celeste (11QMelq)

O Triunfo da Retidão (1Q27)

Oração Litúrgica (1Q34/1Q34bis)

Orações Diárias (4Q503)

Orações para as Festividades (4Q507-4Q509)

Os Iníqüos e os Santos (4Q181)

Os Últimos Dias (4Q174)

Palavras das Luzes Celestes (4Q504)

Palavras de Moisés (1Q22)

Pergaminho de Cobre (3Q15)

Pergaminho do Templo (11QT)

Prece de Nabonidus (4QprNab)

Preceito da Guerra (1QM/4QM)

Preceito de Damasco (CD)

Preceito do Messianismo (1QSa)

Regra da Comunidade (1QS)

Rito de Purificação (4Q512)

Salmos Apócrifos (11QPsa)

Samuel Apócrifo (4Q160)

Testamento de Amran (4QAm)

Outros Escritos

História do Sábio Ahicar

Livro do Pseudo-Filon

 

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Apócrifos – Decreto Gelasiano sobre os livros recebidos e os não recebidos

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(Decretum Gelasianum)

D.C. 371

Muito se discute sobre a autoria do presente documento: para alguns, seria documento original do papa Dâmaso [366-384], oriundo do Concílio Regional de Roma de 371, já que seu conteúdo se identifica perfeitamente com os dados existentes sobre seu temperamento, pensamento e relacionamento interno e externo; para outros, teria sido redigido pelo papa Gelásio [492-496], em razão da nota acrescentada no início do cap. III, existente em uma recensão mais breve; para outros, ainda, seria obra de algum clérigo, muito provavelmente do início do séc. VI, que teria se servido de outro documento de base, este sim, da lavra de Dâmaso, que conteria o fundamento para os 3 primeiros capítulos.

Seja como for, de particular importância para nós é o capítulo II, que traz a lista completa dos livros que integram o Antigo e Novo Testamento. Repare-se que os livros deuterocanônicos (chamados de “apócrifos” pelos protestantes e, por este motivo, excluídos de suas Bíblia) encontram-se integrados ao cânon sagrado, fazendo eco, talvez (caso considere-se este decreto posterior ao papa Dâmaso), às decisões tomadas pelos concílios regionais de Cartago e Hipona.

  1. RELAÇÕES DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Aqui começa o Conselho de Roma, no tempo do Papa Dámaso,(Damásio) sobre a explicação da fé.

Foi dito:

  1. Primeiramente, deve-se discutir os sete dons do Espírito se encontram em Cristo:

* O espírito da sabedoria: “Cristo, o poder e a sabedoria de Deus”.

* O espírito do entendimento: “Darei a vós o entendimento e vos mostrarei o caminho que devem seguir”.

* O espírito do conselho: “E seu nome é chamado ‘mensageiro do valioso conselho'”.

* O espírito das virtudes: conforme acima, “o poder de Deus e a sabedoria de Deus”.

* O espírito do conhecimento: “Em razão da eminência do conhecimento do apóstolo de Cristo Jesus”.

* O espírito da verdade: “Eu sou o caminho, a vida e a verdade”.

* O espírito do temor de Deus: “O temor a Deus é o princípio da sabedoria”.

  1. Entretanto, a revelação de Cristo é denominada de diversas maneiras:

 * Deus, que é espírito;

* O Verbo, que é Deus;

* O Filho, que é o unigênito do Pai;

* O homem, nascido da Virgem;

* O sacerdote, que ofereceu a si mesmo como sacrifício;

* O pastor, que é o guarda;

* [O alimento do] verme, que ressurgiu dos mortos;

* A montanha, que é forte;

* O caminho, que é reto;

* O refúgio, único que pode conduzir à vida;

* O cordeiro, que foi imolado;

* A pedra, que é angular;

* O mestre, que traz a vida;

* O sol, que dá a luz;

* A verdade, que provém do Pai;

* A vida, da qual é o Criador;

* O pão, cujo valor é inestimável;

* O samaritano, o qual é protetor e misericordioso;

* O Cristo, o Ungido [de Deus];

* Jesus, o Salvador;

* Deus, provindo de Deus;

* O mensageiro, que foi enviado;

* O noivo, que é o mediador;

* O vinho, cujo próprio sangue nos redimiu;

* O leão, que é rei;

* A rocha, que é o fundamento;

* A flor, que foi escolhida;

* O profeta, que revelou o futuro.

  1. Quanto ao Espírito Santo, não provém só  do Pai nem só do Filho, mas do Pai e do Filho; por isso está escrito: O que se deleita no mundo, o Espírito do Pai não está nele; e novamente: Quanto a todo aquele que não tenha o Espírito de Cristo, não lhe pertence. Deste modo se entende que o Espírito Santo seja nomeado Como do Pai e do Filho, sendo que o próprio Filho disse no Evangelho que o Espírito Santo procede do pai e por mim Ele é aceite e anunciado.
  1. CÂNON DA SAGRADA ESCRITURA

Também foi dito:

Agora verdadeiramente devemos discutir sobre as Divinas Escrituras, quais são aceitas pela Igreja Católica no universo e quais devem ser rejeitadas.

  1. Esta é a ordem do Antigo Testamento: Gênese, 1 livro; Êxodo, 1 livro; Levítico, 1 livro; Números, 1 livro; Deuteronômio, 1 livro; Josué, 1 livro; Juízes, 1 livro; Rute, 1 livro; Reis, 4 livros; Crônicas, 2 livros; 150 Salmos, 1 livro; 3 livros de Salomão: Provérbios, 1 livro; Eclesiastes, 1 livro; Cântico dos Cânticos, 1 livro; Outros: Sabedoria, 1 livro; Eclesiástico, 1 livro.
  1. Semelhantemente, esta é a ordem dos profetas: Isaías, 1 livro; Jeremias, 1 livro, contendo o Cinoth, isto é, suas lamentações; Ezequiel, 1 livro; Daniel, 1 livro; Oséias, 1 livro; Amós, 1 livro; Miquéias, 1 livro; Joel, 1 livro; Obadias, 1 livro; Jonas, 1 livro; Nahum, 1 livro; Habacuc, 1 livro; Sofonias, 1 livro; Ageu, 1 livro; Zacarias, 1 livro; Malaquias, 1 livro.
  1. Semelhantemente, esta é a ordem dos [livros] históricos: Jó, 1 livro; Tobias, 1 livro; Esdras, 2 livros; Ester, 1 livro; Judite, 1 livro; Macabeus, 2 livros.
  1. Semelhantemente, esta é a ordem das Escrituras do Novo Testamento, sustentadas e veneradas pela santa e católica Igreja romana: 4 livros dos Evangelhos: segundo Mateus, 1 livro; segundo Marcos, 1 livro; segundo Lucas, 1 livro; segundo João, 1 livro; também os Atos dos Apóstolos, 1 livro; as epístolas do apóstolo Paulo, em número de 14: aos Romanos, 1 epístola; aos Coríntios, 2 epístolas; aos Efésios, 1 epístola; aos Tessalonicenses, 2 epístolas; aos Gálatas, 1 epístola; aos Filipenses, 1 epístola; aos Colossenses, 1 epístola; a Timóteo, 2 epístolas; a Tito, 1 epístola; a Filemon, 1 epístola; aos Hebreus, 1 epístola; também o Apocalipse de João, 1 livro; também as epístolas canônicas, em número de 7: do apóstolo Pedro, 2 epístolas; do apóstolo Tiago, 1 epístola; do apóstolo João, 1 epístola; do outro João, o ancião, 2 epístolas; do apóstolos Judas, o zelota, 1 epístola. Aqui se encerra o cânon do Novo Testamento.

III. PRIMAZIA DA SANTA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA

Também foi dito:

(Alguns manuscritos, de recensão mais breve, começam este ponto com o seguinte cabeçalho: “Aqui inicia o decreto ‘sobre os livros que devem ou não devem ser recebidos’, redigido pelo papa Gelásio e 70 dos mais eruditos bispos, reunidos em concílio apostólico na cidade de Roma”)

  1. Após termos discutido sobre os Escritos dos profetas e as Escrituras evangélicas e apostólicas acima, sobre os quais a Igreja Católica está fundada pela graça de Deus, também achamos necessário dizer, embora a Igreja Católica universalmente esteja difundida sobre todo o mundo, sendo a única noiva de Cristo, que à Santa Igreja romana é dado o primeiro lugar sobre as demais igrejas, não por decisão sinodal, mas sim pela voz do Senhor, nosso Salvador, pois no Evangelho obteve a primazia: “Tu és Pedro” – Ele disse – “e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela; e te darei as chaves do Reino dos Céus e tudo o que ligardes sobre a Terra será também ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra será também desligado no Céu”.
  1. Somou-se também a presença do bem-aventurado Apóstolo Paulo, o vaso escolhido, que não em oposição como dizem os hereges teimosos, mas ao mesmo tempo e no mesmo dia, foi coroado com uma morte gloriosa junto com Pedro na cidade de Roma, padecendo junto com Pedro na cidade de Roma sob César Nerón; e juntos consagraram para Cristo o Senhor à mencionada Santa Igreja de Roma e deram-lhe preferência com a sua presença e triunfos dignos de veneração ante todas as outras cidades no mundo inteiro.
  2. Portanto, primeira é a cátedra da Igreja romana, do apóstolo Pedro, por não haver qualquer mancha, ruga ou qualquer outro [defeito]. Porém, o segundo lugar foi concedido, em nome do bem-aventurado Pedro, a Marcos, seu discípulo e autor do Evangelho, para Alexandria. Ele mesmo escreveu a Palavra da Verdade, no Egito, conforme [ouvira do] apóstolo Pedro; lá foi gloriosamente consumada [sua vida] no martírio. O terceiro lugar é guardado por Antioquia, do bem-aventurado e venerável apóstolo Pedro, que ali viveu antes de vir à Roma e onde pela primeira vez foi ouvido o nome da nova raça: “cristãos”.

IV – ESCRITOS QUE PODEM SER RECEBIDOS

 E embora nenhum outro fundamento possa estabelecer-se, senão aquele que foi estabelecido, Cristo Jesus, porém, para edificação, depois dos livros do, Velho e do Novo Testamento previamente enumerados de acordo com o cânone, a Santa Igreja Romana não proíbe receber os escritos seguintes:

  1. o Concílio de Nicea, constituído por 318 bispos e presidido pelo imperador Constantino o Grande, no qual foi condenado o herege Arrio; o Santo Concílio de Constantinopla, presidido pelo imperador Teodósio o Velho, em que o herege Macedónio se livrou da sua merecida condenação; o Santo Concílio de Êfeso, no qual Nestório foi condenado com o consentimento do bem-aventurado Papa Celestino, presidido por Cirilo de Alexandria no assento do magistrado, e por Arcádio, o bispo enviado de Itália.

O Santo Concílio de Calcedónia, presidido pelo imperador Marciano, e por Anatólio, o bispo de Constantinopla, no qual as hereges Nestoriana e Eutiquiana, juntamente, com Dióscoro e o seus simpatizantes, foram condenados.

  1. Mas como também há concílios apoiados até agora pelos Santos Padres, de menor autoridade que estes quatro, nós decretamos que estes devem ser mantidos e recebidos. Em continuação juntamos as obras dos Santos Padres que são recebidos na Igreja Católica:

igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Cecílio Cipriano, mártir e bispo de Cartago;

igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Gregório Nazianceno;

igualmente, as obras do bem-aventurado Basílio, bispo de Capadocia,;

igualmente, as obras do bem-aventurado João, bispo da Constantinopla,;

igualmente, as obras do bem-aventurado Teófilo, bispo de Alexandria,;

igualmente, as obras do bem-aventurado Círilo, bispo de Alexandria,;

igualmente, as obras do bem-aventurado bispo Hilário Pictaviense;

igualmente, as obras do bem-aventurado Ambrósio, bispo de Milão;

igualmente, as obras do bem-aventurado Augusto, bispo de Hipona;

igualmente, as obras do bem-aventurado sacerdote Jerónimo;

igualmente, as obras do bem-aventurado Próspero, um homem extremamente religioso;

  1. igualmente, a epístola do bem-aventurado Papa León (Leão) destinada a Flaviano, bispo de Constantinopla; mas se alguma parte de seu texto for contestada, não sendo aquela que foi recebida por todos desde a antiguidade, seja anátema; igualmente, as obras e todos os tratados dos padres ortodoxos que não se desviaram em nada do [ensino] comum da Santa Igreja Romana, e que nunca se separaram da fé e adoração, mantendo-se em comunhão pela graça de Deus até ao último dia das suas vidas,decretamos que sejam lidos; igualmente, os decretos e epístolas oficiais que os bem-aventurados papas enviaram de Roma, por consideração a vários padres e em diversas épocas, devem ser mantidas com reverência;
  2. igualmente, as atas dos Santos Mártires, que receberam a glória pelas suas múltiplas torturas e as suas maravilhosas vitórias de persistência. Que católico duvida que a maioria deles tiveram de suportar agonias com todas as suas forças, e resistiram pela graça de Deus e a ajuda dos restantes? Mas, de acordo com um costume antigo, por precaução não se lêem na  Santa Igreja Romana, porque los nomes de quem as escreveu não são conhecidos com propriedade e não é possível separá-los dos não crentes e idiotas; ou porque o que declaram é de ordem inferior aos eventos ocorridos; por exemplo, as atas de Quirício y Julita, assim como as de Jorge, e os sofrimentos de outros como estes, que parecem ter sido compostas por hereges. Por esta razão, tal como se disse, para no dar pretexto à burla casual, não são lidas na Santa Igreja Romana. No entanto, veneramos em conjunto com a mencionada Igreja a todos os mártires e seus gloriosos sofrimentos, que são mais conhecidos por Deus que pelos homens, com toda a devoção; igualmente, as vidas dos padres Paulo, António e Hilário, assim como todos os eremitas, que são descritas pelo bem-aventurado homem Jerônimo, recebêmo-las com honra; igualmente, as atas do bem-aventurado Silvestre, bispo da cadeira apostólica, que são permitidas ainda que se desconheça o seu autor, já que sabemos que são lidas por muitos católicos inclusive da cidade de Roma, e também pelo uso antigo das gerações, que é imitado pela igreja; igualmente, os escritos sobre a descoberta da cruz, e outras novelas sobre a descoberta da cabeça de João Baptista, que são romances e alguns deles são lidos por católicos; mas quando estes cheguem ás mãos de católicos, deve considerar-se primeiro o que disse o Apóstolo Paulo: Examinai todas as coisas, retendo o que seja bom; igualmente, Rufino, um homem sumamente religioso, que escreveu vários livros sobre as obras eclesiásticas e algumas interpretações das escrituras; contudo, desde que o venerável Jerônimo demonstrou que fez uso de certas liberdades arbitrárias nalguns desses livros, consideramos como aceitáveis aqueles que o bem-aventurado Jerônimo, anteriormente citado, considerava como aceitáveis; e não só os de Rufino, mas também aqueles de qualquer um que seja recordado pelo seu zelo por Deus e criticado pela fé na religião; igualmente, algumas obras de Orígenes, que o bem-aventurado homem Jerônimo não recusou, recebêmo-las para serem lidas, mas dizemos que o restante de sua autoria deve recusar-se; igualmente, a Crônica de Eusébio de Cesaria e os livros da sua História Eclesiástica, já que ainda que haja muitas coisas duvidosas no primeiro livro de sua narração e logo tenha escrito um livro elogiando e desculpando o cismático Orígenes, no entanto, considerando que na sua narração há coisas destacáveis e úteis para a instrução, no diremos a ninguém que devam recusar-se; igualmente, elogiamos Osório, um homem sumamente erudito, que nos escreveu una história muito necessária contra as calúnias dos pagãos e de uma brevidade maravilhosa; igualmente, a obra pascal do venerável homem Sedúlio, que foi escrita com versos heróicos e merece um elogio significativo; igualmente, a incrível e laboriosa obra de Juvêncio, que não desdenhamos, mas que nos assombramos com ela.

LISTA DE APÓCRIFOS

  1. Os restantes escritos que foram compilados ou reconhecidos pelos hereges ou cismáticos, a Igreja Católica Apostólica Romana não recebe de nenhuma maneira; destes consideramos correto citar alguns que passaram de geração em geração e que são recusados pelos católicos:

Igualmente, lista de livros apócrifos:

  1. Lista de livros apócrifos: primeiro, o sínodo de Sirmium, convocado por Constâncio César, filho de Constantino, e moderado pelo prefeito Tauro, que foi, é e sempre será condenado. A viagem em nome do apóstolo Pedro, que é chamado de nono livro de São Clemente: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo André: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Tomé: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. Os atos em nome do apóstolo Filipe: apócrifo. O evangelho em nome de Matias: apócrifo. O evangelho em nome de Barnabé: apócrifo. O evangelho em nome de Tiago Menor: apócrifo. O evangelho em nome do apóstolo Pedro: apócrifo. O evangelho em nome de Tomé, usado pelos maniqueus: apócrifo. Os evangelhos em nome de Bartolomeu: apócrifos. Os evangelhos em nome de André: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Luciano: apócrifos. Os evangelhos falsificados por Hesíquio: apócrifos. O livro sobre a infância do Salvador: apócrifo. O livro da natividade do Salvador e de Maria ou “A Parteira”: apócrifo. O livro que é chamado de “O Pastor”: apócrifo. Todos os livros da pena de Leúcio, discípulo do diabo: apócrifos. O livro chamado de “A Fundação”: apócrifo. O livro chamado de “O Tesouro”: apócrifo. O livro das filhas de Adão Leptogeneseos: apócrifo. O centão de Cristo incluído com versos de Virgílio: apócrifo. O livro que é chamado “Atos de Tecla e Paulo”: apócrifo. O livro que é chamado de “Nepos”: apócrifo. Os livros de Provérbios escritos por hereges e assinalados anteriormente com o nome de Santo Sisto: apócrifo. A Revelação dita de Paulo: apócrifo. A Revelação dita de Tomé: apócrifo. A Revelação dita de Estevão: apócrifo. O livro chamado de “Assunção de Santa Maria”: apócrifo. O livro chamado de “A Penitência de Adão”: apócrifo. O livro sobre Gog, o gigante que após o dilúvio lutou com o dragão, segundo os hereges: apócrifo. O livro chamado “Testamento de Jó”: apócrifo. O livro chamado “A Penitência de Orígenes”: apócrifo. O livro chamado “A Penitência de São Cipriano”: apócrifo. O livro chamado “A Penitência de Jamne e Mambre”: apócrifo. O livro chamado “A Fortuna dos Apóstolos”: apócrifo. O livro chamado “Lusa dos Apóstolos”: apócrifo. O livro chamado “Cânon dos Apóstolos”: apócrifo. “O Fisiólogo”, escrito por hereges e assinalado com o nome do bem-aventurado Ambrósio: apócrifo. A “História” de Eusébio Pampilo: apócrifo. As obras de Tertuliano: apócrifas. As obras de Lactâncio, também conhecido como Firmiano: apócrifas. As obras de Africano: apócrifas. O opúsculo “Potumiano e Gallo”: apócrifo. As obras de Montano, Priscila e Maximila: apócrifas. As obras de Fausto, o maniqueu: apócrifas. As obras de Comodiano: apócrifas. As obras do outro Clemente de Alexandria: apócrifas. As obras de Táscio Cipriano: apócrifas. As obras de Arnóbio: apócrifas. As obras de Ticônio: apócrifas. As obras de Cassiano, sacerdote gaulês: apócrifas. As obras de Vitorino Petavionense: apócrifas. As obras de Fausto Regiense Galliaro: apócrifas. As obras de Frumêncio Cego: apócrifas. A carta de Jesus a Abgaro: apócrifa. A carta de Abgaro a Jesus: apócrifa. A Paixão dos Ciricianos e Julitanos: apócrifa. A Paixão dos Georgianos: apócrifa. Os escritos chamados de “Interdição de Salomão”: apócrifos. Todos os filatérios que não provêm dos anjos, como pretendem alguns, mas foram escritos em nome dos piores demônios: apócrifos.
  1. Estas e outras obras similares, tais como as de Simão Mago, Nicolau, Cerinto, Marcião, Basílides, Ebion, Paulo de Samósata, Fotino e Bonóso, que sofrem de erros similares, bem como Montano e suas obscenas seguidoras, Apolinário, Valentino Maniqueu, Fausto Africano, Sabélio, Ário, Macedônio, Eunômio, Novato, Sabácio, Calisto, Donato, Eustácio, Joviano, Pelágio, Juliano de Eclanum, Celéstio, Maximiano, Prisciliano da Espanha, Nestório de Constantinopla, Máximo Cínico, Lampécio, Dióscoro, Êutiques, Pedro e o outro Pedro – um desgraçou a Alexandria e o outro, a Antioquia – Acácio de Constantinopla e seus partidários, e ainda todos os discípulos da heresia, dos hereges e dos cismáticos, cujos nomes quase não foram preservados, que ensinaram ou compilaram [o erro], confirmamos que não devem meramente ser rejeitados mas também eliminados de toda a Igreja Católica e Apostólica romana, sendo que os autores e seguidores desses autores devem ser amaldiçoados com a corrente inquebrável do anátema eterno. Fim

Fontes: Tradutora/Maria Joana de Portugal

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